1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp
1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp
1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
X SEL – Seminário <strong>de</strong> Estudos Literários<br />
UNESP – Campus <strong>de</strong> Assis<br />
ISSN: 2179-4871<br />
www.assis.unesp.br/sel<br />
sel@assis.unesp.br<br />
RELAÇÕES ENTRE A CONSTRUÇÃO IMAGÉTICA DE “I DIED FOR BEAUTY – BUT WAS<br />
SCARCE”, DE EMILY DICKINSON, E A AUTORIA FEMININA<br />
Natalia Helena Wiechmann (Mestranda – UNESP/Araraquara – CAPES)<br />
RESUMO: Este trabalho propõe-se a discutir como a <strong>construção</strong> <strong>imagética</strong> do poema “I <strong>died</strong> <strong>for</strong> Beauty –<br />
but was scarce”, <strong>de</strong> Emily Dickinson, possibilita uma leitura <strong>de</strong> seus significados a partir da perspectiva da<br />
crítica literária feminista <strong>de</strong> vertente norte-americana. Para isso, buscamos relacionar o contexto histórico<br />
e literário em que a produção poética <strong>de</strong> Dickinson se insere e <strong>de</strong>stacar a possibilida<strong>de</strong> do uso do<br />
subtexto como estratégia poética <strong>de</strong> subversão a padrões literários patriarcais. Nesse sentido,<br />
examinaremos como a imagem predominante no poema, imagem esta <strong>de</strong> confinamento, po<strong>de</strong> se revelar<br />
metafórica para a expressão da autoria feminina. Desta <strong>for</strong>ma, preten<strong>de</strong>mos explorar os possíveis<br />
significados sugeridos pela <strong>construção</strong> <strong>imagética</strong> e que, portanto, estão contidos no subtexto do poema.<br />
Por uma questão didática, o poema será apresentado com a tradução <strong>de</strong> Augusto <strong>de</strong> Campos.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Emily Dickinson; imagem; crítica feminista.<br />
Introdução<br />
Emily Dickinson (1830-1886) é consi<strong>de</strong>rada uma das personagens mais enigmáticas<br />
da história da literatura norte-americana. Tendo vivido numa socieda<strong>de</strong> marcada pelo<br />
puritanismo 1 e pelo patriarcalismo, a imagem da poetisa como uma mulher reclusa em sua casa<br />
e sempre vestida <strong>de</strong> branco é frequentemente relacionada ao seu contexto histórico-social e a<br />
propagação <strong>de</strong>sse estereótipo atraiu e atrai leitores ávidos por enten<strong>de</strong>r quem foi essa mulher<br />
cuja imagem se tornou quase que uma lenda.<br />
De fato, Emily Dickinson escolheu viver por vários anos afastada do convívio social e<br />
em sua reclusão escreveu gran<strong>de</strong> parte da obra que apenas postumamente foi encontrada e<br />
1 Emily Dickinson nasceu, viveu e morreu em Amherst, no estado <strong>de</strong> Massachusstes que, juntamente com os<br />
estados <strong>de</strong> Maine, New Hampshire, Vermont, Rho<strong>de</strong> Island e Connecticut, é parte da região chamada <strong>de</strong> New<br />
England, a terra on<strong>de</strong> os puritanos ingleses estabeleceram suas primeiras colônias ao saírem da Inglaterra por<br />
questões <strong>de</strong> perseguição religiosa.<br />
1
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
publicada. Após sua morte, surgiram diversas edições <strong>de</strong> seus poemas, mas a leitura <strong>de</strong> sua<br />
obra enquanto objeto <strong>de</strong> estudo e pesquisa, em especial no Brasil, é bastante recente, bem<br />
como seu reconhecimento enquanto poeta <strong>de</strong> singular importância para a literatura oci<strong>de</strong>ntal 2.<br />
Constata-se também que, <strong>de</strong> maneira geral, dá-se mais ênfase à biografia da poetisa<br />
do que à sua obra, o que se explica exatamente pelo exotismo da imagem que Dickinson ajudou<br />
a criar <strong>de</strong> si junto ao público. O que mais se encontram nas antologias <strong>de</strong> literatura norte-<br />
americana são as in<strong>for</strong>mações sobre sua vida reclusa, principalmente relacionando essa escolha<br />
com a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização amorosa. Além disso, a questão <strong>de</strong> sua recusa em publicar<br />
seus poemas parece completar esta imagem <strong>de</strong> uma poetisa que teria transferido suas<br />
frustrações amorosas para o domínio da poesia. Entretanto, a reclusão <strong>de</strong>u a Emily Dickinson<br />
condições para uma criação poética <strong>de</strong>sprendida <strong>de</strong> convenções sociais e literárias, o que lhe<br />
permitiu se expressar com liberda<strong>de</strong> tanto na <strong>for</strong>ma <strong>de</strong> seus poemas como nos temas e<br />
questões abordados neles.<br />
No que diz respeito aos poemas em si, Emily Dickinson é reconhecida por sua<br />
particularida<strong>de</strong> no uso da gramática (modificando, por exemplo, conjugações verbais) e do ritmo<br />
marcado pela recorrência <strong>de</strong> travessões. Estas características somadas às metá<strong>for</strong>as e aos<br />
símbolos aos quais ela recorreu na maior parte <strong>de</strong> seus poemas possibilitam a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
ambiguida<strong>de</strong>s que abrem os caminhos da interpretação para o leitor e para o estudioso <strong>de</strong> sua<br />
obra.<br />
Diante disso, a proposta <strong>de</strong>ste trabalho é analisar o poema <strong>de</strong> Dickinson “I <strong>died</strong> <strong>for</strong><br />
Beauty – but was scarce” com vistas a explorar o uso da palavra artística na criação <strong>de</strong> imagens<br />
na poesia para que possamos sugerir possíveis significados contidos na <strong>construção</strong> <strong>imagética</strong><br />
<strong>de</strong>sse texto, focalizando principalmente a imagem do confinamento que se <strong>de</strong>senha nele.<br />
Utilizaremos também conceitos da crítica literária feminista <strong>de</strong> vertente norte-americana, uma<br />
vez que este trabalho resulta <strong>de</strong> uma pesquisa mais abrangente sobre a poesia <strong>de</strong> Emily<br />
Dickinson e alguns aspectos que caracterizam a autoria feminina a partir dos estudos da<br />
corrente feminista anglo-americana.<br />
Dessa <strong>for</strong>ma, para o <strong>de</strong>senvolvimento do estudo proposto recorreremos às discussões<br />
<strong>de</strong> Gilbert e Gubar em The Madwoman in the Attic: The Woman Writer and the Nineteenth-<br />
2 Consi<strong>de</strong>ra-se que é a partir <strong>de</strong> 1920, com o New Criticism, que a poesia <strong>de</strong> Dickinson passa a ser mais explorada;<br />
nesse momento também seus poemas começam a ser mais frequentemente comparados à obra <strong>de</strong> Walt Whitman<br />
no que concerne aos primeiros aspectos do mo<strong>de</strong>rnismo literário norte-americano, do qual ambos teriam sido<br />
precursores.<br />
2
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
Century Literary Imagination 3 sobre como o patriarcalismo da socieda<strong>de</strong> do século XIX<br />
aprisionou as mulheres a estereótipos extremos a partir da visão masculina do que seria o i<strong>de</strong>al<br />
feminino. Nesse contexto, a ativida<strong>de</strong> literária estaria reservada ao universo masculino e os<br />
preceitos patriarcais acabaram por <strong>for</strong>çar as mulheres a se expressarem literariamente por meio<br />
<strong>de</strong> estratégias que subvertessem, <strong>de</strong> maneira indireta e velada, as concepções sociais<br />
dominantes. Destaca-se, então, o uso do subtexto – ou paratexto – como <strong>for</strong>ma <strong>de</strong> expressão<br />
característica da escrita feminina para o enfrentamento da tradição literária predominantemente<br />
masculina.<br />
Nesse sentido, é preciso enfatizar que a questão do gênero (feminino e masculino)<br />
será explorada na medida em que possa contribuir para compreen<strong>de</strong>rmos sua relação com o<br />
fazer literário e seus reflexos na própria obra literária. Em outras palavras, discutiremos o poema<br />
<strong>de</strong> Emily Dickinson na tentativa <strong>de</strong> mostrar como o eu-lírico se posiciona diante <strong>de</strong> tal contexto<br />
social e literário e que questões ele nos coloca a partir da <strong>construção</strong> <strong>de</strong> uma imagem<br />
predominante no texto, uma imagem <strong>de</strong> confinamento que se <strong>de</strong>senha nas escolhas <strong>de</strong> figuras e<br />
motivos <strong>de</strong> “I <strong>died</strong> <strong>for</strong> Beauty – but was scarce”.<br />
Por fim, é necessário mencionar que o poema será apresentado na tradução <strong>de</strong><br />
Augusto <strong>de</strong> Campos, acompanhado <strong>de</strong> sua versão original.<br />
O i<strong>de</strong>al feminino, a produção literária e o subtexto<br />
A socieda<strong>de</strong> norte-americana do século XIX tinha no patriarcalismo a base para a<br />
divisão dos papéis sociais <strong>entre</strong> homens e mulheres. Resumidamente, aos primeiros competia<br />
serem provedores e administradores da família, enquanto às mulheres caberia aceitar as<br />
imposições masculinas, seguindo o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> beleza e comportamento ditado pelos valores<br />
patriarcais e <strong>de</strong>ixando todo e qualquer trabalho intelectual para a figura do homem. Nesse<br />
âmbito, o comportamento feminino era marcado pela ausência <strong>de</strong> autonomia da mulher<br />
enquanto sujeito construtor das próprias ações e pela subserviência à autorida<strong>de</strong> masculina,<br />
autorida<strong>de</strong> essa que tem a criação como algo essencialmente masculino. Sobre isso afirma<br />
Simone <strong>de</strong> Beauvoir que<br />
Com o advento do patriarcado, o macho reivindica acremente sua posterida<strong>de</strong>; ainda se é<br />
<strong>for</strong>çado a concordar em atribuir um papel à mulher na procriação, mas admite-se que ela<br />
não faz senão carregar e alimentar a semente viva: o pai é o único criador. (BEAUVOIR,<br />
1970, p.29)<br />
3 A referência bibliográfica completa encontra-se no final <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
3
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
A produção literária, isto é, a autoria, está intrinsecamente relacionada a essa condição<br />
das mulheres no patriarcado, uma vez que a escrita é um ato criador e criativo, o que faz da<br />
pertença ao gênero masculino ou feminino um fator indissociável da obra literária. O trabalho<br />
intelectual envolvido na ativida<strong>de</strong> da escrita não seria condizente com o i<strong>de</strong>al feminino e, por<br />
isso, uma escritora inserida nesse contexto teria que compreen<strong>de</strong>r, assimilar e ao mesmo tempo<br />
transcen<strong>de</strong>r o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> obediência aos padrões <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> (GILBERT & GUBAR, 1984,<br />
p.17). A tradição literária, portanto, também se configura como patriarcal, isto é, eminentemente<br />
masculina, sem mo<strong>de</strong>los literários femininos que pu<strong>de</strong>ssem dar suporte à expressão artística<br />
feminina naquele contexto.<br />
Em vista disso, as escritoras anglo-saxãs do século XIX buscariam uma audiência<br />
feminina que partilhasse com elas os es<strong>for</strong>ços por uma auto-<strong>de</strong>finição e, por que não, uma auto-<br />
criação em oposição ao estereótipo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al feminino criado pela visão masculina. Para isso, as<br />
escritoras teriam <strong>de</strong>senvolvido como estratégia <strong>de</strong> expressão literária a criação <strong>de</strong> um subtexto<br />
compreensível apenas à audiência feminina, por meio do qual teria sido possível a estas autoras<br />
exprimir suas angústias e contornar as limitações impostas pelas instituições patriarcais<br />
oitocentistas, sobretudo a literária:<br />
O receio das escritoras <strong>de</strong> penetrar em territórios <strong>de</strong>limitados ao homem obrigava-as a<br />
escrever paratextos capazes <strong>de</strong> mostrar sua ausência <strong>de</strong> intenção <strong>de</strong> ameaçar. Para isso,<br />
essas escritoras constituíram estratégias que podiam ser lidas como posições <strong>de</strong><br />
humilda<strong>de</strong>, embora, atualmente, possam ser interpretadas radicalmente ao inverso, ou<br />
melhor, po<strong>de</strong>m ser tomadas como plata<strong>for</strong>mas <strong>de</strong> estratégias a fim <strong>de</strong> penetrar sutilmente<br />
no espaço público e aí permanecer. (Alves, 1999, p.109)<br />
Tomando esses pressupostos como base para este trabalho, acreditamos que a<br />
percepção da estreita relação <strong>entre</strong> produção literária e a pertença ao gênero feminino está<br />
presente na obra <strong>de</strong> Emily Dickinson e po<strong>de</strong> ser comprovada a partir <strong>de</strong> uma leitura cuidadosa<br />
das imagens e dos motivos que permeiam sua poesia, bem como do posicionamento do eu-lírico<br />
em relação aos valores patriarcais. É nesse sentido que propomos a leitura <strong>de</strong> “I <strong>died</strong> <strong>for</strong> Beauty<br />
– but was scarce” como exercício <strong>de</strong> reflexão sobre as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significação que ele<br />
po<strong>de</strong> sugerir por meio <strong>de</strong> suas imagens, as quais, por sua vez, se <strong>de</strong>sdobram em uma imagem<br />
maior – a imagem <strong>de</strong> confinamento. Sugerimos, com isso, que o poema escolhido traz em si as<br />
imagens visíveis no texto, mas também uma imagem que se revela no subtexto e que po<strong>de</strong><br />
conter marcas <strong>de</strong> uma autoria feminina <strong>de</strong> aguçada consciência sobre as <strong>relações</strong> <strong>de</strong> gênero.<br />
Poesia e imagem: a imagem do confinamento em “I <strong>died</strong> <strong>for</strong> beauty – but was scarce”<br />
4
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
Em poesia, a escolha das palavras para a <strong>construção</strong> do texto consi<strong>de</strong>ra não apenas a<br />
mensagem transmitida, mas também, e talvez mais importante, o caráter estético que elas<br />
<strong>de</strong>verão atribuir ao poema. Nesse sentido, o poeta trabalha com as palavras buscando enfatizar<br />
a maneira como elas expressam <strong>de</strong>terminado tema, isto é, colocando a expressão, o modo como<br />
se diz algo, acima do próprio tema. Dessa <strong>for</strong>ma, os temas po<strong>de</strong>m se repetir em toda a poesia<br />
universal e, <strong>de</strong> fato, fazem-no, mas a diversida<strong>de</strong> no modo <strong>de</strong> expressá-los é o que garante a<br />
longevida<strong>de</strong> da poesia.<br />
Os temas que geralmente são i<strong>de</strong>ntificados nos poemas <strong>de</strong> Emily Dickinson<br />
exemplificam esse trabalho com a expressão <strong>de</strong> maneira peculiar. Dividida frequentemente em<br />
poemas sobre o amor, a natureza, a existência, a morte, <strong>entre</strong> outros, a obra poética <strong>de</strong><br />
Dickinson revela uma complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão que prepon<strong>de</strong>ra sobre a trivialida<strong>de</strong> que esses<br />
temas po<strong>de</strong>riam sugerir. Seu estilo é marcado por economia e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagem em<br />
contraste com a simplicida<strong>de</strong> na escolha vocabular, resultando em composições poéticas que<br />
privilegiam a imagem como fio condutor dos enigmas, ironias e proposições acerca <strong>de</strong> seus<br />
temas.<br />
Nesse âmbito, nota-se que apesar do caráter abstrato dos temas (existência, amor,<br />
morte, etc.), sua representação se <strong>de</strong>senvolve com o emprego <strong>de</strong> palavras que <strong>de</strong>em concretu<strong>de</strong><br />
ao que se <strong>de</strong>seja exprimir, isto é, com a or<strong>de</strong>nação harmoniosa <strong>de</strong> imagens que <strong>de</strong>spertem a<br />
apreensão da experiência poética pelos sentidos. Dessa <strong>for</strong>ma,<br />
Na busca <strong>de</strong> expressão para <strong>de</strong>terminado tema, o poeta, bem como o pintor, constrói um<br />
texto em que a primazia da figura é bastante evi<strong>de</strong>nte, o que põe em relevo seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
concretu<strong>de</strong>, sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procurar dar contorno, plasticida<strong>de</strong>, palpabilida<strong>de</strong> a sua<br />
criação. (THAMOS, 2003, p.110)<br />
No poema selecionado para este trabalho, <strong>de</strong>stacamos a imagem do confinamento,<br />
i<strong>de</strong>ia abstrata, manifestada na concretu<strong>de</strong> <strong>de</strong> outras figuras que se suce<strong>de</strong>m e se relacionam no<br />
texto, tornando essa i<strong>de</strong>ia abstrata visível e, portanto, concreta.<br />
Para as finalida<strong>de</strong>s a que nos propomos, cabe relacionar a imagem <strong>de</strong> confinamento<br />
presente nos poemas com as concepções da crítica literária feminista. Gubar e Gilbert discutem<br />
no primeiro capítulo <strong>de</strong> seu livro 4 como a i<strong>de</strong>ologia patriarcal reduziu as mulheres ao estereótipo<br />
angelical, <strong>de</strong> <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e fragilida<strong>de</strong>, em um contexto doméstico marcado pela ausência <strong>de</strong><br />
4 “The Queen’s Looking Glass: Female Creativity, Male Images of Women, and the Metaphor of Literary Paternity”.<br />
In: The Madwoman in the Attic.<br />
5
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
trabalho intelectual e <strong>de</strong> autonomia da mulher 5. Diante disso, aquelas que <strong>de</strong>sejassem se<br />
expressar artisticamente estariam transgredindo a norma, uma vez que a produção literária que<br />
fugisse à escrita <strong>de</strong> costumes, isto é, aos manuais domésticos, livros <strong>de</strong> etiqueta e romances<br />
que retratassem essa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritivamente (e não criticamente), era do âmbito do<br />
masculino.<br />
É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> subtexto representa, na crítica feminista, uma<br />
estratégia para superar os limites da tradição patriarcal. No subtexto estariam contidos as<br />
angústias, as <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> opressão e os efeitos enlouquecedores ocasionados pelas<br />
concepções patriarcais, marcas visíveis apenas àquela audiência que compartilha <strong>de</strong>ssas<br />
questões (a audiência feminina) e expressas, por exemplo, nas imagens <strong>de</strong> personagens más<br />
e/ou loucas, <strong>de</strong> doenças, <strong>de</strong> fobias, <strong>de</strong> conflitos etc. 6<br />
Percebemos, com isso, que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> confinamento perpassa toda a existência social<br />
da mulher: confinada na esfera privada, doméstica, a mulher fica presa também à visão<br />
estereotípica masculina e sua expressão artística não po<strong>de</strong> transpor os limites do subtexto.<br />
Parece-nos evi<strong>de</strong>nte, portanto, que essa experiência <strong>de</strong> confinamento não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se<br />
manifestar literariamente, o que, no caso da obra <strong>de</strong> Emily Dickinson, ocorre nas imagens<br />
<strong>de</strong>senhadas no poema escolhido e também em diversos outros poemas 7.<br />
Transcrevemos a seguir o poema estudado, na tradução <strong>de</strong> Augusto <strong>de</strong> Campos.<br />
1. Morri pela Beleza – e assim que no Jazigo<br />
2. Meu Corpo foi fechado,<br />
3. Um outro Morto foi <strong>de</strong>positado<br />
4. Num Túmulo contíguo –<br />
5. “Por que morreu?” murmurou sua voz.<br />
6. “Pela Beleza” – retruquei –<br />
7. “Pois eu – pela Verda<strong>de</strong> – É o mesmo. Nós<br />
8. Somos Irmãos. É uma só lei”-<br />
9. E assim Parentes pela Noite, sábios –<br />
10. Conversamos a Sós –<br />
11. Até que o Musgo encobriu nossos lábios –<br />
12. E – nomes – logo após –<br />
1. I <strong>died</strong> <strong>for</strong> Beauty – but was scarce<br />
5 As autoras fazem referência direta ao ensaio <strong>de</strong> Virginia Woolf, A Room of One’s Own, em que Woolf <strong>de</strong>fine o<br />
termo “the angel in the house” como <strong>de</strong>scritivo para o i<strong>de</strong>al feminino patriarcal.<br />
6 Alguns exemplos discutidos por Gilbert e Guban são: a personagem Martha, no romance Jane Eyre, <strong>de</strong> Charlotte<br />
Brontë; as heroínas <strong>de</strong> Jane Austen; a ironia em poemas <strong>de</strong> Christina Rossetti e a ousadia do eu-lírico na obra <strong>de</strong><br />
Emily Dickinson.<br />
7 Como exemplo, po<strong>de</strong>mos citar “I heard a Fly buzz – when I <strong>died</strong> –”, “A Prison gets to be a friend – ”, “I dwell in<br />
Possibility –”, “How soft this Prison is” e “My life closed twice be<strong>for</strong>e its close - ”<br />
6
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
2. Adjusted in the Tomb,<br />
3. When One who <strong>died</strong> <strong>for</strong> Truth, was lain<br />
4. In an adjoining Room –<br />
5. He questioned softly “Why I failed”?<br />
6. "For Beauty," I replied –<br />
7. "And I – <strong>for</strong> Truth – Themself are One –<br />
8. We Brethren, are," He said –<br />
9. And so, as Kinsmen, met a Night –<br />
10. We talked between the Rooms –<br />
11. Until the Moss had reached our lips –<br />
12. And covered up – our names –<br />
Nesse poema é incontestável a presença da morte como imagem que contextualiza a<br />
situação apresentada pelo eu-lírico. De fato, são muitos os poemas <strong>de</strong> Emily Dickinson em que o<br />
eu-lírico se posiciona em relação à morte, ora negando-a, ora vivenciando-a, o que faz com que<br />
o tema da morte seja visto, em geral, como uma obsessão na obra da poetisa.<br />
No entanto, a morte não é apresentada aqui como algo negativo ou assustador, ao<br />
contrário, o eu-lírico revela uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong>, sem perturbações diante daquela que<br />
tantos <strong>de</strong> nós tememos. Dessa <strong>for</strong>ma, o eu-lírico nega, por exemplo, a conceituação da morte<br />
para os puritanos 8 , que a entendiam como uma punição pelos pecados cometidos uma vez que<br />
ela se coloca em oposição à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> vida como dom supremo <strong>de</strong> Deus. Do mesmo modo, o eu-<br />
lírico não se refere à morte como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vida melhor na eternida<strong>de</strong>, con<strong>for</strong>me<br />
prega o Catolicismo. Essa atitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser entendida, para a crítica feminista, como a<br />
transgressão <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m social e i<strong>de</strong>ológica diante do contexto religioso em que se insere a<br />
poeta. A religião se configura, portanto, como um aprisionamento, um confinamento, do qual o<br />
eu-lírico se mostra liberto ao superar qualquer tipo <strong>de</strong> pudor ou medo em lidar com a morte.<br />
Nesse contexto, o eu-lírico anuncia duas causas para a morte: a sua, que foi a Beleza,<br />
e a <strong>de</strong> um outro indivíduo, que foi a Verda<strong>de</strong>. Tomando a discussão <strong>de</strong> Gubar e Gilbert como<br />
paradigma <strong>de</strong> nosso estudo, po<strong>de</strong>mos apontar duas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação para o<br />
diálogo <strong>entre</strong> os personagens do poema. O primeiro e talvez mais aparente seria o paralelo <strong>entre</strong><br />
beleza e a figura feminina e verda<strong>de</strong> e a figura masculina, uma relação que se afirmou no<br />
patriarcalismo com a imposição do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> feminilida<strong>de</strong> pautado na beleza como fator primordial<br />
e da racionalida<strong>de</strong> e inteligência do homem como características <strong>de</strong> sua superiorida<strong>de</strong><br />
(GUBAR&GILBERT, 1979, p. 23-4). É importante <strong>de</strong>stacar que apesar <strong>de</strong> não termos evidências<br />
<strong>de</strong> que o eu-lírico é feminino, a beleza sempre foi um conceito associado ao universo da mulher.<br />
8 Não po<strong>de</strong>mos nos esquecer <strong>de</strong> que Emily Dickinson foi criada <strong>de</strong>ntro dos preceitos do Puritanismo, o que atribui<br />
maior significado a esse posicionamento do eu-lírico diante da morte já que contraria a obediência às crenças<br />
religiosas puritanas.<br />
7
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
Além disso, a palavra kinsmen, utilizada no verso 9 do poema original, sugere essa oposição<br />
feminino/masculino porque se refere especificamente a um membro da família que seja<br />
masculino. Assim, confinada neste i<strong>de</strong>al feminino, sem autonomia ou po<strong>de</strong>res, o “anjo<br />
doméstico” se assemelha a um objeto <strong>de</strong> arte a ser contemplado, sem vida própria e, portanto,<br />
morto para e pela beleza.<br />
Nesse sentido, o que po<strong>de</strong>ria sugerir a equivalência <strong>entre</strong> beleza e verda<strong>de</strong><br />
estabelecida pelo interlocutor do eu-lírico nos versos 7 e 8? Por um lado, essa equivalência<br />
parece afirmar que, se os dois conceitos são iguais, a obediência ao i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> beleza e a busca<br />
por atingi-lo são legítimos, mas, por outro lado, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que, sendo iguais, os limites<br />
<strong>entre</strong> um e outro e, portanto, <strong>entre</strong> o feminino em sua obediência e o masculino em sua<br />
dominação, estão <strong>de</strong>sfeitos.<br />
Uma segunda leitura do mesmo poema nos leva a relacionar a beleza, causa da morte<br />
do eu-lírico, com a busca pela perfeição estética em arte. É preciso abrir um parêntese e<br />
relembrar que a <strong>for</strong>mação <strong>de</strong> Emily Dickinson e sua produção literária se <strong>de</strong>ram durante o<br />
Romantismo, mas a poeta é consi<strong>de</strong>rada uma precursora da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> poética em vista <strong>de</strong><br />
suas inovações rítmicas, métricas e temáticas. Entretanto, como se sabe, a poeta produziu seus<br />
mais <strong>de</strong> 1.700 poemas estando reclusa, por sua própria vonta<strong>de</strong>, na casa <strong>de</strong> seu pai. Desse<br />
modo, Dickinson “morreu” para a socieda<strong>de</strong> em favor <strong>de</strong> sua arte, escolhendo o confinamento<br />
para chegar à liberda<strong>de</strong> poética. O eu-lírico reflete, por conseguinte, essa busca do artista pela<br />
perfeição estética, ainda que isso o leve à morte, vista aqui como metá<strong>for</strong>a do árduo trabalho<br />
que uma composição artística exige.<br />
Diante <strong>de</strong>ssa proposta <strong>de</strong> leitura, a equivalência <strong>entre</strong> beleza e verda<strong>de</strong> agora assume<br />
novos significados. É possível afirmar, por exemplo, que nem tudo o que consi<strong>de</strong>ramos belo em<br />
arte correspon<strong>de</strong> à realida<strong>de</strong>, mas a afirmação no poema <strong>de</strong> que beleza e verda<strong>de</strong> se referem ao<br />
mesmo conceito parece reconhecer e justificar a busca do artista por seu i<strong>de</strong>al estético. Por<br />
outro lado, po<strong>de</strong>mos relacionar, <strong>de</strong> maneira bem geral, beleza com poesia, por seu trabalho<br />
estético com a palavra, e verda<strong>de</strong> com prosa, por sua objetivida<strong>de</strong> e linearida<strong>de</strong>. Nesse caso,<br />
teríamos a i<strong>de</strong>ntificação <strong>entre</strong> os dois conceitos como um rompimento dos limites <strong>entre</strong> esses<br />
gêneros, que é um traço da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> literária e que se evi<strong>de</strong>ncia, por exemplo, na inserção<br />
do diálogo, nos versos livres e também no caráter narrativo do poema.<br />
A imagem do confinamento se faz visível para o leitor ao associarmos, portanto, a<br />
situação <strong>de</strong>scrita no poema e vivenciada pelo eu-lírico (texto) com o contexto social e literário<br />
8
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
vivenciado pela poetisa (subtexto). Contudo, essa imagem não se concretiza apenas quando se<br />
tem consciência <strong>de</strong>sses aspectos culturais e históricos. Ela se manifesta também por meio <strong>de</strong><br />
palavras/imagens que, or<strong>de</strong>nadas, tem o mesmo efeito <strong>de</strong> construir a i<strong>de</strong>ia do confinamento<br />
como pano <strong>de</strong> fundo para o poema: “O que a linguagem poética faz é essencialmente jogar com<br />
as palavras. Or<strong>de</strong>na-as <strong>de</strong> maneira harmoniosa e injeta mistério em cada uma <strong>de</strong>las, <strong>de</strong> tal<br />
modo que cada imagem passa a encerrar a solução <strong>de</strong> um enigma”. (HUIZINGA, 1996, p.148-9)<br />
Palavras como “jazigo” (verso 1), “corpo/fechado” (verso 2), “túmulo” (verso 4), “noite”<br />
(verso 9), “a sós” (verso 10) e “encobriu” (verso 11) nos remetem à imagem <strong>de</strong> confinamento<br />
que, <strong>de</strong> fato, se concretiza na situação apresentada: duas pessoas, já mortas, conversam cada<br />
uma fechada em seu túmulo até que o musgo 9 encobre seus lábios e seus nomes. No poema<br />
em inglês o mesmo efeito <strong>de</strong> sentido ocorre por meio <strong>de</strong> palavras tais quais “Tomb” (verso 2),<br />
“was lain” (verso 3), “failed” (verso 5), “night” (verso 9),“Rooms” (verso 10), “Moss” (verso 11) e<br />
“covered up” (verso 12). Nesse ponto, o poema provoca no leitor uma sensação claustrofóbica,<br />
<strong>de</strong> sufocação, mas não há indícios <strong>de</strong> repugnância ou temor a essa situação por parte do eu-<br />
lírico, terminando com a conclusão <strong>de</strong> que a morte e a passagem do tempo naturalmente levam<br />
ao esquecimento.<br />
Por fim, palavras como “Beleza” (versos 1 e 6), “assim” (verso 1), “fechado” (verso 2),<br />
“sua voz” (verso 5), “pois” (verso 7), <strong>“i</strong>rmãos” (verso 8) , “sábios” (verso 9), “musgo” (verso 11)<br />
dão ao poema uma sonorida<strong>de</strong> que ecoa como um murmúrio, harmonizando-se com o tom <strong>de</strong><br />
silêncio, escuridão, solidão construído ao longo do poema. Essa sonorida<strong>de</strong> se apresenta no<br />
poema em inglês e é, portanto, mantida na tradução: “was scarce” (verso 1), “Adjusted” (verso<br />
2), “Truth” (verso 3), “questioned softly” (verso 5), “Themself” (verso 7), “as Kinsmen” (verso 9),<br />
“Moss”, “lips” (verso 11) e “names” (verso 12), por exemplo.<br />
Além disso, é constante a presença das vogais o e u (“corpo”, verso 2; “morreu”, verso<br />
5; “murmurou”,verso 5; “noite”, verso 9; “musgo”, verso 11; “encobriu”,verso 11; etc.), que<br />
produzem um som mais fechado, coerente com a i<strong>de</strong>ia/imagem <strong>de</strong> confinamento. Da mesma<br />
<strong>for</strong>ma, essa sonorida<strong>de</strong> foi mantida a partir do poema original, em que palavras como “was”<br />
(verso 1), “Tomb” (verso 2), “who” (verso 3), “Room” (verso 4), “For” (versos 6 e 7), “so” (verso<br />
9), “talked” (verso 10), “Moss” (verso 11) e “covered up” (verso 12) reproduzem esse efeito.<br />
Consi<strong>de</strong>rações finais<br />
9 Símbolo da morte por ser <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> vasos condutores <strong>de</strong> seiva, o alimento que nutre as plantas.<br />
9
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
As reflexões propostas neste trabalho buscaram dar ênfase na relação <strong>entre</strong> a mulher<br />
como escritora na socieda<strong>de</strong> patriarcal do século XIX e o produto <strong>de</strong>ssa escrita condicionada<br />
pelo contexto histórico e literário. Sobre isso afirma Wendy Martin, estudiosa das questões <strong>de</strong><br />
gênero em literatura, que “Dickinson’s poetry expresses her struggles with her faith, with her<br />
father, with mortality, and with the challenges of being a woman poet.” (MARTIN, 2007, p.1).<br />
Dessa <strong>for</strong>ma, ao examinar o poema em questão, buscamos compreen<strong>de</strong>r quais os efeitos que a<br />
autoria feminina produz na escrita <strong>de</strong> Dickinson, mas enten<strong>de</strong>mos que a análise <strong>de</strong> apenas um<br />
poema não é suficiente para conclusões mais precisas. Ainda assim, propomos que a análise da<br />
obra <strong>de</strong> Emily Dickinson po<strong>de</strong> contribuir significativamente para a compreensão <strong>de</strong> como o<br />
feminino se constitui e se revela na escrita, em especial a partir das imagens que constituem<br />
seus poemas.<br />
Em vista disso, a imagem do confinamento em “I <strong>died</strong> <strong>for</strong> Beauty – but was scarce” nos<br />
parece <strong>de</strong>senhada à semelhança <strong>de</strong> uma representação pictórica, em que<br />
O pintor, <strong>de</strong> um modo geral, se obstina a criar uma representação permanente <strong>de</strong> algo<br />
fugaz, e mesmo incorpóreo. Ele projeta materialmente em sua tela, com tintas e cores, uma<br />
imagem bidimensional daquilo que em dado momento o impressionou, fixando<br />
figurativamente o que, na verda<strong>de</strong>, não se po<strong>de</strong> fixar [...]. Cria-se assim, muitas vezes, um<br />
paralelo palpável àquilo que, na realida<strong>de</strong>, é intangível. (THAMOS, 2003, p.104)<br />
Acreditamos, portanto, que a imagem <strong>de</strong> confinamento construída no poema reflete o<br />
uso do subtexto como estratégia da poetisa para lidar com o fenômeno da criação literária diante<br />
das circunstâncias impostas pela socieda<strong>de</strong> patriarcal oitocentista. A associação <strong>de</strong> imagens e<br />
sons no poema dá concretu<strong>de</strong> a essa estratégia, <strong>de</strong>monstrando <strong>de</strong>sse modo, a concepção <strong>de</strong><br />
uma poesia com estilo e tema à frente <strong>de</strong> seu tempo.<br />
10
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
Referências bibliográficas<br />
ALVES, Ivia. Amor e submissão: <strong>for</strong>mas <strong>de</strong> resistência da literatura <strong>de</strong> autoria feminina? In:<br />
RAMALHO, Christina (org.). Literatura e feminismo: propostas teóricas e reflexões críticas. Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro: Elo, 1999.<br />
BEAUVOIR, Simone <strong>de</strong>. O Segundo sexo: 1.Fatos e Mitos. 4ª ed. Tradução <strong>de</strong> Sérgio Milliet.<br />
São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970.<br />
DICKINSON, Emily. The Complete Poems of Emily Dickinson. Organização <strong>de</strong> Thomas H.<br />
Johnson. Boston: Back Bay Books, 1976.<br />
______. Não sou ninguém – Poemas. Traduções <strong>de</strong> Augusto <strong>de</strong> Campos. Campinas: Editora<br />
Unicamp, 2008.<br />
GILBERT, Sandra & Susan GUBAR. The Madwoman in the Attic: The Woman Writer and the<br />
Nineteenth-century Literary Imagination. 2. ed. Londres: Yale University Press, 1984.<br />
HUIZINGA, Johan. Homo lu<strong>de</strong>ns: o jogo como elemento da cultura. 4ª ed. Tradução <strong>de</strong> João<br />
Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 1996.<br />
MARTIN, Wendy (Org.). The Cambridge Companion to Emily Dickinson. Cambridge: Cambridge<br />
University Press, 2007.<br />
THAMOS, Márcio. Figurativida<strong>de</strong> na poesia. Itinerários, Araraquara, v. 20, p.101-118, 2003.<br />
WOOLF, Virginia. A Room of One’s Own. London: Granada Books, 1977.<br />
11