entre o bordado eo papel: a poesia portuguesa de autoria ... - TEL
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Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura<br />
Na verda<strong>de</strong>, esse cerceamento, principalmente da temática, induziu<br />
as escritoras a encontrar “formas sutis, na <strong>poesia</strong> lírico amorosa para<br />
falar do amor/<strong>de</strong>sejo, sem que sofressem punições sociais (marginalização<br />
e con<strong>de</strong>nação da socieda<strong>de</strong>) ou morais (estimatizadas como mulheres permissivas<br />
ou histéricas).” 7 Embora a parte relativa ao não sofrer represálias<br />
não seja totalmente verda<strong>de</strong>ira, como bem comprovam os episódios nada<br />
calorosos da recepção crítica à Florbela Espanca (1894 – 1930) e Judith Teixeira<br />
(1880 – 1959), poetisas que enfoco aqui, essas estratégias permitiram<br />
que as obras pu<strong>de</strong>ssem circular por espaços mais amplos, fomentando a já<br />
crescente visibilida<strong>de</strong> das escritoras.<br />
Nos primeiros livros <strong>de</strong> Florbela Espanca – Livro <strong>de</strong> Mágoas (1919)<br />
e Livro <strong>de</strong> Sóror Sauda<strong>de</strong> (1923) 8 – como afirma Maria Lúcia Dal Farra, o<br />
erotismo é marcado por um “sinal <strong>de</strong> menos” pela própria dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
expressão imposta pelo tema. No entanto, isso não impediu que, em meio a<br />
algumas apreciações con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes - como a <strong>de</strong> Gastão <strong>de</strong> Bettencourt<br />
que exalta o primeiro livro como “missal <strong>de</strong> amargura que a nossa alma<br />
compreen<strong>de</strong>” (O Azeitonense) ou que seus versos eram reflexos <strong>de</strong> “toda<br />
ternura, todo o sentimento <strong>de</strong> uma alma <strong>de</strong> mulher” (O Século da Noite) - ela<br />
fosse <strong>de</strong>sprezada por gran<strong>de</strong> parte da crítica contemporânea e que vários<br />
jornais, utilizando-se dos episódios atípicos <strong>de</strong> sua biografia, não poupassem<br />
esforços para que sua obra fosse renegada. D<strong>entre</strong> esses, o mais feroz<br />
foi A época que, na voz <strong>de</strong> seu diretor J. Fernando <strong>de</strong> Sousa (vulgo Nemo),<br />
atribuiu-lhe o epíteto <strong>de</strong> “escrava <strong>de</strong> harém” e ao seu livro o mérito <strong>de</strong> ser<br />
“digno <strong>de</strong> ser recitado em honra da Vênus impudica”. 9<br />
RAMALHO, Cristina. (org) Literatura e feminismo: propostas teóricas e reflexões críticas. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Elo, 1999. p. 32<br />
7 ALVES, Ivia. Amor e Submissão: formas <strong>de</strong> resistência <strong>de</strong> <strong>autoria</strong> da literatura <strong>de</strong> <strong>autoria</strong><br />
feminina? In: RAMALHO, Cristina. Op. cit., p. 111<br />
8 Embora os dois livros citados tenham sido editados em vida, os seus primeiros poemas<br />
foram organizados num livro que foi encontrado ainda manuscrito e permaneceu inédito até<br />
a publicação feita por Maria Lúcia Dal Farra, sob a seguinte referência: Espanca, Florbela.<br />
Trocando olhares. Maria Lúcia Dal Farra (Org.). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda,<br />
1994.<br />
9 Todas as referências partem do texto <strong>de</strong> Maria Lúcia Dal Farra, intitulado O Affaire Florbela<br />
Espanca. In: DAL FARRA, ESPANCA, Florbela. Poemas. Maria Lúcia DaI Farra (org.). 1. ed.. São<br />
Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 10.