Oração e escuta de Deus - Projeto Primeiro de Maio

aos pobres das bem-aventuranças. É justo e bom orar para que a
vinda do Reino de justiça e de paz influa na marcha da história, mas é
também importante modelar pela oração a massa das humildes
situações do cotidiano. Todas as formas de oração podem ser esse
fermento ao qual o Senhor compara o Reino. (Catecismo da Igreja, n.
2660, grifos nossos).
3. SENTADOS AOS PÉS DO MESTRE: A ESCUTA DA PALAVRA
A escuta é uma palavra-chave que caracteriza toda a tradição do povo
hebraico. O “Shemá Israel” (“ouve Israel”), “composto de três parágrafos, Dt 6, 4-9;
Dt 11, 13-21 e Nm 15, 37-41, era lido no templo, no tempo de Jesus, juntamente
com o Decálogo todas as manhãs (AVRIL; LENHART, 1980, p. 12). É Deus, sempre
Ele, quem toma a iniciativa... É Deus quem chama o homem para entrar em colóquio
amoroso com Ele. Como descreve Karl Rahner (apud VORGRIMLER, 2006, p. 13,
grifos do autor):
O enorme dessa experiência [da oração], que tudo centra em uma
espécie de tremor, é o seguinte: eu posso me dirigir para esse
Segredo ou Mistério que abarca tudo, que conduz e penetra tudo, que
se distancia de tudo e, no entanto, assume tudo consigo. Eu posso
invocá-lo, posso orar. Sei que, quando esse encontro orante se dá,
isso se deve, uma vez mais, à ação do próprio Mistério. Mais ainda,
esse Mistério age de tal forma que, quando estou diante dele, sendo
distinto dele, introduzido em minha própria realidade, quando me
entrego a ele, não me perco, e sim, ao contrário, transformo-me em
alguém que participa desse mistério infinito. Eu experimento (através
disso que nós, cristãos, chamamos de graça) que esse Mistério, para
ser ele mesmo, não precisa distanciar-se de mim em uma distância
infinita, mas, ao contrário, ele mesmo se entrega a nós, para nossa
plenitude.
A ação, do homem e da mulher na oração, é uma resposta ao
chamamento de Deus. É uma resposta amorosa a um convite de amor. É Deus
quem, misteriosamente, toma a iniciativa... É Ele quem nos atrai e, numa linguagem
muito cara ao livro do profeta Jeremias “nos seduz” (Jr 20, 7). A relação amorosa de
Deus com seu povo, que tem no casamento humano 11 , um de seus símbolos revela
11 Vale ler, neste sentido, o livro do profeta Oséias, cujo título do primeiro capítulo é: “Israel, esposa
infiel de Deus” (de acordo com a Bíblia – edição Ave Maria). Outros profetas, Is 1, 21; Jr 2,2; 3,1. 3,6-
12 retomam esse tema e Ezequiel desenvolve-o em duas grandes alegorias nos capítulos 16 e 23. É
interessante ver, também, as relações de Deus e Israel expressas com imagens nupciais no Cântico
dos Cânticos e no Salmo 45 (44).