imagens de si de torcedoras dos times de futebol bahia e vitória
imagens de si de torcedoras dos times de futebol bahia e vitória
imagens de si de torcedoras dos times de futebol bahia e vitória
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
IMAGENS DE SI DE TORCEDORAS DOS TIMES DE FUTEBOL BAHIA E<br />
VITÓRIA<br />
Quezia <strong>dos</strong> Santos Lima 1<br />
Um <strong>dos</strong> esportes mais populares no mundo, o <strong>futebol</strong> é praticado em vários países, especialmente<br />
no Bra<strong>si</strong>l, on<strong>de</strong> é conhecido como o país do <strong>futebol</strong>. Tanto para jogar, quanto para torcer, o <strong>futebol</strong><br />
sempre foi predominantemente uma ativida<strong>de</strong> praticada por homens. As mulheres aos poucos estão<br />
sendo inseridas nesse universo masculino e <strong>de</strong>sconstruindo, ou não a imagem <strong>de</strong> que não enten<strong>de</strong>m<br />
nada <strong>de</strong> jogos.<br />
Des<strong>de</strong> a infância, a menina é educada diferentemente do menino. É presenteada com bonecas,<br />
enquanto eles recebem uma bola ou carrinhos <strong>de</strong> brinquedo. Mesmo com poucas diferenças fí<strong>si</strong>cas,<br />
culturalmente os seus espaços cada vez mais vão sendo <strong>de</strong>marca<strong>dos</strong>. Existem brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong><br />
meninas e brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> meninos. As mulheres são historicamente reprimidas, são criadas para<br />
cuidar <strong>dos</strong> filhos e da casa, enquanto o homem é mais livre e estimulado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo a praticar<br />
esportes, a dirigir carros.<br />
Com as lutas feministas, os limites entre homem e mulher são cada vez menores. Não há mais<br />
uma função especificamente masculina. Os espaços que eram ocupa<strong>dos</strong> apenas pelo sexo masculino,<br />
agora as mulheres reivindicam. Um <strong>de</strong>sses lugares é o <strong>futebol</strong>. A mulher hoje joga, acompanha uma<br />
partida, torce para um time, vai a um estádio. Esse espaço alcançado pela mulher, ainda que <strong>si</strong>mples,<br />
representa uma mudança nas relações <strong>de</strong> gênero. Mesmo com essa expansão feminina, muitas<br />
mulheres pouco se i<strong>de</strong>ntificam com conversas referentes a torcidas, a <strong>times</strong>. As<strong>si</strong>stem a jogos, vão ao<br />
estádio, mas ainda as<strong>si</strong>m são vistas <strong>de</strong> forma bastante <strong>si</strong>ngular.<br />
O presente artigo tem o objetivo <strong>de</strong> analisar como são construídas essas <strong>imagens</strong> <strong>de</strong> <strong>torcedoras</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>times</strong> <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, através <strong>dos</strong> discursos em comunida<strong>de</strong>s do <strong>si</strong>te <strong>de</strong> relacionamento, o Orkut.<br />
Observar as representações sociais e as construções <strong>de</strong> <strong>imagens</strong> <strong>de</strong> <strong>si</strong> e do corpo feminino, através do<br />
clube pelo qual cada sujeito torce. Optar por analisar discursos das torcidas do Bahia e do Vitória<br />
justifica-se por serem elas as maiores da Bahia e principalmente pela paixão exacerbada que as<br />
1 Mestranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em estu<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Linguagens da UNEB – CAMPUS I<br />
1
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
<strong>torcedoras</strong> mais fiéis têm pelo seu time. Formações i<strong>de</strong>ológicas a respeito da “beleza feminina nos<br />
estádios”, “<strong>torcedoras</strong> mais gatas”, são observadas através do discurso <strong>de</strong>ssas <strong>torcedoras</strong>, e através <strong>de</strong><br />
fotografias <strong>de</strong> mulheres vestidas com a ban<strong>de</strong>ira do time. Preten<strong>de</strong>-se com esse trabalho enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
que forma o corpo feminino é representado para a construção da imagem <strong>de</strong> torcedora <strong>de</strong> um time <strong>de</strong><br />
<strong>futebol</strong>. A partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições sobre a importância do time para a vida e do papel da mulher como<br />
torcedora <strong>de</strong> um time <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, objetiva-se analisar que <strong>imagens</strong> essas mulheres/meninas fazem <strong>de</strong><br />
<strong>si</strong> e acham que o outro as vêem.<br />
ANÁLISE DO DISCURSO E O ETHOS<br />
A linguagem enquanto discurso não é inocente e nem natural, é interação e modo <strong>de</strong> produção social.<br />
Seu conteúdo não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>svinculado <strong>de</strong> suas condições <strong>de</strong> produção. As condições <strong>de</strong> produção do<br />
discurso incluem os interlocutores e a <strong>si</strong>tuação. A <strong>si</strong>tuação po<strong>de</strong> ser compreendida nos senti<strong>dos</strong> estrito<br />
e lato: estrito é o “aqui e o agora” e as circunstâncias <strong>de</strong> enunciação; lato constitui o contexto sócio-<br />
histórico, i<strong>de</strong>ológico mais amplo. É importante ressaltar que esses contextos, estrito e lato, funcionam<br />
conjuntamente, não se separam. Para analisar, por exemplo, os discursos das <strong>torcedoras</strong> <strong>de</strong> clubes <strong>de</strong><br />
<strong>futebol</strong>, será necessário observar o contexto imediato, a <strong>si</strong>tuação na internet, e a po<strong>si</strong>ção do sujeito<br />
enunciador, como mulher torcedora <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> que produz seu discurso em uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outras<br />
também <strong>torcedoras</strong>; e os contextos mais amplos, que são a realida<strong>de</strong> social, histórica e i<strong>de</strong>ológica em que<br />
esses sujeitos estão inseri<strong>dos</strong> e na qual atuam.<br />
As condições <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> um discurso funcionam também <strong>de</strong> acordo com a relação <strong>de</strong> sentido, a<br />
antecipação e relação <strong>de</strong> força entre os interlocutores. É necessário enten<strong>de</strong>r que todo discurso relaciona-<br />
se com outros discursos, não há começo para o discurso e nem um final, sempre há uma continuida<strong>de</strong><br />
discur<strong>si</strong>va, sendo as<strong>si</strong>m, os senti<strong>dos</strong> são resulta<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ssas relações.<br />
O sujeito po<strong>de</strong> antecipar os efeitos <strong>de</strong> sentido que seu discurso causará em seus interlocutores. Essa<br />
antecipação <strong>de</strong>termina sua argumentação, pois o sujeito acredita que a opção por uma forma discur<strong>si</strong>va ou<br />
por outra po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>terminar diferentes efeitos <strong>de</strong> sentido em seus interlocutores.<br />
Para Eni Orlandi (2005): “O lugar a partir do qual fala o sujeito é constitutivo do que ele diz. É a<br />
chamada relação <strong>de</strong> força”. Nos da<strong>dos</strong> analisa<strong>dos</strong> nessa pesquisa, observaremos que as <strong>torcedoras</strong> falam a<br />
partir <strong>de</strong> um lugar: <strong>de</strong> mulher, do lugar <strong>de</strong> <strong>torcedoras</strong>, etc. É através das formações imaginárias que são<br />
produzidas as po<strong>si</strong>ções discur<strong>si</strong>vas <strong>dos</strong> sujeitos. A po<strong>si</strong>ção sujeito <strong>de</strong>ssas <strong>torcedoras</strong> se dá a partir <strong>de</strong><br />
diferentes formações imaginárias que se modificam <strong>de</strong> acordo com o contexto sócio-histórico em que estão<br />
inseridas.<br />
2
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
Para a análise <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> <strong>de</strong>sse trabalho, faz-se necessário enten<strong>de</strong>r também a noção <strong>de</strong> ethos<br />
discur<strong>si</strong>vo, que é a construção da imagem <strong>de</strong> <strong>si</strong>, através do discurso. Para Maingueneau (2004):<br />
O ethos se <strong>de</strong>senvolve em relação à noção <strong>de</strong> cena <strong>de</strong> enunciação. Cada gênero<br />
<strong>de</strong> discurso comporta uma distribuição pré-estabelecida <strong>de</strong> papéis que <strong>de</strong>termina<br />
em parte a imagem <strong>de</strong> <strong>si</strong> do locutor. Esse po<strong>de</strong> escolher mais ou menos<br />
livremente sua “cenografia” ou cenário familiar que lhe dita sua postura (o pai<br />
benevolente face a seus filhos, o homem <strong>de</strong> falar ru<strong>de</strong> e franco etc.). A imagem<br />
discur<strong>si</strong>va <strong>de</strong> <strong>si</strong> é, as<strong>si</strong>m, ancorada em estereótipos, um arsenal <strong>de</strong> representações<br />
coletivas que <strong>de</strong>terminam, parcialmente a representação <strong>de</strong> <strong>si</strong> e sua eficácia em<br />
<strong>de</strong>terminada cultura. (MAINGUENEAU, 2004)<br />
Para que haja uma construção da imagem <strong>de</strong> <strong>si</strong>, não é necessário que o locutor se apresente e diga as suas<br />
qualida<strong>de</strong>s. Segundo Amossy (2005):<br />
O ETHOS DISCURSIVO<br />
Todo ato <strong>de</strong> tomar a palavra implica a construção <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong> <strong>si</strong>. Para<br />
tanto, não é necessário que o locutor faça seu auto-retrato, <strong>de</strong>talhes suas<br />
qualida<strong>de</strong>s, nem mesmo que fale explicitamente <strong>de</strong> <strong>si</strong>. Seu estilo, suas<br />
competências linguísticas e enciclopédicas, suas crenças implícitas são suficientes<br />
para construir uma representação <strong>de</strong> sua pessoa. (...) A apresentação <strong>de</strong> <strong>si</strong> não se<br />
limita a uma técnica apreendida, a um artifício: ela se efetua, freqüentemente, à<br />
revelia <strong>dos</strong> parceiros, nas trocas verbais mais corriqueiras e mais pessoais.<br />
(AMOSSY, 2005, p. 9)<br />
Ethos é uma noção antiga, formulada pela primeira vez pelo filósofo Aristóteles. O autor<br />
preocupou-se em enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que forma o discurso do orador é persua<strong>si</strong>vo para cada tipo <strong>de</strong><br />
indivíduo. O orador <strong>de</strong>ve construir uma boa imagem <strong>de</strong> <strong>si</strong> através da enunciação, a fim <strong>de</strong><br />
convencer o auditório e ganhar a sua confiança. Em seu livro A Retórica, en<strong>si</strong>nou como o orador<br />
<strong>de</strong>ve ser portar para persuadir o auditório, adaptando o seu discurso.<br />
Se o orador apresenta um caráter confiável, é possível levar o auditório a a<strong>de</strong>rir à sua idéia.<br />
Esse seria o ethos que po<strong>de</strong> ser entendido como uma imagem que o locutor intencionalmente<br />
constrói <strong>de</strong> <strong>si</strong> mesmo, com vistas a conseguir uma certa credibilida<strong>de</strong> junto ao auditório. Para<br />
inspirar confiança, portanto, é preciso que aquele que fala mostre-se sob <strong>de</strong>terminado aspecto, faça<br />
3
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
crer que se encontra em <strong>de</strong>terminadas dispo<strong>si</strong>ções a respeito <strong>dos</strong> ouvintes e, além disso, encontre<br />
estes nas mesmas dispo<strong>si</strong>ções a seu respeito.<br />
Desta forma, a construção do ethos po<strong>de</strong> ser vista em Aristóteles como um conjunto <strong>de</strong><br />
virtu<strong>de</strong>s morais que o orador torna visíveis ao seu auditório, com o intuito <strong>de</strong> influenciá-lo, somado<br />
às estratégias <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação do falante ao público, para adaptar seu texto ao que se espera <strong>de</strong>le<br />
(<strong>de</strong>vido ao grupo social a que pertence, por exemplo). (Amossy, 2004, p. 220)<br />
Atualmente, a noção do ethos foi retomada por Ducrot, o qual enten<strong>de</strong> que é no ato <strong>de</strong><br />
enunciação que o ethos se revela, e não no enunciado. Não é dito, é mostrado. O autor faz a<br />
distinção entre o Locutor – L (enunciador) e o locutor-lambda (ser no mundo). O <strong>de</strong>stinatário<br />
constrói uma representação do ethos a partir <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> dizer do locutor, o qual está inscrito<br />
no mundo.<br />
É Maingueneau que estabelece o ethos discur<strong>si</strong>vo, construído através do discurso. O ethos é<br />
apresentado como efeito <strong>de</strong> discurso e é mais evi<strong>de</strong>nte para texto escrito. O autor diferencia o ethos<br />
discur<strong>si</strong>vo, ligado ao ato <strong>de</strong> enunciação e o ethos pré-discur<strong>si</strong>vo, que são as representações que o<br />
auditório constrói antes que se construa o texto.<br />
Maingueneau <strong>de</strong>fine o “fiador” como uma instância subjetiva criada para um texto específico<br />
que indica um enunciador criado para aquele texto, e não existente no mundo real.<br />
Esse ethos recobre não só a dimensão verbal, mas também o conjunto <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminações fí<strong>si</strong>cas e psíquicas liga<strong>dos</strong> ao “fiador” pelas representações coletivas<br />
estereotípicas. As<strong>si</strong>m, atribui-se a ele um “caráter” e uma “corporalida<strong>de</strong>”, o<br />
caráter correspon<strong>de</strong> a um traço <strong>de</strong> feixes p<strong>si</strong>cológicos. Quanto à “corporalida<strong>de</strong>”,<br />
ela está associada a uma compleição fí<strong>si</strong>ca e a uma maneira <strong>de</strong> vestir-se.”<br />
(MAINGUENEAU, p. 18)<br />
“O ethos visado não é efetivamente o ethos produzido. Um professor que queira<br />
passar uma imagem <strong>de</strong> sério po<strong>de</strong> ser percebido como monótono; um político que<br />
queira suscitar a imagem <strong>de</strong> um indivíduo aberto e <strong>si</strong>mpático po<strong>de</strong> ser percebido<br />
como um <strong>de</strong>magogo.” (MAINGEUNEAU,<br />
2008 p. 16)<br />
Nos da<strong>dos</strong> a serem analisa<strong>dos</strong>, po<strong>de</strong>rá se observar que muitas <strong>torcedoras</strong> preten<strong>de</strong>m construir<br />
uma imagem <strong>de</strong> mulheres avançadas, que gostam <strong>de</strong> jogos pertencentes ao universo masculino. Ao<br />
4
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
proferirem discursos sobre a beleza, constroem uma imagem contrária e não ganham a credibilida<strong>de</strong><br />
do homem quando o assunto é <strong>futebol</strong>.<br />
ANÁLISE DOS DADOS<br />
A pesquisa a ser analisada selecionou como corpus para ser trabalhado, tópicos <strong>de</strong> duas<br />
comunida<strong>de</strong>s do Orkut, <strong>si</strong>te <strong>de</strong> relacionamento pela internet. A primeira: Torcida feminina do Bahia<br />
e a segunda: Torcida do Vitória = mulher feia. O critério para a escolha <strong>de</strong>ssas duas comunida<strong>de</strong>s<br />
justifica-se por serem elas as que mais representam em seus tópicos, discursos sobre a beleza. O<br />
objetivo <strong>de</strong>ssa pesquisa é justamente observar como esses sujeitos constroem a imagem <strong>de</strong> <strong>si</strong><br />
através <strong>dos</strong> discursos sobre a beleza e o corpo.<br />
O fragmento <strong>de</strong> discurso a seguir, é <strong>de</strong> uma torcedora do Bahia, que escreve em um tópico na<br />
comunida<strong>de</strong> Torcida feminina do Bahia:<br />
“Mas po<strong>de</strong>mos dizer: Eu sou Bahia, com muito orgulho com muito amor!!!<br />
Ou ainda po<strong>de</strong>mos cantar: "No distrito feminino só tem gatinha filé,<br />
toda linda, glamurosa, isso <strong>si</strong>m é que é mulher<br />
abala a fonte nova, faz a festa com a BAMOR<br />
só tem gata gostosa na torcida tricolor" (funk Bamor) hehe.”<br />
(Torcida feminina do Bahia)<br />
Observa-se aí que a imagem construída através <strong>de</strong> seu discurso, é a <strong>de</strong> mulher bonita com um<br />
corpo atraente. Esse sujeito i<strong>de</strong>ntifica-s com a formação discur<strong>si</strong>va masculina, a qual se diz que<br />
mulher embeleza estádio. Ser torcedora <strong>de</strong> um time, para o sujeito aí constituído através <strong>de</strong>sse<br />
discurso, é necessariamente ser bonita, para que possa “embelezar” a torcida organizada. A função<br />
aí da torcida feminina é justamente ser a vitrine do clube <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>.<br />
Na comunida<strong>de</strong>: Torcida do <strong>vitória</strong> = Mulher feia, po<strong>de</strong>-se ler a <strong>de</strong>scrição abaixo:<br />
A TORCIDA FEMININA DO VITÓRIA SÓ TEM MULHER FEIA E EU<br />
MORRO DE PENA DELAS:<br />
1-Pq elas são HORRIVEIS!<br />
2-Pq elas se acham bonitas!<br />
5
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
3-Torcem para um timeco que não tem glória, Fama, passado e nem uma<br />
ESTRELA!<br />
4- Sua casa é um lixão! vivem ro<strong>de</strong>adas <strong>de</strong> urubus!<br />
5- No "Barralixo" só vai homem feio. azarar no jogo nem pensar né?<br />
6-Acham que são MELHORES e mais BONITAS que as Tricolores ( acorda né??!<br />
)mas na verda<strong>de</strong> morre <strong>de</strong> inveja e <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> todas.<br />
7- Não enten<strong>de</strong>m nada <strong>de</strong> Futebol.<br />
8- Não po<strong>de</strong>m usar a blusa do seu time, pq a mesma é horrivel e não combina com<br />
quase nada. ( se bem que o verda<strong>de</strong>iro motivo é a vergonha)<br />
9- pq andam espalhando que na torcida do Bahia só tem mulher feia, mas to<strong>dos</strong><br />
sabem e vêem que só tem GATA!!!<br />
10- Tenho pena <strong>de</strong>las! pelo motivo maior = São Rubro-negras!<br />
Ahhh...se vc as<strong>si</strong>m como eu morre <strong>de</strong> pena das <strong>torcedoras</strong> do VICEtória, essa é sua<br />
comunida<strong>de</strong>! e melhor eu parar por aqui, pq são tantos os motivos que eu ficaria<br />
um dia escrevendo...rs<br />
Descrição da Comunida<strong>de</strong>: Torcida do <strong>vitória</strong> = Mulher feia<br />
O nome da comunida<strong>de</strong> já indica <strong>de</strong> que lugar discur<strong>si</strong>vo o locutor se inscreve. Aqui não<br />
importa se o discurso analisado é <strong>de</strong> torcedora do Bahia ou Vitória, o objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é<br />
i<strong>de</strong>ntificar a construção do ethos da torcida feminina em geral. Como se po<strong>de</strong> perceber, o discurso<br />
da comunida<strong>de</strong> gira em torno da beleza e da do corpo feminino. Percebe-se aí que a mulher,<br />
inserindo-se no mundo do <strong>futebol</strong>, o qual é fundamentalmente masculino, produz o discurso da<br />
beleza como forma <strong>de</strong> se mostrar para o sexo oposto.<br />
Comunida<strong>de</strong> Torcida do <strong>vitória</strong> = Mulher feia<br />
T1 - perai ne feia é elogio<br />
sao ridiculas<br />
raiai quero ver se alguem ja viu mulher feia<br />
na torcida do <strong>bahia</strong><br />
T2- Só mulher feiia u caralhoo !!<br />
Uh time du jahia ki só tem mulher feaa<br />
vencá,femenina do jahiaa???<br />
Des<strong>de</strong> quandoo??<br />
6
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
iMItação eh fodaa vuhh !!<br />
T3- Vaaii Balêeaaa..<br />
VICEtoria sooh tein Gordaaaaaas acabas e faveladaS.<br />
O tópico 1 é <strong>de</strong> uma torcedora do Bahia que chama a rival <strong>de</strong> feia/ridícula. O Tópico 2 é da<br />
torcedora do Vitória que também faz a mesma crítica: Uh time du jahia ki só tem mulher feaa.<br />
Observa-se nesses dois enuncia<strong>dos</strong> o discurso da beleza como fator principal para ser uma torcedora<br />
seja <strong>de</strong> qualquer um <strong>dos</strong> <strong>times</strong>.<br />
O tópico 3 o sujeito critica <strong>torcedoras</strong> do <strong>vitória</strong>, menospreza o corpo feminino chamando a<br />
torcedora <strong>de</strong> “gorda”. Em uma socieda<strong>de</strong> em que o culto ao corpo perfeito é presente, verifica-se a<br />
obrigação que a mulher tem em ser magra para ser aceita.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A partir da análise <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong>, po<strong>de</strong>-se perceber o quanto o discurso da beleza, vinculado ao<br />
corpo perfeito está presente, nos discursos <strong>de</strong> <strong>torcedoras</strong>. Os sujeitos aí apresenta<strong>dos</strong>, talvez<br />
preten<strong>de</strong>ssem construir uma imagem <strong>de</strong> mulher mo<strong>de</strong>rna, mulher que enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, e a partir<br />
daí reivindicar um direito <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sexo, um lugar no mundo masculino. Mas a imagem<br />
construída é <strong>de</strong> mulheres que partem do princípio <strong>de</strong> que beleza é fundamental para torcer pelo<br />
<strong>futebol</strong>. Através do discurso do corpo, os sujeitos construíram uma outra imagem, ou continuaram a<br />
reproduzir discursos <strong>de</strong> beleza, os quais contribuem para a permanência do machismo na socieda<strong>de</strong>.<br />
Dessa forma a mulher continuou sendo vista como apenas algo a mais no cenário do <strong>futebol</strong>, que<br />
não contribui para discussões ou ações, mas para embelezar, ou não, o estádio.<br />
REFERÊNCIAS<br />
AMOSSY, Ruth. Imagens <strong>de</strong> <strong>si</strong> no discurso. A construção do Ethos. São Paulo: Contexto, 2005.<br />
BRANDÃO. Helena Nagamine. Introdução à Análise do discurso. Campinas, SP: Editora da UNICAMP,<br />
2004.<br />
7
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES<br />
Educação, Saú<strong>de</strong>, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos<br />
20 a 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2009<br />
Salvador - BA<br />
CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Dicionário <strong>de</strong> Análise do Discurso. São Paulo: Contexto,<br />
2004.<br />
MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso.3 ed.São Paulo: Editora da<br />
Univer<strong>si</strong>da<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Campinas, 1997.<br />
MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana. Ethos discur<strong>si</strong>vo. São Paulo: Contexto, 2008.<br />
ORLANDI, Eni P. Análise <strong>de</strong> discurso. Princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 6ª edição,<br />
2005.<br />
8