entre o bordado eo papel: a poesia portuguesa de autoria ... - TEL
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Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura<br />
em discussão a função da mulher na socieda<strong>de</strong> e, consequentemente, os<br />
estereótipos “enraizados” no imaginário popular que até então endossavam<br />
as representações da figura feminina associadas à uma supervalorização<br />
da sensibilida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>trimento da sua racionalida<strong>de</strong>. Tal avanço cultural<br />
propiciou o rompimento das pare<strong>de</strong>s domésticas e a mulher pô<strong>de</strong> inserirse<br />
em espaços majoritariamente masculinos, <strong>entre</strong> eles a <strong>poesia</strong>, conforme<br />
po<strong>de</strong> ser comprovado por um rápido olhar nas antologias <strong>de</strong> Nuno Catarino<br />
Cardoso (1917), <strong>de</strong> Antonio Salvado (1961) 4 e <strong>de</strong> Albino Forjaz (1931),<br />
intituladas, respectivamente, Poetisas Portuguesas, Antologia das Mulheres<br />
Poetas Portuguesas e Poetisas <strong>de</strong> Hoje que listam o nome <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma<br />
centena <strong>de</strong> poetisas. Esses dados, por um lado, revelam a importância do<br />
período para a conquista <strong>de</strong> um espaço mais abrangente para essa <strong>poesia</strong>,<br />
mas, por outro, também levam ao questionamento dos motivos que fizeram<br />
com que essa produção tão ampla tenha sido colocada na coxia da história<br />
da literatura.<br />
O próprio Antonio José Saraiva diz que, embora no começo do século<br />
tenha havido algumas ações vanguardistas, “uma <strong>de</strong>cidida qualificação<br />
literária geral da mulher <strong>portuguesa</strong>” só acontecerá na década <strong>de</strong> 50, 5 <strong>de</strong>ixando<br />
transparecer que havia um critério <strong>de</strong> valoração e que este era construído<br />
em bases androcêntricas, nas quais as produções femininas eram<br />
vistas como obras <strong>de</strong> valor menor principalmente porque falavam <strong>de</strong> amor<br />
ou <strong>de</strong> temas correlatos.<br />
Em tempo, convém lembrar que a inserção da mulher na ativida<strong>de</strong><br />
literária pela via da subjetivida<strong>de</strong> propicia o afloramento <strong>de</strong> um discurso<br />
peculiar à medida que revela traços da exclusão social que a obrigou a explorar<br />
o universo interior e isso “significou dar visibilida<strong>de</strong> a um imaginário<br />
até então encoberto e silenciado; nesse imaginário, o amor, a sexualida<strong>de</strong>, o<br />
corpo, o <strong>de</strong>sejo, o trabalho, a maternida<strong>de</strong>, a amiza<strong>de</strong>, a memória, a história<br />
e a nacionalida<strong>de</strong> adquirem novos sentidos, [...] levantando a questão da<br />
relação <strong>entre</strong> linguagem, po<strong>de</strong>r e resistência [...]”. 6<br />
4 Convém especificar que embora a obra tenha sido publicada na segunda meta<strong>de</strong> do século<br />
XX, nela constam nomes <strong>de</strong> poetisas da primeira meta<strong>de</strong>.<br />
5 SARAIVA, História da Literatura Portuguesa. 7. ed. Porto: Martins Fontes, 1973. p. 1125.<br />
6 SCHMIDT, Rita Terezinha. Recortes <strong>de</strong> uma história: a construção <strong>de</strong> um fazer/saber. In: