A ciência de fortificação: circulação das técnicas para a ... - SBHC
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A <strong>ciência</strong> <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>: <strong>circulação</strong> <strong>das</strong> <strong>técnicas</strong> <strong>para</strong> a <strong>de</strong>fesa e a representação do<br />
po<strong>de</strong>r na América Colonial<br />
LUIZA NASCIMENTO DE OLIVEIRA*<br />
O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é analisar a relação entre a produção <strong>de</strong> conhecimento<br />
em Portugal, em particular a <strong>ciência</strong> da <strong>fortificação</strong>, ou arquitetura militar, com as formas <strong>de</strong><br />
construir, proteger e dominar o território, legitimando a soberania do rei, principalmente nas<br />
áreas ultramarinas. Através da leitura e análise <strong>de</strong> Tratados sobre a arte <strong>de</strong> fortificar – <strong>ciência</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> e arquitetura militar – e análise qualitativa <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>, busca-se<br />
perceber como estes fornecem elementos e po<strong>de</strong>m ser entendidos como parte constitutiva do<br />
discurso político durante a Época Mo<strong>de</strong>rna. Sendo assim, consi<strong>de</strong>ramos este material como<br />
parte <strong>das</strong> representações do po<strong>de</strong>r político.<br />
A presente exposição trabalhará com as questões <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e a sua representação – as<br />
plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> – expostas nos seguintes Tratados <strong>de</strong> Arquitetura Militar: manuscritos<br />
“Do modo com que se <strong>de</strong>vem riscar, e iluminar, com agua<strong>das</strong> as Plantas <strong>de</strong> Arquitetura<br />
Militar”, em anexo do “Novo Atlas Lusitano ou Teatro Universal do Mundo Todo, 1721” do<br />
padre matemático Diogo Soares e o “Exame Militar” <strong>de</strong> autoria do também padre, Luiz<br />
Gonzaga, <strong>de</strong> 1703. Focaremos nossa análise nas plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
Sebastião do Rio <strong>de</strong> Janeiro do século XVIII. Desta forma, tanto o saber relativo à Arte <strong>de</strong><br />
Fortificar quanto às próprias plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> serão entendidos como ferramentas<br />
articula<strong>das</strong> à ação política da coroa portuguesa na América. A partir do exame da planta<br />
como discurso, é possível perceber as relações entre a produção <strong>de</strong> conhecimento com a<br />
tentativa <strong>de</strong> estabelecer a construção e dominação do território, ainda mais em situação<br />
ultramarina, como o caso da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
O processo <strong>de</strong> conquista da América portuguesa ao longo dos setecentos foi marcado<br />
pelo aumento da preocupação com a <strong>de</strong>fesa, em particular em enclaves estratégicos como a<br />
cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Neste contexto, o estudo <strong>das</strong> plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> nos ajuda a<br />
enten<strong>de</strong>r tanto o esquema <strong>de</strong>fensivo sustentado por uma lógica racional, como também, e ao<br />
mesmo tempo, como o controle sobre o espaço tornou-se elemento importante da<br />
fundamentação do po<strong>de</strong>r político. Como elemento estratégico <strong>das</strong> conquistas ultramarinas, as<br />
fortificações ajudam na construção do território no ultramar.<br />
Quando esteve em missão cartográfica na América portuguesa entre os anos <strong>de</strong> 1729-<br />
1748, o padre matemático Diogo Soares traçou oito plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> que compunham a
<strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> sua viagem pelos sertões da América<br />
a serviço <strong>de</strong> D. João V. A partir da análise correlata entre estas plantas e os tratados <strong>de</strong><br />
arquitetura militar, preten<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>monstrar a relação entre os estudos e as práticas <strong>de</strong>sse saber<br />
com a construção do território ultramarino.<br />
A partir dos manuscritos “Do modo com que se <strong>de</strong>vem riscar, e iluminar com agua<strong>das</strong><br />
as Plantas <strong>de</strong> Arquitetura Militar (1721) 1 ”, <strong>de</strong> Diogo Soares, resultado <strong>de</strong> anotações <strong>de</strong> aulas<br />
por ele ministra<strong>das</strong> no Colégio <strong>de</strong> Santo Antão, em Lisboa; e do tratado <strong>de</strong> arquitetura<br />
militar, “Exame Militar (1703)”, escrito pelo padre Luiz Gonzaga, também professor no dito<br />
Colégio, preten<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar os elementos que constituem a arquitetura militar, em<br />
particular as plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> e os métodos <strong>para</strong> <strong>de</strong>senhá-la. Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a<br />
importância <strong>de</strong>ste saber como parte ativa do processo <strong>de</strong> configuração do território<br />
ultramarino, outro aspecto que iremos abordar é como o próprio ensino da arquitetura militar<br />
já estaria, em parte, comprometido com a dimensão política <strong>de</strong>ste saber.<br />
Luiz Gonzaga nasceu em Lisboa em 1666, foi matemático e professor <strong>de</strong> <strong>ciência</strong>s da<br />
“Aula <strong>de</strong> Esfera”, do Colégio <strong>de</strong> Santo Antão, da Companhia <strong>de</strong> Jesus. Entrou <strong>para</strong> a<br />
Companhia <strong>de</strong> Jesus em 1683. Na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora cursou Filosofia entre os anos<br />
1686-1690, ensinou dois anos latim. Foi professor <strong>de</strong> matemáticas no Colégio <strong>de</strong> Jesus,<br />
enquanto estudava Teologia nos anos <strong>de</strong> 1695-1699. Em 1700 voltou <strong>para</strong> Lisboa e tomou a<br />
regência da Aula <strong>de</strong> Esfera. Com Portugal envolvido na guerra da sucessão da Espanha,<br />
recebeu or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> D. Pedro II que ditasse o Tratado da Arquitetura Militar, tendo ensinado<br />
também no palácio real, aos príncipes D. João, D. Francisco e D. António. De acordo com<br />
João Pereira Gomes, foi através do magistério <strong>de</strong> Gonzaga que “nasceu em D. João V o gosto<br />
<strong>das</strong> <strong>ciência</strong>s exatas, que sempre manteve e havia <strong>de</strong> concretizar em medi<strong>das</strong> tão úteis como<br />
foi, por exemplo, o financiamento do observatório astronômico do Colégio <strong>de</strong> Santo Antão, e<br />
do gabinete <strong>de</strong> física experimental da Casa <strong>das</strong> Necessida<strong>de</strong>s [...] lecionou, ainda, os<br />
príncipes até c. 1713, pertenceu à Junta <strong>das</strong> Missões e foi reitor do Colégio <strong>de</strong> Santo Antão<br />
(1725-1731)” 2 . Luiz Gonzaga morreu em 1747.<br />
Como padre matemático integrante da Companhia <strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1701, Diogo Soares<br />
ministrou na “Aula <strong>de</strong> Esfera” do Colégio <strong>de</strong> Santo Antão, experiência que resultou em seu<br />
ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> aulas, o manuscrito “Novo Atlas Lusitano ou Teatro Universal do Mundo Todo<br />
* Mestranda em História, PUC-RIO. Bolsista PCI/MCTI, no Museu <strong>de</strong> Astronomia e Ciências Afins (MAST).<br />
1 In: Documento manuscrito “Novo Atlas Lusitano ou Teatro Universal do Mundo Todo, 1721” – Atribuído ao<br />
padre matemático Diogo Soares.<br />
2 In: “Verbo: enciclopédia luso-brasileira <strong>de</strong> cultura” (1969); volume 9 (GAC – HER).<br />
2
(1721)”. O texto <strong>de</strong> Soares possui títulos e subtítulos divididos em atos, cenas e exibições,<br />
corroborando a metáfora teatral do título. Além disto, apresenta as proposições, teoremas e<br />
problemas o que <strong>de</strong>monstra uma maneira peculiar <strong>de</strong> argumentação, a qual se configura em<br />
<strong>de</strong>monstração (hipótese) e experimentação.<br />
O documento é se<strong>para</strong>do entre Ato 1° Geográfico, dividido em quatro cenas: em<br />
primeiro lugar a geografia, em segundo a matemática e a astronomia, já a terceira parte da<br />
geografia política, cultural, e dinâmica social. A última com os problemas e soluções que<br />
englobam essas três áreas <strong>de</strong> conhecimento. O que não quer dizer que no interior <strong>de</strong> cada<br />
cena os conteúdos <strong>das</strong> disciplinas não se interliguem. Portanto, em cada capítulo do<br />
manuscrito há o mergulhar em cenários instigantes relacionados à cultura científica <strong>de</strong><br />
Soares, e mesmo do ambiente intelectual setecentista do Colégio <strong>de</strong> Santo Antão em Lisboa.<br />
Por fim, o “Tratado do modo com que se <strong>de</strong>vem riscar, e iluminar com agua<strong>das</strong> as Plantas da<br />
Arquitetura Militar”, parte que aparece em anexo ao documento, nos informa sobre a prática<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>.<br />
A arquitetura militar é ensinada<br />
A partir dos elementos da arquitetura militar, os métodos, ensinados nos tratados <strong>de</strong><br />
Diogo Soares e Luiz Gonzaga <strong>para</strong> a confecção <strong>das</strong> plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>, po<strong>de</strong>-se<br />
i<strong>de</strong>ntificar como se constituiu parte da cultura militar em Portugal no início do século XVIII,<br />
ainda mais que os autores que trabalhamos atuaram muito próximo à corte 3 . Na medida em<br />
que os documentos em análise, mesmo sendo escritos visando à formação dos intelectuais,<br />
foram elaborados no contexto da guerra <strong>de</strong> sucessão da Espanha, e da consolidação da<br />
conquista portuguesa na América, é possível perceber que a dimensão política não po<strong>de</strong> ser<br />
anulada nesse estudo.<br />
Para tanto, é importante expor os métodos que compõem a arquitetura militar e<br />
conjugá-los à construção do espaço, pois, o território é construído na relação entre <strong>ciência</strong> e<br />
governo. O historiador português Diogo Ramada Curto em seu livro “O Discurso Político em<br />
Portugal (1600-1650)” argumenta sobre a importância da <strong>de</strong>scrição do estado <strong>para</strong> o seu<br />
domínio, conhecer e dominar como características essenciais do controle político. A planta<br />
<strong>de</strong> <strong>fortificação</strong> é por nós consi<strong>de</strong>rada como parte do discurso político português uma vez que<br />
3 Gonzaga fora preceptor <strong>de</strong> D. Pedro II, e Soares enviado por D. João V à América Portuguesa com a missão <strong>de</strong><br />
produzir um Atlas <strong>de</strong> sua geografia.<br />
3
conjuga a <strong>de</strong>scrição – por meio da posse do conhecimento – com o domínio do espaço. Para<br />
aprofundar tal reflexão utilizaremos os tratados acima apresentados.<br />
O texto <strong>de</strong> Luiz Gonzaga, “Exame Militar (1703)”, começa com a afirmação <strong>de</strong> que o<br />
ensino <strong>de</strong>ssa <strong>ciência</strong> serve <strong>para</strong> a proteção do estado e seu príncipe. O engenheiro <strong>de</strong>ve ser<br />
perito na escolha do lugar <strong>de</strong> edificação <strong>das</strong> fortalezas. A habilida<strong>de</strong> do engenheiro é saber<br />
a<strong>de</strong>quar ao terreno a melhor <strong>fortificação</strong>.<br />
O “Exame Militar” foi dividido em 39 capítulos que o autor <strong>de</strong>nomina disputas,<br />
caracterizando o âmbito do <strong>de</strong>bate sobre diferentes concepções acerca da <strong>ciência</strong>: “porque em<br />
suas disputas conten<strong>de</strong>rão as partes <strong>de</strong> cada uma <strong>das</strong> questões, que nelas se tratar, sobre qual<br />
<strong>de</strong>ve ser admitida: <strong>para</strong> o que só alegamos os seus fundamentos <strong>de</strong>ixando [...] <strong>para</strong> os que<br />
nesta matéria como bons juízes só po<strong>de</strong>m ter voto” (GONZAGA, 1703:1). As primeiras<br />
disputas versam sobre a <strong>de</strong>finição da <strong>ciência</strong>, arquitetura militar, cujo objeto final é a<br />
construção <strong>de</strong> fortificações. Até a 10° disputa, Luiz Gonzaga examina questões concernentes<br />
ao estatuto científico da arquitetura militar, os termos e <strong>de</strong>finições necessários <strong>para</strong> o<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um “bom” engenheiro. Observa-se que a presente obra é dividia em duas<br />
partes principais: teoria e prática, pois, uma segunda parte explora <strong>de</strong>talhadamente os usos e<br />
funções dos elementos que compõem a <strong>fortificação</strong>.<br />
Segundo Gonzaga, a origem da arquitetura militar está em “em Adão, [que] preten<strong>de</strong>u<br />
fazer-se forte na retirada formando dois ramos <strong>de</strong> uma árvore trincheira, e <strong>de</strong> suas folhas<br />
<strong>para</strong>peitos, <strong>para</strong> <strong>de</strong>les resistir as novas baterias” e “no sentir <strong>de</strong> alguns, com que as forças se<br />
argüindo <strong>para</strong> melhor vencerem; sendo talvez filha legítima do temor, em que o medo se<br />
esten<strong>de</strong> <strong>para</strong> não ser vencido”. Além <strong>de</strong> questionar se a gênese da <strong>de</strong>fesa estaria ou na<br />
ambição da conquista ou na proteção <strong>para</strong> não per<strong>de</strong>r o pouco que se possui. (GONZAGA,<br />
1703:2) 4<br />
A partir <strong>das</strong> disputas, on<strong>de</strong> as questões são muito bem <strong>de</strong>talha<strong>das</strong>, o autor enuncia as<br />
estratégias <strong>de</strong> domínio e conquista, frisando todo o tempo que o ensino é <strong>para</strong> a proteção do<br />
estado e do príncipe. Nesse sentido, a arquitetura militar é ensinada por Luiz Gonzaga como<br />
principal meio <strong>de</strong> manutenção dos domínios <strong>de</strong> um soberano, <strong>de</strong>ntro do tópico é possível<br />
i<strong>de</strong>ntificar, em conjunto, os seguintes temas: estado, po<strong>de</strong>r, concepção <strong>de</strong> <strong>ciência</strong> e a<br />
manutenção do governo. Luiz Gonzaga consi<strong>de</strong>ra a arquitetura militar a mais útil entre as<br />
Matemáticas. Desse modo, <strong>para</strong> o autor, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> o inimigo conquistar as<br />
possessões <strong>de</strong> um rei são elimina<strong>das</strong> pela competência dos homens instruídos nesta <strong>ciência</strong>.<br />
4 O tema do medo na construção <strong>de</strong> um estado (uma cida<strong>de</strong>) é discutido por Maria Fernanda Bicalho, em seu<br />
livro “A cida<strong>de</strong> e o império: o Rio <strong>de</strong> Janeiro no século XVIII”.<br />
4
Adverte ainda que a arquitetura militar precisa ser aplicada a partir <strong>de</strong> um único conjunto <strong>de</strong><br />
regras 5 , pois estas garantem o êxito do engenheiro.<br />
A referida correlação entre <strong>ciência</strong> e po<strong>de</strong>r político esta posta por Luiz Gonzaga<br />
quando este afirma<br />
porque se entre os Heróis, aqueles enobrecem melhor, o ilustre <strong>de</strong> seu sangue, que<br />
não duvi<strong>de</strong> o <strong>de</strong>rramá-lo em conservação da pátria, e <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus monarcas,<br />
que Ciência há, a qual melhor coopere, ou imite esta ação, a que a fama chama<br />
façanha, do que a Arquitetura Militar, pois se dão as forças <strong>de</strong> suas regras, sob o<br />
viver <strong>de</strong> seus preceitos, nos quais como em [?] correrão as Ciências largura <strong>de</strong><br />
suas erudições, [...] em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as pátrias e conservar os impérios, em que já<br />
hoje vive naturalizada em todos (GONZAGA, 1703:7).<br />
A louvável ação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o estado com sangue não po<strong>de</strong> ser mais bem associada<br />
do que com a <strong>ciência</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Os preceitos da arquitetura militar são i<strong>de</strong>ntificados pelo<br />
autor como motivo naturalizado <strong>de</strong> conservação dos impérios. Desse modo, a <strong>ciência</strong>, o saber<br />
em estudo esta mais uma vez vinculado à manutenção dos domínios.<br />
Na explicação da conveniência da arquitetura militar, o autor do “Exame Militar”<br />
reforça a questão <strong>de</strong> que a função da <strong>ciência</strong> é manter o estado, como já fora enunciado. No<br />
momento, interessante é perceber que esta explicação é esmiuçada quando os termos estado,<br />
império e conquistas tomam fôlego no discurso <strong>de</strong> Gonzaga. Tal fato é mais uma prova <strong>de</strong><br />
que <strong>ciência</strong> e conservação do espaço não po<strong>de</strong>m ser dissocia<strong>das</strong>. Ainda mais que, é a <strong>ciência</strong><br />
que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> e conserva o império, na concepção <strong>de</strong>sse teórico, como <strong>de</strong>monstrado no trecho<br />
acima.<br />
Outro aspecto relevante <strong>para</strong> tal perspectiva é a proposta da seguinte questão: se é<br />
conveniente fortificar no interior ou nas fronteiras dos estados – já enten<strong>de</strong>ndo como útil,<br />
sem discussão a edificação da <strong>fortificação</strong>. A <strong>fortificação</strong> nas fronteiras possibilita que o<br />
monarca tenha condições <strong>de</strong> prever os danos causados pelo inimigo, permite que o príncipe<br />
evite as investi<strong>das</strong> alheias e que o adversário possua o que fazer. Já no caso <strong>das</strong> praças no<br />
meio do sítio, Gonzaga esclarece quanto às especificida<strong>de</strong>s do estado, sobre a natureza <strong>de</strong> seu<br />
po<strong>de</strong>r. Haverá diferenciação sendo o<br />
Príncipe po<strong>de</strong>roso, Príncipe <strong>de</strong> mediana potência, e Príncipe <strong>de</strong> pequeno po<strong>de</strong>r: e<br />
tratando do Príncipe po<strong>de</strong>roso; dizem que ainda que tenha por vizinho outro <strong>de</strong><br />
5 Um conjunto <strong>de</strong> <strong>técnicas</strong>, pois, o autor não nomeia métodos específicos, mas sim possibilida<strong>de</strong>s, e estas em<br />
unida<strong>de</strong>.<br />
5
igual po<strong>de</strong>r, lhe é conveniente ter as fronteiras fortifica<strong>das</strong>; acrescentando se lhe<br />
também necessário uma praça no meio do estado, em que no tempo da paz<br />
recolha todos os aprestos militares, e na ocasião da guerra <strong>de</strong>la se possam com<br />
facilida<strong>de</strong> distribuir pelas outras praças (GONZAGA, 1703:14).<br />
Para o príncipe <strong>de</strong> mediana potência e com fronteiras “abertas”, a opção é uma ou<br />
duas praças fortes no meio do seu estado, porque o príncipe só <strong>de</strong>ve ter as praças que po<strong>de</strong><br />
sustentar, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Pois, na fronteira não impedirão a entrada do inimigo, essas duas ou<br />
três praças, que o príncipe <strong>de</strong> mediana potência po<strong>de</strong> gerir. Gonzaga adverte ainda que<br />
A todo o príncipe é necessário ter algum, ou alguns lugares em que se possa<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, quando for acometido; se disse é que <strong>para</strong> esta <strong>de</strong>fesa não são cômodos<br />
os lugares abertos; mas sim os fortificados: logo o príncipe ainda <strong>de</strong> mediana<br />
potência <strong>de</strong>ve ter alguns lugares fortificados (GONZAGA, 1703:15).<br />
Para a última classificação, quanto ao caráter político do príncipe – e seu estado –, o<br />
autor, além <strong>de</strong> chamar a atenção <strong>para</strong> a escolha (fortificar o interior ou a fronteira) que<br />
proporcione a melhor possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saída <strong>para</strong> o príncipe e evite que este seja refém, <strong>de</strong>ixa<br />
claro que<br />
ao príncipe <strong>de</strong> pequeno po<strong>de</strong>r, se diz não lhe ser conveniente fortificar as<br />
fronteiras, como nem o meio <strong>de</strong> seu principado; pois como supomos, não têm<br />
forças <strong>para</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r nas ditas praças; pelo que só po<strong>de</strong>rá fazer uma praça ou<br />
castelo em qualquer parte do seu domínio; no qual se recolha no tempo da guerra<br />
com o mais precioso assim seu, como <strong>de</strong> seus vassalos, esperando melhor fortuna;<br />
<strong>de</strong>ve-se porém escolher <strong>para</strong> esta praça o lugar, em que mais comodamente possa<br />
o príncipe receber os socorros, que lhe mandarem, pois no caso <strong>de</strong> sítio só neles<br />
po<strong>de</strong> ter as esperanças <strong>de</strong> não cair nas mãos dos inimigos (GONZAGA, 1703:16).<br />
Após <strong>de</strong>linear essas possibilida<strong>de</strong>s, Gonzaga se posiciona a favor da edificação nas<br />
fronteiras, <strong>de</strong>clarando que se a obrigação <strong>de</strong> um príncipe é ser zeloso com seu estado e<br />
vassalos, há <strong>de</strong> construir a <strong>de</strong>fesa nas fronteiras. Sendo “mais fácil ao inimigo cercado no<br />
Castelo, ou praça, interior do estado, que <strong>de</strong>pois lhe ter tomado tudo o que tinha, do que<br />
cercá-lo antes <strong>de</strong> entrar pelo domínio; <strong>de</strong> razão parece que é ser mais conveniente a<br />
<strong>fortificação</strong> da fronteira do que a do meio do estado, pois nesta tem, e corre o príncipe maior<br />
perigo do que naquela”. (GONZAGA, 1703:17). Com isso, a classificação do po<strong>de</strong>r dos<br />
6
estados é relacionada à aplicação da <strong>ciência</strong> em estudo, <strong>ciência</strong> e po<strong>de</strong>r na manutenção do<br />
estado, <strong>de</strong> seu governo.<br />
Em relação ao manuscrito “Do modo com que se <strong>de</strong>vem riscar, e iluminar com<br />
agua<strong>das</strong> as Plantas <strong>de</strong> Arquitetura Militar (1721)”, <strong>de</strong> Diogo Soares, o objetivo <strong>de</strong>sse autor<br />
também é formar seu aluno <strong>para</strong> possuir e dominar um espaço, sendo a arquitetura militar um<br />
saber fundamental nesse processo 6 . Po<strong>de</strong>-se perceber como a técnica <strong>para</strong> <strong>de</strong>senhar a planta<br />
estava vinculada à questão territorial, na medida em que Soares explicita o que o geógrafo e<br />
o engenheiro <strong>de</strong>vem conhecer: sobre a Terra, como se localizar por meio <strong>de</strong> um globo<br />
terrestre, como usar esse instrumento, bem como alguns referenciais culturais dos povos.<br />
O título “Novo Atlas Lusitano ou Teatro Universal do Mundo Todo” emite algumas<br />
questões que serão <strong>de</strong>senvolvi<strong>das</strong> pelo autor ao longo da obra: a relação entre <strong>ciência</strong> e<br />
espaço, história e <strong>ciência</strong> e entre <strong>técnicas</strong> e domínio. Para respon<strong>de</strong>r sobre quais são as<br />
principais características do Atlas que Soares confeccionou, tem-se um Atlas que explica a<br />
natureza e forma da Terra, que ensina o que é Latitu<strong>de</strong> e Longitu<strong>de</strong>, e como o engenheiro e o<br />
geógrafo po<strong>de</strong>m se localizar no mundo. Além <strong>de</strong> incluir, <strong>de</strong> acordo com a opinião objetiva <strong>de</strong><br />
Diogo Soares, as características físicas e comportamentais dos povos. Desse modo, o<br />
documento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um Atlas geográfico, histórico e político-social, articulando<br />
a posse <strong>de</strong> um espaço ao processo <strong>de</strong> construção territorial.<br />
A questão <strong>de</strong> como conhecer “o mundo todo” é explicada por Diogo Soares a partir<br />
da elaboração <strong>de</strong> um Atlas nos mol<strong>de</strong>s acima mencionados. A segunda relação, entre história<br />
e <strong>ciência</strong> esta posta na busca <strong>de</strong> construir uma narrativa Universal da história. Este Atlas foi<br />
elaborado por Soares através <strong>de</strong> temas como a virtu<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong>za da Terra e sobre a natureza<br />
dos homens, <strong>de</strong> acordo com o lugar que ocupam no mundo, esse é o modo <strong>de</strong> organização do<br />
texto. Por último, as <strong>técnicas</strong> “lusitanas” <strong>para</strong> domínio do “mundo todo” são i<strong>de</strong>ntifica<strong>das</strong> na<br />
correlação <strong>das</strong> <strong>técnicas</strong> <strong>de</strong> dominação do espaço: a geografia, a arquitetura militar e po<strong>de</strong>mos<br />
incluir, o uso do globo e o modo <strong>de</strong> confeccionar as plantas.<br />
Soares abre seu Atlas com a seguinte proposta:<br />
(...) ponho agora na terra os olhos já que tem a fortuna <strong>de</strong> a tomar sem naufrágio,<br />
e verá que só no útil, e curioso emprego <strong>de</strong> sua consi<strong>de</strong>ração ilustrada no geral,<br />
conhecendo <strong>de</strong> to<strong>das</strong> as suas partes, adquire se não maior certamente igual<br />
crédito, e aplauso não tanto <strong>para</strong> si que é o menor, quanto <strong>para</strong> o soberano, a<br />
6 Para a compreensão do anexo, é necessário enten<strong>de</strong>r a obra que ele integra.<br />
7
nação que é o mais <strong>para</strong> o que lhe <strong>de</strong>baixo neste povo (?) como em pequeno o<br />
Mapa um estrato, ou breve se fará <strong>de</strong> todo o mundo; aon<strong>de</strong> po<strong>de</strong> reconhecer sem<br />
trabalho e apren<strong>de</strong>r sem dispêndio os Impérios, os Reinos, as Províncias, as Ilhas,<br />
os Mares e portos que os divi<strong>de</strong>. (SOARES, 1721:1)<br />
O soberano e seu povo adquirem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio da terra através do<br />
conhecimento <strong>de</strong> seu espaço, e reunindo e ensinando as <strong>técnicas</strong>, o padre matemático elabora<br />
seu Atlas como um guia <strong>para</strong> a conquista. Desse modo, concluí-se que as relações entre<br />
<strong>ciência</strong> e espaço e entre história e <strong>ciência</strong> vão culminar na terceira: <strong>técnicas</strong> e domínio na<br />
medida em que, o autor as explica <strong>para</strong> que seja possível o engenheiro e o geógrafo, munido<br />
<strong>de</strong>ste saber, controlar o território. Tal perspectiva é corroborada no tratado em anexo, quando<br />
ensina a técnica <strong>de</strong> confecções <strong>para</strong> a proteção e manutenção da conquista, o modo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senhar plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>.<br />
Para o conhecimento do espaço, Diogo Soares <strong>de</strong>dica todo o capítulo 3, que intitula<br />
<strong>de</strong> “cena 3°”, à explicação sobre os povos e seus territórios, com as características<br />
comportamentais muitas vezes associa<strong>das</strong> às geográficas.<br />
Cena 3° Da divisão da Terra<br />
Exibição 1°. Europa. Proposições.<br />
1°. Divi<strong>de</strong> a Europa pelos Reinos, Domínios, e Impérios.<br />
2°. Divi<strong>de</strong> a Europa pelas Ilhas.<br />
Exibição. 2°. Ásia. Proposições.<br />
1°. Divi<strong>de</strong>-se a Ásia pelas suas Províncias e Estado.<br />
2°. Divi<strong>de</strong> a Ásia pelas Ilhas.<br />
Exibição 3°. África.<br />
Proposições.<br />
1°. Divi<strong>de</strong> a África pelos Reinos, Províncias, e Cida<strong>de</strong>s.<br />
2°. Divi<strong>de</strong> a África pelas Ilhas.<br />
Exibição 4°. América.<br />
Proposições.<br />
1°. Divi<strong>de</strong> a América pelas Províncias, ou Reinos Setentrionais.<br />
2°. Divi<strong>de</strong> a América Meridional, em as 8 partes principais.<br />
3°. Divi<strong>de</strong> a América pelas Ilhas. (SOARES, 1721: sumário).<br />
8
A conexão entre história e <strong>ciência</strong> aparece na forma que Soares <strong>de</strong>screve,<br />
historicamente, os espaços, ainda que <strong>para</strong> uso e aplicação <strong>das</strong> <strong>técnicas</strong> geográficas e da<br />
arquitetura militar<br />
Brasil<br />
378° Tem seu princípio esta nobre e dilatada província no gran<strong>de</strong> Rio Pará ou <strong>das</strong><br />
Amazonas, e correndo por espaço <strong>de</strong> 800 léguas vai fenecer no outro gran<strong>de</strong> Rio,<br />
a que chamamos da Prata. Foi <strong>de</strong>scoberta por Pedro Álvares Cabral no ano <strong>de</strong><br />
1500. Divi<strong>de</strong>-se ao presente em 14 Capitanias que são Tamaracá que é a mais<br />
antiga, Bahia que é a Corte e comum residência do Arcebispo e governador, e<br />
Pernambuco, Pará, Maranhão, Ceará, Rio Gran<strong>de</strong> Paraíba, Sergipe, os Ilhéus,<br />
Porto Seguro, Espírito Santo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, e São Vicente que compreen<strong>de</strong> o<br />
Paranaguai e a Nova Colônia. É País fertilíssimo e saudável, tem o melhor ouro<br />
da América, muito tabaco, e açúcar, e entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> maior nome tem o<br />
primeiro lugar a Bahia ou São Salvador, Pernambuco e São Sebastião do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. Está toda no domínio da Coroa Portuguesa (SOARES, 1721:185).<br />
A relação entre <strong>técnicas</strong> e domínio é observada mais pontualmente quando o autor<br />
aborda a temática do conhecimento do espaço através da aplicação da <strong>ciência</strong> – do globo e do<br />
mapa<br />
Cena 4° e última. Do uso, e praxe do Globo, e Mapas.<br />
Exibição 1°. Do uso do Globo, e Mapa segundo a latitu<strong>de</strong>, e longitu<strong>de</strong>.<br />
391° Com a notícia e conhecimento antece<strong>de</strong>nte <strong>das</strong> terras facilmente se achará<br />
será ao Engenheiro o uso do mapa e globo, buscando, e achando em um e outro,<br />
não só as latitu<strong>de</strong>s, e longitu<strong>de</strong>s <strong>das</strong> terras, a diversida<strong>de</strong> dos dias, a varieda<strong>de</strong><br />
dos climas, as horas em que lhes nasce, e se lhes põem o Sol no seu horizonte, mas<br />
ainda o vazio curso dos ventos, e outras singularida<strong>de</strong>s que não fazem menos<br />
estimada que as passa<strong>das</strong> a Geografia: <strong>para</strong> porém proce<strong>de</strong>r com distinção,<br />
precisa à <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> todos estes Problemas, que <strong>de</strong>termino explicar lhe nesta<br />
minha última cena, lhe dividirem em duas partes esta 1°, e única exibição batendo<br />
na primeira dos Problemas que pertencem, ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da latitudinal 2° dos que<br />
tocam a longitu<strong>de</strong>, outrem começam com ambas. (SOARES, 1721:191).<br />
Para cumprir o objetivo <strong>de</strong> relacionar <strong>ciência</strong> e política foi importante notar o modo<br />
pelo qual Diogo Soares estruturou seu Atlas, sua História Universal. Agora, interessante é<br />
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perceber como estes elementos explicados são tratados no texto anexo relativo ao ensino <strong>de</strong><br />
como <strong>de</strong>senhar plantas <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>.<br />
Ensino <strong>de</strong> <strong>ciência</strong> e construção territorial<br />
A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião do Rio <strong>de</strong> Janeiro do século XVIII é largamente <strong>de</strong>scrita e<br />
abordada na historiografia. Porém, as análises sobre os saberes da época vinculados à <strong>de</strong>fesa,<br />
e como estes saberes se colocam em relação ao po<strong>de</strong>r do Estado, à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governo e<br />
à construção do território, são ainda raras. A pesquisa em <strong>de</strong>senvolvimento irá contribuir <strong>para</strong><br />
o aprofundamento <strong>das</strong> análises no âmbito da História Social da Ciência e também trazer<br />
novas questões sobre a organização espacial da América portuguesa.<br />
O padre Soares ensina <strong>de</strong>s<strong>de</strong> como fabricar as cores, i<strong>de</strong>ntificar os locais <strong>de</strong> cada<br />
elemento na planta <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>, e também a sua sombra. Soares insiste nessa estrutura <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senho on<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>stes elementos tem uma função:<br />
As plantas <strong>de</strong>vem ser assombra<strong>das</strong> ficando as cores ou as agua<strong>das</strong> mais claras<br />
<strong>para</strong> a parte on<strong>de</strong> se supõe vir a luz do que <strong>para</strong> a parte oposta on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser<br />
assombra<strong>das</strong>. A luz <strong>de</strong> uma planta, sempre se supõe vir da parte esquerda,<br />
supondo o Sol levantando sobre o horizonte, e que os seus raios fazem com a base<br />
da planta, ou lado do papel um ângulo <strong>de</strong> 45° […] e sempre mais carrega<strong>das</strong> da<br />
mesma tinta aon<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser mais escuro por ser o lugar mais oposto a luz <strong>de</strong>pois<br />
se lhe dá uma aguada <strong>de</strong> cor <strong>de</strong> sombra, que é uma espécie <strong>de</strong> tinta mineral,<br />
diminuindo-a <strong>para</strong> a parte em que se vai terminando a sombra (SOARES,<br />
1721:218).<br />
Quanto aos <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Diogo Soares, Gilberto Ferrez afirma que “estas plantas,<br />
primorosamente <strong>de</strong>linea<strong>das</strong> em planta e perspectiva, representam não somente a primeira<br />
coleção <strong>de</strong>ste gênero, mas também as indicações existentes nas cartelas, nos dão,<br />
rapidamente, uma correta visão do po<strong>de</strong>rio e valor <strong>das</strong> <strong>de</strong>fesas do Rio.” (FERREZ,<br />
1972:70)”.<br />
Retornando, ao padre Luiz Gonzaga, este ensina que um bom governo, por um<br />
príncipe virtuoso é aquele que a<strong>de</strong>qua a arquitetura militar aos interesses do estado. Por isto<br />
também a importância <strong>de</strong> estimular esta <strong>ciência</strong>, pois, a melhor fortaleza será a que melhor<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o príncipe e seu estado. Nesse sentido, ao engenheiro cabe <strong>de</strong>senhar no melhor<br />
terreno, mesmo que este não seja o mais fácil <strong>para</strong> tal empreitada, sua <strong>de</strong>streza técnica será<br />
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<strong>de</strong>monstrada na a<strong>de</strong>quação da planta ao melhor espaço, <strong>para</strong> a melhor <strong>de</strong>fesa. Destaca-se,<br />
<strong>para</strong> <strong>de</strong>monstrar essa afirmação, que a “Planta <strong>das</strong> Fortalezas <strong>de</strong> Terra no morro <strong>de</strong> S. João da<br />
Barra do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1730)” 7 , foi projetada em um lugar <strong>de</strong> difícil acesso, como ensinou<br />
Luiz Gonzaga, o que evi<strong>de</strong>ncia a comprovação da lógica do sítio com a melhor <strong>de</strong>fesa em<br />
quaisquer terrenos, com a<strong>de</strong>quação da planta <strong>de</strong> <strong>fortificação</strong>. Mais ainda, a questão <strong>de</strong> um<br />
estado que se utiliza da <strong>ciência</strong> <strong>para</strong> o controle do espaço.<br />
O que buscamos <strong>de</strong>stacar neste trabalho foi como estes textos <strong>de</strong>dicados à Arquitetura<br />
Militar indicam como o bom governo <strong>de</strong>ve assegurar a posse sobre um território e também a<br />
proteção <strong>de</strong> seu príncipe.<br />
7 Arquivo Histórico Ultramarino, Cartografia Manuscrita do Brasil, n° 1086.<br />
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Referências bibliográficas<br />
Planta<br />
“Planta <strong>das</strong> Fortalezas <strong>de</strong> Terra no morro <strong>de</strong> S. João da Barra do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1730)”, do<br />
padre matemático Diogo Soares. (Arquivo Histórico Ultramarino, Cartografia Manuscrita do<br />
Brasil, n° 1086).<br />
Fontes<br />
GONZAGA, Luiz. “Exame Militar (1703)”. Biblioteca da Ajuda.<br />
SOARES, Diogo. Manuscrito “Novo Atlas Lusitano ou Teatro Universal do Mundo Todo<br />
(1721)”. Biblioteca Nacional <strong>de</strong> Portugal.<br />
Livros<br />
Dicionário “Verbo: enciclopédia luso-brasileira <strong>de</strong> cultura” (1969); volume 9 (GAC – HER).<br />
CURTO, Diogo Ramada. “O Discurso Político em Portugal (1600-1650)”. Projecto<br />
UNIVERSIDADE ABERTA, Lisboa, 1988.<br />
FERREZ, Gilberto. “O Rio <strong>de</strong> Janeiro e a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seu porto 1555-1800”. Serviço <strong>de</strong><br />
Documentação Geral da Marinha, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1972.<br />
LEITÃO, Henrique. “Sphaera Mundi”. In. “Sphaera Mundi: A Ciência na Aula da Esfera -<br />
Manuscritos Científicos do Colégio <strong>de</strong> Santo Antão nas Coleções da BNP”. Lisboa,<br />
Catálogos Biblioteca Nacional <strong>de</strong> Portugal, 2008.<br />
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