17.04.2013 Views

Discursos academicos vol vii.correcao.indd - Academia Brasileira ...

Discursos academicos vol vii.correcao.indd - Academia Brasileira ...

Discursos academicos vol vii.correcao.indd - Academia Brasileira ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

16 RECEPÇÃO DE D. LUCAS MOREIRA NEVES, O.P.<br />

Ler os XXIV Sonetos Antigos, bem-sucedidos pastiches de inspiração<br />

camoniana, e, por contraste, Sofotulafai e outros poemas que levam Solange<br />

Ribeiro de Oliveira a falar da “modernidade” de Abgar.<br />

Descobrir nele algo de Juan de la Cruz: é sanjuanísta um quê de noche oscura,<br />

mas constelada, que en<strong>vol</strong>ve toda a sua Obra Poética, na qual é frequentíssimo<br />

o uso do substantivo noite e do adjetivo noturno.<br />

Deixar-se impregnar pela lírica de “O Filho Morto” (em A Lápide sob a Lua):<br />

Vejo o corpo morto da tua mocidade<br />

Dormindo sem sono a sua construção de ossos e músculos<br />

Estás ferido e dóis e nem te queixas e não choras.<br />

Não me é dado saber quais foram as relações do homem Abgar com seu<br />

Deus, na intimidade da sua vida religiosa e da sua oração. Espero que tenham<br />

sido filiais e o sejam ainda mais, agora que, rasgados os véus da fé, ele O contempla<br />

face a face.<br />

Quanto ao poeta Abgar, nos poucos mais densos poemas explicitamente<br />

religiosos, ele fala de Deus sem pronunciar-lhe sequer o Santo Nome: só o<br />

uso da maiúscula nos pronomes indica de Quem está falando. Deus é, para o<br />

poeta, o “Ignotus” – o desconhecido –, como diz o título de um poema do<br />

<strong>vol</strong>ume Íntimo Poço:<br />

Eu não sei quem Tu és.<br />

Mas sei que Tu existes<br />

e sei que és Tu que acendes as estrelas lá no alto,<br />

o lume, às vezes, da alegria na pobreza dos meus olhos tristes.<br />

Eu não Te vejo, eu não Te falo, senão no silêncio secular<br />

das noites insones e profundas<br />

(...) Eu Te quero e Te temo (...)<br />

sinto o Teu resplendor doer em minha tórpida cegueira<br />

ouço o rumor augural dos remos do teu barco, lento e lento<br />

a ferir, com seu ritmo de Absoluto,<br />

a água noturna do meu pensamento.<br />

É portanto Alguém que não se vê, não por ser escuro e sombrio, mas<br />

porque ofusca, de tão fulgurante que é. No entanto, o desconhecido se faz<br />

“Presença” (na mesma coletânea):

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!