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1 DA INVECTIVA À IRONIA EM LIMA BARRETO Áureo ... - Unesp

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ANAIS DO X SEL – S<strong>EM</strong>INÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e<br />

Representação”<br />

constitui numa das mais importantes para a literatura brasileira, principalmente se levarmos em<br />

consideração sua postura crítica diante dos sistemas político, econômico e literário da época.<br />

Da invectiva ao ataque direto<br />

Nos artigos e crônicas de Lima Barreto, encontramos uma galeria de fatos e<br />

personagens que ilustra muito bem o panorama dos primeiros vinte anos do século XX carioca.<br />

A cidade do Rio de Janeiro, com seus problemas e sua disparidade cultural, econômica e<br />

política, serve ao cronista como o motivo de sua escrita, o motivo de sua paixão.<br />

O Rio de Janeiro das crônicas de Lima Barreto é a cidade dos contrastes, das revoltas, das<br />

ruínas sob o vento do progresso, mas é antes de mais nada a expressão de uma paixão<br />

tão forte que as outras, mais humanas, não deixa espaço. Sozinho na multidão, de<br />

ninguém pode se aproximar realmente, por estar tomado de um sentimento excessivo de<br />

proximidade, com toda a cidade que só a literatura pode expressar. (RESENDE, 1993, p.<br />

100).<br />

Essa relação com a cidade e suas peculiaridades não é tão simples assim. Ela se<br />

constrói de modo arrevesado, pois, apesar da sua paixão pela cidade, o escritor se sente uma<br />

das muitas vítimas do processo de reestruturação pela qual passou a cidade, com as reformas<br />

de Pereira Passos. Como voz que se porta contrária aos anseios de uma cidade que se quer ver<br />

europeia, principalmente parisiense. Muitos cronistas aderiram ao projeto de remodelação da<br />

capital, procurando impor os modelos europeus, tal como a revista Kosmos e a seção Binóculo,<br />

a cargo de Figueiredo Pimentel, na Gazeta de Notícias.<br />

A revista Kosmos, por exemplo,<br />

Não fora pensada para questionar nenhum tipo de sistema: literário ou não. Seu conteúdo<br />

de arte ─ constrói-se sobre tendências diversas do panorama intelectual europeu fin-desiécle,<br />

no qual entrecruzam-se simbolistas, parnasianos, decadentes, realistas já em fase<br />

de dissolvência. Antes de mais nada, Kosmos era ato de afirmação; veículo móvel,<br />

comprobatório do remodelamento urbano, sua extensão. Protagonista de uma consciência<br />

urbana moderna que se modelava à custa da negligência dos subúrbios cariocas, espaço<br />

da competência de Lima Barreto. (DIMAS, 1983, p. 10).<br />

A postura de Lima Barreto diante da moda, da militância do dandismo e do smartismo<br />

é da crítica social, que procura mostrar aos leitores os malefícios que a reforma da cidade, com a<br />

destruição de certa característica tropical, que acabaria por levá-lo sempre ao inconformismo.<br />

Lima Barreto, segundo Antônio Dimas,<br />

em seu habitual (e delicioso!) desempenho de advogado do diabo, ainda em 1920,<br />

denunciava o lado negativo do reformismo, sem se inquietar com a pecha de reacionário.<br />

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