1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp

More documents

Recommendations

Info

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” publicada. Após sua morte, surgiram diversas edições de seus poemas, mas a leitura de sua obra enquanto objeto de estudo e pesquisa, em especial no Brasil, é bastante recente, bem como seu reconhecimento enquanto poeta de singular importância para a literatura ocidental 2. Constata-se também que, de maneira geral, dá-se mais ênfase à biografia da poetisa do que à sua obra, o que se explica exatamente pelo exotismo da imagem que Dickinson ajudou a criar de si junto ao público. O que mais se encontram nas antologias de literatura norte- americana são as informações sobre sua vida reclusa, principalmente relacionando essa escolha com a impossibilidade de realização amorosa. Além disso, a questão de sua recusa em publicar seus poemas parece completar esta imagem de uma poetisa que teria transferido suas frustrações amorosas para o domínio da poesia. Entretanto, a reclusão deu a Emily Dickinson condições para uma criação poética desprendida de convenções sociais e literárias, o que lhe permitiu se expressar com liberdade tanto na forma de seus poemas como nos temas e questões abordados neles. No que diz respeito aos poemas em si, Emily Dickinson é reconhecida por sua particularidade no uso da gramática (modificando, por exemplo, conjugações verbais) e do ritmo marcado pela recorrência de travessões. Estas características somadas às metáforas e aos símbolos aos quais ela recorreu na maior parte de seus poemas possibilitam a identificação de ambiguidades que abrem os caminhos da interpretação para o leitor e para o estudioso de sua obra. Diante disso, a proposta deste trabalho é analisar o poema de Dickinson “I died for Beauty – but was scarce” com vistas a explorar o uso da palavra artística na criação de imagens na poesia para que possamos sugerir possíveis significados contidos na construção imagética desse texto, focalizando principalmente a imagem do confinamento que se desenha nele. Utilizaremos também conceitos da crítica literária feminista de vertente norte-americana, uma vez que este trabalho resulta de uma pesquisa mais abrangente sobre a poesia de Emily Dickinson e alguns aspectos que caracterizam a autoria feminina a partir dos estudos da corrente feminista anglo-americana. Dessa forma, para o desenvolvimento do estudo proposto recorreremos às discussões de Gilbert e Gubar em The Madwoman in the Attic: The Woman Writer and the Nineteenth- 2 Considera-se que é a partir de 1920, com o New Criticism, que a poesia de Dickinson passa a ser mais explorada; nesse momento também seus poemas começam a ser mais frequentemente comparados à obra de Walt Whitman no que concerne aos primeiros aspectos do modernismo literário norte-americano, do qual ambos teriam sido precursores. 2
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação” Century Literary Imagination 3 sobre como o patriarcalismo da sociedade do século XIX aprisionou as mulheres a estereótipos extremos a partir da visão masculina do que seria o ideal feminino. Nesse contexto, a atividade literária estaria reservada ao universo masculino e os preceitos patriarcais acabaram por forçar as mulheres a se expressarem literariamente por meio de estratégias que subvertessem, de maneira indireta e velada, as concepções sociais dominantes. Destaca-se, então, o uso do subtexto – ou paratexto – como forma de expressão característica da escrita feminina para o enfrentamento da tradição literária predominantemente masculina. Nesse sentido, é preciso enfatizar que a questão do gênero (feminino e masculino) será explorada na medida em que possa contribuir para compreendermos sua relação com o fazer literário e seus reflexos na própria obra literária. Em outras palavras, discutiremos o poema de Emily Dickinson na tentativa de mostrar como o eu-lírico se posiciona diante de tal contexto social e literário e que questões ele nos coloca a partir da construção de uma imagem predominante no texto, uma imagem de confinamento que se desenha nas escolhas de figuras e motivos de “I died for Beauty – but was scarce”. Por fim, é necessário mencionar que o poema será apresentado na tradução de Augusto de Campos, acompanhado de sua versão original. O ideal feminino, a produção literária e o subtexto A sociedade norte-americana do século XIX tinha no patriarcalismo a base para a divisão dos papéis sociais entre homens e mulheres. Resumidamente, aos primeiros competia serem provedores e administradores da família, enquanto às mulheres caberia aceitar as imposições masculinas, seguindo o ideal de beleza e comportamento ditado pelos valores patriarcais e deixando todo e qualquer trabalho intelectual para a figura do homem. Nesse âmbito, o comportamento feminino era marcado pela ausência de autonomia da mulher enquanto sujeito construtor das próprias ações e pela subserviência à autoridade masculina, autoridade essa que tem a criação como algo essencialmente masculino. Sobre isso afirma Simone de Beauvoir que Com o advento do patriarcado, o macho reivindica acremente sua posteridade; ainda se é forçado a concordar em atribuir um papel à mulher na procriação, mas admite-se que ela não faz senão carregar e alimentar a semente viva: o pai é o único criador. (BEAUVOIR, 1970, p.29) 3 A referência bibliográfica completa encontra-se no final deste trabalho. 3
Page 1: X SEL - Seminário de Estudos Liter
Page 5 and 6: ANAIS DO X SEL - SEMINÁRIO DE ESTU
Page 11: ANAIS DO X SEL - SEMINÁRIO DE ESTU

1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

Delete template?

Save as template?