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Discursos academicos vol vii.correcao.indd - Academia Brasileira ...

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RESPOSTA DO SR. MARCOS ALMIR MADEIRA 25<br />

Um registro da nossa imprensa concluiu que ela fora justa pela sua “alta<br />

condição eclesiástica e por seus méritos de literato”.<br />

No que lhe toca, a designação de literato não calha, não se compadece<br />

com as revelações do seu tônus estilístico.<br />

Vem a ponto ressalvar que me valho da qualificação de literato como<br />

expressão de dandismo, de maneirismo, de rococó transplantado, tropical,<br />

patente na inchação da frase, na alegoria das hipérboles, a mesma com que o<br />

tribuno ingênuo de certas áreas rurais pontificava no coreto com a sua eloquência<br />

engomada, sua literatura de domingo... É claro que o jornalista fez<br />

uso da expressão inadequada, com a mesma naturalidade com que a empregaram<br />

Nabuco, Carlos de Laet, Humberto de Campos, José Veríssimo, em cuja<br />

época tinha o vocábulo outro curso e sentido. Também assim apalavra tribuno.<br />

Quase desapareceu do nosso mercado verbal. É que passou a caracterizar em<br />

nossa vida intelectual de hoje, como aconteceu ao literato, o ciclo precisamente<br />

do maneirismo, do artificialismo luxento, da literatura incomunicativa, em<br />

que o autor só a si mesmo se via, esquecido ou desdenhoso do conselho de<br />

Nabuco: “Escrever para o leitor.” E exatamente isso o que faz Vossa<br />

Eminência com mestria e boa pena – pena do não literato, pena de escritor.<br />

Já me acudiu registrar num prefácio a perícia da sua arte literária, sob o<br />

regime da Crônica. Mas o cronista, no seu caso, está a serviço, em folhas da<br />

Imprensa, do que tem de mais alto a arte de pensar. O instrumento é ela, a<br />

crônica límpida, lúcida, lisa, sem arabescos e expedita, comunicativa por definição:<br />

mas o desígnio do escritor, sua ideia-mater, seu ponto cardeal (permita-<br />

-me) ressumbram nitidamente na sua faina literária: servir à comunidade, ao<br />

Brasil-Nação e ao Brasil-Estado, sob a inspiração permanente da palavra divina<br />

e dessas cartas à humanidade, que são as encíclicas sábias e sólidas, moldadas<br />

numa filosofia da ética de viver e conviver, na dedução sociológica das<br />

realidades que marcam a vida de cada um, cada dia – vida de todos os<br />

homens, todas as mulheres, todas as crianças de um mundo que não quer apenas<br />

durar, mas realmente viver; viver sob Estado justo, sem temer o dia seguinte,<br />

sem medo de amanhecer; mundo que sofre e ainda sonha, apesar das democracias<br />

unilaterais e contraditórias. Nenhum tema de urgência social deixou de<br />

ser versado pelo chefe da Sé Primacial: em vez de crônica diletante, a crônica<br />

militante, a crônica pastoral, sem que o pastor se transfunda por inteiro na<br />

página, inoculando no tecido da frase o jeito, os modos e – por que não dizer?

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