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Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura Entretanto, em maio de 1926, Nua. Poemas de Bizâncio, seu terceiro livro de poemas, é anunciado pela Revista Contemporânea para ser lançado em Junho. Neste, Judith retoma, já na epígrafe da poetisa francesa declaradamente lésbica Rene Vivien, a “projeção lésbica” que a colocou numa condição de dupla marginalidade por ser mulher poeta e tematizar o homoerotismo, o que a inseriu “numa terra de ninguém, numa posição indefesa perante uma moral burguesa, misógina e sexista que inundou a crítica e a literatura da época.” 15 Em agosto, imprime-se De Mim. Conferência. Em que se explicam as minhas razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral, texto no qual ela apresenta os motivos de sua poética, todavia sem assumir a pecha maldita que a sociedade lhe imputara. No ano seguinte, 1927, imprime-se Satânia. Novelas, derradeiro livro que contém duas novelas: a primeira homônima ao livro e a segunda intitulada “Insaciada” e, a partir daí, Judith recolheu-se no mais absoluto silêncio. Toda a obra judithiana, obedecendo aos critérios da chamada “Literatura de Sodoma” em voga na época, apresenta um pendor para a luxúria, com uma propensão homoerótica a que René Garay, 16 atribui “uma importância ideológica no movimento modernista”, devido à “honestidade sexual”, à “experimentação fônica” e às “imagens oníricas” fortes e inusitadas, que permitem aproximar Judith do Modernismo hispano-americano. 17 De fato, suas composições são repletas de imagens possuidoras do “máximo de expressão”, como, por exemplo, os versos do poema “Perfis Decadentes”, (p. 38-39) no qual, bem ao estilo baudelaireano, desenvolvese uma relação homossexual feminina, num ritmo envolvente, ao mesmo tempo voraz, que mescla lampejos de volúpia com a imaterialidade decadentista: 15 GARAY, René Pedro. Sexus sequor: Judith Teixeira e o discurso modernista português. Faces de Eva: Estudos sobre a mulher. n. 5. Lisboa: Edições Colibri, 2001. p. 66 16 René Pedro Garay, professor cubano, escreveu Judith Teixeira e o Modernismo Sáfico Português, obra na qual. ele compara a poética judithiana às líricas da poetisa grega Safo pelo viés confessional e homo-erótico que ela deixa antever em seus versos. 17 GARAY. Op. cit., 2001. p.59-60
Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura [..] Fitaram-se as bocas sensuais! Os corpos subtilizados, femininos, entre mil cintilações irreais, enlaçaram-se nos braços longos e finos! E morderam-se as bocas abrasadas, em contorções de fúria, ensangüentadas! [...] Para concluir, lembro que a literatura de autoria feminina foi sempre olhada a partir de especificidades ditadas pelos “manuais de história da literatura”, cujo parâmetro de admissão era uma concepção de “feminilidade” associada pelo ideário medieval cristão à pureza, à religiosidade e ao inefável. Assim, escritoras que ousassem “reivindicar o direito de as mulheres falarem abertamente de seus desejos e de temas sexuais”, 18 como é o caso das poetisas aqui enfocadas, não poderiam ser benquistas numa sociedade que ainda vivia sob forte influência da Igreja Católica. Portanto, como bem ressalva Ria Lemaire, como a história literária tem se configurado um solilóquio que ressoa somente a voz masculina e isso acaba escamoteando “as complexas relações entre uma sociedade e sua literatura, impedindo, assim a percepção do papel das ideologias nas obras literárias e na sociedade, bem como a inter-relação de suas funções”, 19 é primordial que a leitura de obras, como as aqui enfocadas, não prescinda de verificar as maneiras encontradas por elas de “reterritorializar” o privado, espaço onde a mulher permaneceu confinada durante longo tempo da história da humanidade, trazendo-o para esse espaço público, até então majoritariamente masculino, que é a literatura. 18 MUZART, Zahidé Lupinacci. Feminismo e literatura ou quando a mulher começou a falar. In: MOREIRA, Maria Eunice (org.). História da Literatura, teorias, temas e autores. Porto Alegre, Mercado Aberto, 2003.p. 269 19 LEMAIRE. In: HOLLANDA, 1994, p. 59
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