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Conciliação e ecletismo no trabalho didático do educador - histedbr

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CONCILIAÇÃO E ECLETISMO NO TRABALHO DIDÁTICO DO EDUCADOR<br />

PAULISTA JOÃO TOLEDO (1879-1941)<br />

INTRODUÇÃO<br />

Paulo Edyr Bue<strong>no</strong> de Camargo<br />

Universidade Estadual de Mato Grosso <strong>do</strong> Sul (UEMS)<br />

João Augusto de Tole<strong>do</strong> nasceu <strong>no</strong> dia 12 de maio de 1879, na cidade de<br />

Tietê, Esta<strong>do</strong> de São Paulo. Foi um <strong>do</strong>s <strong>no</strong>ve filhos <strong>do</strong> casal Augusto Corrêa de Tole<strong>do</strong><br />

e Maria de Almeida Lima. Em 1904, na cidade de Serra Negra, casou-se com Carmélia<br />

Lombardi, professora <strong>do</strong> grupo escolar daquela localidade, sen<strong>do</strong> que dessa união<br />

nasceram cinco filhos: Aimée, Ruy, Lais, Wanda e Renato. Aliás, Aimée Tole<strong>do</strong>,<br />

também professora <strong>no</strong>rmalista, foi a responsável pelas ilustrações <strong>do</strong> livro Pla<strong>no</strong>s de<br />

Lição, de autoria de seu pai, cuja primeira edição é de 1934. Os filhos Ruy Tole<strong>do</strong> e<br />

Renato Tole<strong>do</strong> formaram-se em Medicina. O primeiro residiu por muitos a<strong>no</strong>s na cidade<br />

de Araraquara, interior de São Paulo. O segun<strong>do</strong> radicou-se em São Paulo.<br />

Nota-se, em linhas gerais, que a trajetória profissional de João Tole<strong>do</strong> <strong>no</strong><br />

serviço público, a exemplo <strong>do</strong> espera<strong>do</strong> à época das pessoas <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong>, seguiu<br />

uma linha ascendente.<br />

João Tole<strong>do</strong> formou-se professor em 1900, na antiga Escola Complementar<br />

de Itapetininga, criada em 1897, e que constituía um anexo da escola-modelo, por sua<br />

vez, utilizada para os exercícios de ensi<strong>no</strong> <strong>do</strong>s alu<strong>no</strong>s complementaristas. Em 1901, <strong>no</strong><br />

a<strong>no</strong> seguinte a sua diplomação, é <strong>no</strong>mea<strong>do</strong> adjunto e, meses depois, diretor <strong>do</strong> Grupo<br />

Escolar de Serra Negra. Essa ascensão <strong>no</strong> serviço público não deixa de ser<br />

surpreendente, pois, devi<strong>do</strong> à dualidade de escolas <strong>no</strong>rmais, as rápidas promoções eram<br />

mais freqüentes aos alu<strong>no</strong>s forma<strong>do</strong>s pela escola <strong>no</strong>rmal e, não, aos complementaristas.<br />

A respeito das expectativas de complementaristas e <strong>no</strong>rmalistas, em relação à carreira<br />

profissional, Tanuri (1979) diz o seguinte: “[...] parte desses últimos permaneciam<br />

pouco tempo <strong>no</strong> magistério primário (sobretu<strong>do</strong> os <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong>) ten<strong>do</strong> mais<br />

oportunidades <strong>do</strong> que aqueles de deslocar-se para postos mais eleva<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>centes ou<br />

principalmente administrativos” (TANURI, 1979, p. 116). Em 1908, João Tole<strong>do</strong> foi<br />

removi<strong>do</strong> para a diretoria <strong>do</strong> Grupo Escolar de Rio Claro.


Em 1913, ocupou o cargo de lente de Psicologia Experimental, Pedagogia e<br />

Educação Moral e Cívica na Escola Normal Secundária de São Carlos cuja instalação<br />

ocorreu em 1911. A Escola Normal de São Carlos, segun<strong>do</strong> Nosella e Buffa (2002),<br />

desfrutou, em seu perío<strong>do</strong> inicial de funcionamento, de grande prestigio haja vista, por<br />

exemplo, o majestoso edifício construí<strong>do</strong> para a sua instalação e a permanência na<br />

memória da população da comparação da escola como “uma verdadeira faculdade”.<br />

João Tole<strong>do</strong> compôs o corpo <strong>do</strong>cente da primeira turma formada pela Escola Normal<br />

Secundária de São Carlos. Os professores da escola, ou melhor, os lentes como eram<br />

de<strong>no</strong>mina<strong>do</strong>s tinham as suas <strong>no</strong>meações respaldadas pelo nível <strong>do</strong>s conhecimentos<br />

adquiri<strong>do</strong>s. “Todas as referências escritas e as lembranças sobre as primeiras <strong>no</strong>meações<br />

<strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong>cente convergem para o destaque das qualidades intelectuais <strong>do</strong>s<br />

professores” (NOSELLA e BUFFA, 2002, p. 49). Para um alu<strong>no</strong> oriun<strong>do</strong> da antiga<br />

escola complementar, pertencer a esse corpo <strong>do</strong>cente demonstra inegavelmente os seus<br />

<strong>do</strong>tes intelectuais. Não se pode, todavia, deixar de ressalvar que ministrava as<br />

disciplinas de Pedagogia e Psicologia Experimental direcionadas à profissionalização<br />

das <strong>no</strong>rmalistas. Esse fato provavelmente colocava-o numa posição de inferioridade<br />

dentro <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente da escola, porque as disciplinas mais “<strong>no</strong>bres” eram as<br />

destinadas à cultura geral, como o francês, por exemplo. João Tole<strong>do</strong> lecio<strong>no</strong>u durante 9<br />

a<strong>no</strong>s na Escola Normal Secundária de São Carlos.<br />

Em 1921, João Tole<strong>do</strong> foi removi<strong>do</strong> para Campinas, onde regeu a cadeira de<br />

Psicologia e Pedagogia, acumulan<strong>do</strong> também o cargo de diretor da Escola Normal de<br />

Campinas.<br />

No a<strong>no</strong> de 1925, foi <strong>no</strong>mea<strong>do</strong> Inspetor-Geral <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> em São Paulo. As<br />

atribuições <strong>do</strong> inspetor escolar transitavam entre <strong>do</strong>is pólos. Num deles, o papel <strong>do</strong><br />

inspetor limitava-se exclusivamente a função de mero fiscaliza<strong>do</strong>r, isto é, um burocrata<br />

a serviço <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e preocupa<strong>do</strong> apenas em cuidar <strong>do</strong>s direitos e, principalmente, <strong>do</strong>s<br />

deveres <strong>do</strong>s professores das escolas primárias. Como um raciocínio extrema<strong>do</strong> torna<br />

óbvio o que se quer dizer, o inspetor escolar desempenhava uma função quase<br />

policialesca. Em outro pólo, o almeja<strong>do</strong>, e não necessariamente em oposição ao<br />

primeiro mas, com caráter complementar, o inspetor escolar deveria ser um orienta<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> professora<strong>do</strong> e, durante a década de 1920, um divulga<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s ativos de<br />

ensi<strong>no</strong>.<br />

2


O objetivo deste <strong>trabalho</strong> é discutir as ações empreendidas por João Tole<strong>do</strong><br />

na tentativa de concretização <strong>do</strong> ideário escola<strong>no</strong>vista e como, <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da ação prática,<br />

isto é, <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>didático</strong> propriamente dito, a<strong>do</strong>tou o <strong>ecletismo</strong> pedagógico.<br />

Continuan<strong>do</strong> a sucinta descrição da sua trajetória profissional <strong>no</strong> serviço<br />

público, João Tole<strong>do</strong> exerceu, <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> de 1930 a 1932, o cargo de Assistente<br />

Técnico <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> Normal de São Paulo. E, finalmente, <strong>no</strong> dia 26 de <strong>no</strong>vembro de 1932<br />

a sua carreira de educa<strong>do</strong>r atinge o auge com a sua <strong>no</strong>meação para Diretor-Geral <strong>do</strong><br />

Ensi<strong>no</strong> em São Paulo. Desafortunadamente, ocupou esse cargo por um perío<strong>do</strong> não<br />

superior a 7 meses. O Esta<strong>do</strong> de São Paulo, nessa fase, estava envolto com as questões<br />

da “Revolução Constitucionlista”. Os problemas educacionais, por conseguinte, ficaram<br />

relega<strong>do</strong>s a segun<strong>do</strong> pla<strong>no</strong> e distantes das preocupações <strong>do</strong> gover<strong>no</strong> estadual e <strong>do</strong> povo<br />

paulista.<br />

Tole<strong>do</strong><br />

1 – A presença da conciliação <strong>no</strong> pensamento educacional de João<br />

De acor<strong>do</strong> com Reis Filho (1995), desde o Império, o exercício da inspeção<br />

escolar reduzia-se ao “fornecimento de atesta<strong>do</strong> de freqüência <strong>do</strong> professor”. No início<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> republica<strong>no</strong>, ao analisar o Regulamento de 27 de Novembro de 1893,<br />

constata o seguinte:<br />

Observa-se, nessa regulamentação, a <strong>do</strong>minância de atribuições<br />

burocráticas sobre as técnico-pedagógicas, nas funções <strong>do</strong> inspetor. A<br />

própria definição de fiscalização para as suas atividades acarretava<br />

prejuízo pedagógico. Esse defeito das regulamentações parecer (sic)<br />

ser insanável e leva sempre ao mesmo resulta<strong>do</strong>: burocratizar a ação<br />

educativa e fazer incidir sobre a rotina as preocupações <strong>do</strong> inspetor,<br />

que deveriam ser orienta<strong>do</strong>ras (REIS FILHO, 1995, p. 125).<br />

Ribeiro (1990) confirma essa análise e, aprofundan<strong>do</strong> a discussão <strong>do</strong><br />

problema, destaca a despreocupação com a qualificação técnica <strong>do</strong> inspetor escolar e,<br />

sobretu<strong>do</strong>, a sua utilização como instrumento <strong>do</strong>s grupos políticos locais. Rodriguês<br />

(1930) também se preocupou com essa questão:<br />

A creação das Inspectorias Districtaes fôra, para a época, um<br />

progresso, e os seus beneficios não podiam ser postos em duvida. Um<br />

3


obstáculo, entretanto, havia a entorpecer a acção <strong>do</strong>s Inspectores: era<br />

a politica regional, empenhada, em muitos logares, em fazer desses<br />

funccionarios meros instrumentos da politica de campanario.<br />

O Dr Alfre<strong>do</strong> Pujol não podia desconhecer esta situação. Ten<strong>do</strong><br />

presidi<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> secretario <strong>do</strong> Interior, o Congresso <strong>do</strong>s Inspectores<br />

Districtaes, que se reuniu nesta Capital em principios de 1896, teve<br />

occasião de ouvir-lhes as queixas nesse senti<strong>do</strong>. Os factos<br />

denunciavam visivelmente a revivescencia de velhos hábitos de<br />

man<strong>do</strong>nismo, que caracterisavam a política <strong>do</strong> Império, nas<br />

localidades <strong>do</strong> interior (RODRIGUÊS, 1930, p. 399).<br />

Numa sociedade ainda pre<strong>do</strong>minantemente rural, o chefe político da região,<br />

isto é, o coronel possuía hegemonia econômica e social, o que acarretava, por sua vez, o<br />

fenôme<strong>no</strong> de<strong>no</strong>mina<strong>do</strong> de filhotismo, expresso num sistema de favores aos amigos e de<br />

perseguições aos adversários.<br />

A essência, portanto, <strong>do</strong> compromisso “coronelista” – salvo situações<br />

especiais que não constituem regra – consiste <strong>no</strong> seguinte: da parte<br />

<strong>do</strong>s chefes locais, incondicional apoio aos candidatos <strong>do</strong> oficialismo<br />

nas eleições estaduais e federais; da parte da situação estadual, cartabranca<br />

ao chefe local governista (de preferência o líder da facção<br />

local majoritária) em to<strong>do</strong>s os assuntos relativos ao município,<br />

inclusive na <strong>no</strong>meação de funcionários estaduais <strong>do</strong> lugar (LEAL,<br />

1978, p. 49 e 50).<br />

A Reforma de 1892 foi valorizada por Rodriguês (1930), pois, a partir de<br />

então “o cargo de inspetor só poderia ser exerci<strong>do</strong> por professores <strong>no</strong>rmalistas”.<br />

O deputa<strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong> Pujol, em 1897, apresentou projeto que extinguia as<br />

antigas inspetorias regionais e criava <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo a Inspetoria-Geral <strong>do</strong><br />

Ensi<strong>no</strong>, ten<strong>do</strong> como auxiliares dez inspetores escolares, to<strong>do</strong>s residin<strong>do</strong> na capital.<br />

Dessa forma, segun<strong>do</strong> Pujol, cita<strong>do</strong> em Rodrigues (1930), “fóra <strong>do</strong> influxo <strong>do</strong>s mandões<br />

<strong>do</strong> interior”.<br />

A mudança significativa desse quadro, com a desejada valorização das<br />

funções de orientação pedagógica <strong>do</strong>s inspetores-escolares, somente ocorreria com a<br />

implantação da chamada “Reforma Sampaio Dória”, em 1920, <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo.<br />

João Tole<strong>do</strong> foi <strong>no</strong>mea<strong>do</strong> Inspetor-Geral <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> em 1925, portanto, em<br />

sintonia com a já existente perspectiva de valorização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> de orientação. A<br />

primeira edição <strong>do</strong> seu livro Didática cujo subtítulo é “Nas Escolas Primárias”, de 1930,<br />

situa-o como Inspetor-Geral <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo, demonstran<strong>do</strong> a sua<br />

preocupação com as questões pedagógicas referentes ao ensi<strong>no</strong> primário. Além disso, de<br />

4


acor<strong>do</strong> com Tole<strong>do</strong> (1932), <strong>no</strong> livro Escola Brasileira, o inspetor escolar deveria auxiliar<br />

a divulgação e efetivação <strong>do</strong>s princípios da escola <strong>no</strong>va:<br />

É exacto que, em <strong>no</strong>sso meio, a escola elementar <strong>do</strong> povo não<br />

comporta um regime de experimentação systemática: a brevidade <strong>do</strong><br />

curso é o seu maior empecilho, e a deficiencia de preparação <strong>do</strong><br />

mestre, que algumas vezes se verifica, deve também ser considerada.<br />

Quanto a esta parte, o mal, origina<strong>do</strong> pelo velho ensi<strong>no</strong>, rotineiro e<br />

livresco, das escolas primárias e <strong>no</strong>rmaes, está sen<strong>do</strong> removi<strong>do</strong> pela<br />

re<strong>no</strong>vação lenta <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s e pelo curso das complementares, mais<br />

especializa<strong>do</strong> e eminentemente prático; e, se a exigência e a aptidão<br />

técnica <strong>do</strong>s inspectores augmentarem um pouco, elle diminuirá, por<br />

certo, com rapidez e segurança. (TOLEDO, 1932, p. 221).<br />

João Tole<strong>do</strong>, <strong>no</strong> mesmo livro acima cita<strong>do</strong>, ao se referir mais uma vez ao<br />

<strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> inspetor escolar, mostra <strong>no</strong>vamente a sua preocupação com a difícil tarefa<br />

de concretização <strong>do</strong> ideário escola<strong>no</strong>vista diante das dificuldades materiais.<br />

Nem to<strong>do</strong>s os professores enxertam essa mixórdia insossa <strong>no</strong> pesa<strong>do</strong><br />

currículo; mas os srs. inspectores dirão quantas vezes se abysmam em<br />

classe diante <strong>do</strong> ar angélico da mestra, convicta de estar em bom<br />

caminho, e que entanto, se compraz com pendurar quinquilharias<br />

didácticas na retentiva <strong>do</strong>s alum<strong>no</strong>s. E o peior é que essas<br />

informações illustrativas têm as honras de aulas especiaes, em<br />

horários complica<strong>do</strong>s, com múltiplas subdivisões que fragmentam e<br />

esmiuçam o tempo (Id., ibid. , p. 67).<br />

As dificuldades de implantação <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s ativos de ensi<strong>no</strong> não eram<br />

exclusivas das escolas brasileiras. Elas também estavam presentes <strong>no</strong>s países europeus,<br />

o berço da proposta escola<strong>no</strong>vista. Paul Foulquié diz, em seu livro a respeito da escola<br />

<strong>no</strong>va européia, que a utilização <strong>do</strong>s princípios da pedagogia <strong>no</strong>va <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> primário e<br />

público era utopia.<br />

Os estabelecimentos designa<strong>do</strong>s pelo <strong>no</strong>me de escolas <strong>no</strong>vas são<br />

internatos particulares de educação secundária. O diretor é o senhor<br />

absoluto <strong>do</strong> recrutamento e os alu<strong>no</strong>s lhes vêm de meios <strong>no</strong>s quais o<br />

senso da ordem e da autoridade é inculca<strong>do</strong> desde a infância. Dispõe<br />

de corpo <strong>do</strong>cente escolhi<strong>do</strong>. Pode contar com os alu<strong>no</strong>s mais velhos,<br />

que já transpuzeram (sic) o esta<strong>do</strong> crítico da a<strong>do</strong>lescência, mas que<br />

seus camaradas mais jovens acolhem sem custo porque ainda estão<br />

também <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de cá. Na escola primária, nada disso. É, pois,<br />

quimérico querer introduzir nela méto<strong>do</strong>s que até hoje não medraram<br />

senão nas excepcionais condições que as escolas <strong>no</strong>vas podem<br />

realizar (FOULQUIÉ, 1952, p. 71).<br />

5


Em seu livro de memórias, Tempos Interessantes: uma vida <strong>no</strong> século XX,<br />

Eric Hobsbawm manifestou a sua opinião, ou melhor, a sua vivência em relação às<br />

dificuldades de implantação <strong>do</strong> ideário escola<strong>no</strong>vista.<br />

Os próprios professores compreendiam que na <strong>no</strong>va era a escola<br />

deveria ser diferente, mas não sabiam bem como. (Meu livro escolar<br />

de canções dizia na época, 1925: “os <strong>no</strong>vos méto<strong>do</strong>s de ensi<strong>no</strong> não<br />

estan<strong>do</strong> ainda completamente claros”.) Eu iria descobrir a história <strong>do</strong><br />

tipo “1066 e tu<strong>do</strong> o mais” <strong>no</strong> Gymnasium secundário, que ainda não<br />

se emancipará da pedagogia tradicional (HOBSBAWM, 2002, p.<br />

36).<br />

Alguns autores brasileiros também se pronunciaram a respeito das<br />

dificuldades de concretização <strong>do</strong> escola<strong>no</strong>vismo em território nacional. Merece<br />

destaque, entre eles, o depoimento <strong>do</strong> ex-<strong>no</strong>rmalista João Lourenço Rodrigues,<br />

testemunha <strong>do</strong>s principais acontecimentos escolares nas primeiras décadas <strong>do</strong> século<br />

XX em São Paulo, que declarou, em suas memórias a respeito da Escola Normal da<br />

Capital, edita<strong>do</strong> em 1930, a<strong>no</strong> <strong>do</strong> cinqüentenário da modelar escola <strong>no</strong>rmal, o seguinte:<br />

“Consideradas em fase da realidade, as theorias professadas na Escola Normal sobre<br />

organisação escolar e metho<strong>do</strong>s didacticos não passavam de locubrações bysantinas”<br />

(RODRIGUES, 1930, p. 141).<br />

Também merece destaque o depoimento de Anísio Teixeira, autor<br />

escola<strong>no</strong>vista, em carta endereçada a Fernan<strong>do</strong> de Azeve<strong>do</strong>, datada de 18 de maio de<br />

1951, na qual realiza um balanço da situação educacional brasileira, assim se expressa:<br />

“Acho, assim, que nunca estivemos tão mal. O movimento agora devia ser algo me<strong>no</strong>s<br />

<strong>do</strong>utrinário que em 1932 e mais concreto, mais na ordem de levantamento da situação e<br />

planejamento educacional <strong>do</strong> país” (VIDAL, 2000, p. 68). O mesmo Anísio Teixeira em<br />

livro publica<strong>do</strong>, pela primeira vez, em 1934, formulou uma proposta de implantação<br />

paulatina <strong>do</strong> escola<strong>no</strong>vismo.<br />

Não poderemos mudar da <strong>no</strong>ite para o dia. A própria organização da<br />

escola e o exercício <strong>do</strong> seu ministério pelo professor só teriam a<br />

perder com uma modificação súbita.<br />

Podemos, talvez, iniciar o movimento.<br />

- Primeiro, fundan<strong>do</strong> escolas experimentais, cujo número iria<br />

aumentan<strong>do</strong> com os professores convenientemente prepara<strong>do</strong>s;<br />

- Segun<strong>do</strong>, retiran<strong>do</strong> <strong>do</strong> dia escolar uma hora ou uma meia hora, em<br />

que se tente o <strong>no</strong>vo méto<strong>do</strong>, mesmo nas escolas tradicionais. A<br />

criança, devidamente guiada, escolherá a sua atividade e, nessa hora,<br />

6


aprenderá sob o princípio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> com um fim em vista<br />

(TEIXEIRA, 2000, p. 91 e 92).<br />

Diante das dificuldades de implantação <strong>do</strong> escola<strong>no</strong>vismo, João Tole<strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>ta uma postura conciliatória entre a escola tradicional, que enfatiza o esforço, e a<br />

escola <strong>no</strong>va, centralizada <strong>no</strong> interesse <strong>do</strong> alu<strong>no</strong>.<br />

Não é ainda relativamente velha a tendencia pedagógica para<br />

deslocar a educação primária, apoiada outróra sobre o esforço da<br />

criança, e calcá-la <strong>no</strong> seu interesse espontâneo ou em outro adquiri<strong>do</strong>,<br />

que a habilidade <strong>do</strong> mestre suscita e alimenta. Ganha terre<strong>no</strong> a<br />

<strong>do</strong>utrina, mais nas justificativas theóricas que na prática escolar; e,<br />

porque empolgue o enthusiasmo de muitos, convém prevenir<br />

possiveis excessos, lembran<strong>do</strong> que, se o interesse é porta aberta á<br />

entrada, livre e rápida, de <strong>no</strong>ções indispensaveis, o esforço tempéra a<br />

resistência mental <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> e cria, para elle, o poder de controle<br />

sobre si mesmo. Provocar e desenvolver o primeiro, mas não<br />

desprezar o segun<strong>do</strong> – é regra prudente que se offerece ao educa<strong>do</strong>r<br />

(TOLEDO, 1932, p. 58-9).<br />

Ora, a implantação imediata <strong>do</strong> escola<strong>no</strong>vismo era, como se mostrou na<br />

citação de Anísio Teixeira acima referida, totalmente inviável. João Tole<strong>do</strong>, na<br />

realidade, estava pressiona<strong>do</strong> pela idéia <strong>do</strong> escola<strong>no</strong>vismo e as condições materiais das<br />

escolas públicas, ainda organizadas de acor<strong>do</strong> com os princípios da escola tradicional.<br />

Encontra ainda a remodelação da escola tradicional um sério<br />

empecilho nas <strong>no</strong>ssas installações prediaes. Temos casas bonitas,<br />

algumas de proporções majestosas, fartamente illuminadas e arejadas.<br />

Mas a matrícula numerosa encheu-lhes todas as salas de crianças, e,<br />

ás vezes, até parte <strong>do</strong>s corre<strong>do</strong>res. Não ficou espaço amplo disponivel<br />

para o trei<strong>no</strong> manual que a escola <strong>no</strong>va reclama, nem área apropriada<br />

a jogos desportivos, nem campo para estu<strong>do</strong> da natureza. Os<br />

pequeni<strong>no</strong>s, assenta<strong>do</strong>s em suas carteiras, com os movimentos mais<br />

ou me<strong>no</strong>s tolhi<strong>do</strong>s, ali mesmo, na mesma sala, recebem todas as<br />

lições, com excepção das de gymnástica. Só a bôa-vontade <strong>do</strong> mestre<br />

consegue remediar alguns inconvenientes; e só á medida que <strong>no</strong>vos<br />

prédios sejam feitos e os actuaes sejam amplia<strong>do</strong>s com galpões e com<br />

áreas para jogos e campo de experiencia, irá sen<strong>do</strong> possivel pôr em<br />

prática os princípios da <strong>no</strong>va educação (TOLEDO, 1930, p. 15 e 16).<br />

O descompasso entre os princípios teóricos e as condições materiais<br />

concretas constrangeu João Tole<strong>do</strong> a sugerir soluções paliativas. No limite entre a<br />

crítica ao ensi<strong>no</strong> tradicional, centraliza<strong>do</strong> na exposição oral <strong>do</strong> professor, e a<br />

7


importância da observação direta <strong>do</strong>s fenôme<strong>no</strong>s estuda<strong>do</strong>s, princípio escola<strong>no</strong>vista,<br />

propunha ao professor o aperfeiçoamento <strong>no</strong> desenho.<br />

Bem pesadas todas as condições actuaes de <strong>no</strong>ssa installação escolar,<br />

de <strong>no</strong>ssas aptidões metho<strong>do</strong>lógicas, e das concepções de <strong>no</strong>ssa gente,<br />

relativas á finalidade educativa elementar, as illustrações, feitas pelo<br />

mestre <strong>no</strong> quadro-negro, são o recurso mais pronto, mais<br />

conveniente, mais aconselhável, como meio de transição entre o<br />

ensi<strong>no</strong> verbal, puro, e o ensi<strong>no</strong> prático e utilitário, em contato direto<br />

com as cousas a conhecer (TOLEDO, 1932, p. 216).<br />

Outra alternativa, formulada por João Tole<strong>do</strong>, apareceu <strong>no</strong>s Annuarios <strong>do</strong><br />

Ensi<strong>no</strong> (1920 – 1921) sob a forma de memória apresentada ao Conselho de Educação<br />

intitula<strong>do</strong> “Bibliotheca <strong>do</strong> Professor Primário”. João Tole<strong>do</strong> recomenda aos professores<br />

a utilização de alguns livros, “tomará o professor de classe <strong>do</strong>is ou três livrinhos”, como<br />

forma de superar as dificuldades que a utilização <strong>do</strong>s preceitos escola<strong>no</strong>vista requerem.<br />

O centro <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>didático</strong>, corroboran<strong>do</strong> tese de Alves (2001), portanto, não estaria<br />

<strong>no</strong> professor, como acontecia na escola tradicional, e nem na criança, a exemplo <strong>do</strong> que<br />

recomendava a escola <strong>no</strong>va, mas sim, <strong>no</strong> manual <strong>didático</strong>.<br />

Ter-se-á o cuida<strong>do</strong> de expor somente a matéria que a capacidade de<br />

<strong>no</strong>ssa classe possa comportar, na extensão e altura que suas forças<br />

mentaes alcancem e assimilem. Livro <strong>do</strong> mestre embora, é<br />

indispensável não esquecer que as lições são preparadas para as<br />

crianças e que o auctor eco<strong>no</strong>miza tempo e <strong>trabalho</strong> ao professor da<br />

classe. A linguagem simples, porém correcta e incisiva, será sóbria<br />

<strong>no</strong>s termos techicos: os quadros sy<strong>no</strong>pticos bem claros, os exemplos<br />

illustrativos, adequa<strong>do</strong>s á idade <strong>do</strong>s alum<strong>no</strong>s devem ser escolhi<strong>do</strong>s<br />

entre coisas e fatos bem conheci<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong>s. E um nacionalismo<br />

largo e sadio resumará da obra toda, dan<strong>do</strong>-lhe a feição <strong>do</strong>minante.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, tomará o professor da classe <strong>do</strong>is ou três livrinhos e, em<br />

alguns minutos, terá prepara<strong>do</strong>, e bem prepara<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> o seu <strong>trabalho</strong><br />

<strong>do</strong> dia próximo (TOLEDO, João. Bibliotheca <strong>do</strong> Professor Primário.<br />

Anuário <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> (1920 – 1921, p. 361 – 365).<br />

Paul Foulquié, na primeira parte <strong>do</strong> seu livro a respeito da escola <strong>no</strong>va,<br />

comenta o pensamento <strong>do</strong>s principais inicia<strong>do</strong>res da pedagogia <strong>no</strong>va. São eles, pela<br />

ordem cro<strong>no</strong>lógica, Rousseau, Henrique Pestalozzi e Frederico Froebel. Em relação à<br />

Pestalozzi, Foulquié (1952) diz que a grande “missão” da sua vida, e também <strong>do</strong>s seus<br />

colabora<strong>do</strong>res, era colocar em práticas os princípios pedagógicos de Rousseau. Neste<br />

propósito, teria papel fundamental o livro escolar, ou manual <strong>didático</strong>, como um<br />

8


instrumento capaz de difundir a educação pelo povo. A excelência <strong>do</strong> instrumento<br />

possibilitaria, inclusive, a substituição <strong>do</strong> professor pela me<strong>no</strong>s instruída das mães.<br />

Creio que se não deve pensar em obter, em geral, um só progresso na<br />

instrução <strong>do</strong> povo, enquanto não se tiverem encontra<strong>do</strong> formas de<br />

ensi<strong>no</strong> que façam <strong>do</strong> professor o mero instrumento mecânico dum<br />

méto<strong>do</strong> que deva seus resulta<strong>do</strong>s à natureza de seus processos e não à<br />

habilidade de quem o pratica. Admito que um livro escolar não tem<br />

valor senão quan<strong>do</strong> possa ser emprega<strong>do</strong> tão bem por um mestre sem<br />

instrução quan<strong>do</strong> por um instruí<strong>do</strong>. Seu principal mérito deve<br />

consistir em ser composto de tal sorte, que o professor, ou mesmo a<br />

mãe, tenha nele um guia e um apoio suficientes para ter a dianteira da<br />

criança na evolução progressiva que é o fim da educação<br />

(PESTALOZZI, s/d apud FOULQUIÉ, 1952, p. 12 e 13).<br />

A questão da conciliação proposta por Tole<strong>do</strong> não é estranha à<br />

historiografia educacional. Observa-se, em Ponce (2001), a formulação de duas<br />

correntes dentro <strong>do</strong> movimento escola<strong>no</strong>vista: a meto<strong>do</strong>lógica e a <strong>do</strong>utrinária<br />

É, dentro da <strong>no</strong>va educação, a corrente que poderíamos chamar<br />

“meto<strong>do</strong>lógica”. Sem se preocupar muito com problemas <strong>do</strong>utrinários<br />

e filosóficos, ela encara a questão de um ponto de vista técnico:<br />

mediante que i<strong>no</strong>vações didáticas obteríamos para o ensi<strong>no</strong> primário<br />

um rendimento máximo? [...]<br />

Sem desconhecer a urgência de uma reforma didática, isto é, da<br />

técnica de ensi<strong>no</strong>, essa corrente afirma que o núcleo <strong>do</strong> problema não<br />

está nisso e sim <strong>no</strong> aspecto cultural. Educar não seria para ela<br />

reformar este méto<strong>do</strong> ou corrigir aquele horário, mas , sim,<br />

“mergulhar uma alma <strong>no</strong> seio da cultura”. É a corrente que<br />

poderíamos chamar “<strong>do</strong>utrinária”, por oposição à que de<strong>no</strong>minamos<br />

meto<strong>do</strong>lógica. Ten<strong>do</strong> uma orientação muito mais filosófica <strong>do</strong> que<br />

prática, essa corrente é, naturalmente, a mais inflada, presunçosa e<br />

solene, das duas mencionadas. Olha a outra com desdém, gosta de<br />

usar uma linguagem ríspida, empregan<strong>do</strong> um tom cada vez mais<br />

<strong>do</strong>utoral (PONCE, 2001, p. 158).<br />

Concepção semelhante também aparece em Luzuriaga (1934). O autor<br />

espanhol fala em “escola ativa” e “escola única”.<br />

Os <strong>do</strong>is conceitos fundamentais da educação <strong>do</strong> tempo presente são:<br />

“escola ativa” e “escola única”. Aquela se refere ao conteú<strong>do</strong>, à vida<br />

interna das instituições educativas. Esta diz respeito à forma , à<br />

organização exterior dessas instituições. A “escola ativa” é sobretu<strong>do</strong><br />

uma concepção psico-pedagógica, a “escola única” é<br />

fundamentalmente uma aspiração pedagógico-social (LUZURIAGA,<br />

1934, p. 8).<br />

9


Na historiografia educacional brasileira, Fernan<strong>do</strong> de Azeve<strong>do</strong> também<br />

aponta a existência de uma divisão dentro <strong>do</strong> movimento escola<strong>no</strong>vista. “[...] confusão<br />

de <strong>do</strong>utrinas, que mal se encobriam sob a de<strong>no</strong>minação genética de ‘educação <strong>no</strong>va’ ou<br />

de ‘escola <strong>no</strong>va’ suscetível de acepções muito diversas 17 ” (AZEVEDO, 1963, p. 671).<br />

Ele desenvolve a discussão da <strong>no</strong>ta 17, acima referida, <strong>no</strong> rodapé da página: “[...] duas<br />

formas de educação: uma, tendência inspirada pelas <strong>no</strong>vas idéias biopsicológicas da<br />

criança e nas concepções funcionais da educação e a outra, ligada a evolução <strong>do</strong>s<br />

conhecimentos e das idéias sociais e sugerida por uma concepção mais nítida <strong>do</strong> papel<br />

da escola como instituição social” (Id. , ibid. , p. 671).<br />

João Tole<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de ensi<strong>no</strong>, ou <strong>do</strong>s meios, pode<br />

ser considera<strong>do</strong> um autor escola<strong>no</strong>vista. Ele critica um <strong>do</strong>s pontos centrais da escola<br />

tradicional: a memorização. “Ora, salta aos olhos que – máximas, regras ou leis,<br />

aprendidas de cór, mas não entendidas, entulhan<strong>do</strong> a memória e sem effeitos práticos,<br />

são meras roupagens vistosas, mas inuteis, que a primeira difficuldade rompe ou<br />

levanta, pon<strong>do</strong> a nu o atrazo e a incapacidade de quem as veste” (TOLEDO, 1932, p.<br />

264). Sugere, ao mesmo tempo, um importante princípio escola<strong>no</strong>vista: a aproximação<br />

da vida com a escola. “Dahi o valor <strong>do</strong> último passo: - viver na escola a vida de fora<br />

della, fazer da vida escolar uma cópia, em miniatura, da vida social. Vae-se assim<br />

alargan<strong>do</strong>, pouco a pouco, a esfera de applicação das <strong>no</strong>ções que forem sen<strong>do</strong><br />

assimiladas” (Id. , ibid. , p. 263). E, por fim, propõe a utilização de uma idéia tão cara<br />

ao escola<strong>no</strong>vismo: a globalização.<br />

10<br />

E assim se condemna o isolamento das disciplinas na execução <strong>do</strong>s<br />

programmas primários, e se recommenda, nas séries respectivas, a<br />

familiarização com uma coisa, com um facto, um problema, um<br />

fenóme<strong>no</strong>, <strong>no</strong> conjunto que o unifica, globalizan<strong>do</strong>, em tor<strong>no</strong> de cada<br />

um, as <strong>no</strong>ções que o esclarecem, venham ellas embora de quaesquer<br />

<strong>do</strong>mínios scientíficos. Não se estudam fragmentos de sciencias, mas<br />

aspectos da vida real (Id. , ibid. , p. 243).<br />

2 – A presença <strong>do</strong> <strong>ecletismo</strong> <strong>no</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>didático</strong> de João Tole<strong>do</strong><br />

A pedagogia <strong>no</strong>va de João Tole<strong>do</strong> seria mais da ordem prática vinculada<br />

aos méto<strong>do</strong>s de ensi<strong>no</strong>, aos meios educacionais, <strong>do</strong> que uma escola <strong>no</strong>va de ordem<br />

teórica e conceitual. Observa-se, assim, logo de início, o caráter problemático e


contraproducente dessa divisão. O conflito entre procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos e<br />

fundamentos teóricos, segun<strong>do</strong> Reis Filho (1995), já aparecia na implantação da Escola-<br />

Modelo anexa à Escola Normal de São Paulo.<br />

11<br />

As especialistas contratadas pela Escola Normal de São Paulo para<br />

re<strong>no</strong>var, por intermédio da Escola-Modelo anexa, o ensi<strong>no</strong> primário<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>do</strong>minavam perfeitamente a técnica <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> intuitivo,<br />

mas não conheciam seus fundamentos teóricos. Embora Caeta<strong>no</strong> de<br />

Campos desejasse fazer da Escola-Modelo um foco de<br />

experimentação pedagógica, ele contou apenas com pessoas treinadas,<br />

possivelmente bem treinadas, em uma técnica, em um procedimento<br />

meto<strong>do</strong>lógico, toma<strong>do</strong>, então, como o único e com validade “natural”.<br />

E porque estava ao nível <strong>do</strong> bom senso, parecia, verdadeiramente<br />

indiscutível. Ora, não há experimentação pedagógica, quan<strong>do</strong> não é<br />

possível discutir os fundamentos teóricos que a determinam (REIS<br />

FILHO, 1995, p. 80).<br />

As dificuldades de conceituar com precisão as termi<strong>no</strong>logias pedagógicas,<br />

bem como diferenciá-las de outras áreas <strong>do</strong> conhecimento, de acor<strong>do</strong> com Planchard<br />

(1946), são e<strong>no</strong>rme entre os educa<strong>do</strong>res. Segun<strong>do</strong> o autor francês, esses impedimentos<br />

ocorrem, principalmente, devi<strong>do</strong> a <strong>do</strong>is fatores:<br />

E, coisa curiosa, é, muitas vezes, precisamente naqueles mesmos de<br />

quem se poderia esperar, a priori, uma informação conveniente em<br />

matéria de ciência pedagógica, que é maior a imprecisão: os<br />

professores de instrução primária ig<strong>no</strong>ram, freqüentemente, as<br />

distinções mais elementares entre filosofia e ciência, entre ciência<br />

pura e ciência prática, entre psicologia e pedagogia, etc. E os que têm<br />

prática de exames, até universitários, sabem que a precisão das<br />

definições não é uma qualidade corrente nas respostas <strong>do</strong>s estudantes<br />

[...] A razão, pelo que diz respeito aos professores primários, provém,<br />

talvez, <strong>do</strong> defeituoso ensi<strong>no</strong> ministra<strong>do</strong> na escola <strong>no</strong>rmal; talvez,<br />

também, interessa<strong>do</strong>s, antes de mais nada, na tarefa quotidiana e<br />

rotineira, nunca se tivessem da<strong>do</strong> ao <strong>trabalho</strong> de reflectir sèriamente<br />

sôbre estas questões, que julgam sem importância e sem utilidade<br />

imediata (PLANCHARD, 1946, p. 13 e 14).<br />

A proposta pedagógica de João Tole<strong>do</strong> é baseada, sobretu<strong>do</strong>, <strong>no</strong>s aportes<br />

teóricos da psicologia. Como, segun<strong>do</strong> Tavares (1996), o estatuto científico da<br />

pedagogia foi construí<strong>do</strong> graças aos princípios meto<strong>do</strong>lógicos e conceituais empresta<strong>do</strong>s<br />

pela psicologia para o saber pedagógico, a proposta escola<strong>no</strong>vista de João Tole<strong>do</strong>,<br />

portanto, encontra-se, ainda, mesclada aos princípios da pedagogia científica. Era, não<br />

obstante, um defensor <strong>do</strong>s princípios da pedagogia <strong>no</strong>va como, por exemplo, a<br />

aproximação da escola com a vida e a idéia de globalização das disciplinas. Na


ealidade, a presença <strong>do</strong> <strong>ecletismo</strong> <strong>no</strong> pensamento educacional de João Tole<strong>do</strong> cria<br />

obstáculos para a definição exata de sua filiação teórica.<br />

João Tole<strong>do</strong> utiliza, na formulação <strong>do</strong> seu pensamento, modelos cujas<br />

decorrências teóricas eram originalmente divergentes. Nota-se, com efeito, a articulação<br />

da importância da experiência e <strong>do</strong> contato direto com os fenôme<strong>no</strong>s como princípios<br />

essenciais da aprendizagem, fundamenta<strong>do</strong>s <strong>no</strong> manual america<strong>no</strong> Primeiras Lições de<br />

Coisas, de Norman Allison Calkins (1822-1895); e, ao mesmo tempo, a aceitação das<br />

idéias de que as diferenças humanas são inatas e transmissíveis hereditariamente, com<br />

base na produção teórico <strong>do</strong> psicólogo francês Théodule Ribot (1839-1916). João<br />

Tole<strong>do</strong> reproduz, assim, fenôme<strong>no</strong> aponta<strong>do</strong> por Schwarcz (1995) em sua análise <strong>do</strong><br />

evolucionismo social: o <strong>ecletismo</strong>. “Buscavam-se, portanto, em teorias formalmente<br />

excludentes, usos e decorrências inusita<strong>do</strong>s e paralelos, transforman<strong>do</strong> modelos de<br />

difícil aceitação local em teorias de sucesso” (SCHWARCZ, 1995, p. 18).<br />

12<br />

A experiencia é a melhor das mestras; os mo<strong>do</strong>s de acquisição de cada<br />

uma, precisos e invariaveis, ajustam a mente á acção, associan<strong>do</strong> de<br />

tal fórma a idéa, o sentimento e a vontade ás attitudes<br />

correspondentes, que alma e conducta se confundem sempre, onde ella<br />

se realizou a preceito. Só de um mo<strong>do</strong>, uma mesma experiência é<br />

directamente adquirida. Pelos ouvi<strong>do</strong>s não penetram as côres e as<br />

fórmas <strong>do</strong>s objectos. Palpan<strong>do</strong> e ven<strong>do</strong> um pêcego, uma rosa, uma<br />

luneta, as linhas de seus contor<strong>no</strong>s, os tons reaes de sua coloração,<br />

impressionam os centros cerebraes respectivos, onde as imagens, que<br />

essas cousas projectam, exactas e fieis, têm seu verdadeiro registro.<br />

Assim se realizam experiências. Descrever um pêcego a quem não o<br />

conhece, contan<strong>do</strong>-lhe a côr que tem, a fórma, o avelluda<strong>do</strong> da pelle, o<br />

cheiro, o sabor, é dar-lhe palavras em vez de imagens, palavras que<br />

não espelham seus attributos e que, por isso, não o fazem conheci<strong>do</strong>.<br />

Tal processo não implica experiencias, que só a criança realiza ven<strong>do</strong><br />

o que pode ser visto, ouvin<strong>do</strong>, palpan<strong>do</strong>, cheiran<strong>do</strong>, saborean<strong>do</strong> o que<br />

pode ser ouvi<strong>do</strong>, palpa<strong>do</strong>, cheira<strong>do</strong> ou prova<strong>do</strong>. Fora destes meios de<br />

penetração, as <strong>no</strong>ções falseiam as vias naturaes e perdem a nitidez e a<br />

certeza que as fazem valiosas (TOLEDO,1932, p. 209).<br />

João Tole<strong>do</strong> cita os Pareceres de Ruy Barbosa como baliza<strong>do</strong>r de suas<br />

idéias educacionais e recomenda o uso das Lições de Coisas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> de geografia.<br />

E´ evidente que estas cousas não podem ser entendidas por crianças,<br />

pois ellas não apparecem aos poucos, aqui e ali, em momento<br />

oportu<strong>no</strong>, para completar uma <strong>no</strong>ção, quan<strong>do</strong> o espírito está<br />

prepara<strong>do</strong> para recebê-las; vêm logo de cambulhada e supetão, todas<br />

de uma só vez, como propedêutica para estu<strong>do</strong> ulterior. Ruy Barbosa,<br />

<strong>no</strong> célebre Parecer, cujas luzes tantas vezes temos busca<strong>do</strong>, rebella-se


13<br />

contra essa orientação e examinan<strong>do</strong> um desses compêndios, escreve:<br />

“Na geografia geral, a grande questão, o empenho quase absoluto <strong>do</strong><br />

curso está em gravar na memória os <strong>no</strong>mes de to<strong>do</strong>s os paizes, mares,<br />

golfos, estreitos, lagos, rios, montes, ilhas, penínsulas, cabos: cerca<br />

de mil. Na geografia particular, recrudescem a impertinência e a<br />

preoccupação fixa, invariável, de decorar, e só decorar”. E conclue:<br />

“Pratica<strong>do</strong> assim pelo bordão da rotina, o ensi<strong>no</strong> da geografia é inútil,<br />

embrutece<strong>do</strong>r”.<br />

A pedagogia <strong>no</strong>va abre-<strong>no</strong>s hoje rumo claro e seguro. O ensi<strong>no</strong><br />

elementar da geografia não póde obedecer as leis diversas das que<br />

regem toda a cultura scientífica. Onde, portanto, não for<br />

absolutamente possível o processo da lição de cousas, da observação<br />

directa <strong>do</strong>s fenôme<strong>no</strong>s estuda<strong>do</strong>s, ao me<strong>no</strong>s é essencial que a lição<br />

parta sempre <strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> para o desçonheci<strong>do</strong>, e se apóie em<br />

objectos tão familiares ao alum<strong>no</strong> como ao professor” (Id. , ibid. , p.<br />

300 e 301).<br />

A influência de Lições de Coisas é marcante na proposta educacional de<br />

João Tole<strong>do</strong>. O seu livro Pla<strong>no</strong>s de Lição – Noções Communs, publica<strong>do</strong> em 1934, é<br />

uma adaptação <strong>do</strong> livro Primeira Lições de Coisas para as questões nacionais, conforme<br />

se observa <strong>no</strong> fragmento abaixo retira<strong>do</strong> da 3º edição <strong>do</strong> livro Escola Brasileira edita<strong>do</strong><br />

em 1932.<br />

Nem o tempo nem as conveniencias autorizam as seriação<br />

systemática dessas <strong>no</strong>ções sob o título da sciencia a que<br />

respectivamente pertencem: agrupadas sob o critério das relações que<br />

ellas têm com a vida <strong>do</strong> indivíduo e enlaçadas pelas semelhanças <strong>do</strong>s<br />

serviços que prestam, podem figurar <strong>no</strong> programma sob o <strong>no</strong>me de<br />

<strong>no</strong>ções communs, que, parece, não lhes fica mal.<br />

A de<strong>no</strong>minação de lições de coisas não compreende to<strong>do</strong>s assuntos<br />

que procuramos englobar sob aquella rubríca, nem corresponde a<br />

to<strong>do</strong>s os intuitos visa<strong>do</strong>s pelo ensi<strong>no</strong> <strong>do</strong>s assuntos em questão; a de<br />

estu<strong>do</strong> da natureza, usada pelos <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s adapta-se muito<br />

melhor ao <strong>no</strong>sso pensamento, sem, contu<strong>do</strong>, ajustar-se rigorosamente<br />

a elle; e a que propomos <strong>no</strong>ções communs – justifica-se, 1º) porque<br />

abrange elementos de vários ramos de sciencias, 2º) porque essas<br />

<strong>no</strong>ções derivam das condições <strong>do</strong> logar em que a escola funcciona, e<br />

3º) porque, intuitivas e necessárias, entram em estensão e<br />

profundidade várias, na experiencia de to<strong>do</strong>s os adultos (Id. , ibid. , p.<br />

316)<br />

A citação de Reis Filho (1995), acima, destaca a importância de se<br />

conhecer os fundamentos teóricos <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de ensi<strong>no</strong>. Aliás, utiliza como exemplo<br />

o próprio méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> intuitivo ou lições de coisas. Foi justamente esse o princípio<br />

<strong>no</strong>rtea<strong>do</strong>r <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, realiza<strong>do</strong> por Valdemarin (2004), a respeito da influência <strong>do</strong><br />

paradigma epistemológico na formulação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> intuitivo. Para a autora,


nesse senti<strong>do</strong>, o referencial teórico <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> intuitivo, ao contrário <strong>do</strong> que falam os<br />

manuais <strong>didático</strong>s, encontra-se além das teorizações de Pestalozzi e Froebel.<br />

14<br />

Nesta interpretação, creditamos ao empirismo, teorização sobre o<br />

conhecimento elaborada por Francis Bacon, John Locke e David<br />

Hume, <strong>no</strong>s séculos XVII e XVIII, a influência determinante <strong>do</strong>s<br />

procedimentos de ensi<strong>no</strong>, cuja caracterização foi elaborada com base<br />

em manuais <strong>didático</strong>s produzi<strong>do</strong>s com a finalidade de orientar e<br />

implementar a prática de professores <strong>no</strong> emprego <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de ensi<strong>no</strong><br />

intuitivo (VALDEMARIN, 2004, p. 06).<br />

A teoria <strong>do</strong> conhecimento de<strong>no</strong>minada empirismo maximaliza a<br />

importância da educação <strong>no</strong> processo de formação <strong>do</strong> ser huma<strong>no</strong>. Se a mente é uma<br />

“tabula rasa” e se to<strong>do</strong>s os valores morais e intelectuais são oriun<strong>do</strong>s da experiência<br />

sensível, é perfeitamente possível interferir e direcionar o desenvolvimento huma<strong>no</strong> por<br />

intermédio da educação, pois a origem <strong>do</strong> conhecimento se encontra <strong>no</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />

huma<strong>no</strong>s. O empirismo, portanto, está em oposição à metafísica e ao ensi<strong>no</strong> abstrato,<br />

priorizan<strong>do</strong> o contato direto com as coisas em vez de palavras.<br />

Os princípios <strong>do</strong> empirismo foram incorpora<strong>do</strong>s à formulação <strong>do</strong> ideário<br />

educacional de João Tole<strong>do</strong>. Todavia, observa-se, também, em seu ideário educacional<br />

a presença de conceitos diametralmente opostos ao empirismo como o inatismo e a<br />

transmissão hereditária de características físicas e psicológicas. No livro Crescimento<br />

Mental, <strong>no</strong>tadamente <strong>no</strong> capítulo de<strong>no</strong>mina<strong>do</strong> Influencias Ancestraes, João Tole<strong>do</strong><br />

atribui sua inspiração a respeito da matéria a Ribot e, ainda, na citação abaixo transcrita,<br />

utiliza o exemplo de conhecidas famílias da história.<br />

Também se transmittem, como estes de feição primitiva, os instinctos<br />

adquiri<strong>do</strong>s. Ribot, a quem seguimos passo a passo neste capitulo,<br />

observa que, <strong>no</strong>s lugares onde se faz guerra continuas ás raposas, os<br />

filhos das perseguidas, depois de algumas gerações, saem de suas<br />

tocas com cuida<strong>do</strong>s que seus ascendentes não tomavam. O me<strong>do</strong>,<br />

inspira<strong>do</strong> a estes, passou-se-lhes como herança. Cães perdigueiros,<br />

conduzi<strong>do</strong>s <strong>no</strong> campo pela primeira vez, portan<strong>do</strong>-se, não raro, como<br />

seus paes, cujo trei<strong>no</strong> foi longo e cuida<strong>do</strong>so. Aquelles, destina<strong>do</strong>s á<br />

salvação de viajantes surpreendi<strong>do</strong>s pelas tempestades de neve ou<br />

extravia<strong>do</strong>s nas montanhas, têm, desde logo, a habilidade, dir-se-ia<br />

intelligente, <strong>do</strong>s paes que aprenderam o mister com custo e <strong>trabalho</strong>.<br />

E´ verdade que estas modificações falham muitas vezes; mas, na 5ª<br />

ou 6ª geração, quan<strong>do</strong> mecanizadas <strong>no</strong> individuo, transmittem-se com<br />

toda a segurança. Isto prova que a hereditariedade não conserva<br />

apenas, cria também. [...]<br />

Através da História, ha famílias que se fizeram célebres por<br />

excellencias de alma que possuiram ou por defeitos graves que as


15<br />

afearam. São bem conhecidas a de Cornélia, mãe <strong>do</strong>s Graccos, a <strong>do</strong>s<br />

Césares (Tibério, Calígula, Cláudio e Nero); a de Carlos Mag<strong>no</strong>; a<br />

<strong>do</strong>s Médicis; a D. Carlos, rei de Hespanha; os Pitt, os Fox, os Peel da<br />

Ingalterra; a família de Mirabeau, e os <strong>no</strong>ssos Andradas. E quantas<br />

outras, que, humildes, a chrónica não lhes guar<strong>do</strong>u os <strong>no</strong>mes, seriam<br />

exemplos frisantes a illustrarem <strong>no</strong>ssa these? (TOLEDO, 1925, 31 e<br />

32).<br />

O livro Crescimento Mental, vale lembrar, mostra em seu subtítulo qual é o<br />

seu conteú<strong>do</strong> e para qual público se destina: “Exposição analytica da psyco-pedagogia<br />

para uso <strong>do</strong>s alum<strong>no</strong>s da escolas <strong>no</strong>rmaes e <strong>do</strong>s professores <strong>do</strong> curso primário”. Outro<br />

livro de João Tole<strong>do</strong>, Sombras que vivem, um livro de história pertencente à categoria<br />

<strong>do</strong>s para<strong>didático</strong>s, é destina<strong>do</strong> principalmente às crianças. Neste livro verifica-se,<br />

também, à concepção de transmissão hereditárias de características de personalidade.<br />

- O Conselheiro? – Sim, o de Canu<strong>do</strong>s, foi mais infeliz que perverso,<br />

martyr mais que bandi<strong>do</strong>. Expiou, além <strong>do</strong>s seus, erros ancestraes e<br />

soffreu aze<strong>do</strong>s caprichos da sorte. Bom não poude ser; mas não teria<br />

si<strong>do</strong> mau, se outros fossem os agentes que o determinaram. Falhou-lhe<br />

até a educação, esbarran<strong>do</strong> de encontro a muralhas biológicas<br />

instransponiveis. Por isso, como to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, tambem elle não se fez<br />

á feição exclusiva da própria vontade: outras forças entraram em jogo<br />

– lastravam-lhe a ín<strong>do</strong>le mórbidas tendências de seus avós;<br />

favoreceram-lhe depois a eclosão de nevrose duras vicissitudes<br />

sociaes (TOLEDO, 1923, p. 154).<br />

Acreditar que há uma essência humana a priori, que pode se deteriorar ou se<br />

desenvolver dependen<strong>do</strong> das predisposições hereditárias de cada indivíduo, é negar o<br />

livre-arbítrio e minimizar a importância da educação para a formação humana.<br />

Por que João Tole<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta teorias tão divergentes? Não se trata, aqui, em<br />

absoluto, de tentativa de justificar aquilo que, por si só, é totalmente injustifica<strong>do</strong>. João<br />

Tole<strong>do</strong>, na realidade, conciliou, em alguns momentos, preceitos da escola tradicional<br />

com a sua proposta escola<strong>no</strong>vista, diante das dificuldades de concretização imediata das<br />

diretrizes da pedagogia <strong>no</strong>va. Se tal conciliação não é recomendada, pode-se, porém,<br />

aceitá-la como algo provisório, enquanto não forem alteradas as inadequadas condições<br />

materiais. Agora, a utilização de princípios teóricos formalmente excludentes, com diz<br />

Schwarz (1995), é completamente inviável e contraproducente. Infelizmente, tal<br />

equívoco não é restrito ao pensamento de João Tole<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> Alves (1993), o<br />

<strong>ecletismo</strong> é freqüente <strong>no</strong> pensamento educacional brasileiro.


De fato, a passagem <strong>do</strong>s princípios à prática não é tarefa de fácil execução.<br />

Em relação à efetivação <strong>do</strong>s preceitos das Lições de Coisas, Valdemarin (2004) assim se<br />

manifestou: “[...] pode-se dizer que, embora ten<strong>do</strong> a educação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s como<br />

diretriz, a prática pedagógica continuou priorizan<strong>do</strong> a memorização e o ensi<strong>no</strong> abstrato”<br />

(VALDEMARIN, 2004, p. 40).<br />

João Tole<strong>do</strong> ao analisar a vinculação entre o meio, relaciona<strong>do</strong> ao princípio<br />

filosófico empirista, e os fatores hereditários, basea<strong>do</strong>s na filosofia racionalista de<br />

inspiração cartesiana, considera que este pre<strong>do</strong>mina sobre aquele. Todavia, os fatores<br />

exter<strong>no</strong>s, embora me<strong>no</strong>s relevantes, podem em “alguns casos” auxiliar o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> indivíduo. Recomenda segun<strong>do</strong> este princípio, que, em relação ao<br />

alu<strong>no</strong>, o professor “[...] deve conhecer: - a) aproximadamente, seu lega<strong>do</strong> hereditário,<br />

próximo e remoto” (TOLEDO, 1925, p. 14).<br />

16<br />

Nascemeos desiguaes, criamo-<strong>no</strong>s desigualmente; e dahi essa<br />

prodigiosa differenciação de corpo e de alma, que torna impossivel<br />

uma completa identificação entre duas pessoas, ainda que irmãs.<br />

Nunca se vae além das semelhanças. E se é certo que os factores da<br />

herediditariedade têm, nesta differenciação, parte pre<strong>do</strong>minante, não é<br />

me<strong>no</strong>s certo que os agentes exter<strong>no</strong>s dispõem de força bastante para<br />

supprir lacunas, corrigir desvios, aproximar finalidade. Ha<br />

deformações e taras insanáveis; mas deficiencias múltiplas, que os<br />

descui<strong>do</strong>s aggravariam, podem desapparecer ou diminuir sob a acção<br />

intelligente e contínua de um tratamento adequa<strong>do</strong> (TOLEDO, 1932,<br />

p. 88 e 89).<br />

Para a identificação <strong>do</strong>s “casos” possíveis de modificação pela ação<br />

educacional, João Tole<strong>do</strong> utiliza <strong>no</strong>vamente as contribuições teóricas de Ribot.<br />

A influencia de ascendentes sobre descendentes aclara-se <strong>no</strong> estu<strong>do</strong> da<br />

herança mórbida: acceita a transmissão das taras, nós somos<br />

logicamente leva<strong>do</strong>s a acceitar a hereditariedade <strong>no</strong>rmal. E os desvios<br />

da <strong>no</strong>rmalidade patenteiam-se tão claros de geração em geração que<br />

seu apparecimento a ninguém mais surpreende. Sua causa immediata<br />

deve ser uma affecção <strong>do</strong>entia <strong>do</strong> systema nervoso. E, si <strong>do</strong> organismo<br />

toda parte é transmissível, segue-se que, nas affecções mentaes, a<br />

herança é a regra. O que embaraça, diz Ribot, são as metamorphoses<br />

da hereditariedade. Muitas vezes as neuropathias não se transmittem<br />

sinão transformadas. A hyperesthesia <strong>do</strong> pae, por exemplo, pode<br />

irradiar-se <strong>no</strong>s filhos e produzir a mania, a hypoconcria, a hysteria, as<br />

convulsões, o espasmo (TOLEDO, 1925, p. 35).<br />

O pensamento de Ribot deve ser analisa<strong>do</strong> situan<strong>do</strong>-o como um homem <strong>do</strong><br />

seu tempo. Segun<strong>do</strong> Foulquié (1965), Ribot foi o principal <strong>no</strong>me, <strong>do</strong> ponto de vista


teórico, da psicologia experimental na França, <strong>no</strong> fim <strong>do</strong> século XIX; enquanto Binet,<br />

foi o principal prático.<br />

Ribot foi o pioneiro, na França, da desvinculação da psicologia da filosofia<br />

<strong>no</strong> intuito de constituí-la ciência independente, análoga às ciências naturais. Exerceu,<br />

nesse senti<strong>do</strong>, durante cerca de quarenta a<strong>no</strong>s, segun<strong>do</strong> Foulquié (1965), influência<br />

semelhante à de Wundt. Nesse aspecto, o pensamento de João Tole<strong>do</strong> <strong>no</strong>vamente<br />

assemelha-se ao de Ribot.<br />

17<br />

Uma psycologia, sem recheios filosóficos, sem especulações<br />

escolásticas, sem preoccupações formaes, - uma psycologia que <strong>no</strong>s<br />

mostre a mente ver<strong>do</strong>lenga, crescen<strong>do</strong> e sazonan<strong>do</strong>, com a seiva das<br />

impressões sensoriaes, ao calor ambiente <strong>do</strong> lar, da escola e da<br />

sociedade, é, nas lides educativas, instrumento de inestimável valor<br />

(TOLEDO, 1932, p. 332).<br />

Ainda segun<strong>do</strong> Foulquié (1965), Ribot, <strong>no</strong> entanto, após contribuir para o<br />

processo de constituição da psicologia como ciência autô<strong>no</strong>ma, dedicou-se ao estu<strong>do</strong><br />

das patologias mentais. E, nesse aspecto, certamente também inspirou o pensamento de<br />

João Tole<strong>do</strong>.<br />

Teórico da Psicologia experimental na França, Ribot não foi um<br />

psicólogo pròpriamente experimental, senão em pequena escala. Sua<br />

principal contribuição para esse movimento de pesquisas foi histórica:<br />

suas duas obras sobre a Psychologie anglaise contemporaine (1870) e<br />

sobre a Psychologie allemande contemporaine (1879), cujas<br />

introduções têm ares de manifesto. Em seguida, orientou a pesquisa<br />

psicológica para o la<strong>do</strong> da patologia mental que, diz êle com acerto,<br />

<strong>no</strong>s fornece experiências acabadas; êle próprio deu o exemplo,<br />

estudan<strong>do</strong> sucessivamente as a<strong>no</strong>malias da memória, da vontade, da<br />

personalidade, da atenção (FOULQUIÉ, 1965, p. 30)<br />

Ribot não realizou uma ruptura radical com a filosofia, pois ainda utilizava<br />

a introspecção como méto<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Ele mantém a mesma temática <strong>do</strong> inatismo (o<br />

estu<strong>do</strong> da mente), funda<strong>do</strong> na filosofia metafísica. Não obstante, negue o princípio<br />

espiritual para a explicação <strong>do</strong>s fatos, continua vincula<strong>do</strong> a mesma problemática. Ribot<br />

apenas reinterpretou-a diferentemente. A ruptura, de fato, ocorreu quan<strong>do</strong> o<br />

behaviorismo elegeu um <strong>no</strong>vo objeto: o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> comportamento.<br />

A não ser <strong>no</strong>s fatos que toma aos psiquiatras, baseia-se, todavia,<br />

essencialmente na introspecção. Só acidentalmente, por exemplo, para


18<br />

determinar a natureza da idéia geral, é que faz apelo a experimentação<br />

verdadeira, mas ainda aí se contenta com a observação psicológica.<br />

Escreveu vários peque<strong>no</strong>s livros de Psicologia patológica, porém<br />

através das observações consignadas <strong>no</strong>s <strong>trabalho</strong>s de Psiquiatria; ele<br />

mesmo fazia <strong>no</strong>tar a seus alu<strong>no</strong>s Pierre Janet e George Dumas; “Fiz<br />

Psicologia patológica sem ver <strong>do</strong>entes. Façam melhor <strong>do</strong> que eu:<br />

observem os <strong>do</strong>entes” (Id. , ibid. , p. 30)<br />

João Tole<strong>do</strong> possuía, como já se viu, grande preocupação com a adequação<br />

<strong>do</strong>s conceitos, via de regra, provenientes <strong>do</strong> exterior, com a realidade nacional.<br />

Da França passou a escala a ouros paizes de avançada cultura<br />

pedagógica e, em muitos delles, soffreu <strong>no</strong>vas revisões impostas pelas<br />

condições locaes. De todas, a mais generalizada e, por isso, melhor<br />

conhecida, é a revisão <strong>do</strong> america<strong>no</strong> Lewis Terman, que, em <strong>do</strong>is<br />

an<strong>no</strong>s, effectuou suppressões, transposições, modificações e<br />

accréscimos <strong>do</strong>s 54 testes existentes, elevan<strong>do</strong> estes a 90. Entre nós,<br />

ha tentativas recentes <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> de uma revisão <strong>no</strong>ssa; e o<br />

professora<strong>do</strong> aguarda uma adaptação conveniente da escala Binet-<br />

Simon ou da de Terman, ás condições <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso meio e <strong>do</strong>s <strong>no</strong>ssos<br />

escolares, para collaborar com os inicia<strong>do</strong>res de taes <strong>trabalho</strong>s,<br />

applican<strong>do</strong>-os e an<strong>no</strong>tan<strong>do</strong> as suas observações (TOLEDO, 1932, p.<br />

288)<br />

A concepção liberal <strong>do</strong>s escola<strong>no</strong>vistas aparece através da “teoria das<br />

capacidades individuais” e, por conseguinte, pela desarticulação da educação com os<br />

problemas sociais. A arma utilizada, segun<strong>do</strong> Patto (1987), para demonstrar as<br />

diferenças individuais foi o teste de Q.I. A igualdade social depende única e<br />

exclusivamente, segun<strong>do</strong> a perspectiva individualista <strong>do</strong> pensamento liberal, das<br />

capacidades das pessoas e, nesse senti<strong>do</strong>, jamais haverá igualdade social total entre os<br />

homens porque não existe esta igualdade em nível individual. A escola e as leis seriam<br />

formalmente as responsáveis pelo oferecimento da igualdade de oportunidade. Tal<br />

concepção recebeu a seguinte crítica : “[...] expon<strong>do</strong> assim a vacuidade da forma<br />

tradicional de tratar o problema da desigualdade por meio de concessões formais/legais<br />

vazias e sob a hipócrita retórica de “oportunidades iguais” (MÉSZÁROS, 2002, p. 46).<br />

CONCLUSÃO<br />

Homem estritamente vincula<strong>do</strong>, até por força <strong>do</strong>s cargos públicos que<br />

exerceu, como se viu, à realidade vivenciada nas escolas públicas paulistas, encontravase<br />

pressiona<strong>do</strong> pelas <strong>no</strong>vas concepções da escola ativa, de um la<strong>do</strong>, e as condições


materiais das escolas públicas, ainda organizadas de acor<strong>do</strong> com os princípios da escola<br />

tradicional, de outro. Diante <strong>do</strong> impasse, a<strong>do</strong>tou uma postura conciliatória entre a escola<br />

tradicional, que enfatiza o esforço, e a escola <strong>no</strong>va, centrada <strong>no</strong> interesse <strong>do</strong> alu<strong>no</strong>. Na<br />

realidade, efetuou um exercício de conciliação política. Pode-se, <strong>no</strong> limite, aceitá-la<br />

como algo provisório, enquanto não forem alteradas as inadequadas condições<br />

materiais.<br />

Porém, na transição <strong>do</strong>s princípios teóricos às práticas didáticas, João<br />

Tole<strong>do</strong> cometeu um equívoco muito freqüente (e recorrente) <strong>no</strong> cenário educacional<br />

brasileiro: o <strong>ecletismo</strong>. A utilização de princípios teóricos formalmente excludentes é<br />

inviável e contraproducente. Observa-se a utilização <strong>do</strong>s conceitos filosóficos <strong>do</strong><br />

empirismo, que priorizam o conta<strong>do</strong> com as coisas, ou fenôme<strong>no</strong>s, como um princípio<br />

essencial da aprendizagem e, ao mesmo tempo, a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong>s princípios inatistas, de<br />

matriz racionalista cartesiana, basea<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> <strong>no</strong> pensamento <strong>do</strong> psicólogo francês<br />

Theodule Ribot (1839-1916), para quem as diferenças humanas são inatas e<br />

transmitidas hereditariamente. Se o primeiro maximaliza a importância da educação <strong>no</strong><br />

processo de formação <strong>do</strong> homem à medida que os valores morais e intelectuais são<br />

oriun<strong>do</strong>s da experiência sensível, o segun<strong>do</strong>, ao contrário, reduz a importância da<br />

educação como fator de intervenção e direcionamento <strong>no</strong> desenvolvimento huma<strong>no</strong>,<br />

pois o homem ao nascer já estaria pré-determina<strong>do</strong>. É importante, ainda, lembrar que o<br />

livro Pla<strong>no</strong>s de Lição, de João Tole<strong>do</strong>, publica<strong>do</strong> em 1934, tinha como objetivo,<br />

segun<strong>do</strong> o autor, adaptar o livro Primeiras Lições de Coisas, <strong>do</strong> autor america<strong>no</strong> Normal<br />

Allison Calkins (1822-1895), para as questões nacionais.<br />

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