1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp
1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp
1 relações entre a construção imagética de “i died for ... - Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
trabalho intelectual e <strong>de</strong> autonomia da mulher 5. Diante disso, aquelas que <strong>de</strong>sejassem se<br />
expressar artisticamente estariam transgredindo a norma, uma vez que a produção literária que<br />
fugisse à escrita <strong>de</strong> costumes, isto é, aos manuais domésticos, livros <strong>de</strong> etiqueta e romances<br />
que retratassem essa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritivamente (e não criticamente), era do âmbito do<br />
masculino.<br />
É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> subtexto representa, na crítica feminista, uma<br />
estratégia para superar os limites da tradição patriarcal. No subtexto estariam contidos as<br />
angústias, as <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> opressão e os efeitos enlouquecedores ocasionados pelas<br />
concepções patriarcais, marcas visíveis apenas àquela audiência que compartilha <strong>de</strong>ssas<br />
questões (a audiência feminina) e expressas, por exemplo, nas imagens <strong>de</strong> personagens más<br />
e/ou loucas, <strong>de</strong> doenças, <strong>de</strong> fobias, <strong>de</strong> conflitos etc. 6<br />
Percebemos, com isso, que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> confinamento perpassa toda a existência social<br />
da mulher: confinada na esfera privada, doméstica, a mulher fica presa também à visão<br />
estereotípica masculina e sua expressão artística não po<strong>de</strong> transpor os limites do subtexto.<br />
Parece-nos evi<strong>de</strong>nte, portanto, que essa experiência <strong>de</strong> confinamento não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se<br />
manifestar literariamente, o que, no caso da obra <strong>de</strong> Emily Dickinson, ocorre nas imagens<br />
<strong>de</strong>senhadas no poema escolhido e também em diversos outros poemas 7.<br />
Transcrevemos a seguir o poema estudado, na tradução <strong>de</strong> Augusto <strong>de</strong> Campos.<br />
1. Morri pela Beleza – e assim que no Jazigo<br />
2. Meu Corpo foi fechado,<br />
3. Um outro Morto foi <strong>de</strong>positado<br />
4. Num Túmulo contíguo –<br />
5. “Por que morreu?” murmurou sua voz.<br />
6. “Pela Beleza” – retruquei –<br />
7. “Pois eu – pela Verda<strong>de</strong> – É o mesmo. Nós<br />
8. Somos Irmãos. É uma só lei”-<br />
9. E assim Parentes pela Noite, sábios –<br />
10. Conversamos a Sós –<br />
11. Até que o Musgo encobriu nossos lábios –<br />
12. E – nomes – logo após –<br />
1. I <strong>died</strong> <strong>for</strong> Beauty – but was scarce<br />
5 As autoras fazem referência direta ao ensaio <strong>de</strong> Virginia Woolf, A Room of One’s Own, em que Woolf <strong>de</strong>fine o<br />
termo “the angel in the house” como <strong>de</strong>scritivo para o i<strong>de</strong>al feminino patriarcal.<br />
6 Alguns exemplos discutidos por Gilbert e Guban são: a personagem Martha, no romance Jane Eyre, <strong>de</strong> Charlotte<br />
Brontë; as heroínas <strong>de</strong> Jane Austen; a ironia em poemas <strong>de</strong> Christina Rossetti e a ousadia do eu-lírico na obra <strong>de</strong><br />
Emily Dickinson.<br />
7 Como exemplo, po<strong>de</strong>mos citar “I heard a Fly buzz – when I <strong>died</strong> –”, “A Prison gets to be a friend – ”, “I dwell in<br />
Possibility –”, “How soft this Prison is” e “My life closed twice be<strong>for</strong>e its close - ”<br />
6