A ciência de fortificação: circulação das técnicas para a ... - SBHC
A ciência de fortificação: circulação das técnicas para a ... - SBHC
A ciência de fortificação: circulação das técnicas para a ... - SBHC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
conjuga a <strong>de</strong>scrição – por meio da posse do conhecimento – com o domínio do espaço. Para<br />
aprofundar tal reflexão utilizaremos os tratados acima apresentados.<br />
O texto <strong>de</strong> Luiz Gonzaga, “Exame Militar (1703)”, começa com a afirmação <strong>de</strong> que o<br />
ensino <strong>de</strong>ssa <strong>ciência</strong> serve <strong>para</strong> a proteção do estado e seu príncipe. O engenheiro <strong>de</strong>ve ser<br />
perito na escolha do lugar <strong>de</strong> edificação <strong>das</strong> fortalezas. A habilida<strong>de</strong> do engenheiro é saber<br />
a<strong>de</strong>quar ao terreno a melhor <strong>fortificação</strong>.<br />
O “Exame Militar” foi dividido em 39 capítulos que o autor <strong>de</strong>nomina disputas,<br />
caracterizando o âmbito do <strong>de</strong>bate sobre diferentes concepções acerca da <strong>ciência</strong>: “porque em<br />
suas disputas conten<strong>de</strong>rão as partes <strong>de</strong> cada uma <strong>das</strong> questões, que nelas se tratar, sobre qual<br />
<strong>de</strong>ve ser admitida: <strong>para</strong> o que só alegamos os seus fundamentos <strong>de</strong>ixando [...] <strong>para</strong> os que<br />
nesta matéria como bons juízes só po<strong>de</strong>m ter voto” (GONZAGA, 1703:1). As primeiras<br />
disputas versam sobre a <strong>de</strong>finição da <strong>ciência</strong>, arquitetura militar, cujo objeto final é a<br />
construção <strong>de</strong> fortificações. Até a 10° disputa, Luiz Gonzaga examina questões concernentes<br />
ao estatuto científico da arquitetura militar, os termos e <strong>de</strong>finições necessários <strong>para</strong> o<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um “bom” engenheiro. Observa-se que a presente obra é dividia em duas<br />
partes principais: teoria e prática, pois, uma segunda parte explora <strong>de</strong>talhadamente os usos e<br />
funções dos elementos que compõem a <strong>fortificação</strong>.<br />
Segundo Gonzaga, a origem da arquitetura militar está em “em Adão, [que] preten<strong>de</strong>u<br />
fazer-se forte na retirada formando dois ramos <strong>de</strong> uma árvore trincheira, e <strong>de</strong> suas folhas<br />
<strong>para</strong>peitos, <strong>para</strong> <strong>de</strong>les resistir as novas baterias” e “no sentir <strong>de</strong> alguns, com que as forças se<br />
argüindo <strong>para</strong> melhor vencerem; sendo talvez filha legítima do temor, em que o medo se<br />
esten<strong>de</strong> <strong>para</strong> não ser vencido”. Além <strong>de</strong> questionar se a gênese da <strong>de</strong>fesa estaria ou na<br />
ambição da conquista ou na proteção <strong>para</strong> não per<strong>de</strong>r o pouco que se possui. (GONZAGA,<br />
1703:2) 4<br />
A partir <strong>das</strong> disputas, on<strong>de</strong> as questões são muito bem <strong>de</strong>talha<strong>das</strong>, o autor enuncia as<br />
estratégias <strong>de</strong> domínio e conquista, frisando todo o tempo que o ensino é <strong>para</strong> a proteção do<br />
estado e do príncipe. Nesse sentido, a arquitetura militar é ensinada por Luiz Gonzaga como<br />
principal meio <strong>de</strong> manutenção dos domínios <strong>de</strong> um soberano, <strong>de</strong>ntro do tópico é possível<br />
i<strong>de</strong>ntificar, em conjunto, os seguintes temas: estado, po<strong>de</strong>r, concepção <strong>de</strong> <strong>ciência</strong> e a<br />
manutenção do governo. Luiz Gonzaga consi<strong>de</strong>ra a arquitetura militar a mais útil entre as<br />
Matemáticas. Desse modo, <strong>para</strong> o autor, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> o inimigo conquistar as<br />
possessões <strong>de</strong> um rei são elimina<strong>das</strong> pela competência dos homens instruídos nesta <strong>ciência</strong>.<br />
4 O tema do medo na construção <strong>de</strong> um estado (uma cida<strong>de</strong>) é discutido por Maria Fernanda Bicalho, em seu<br />
livro “A cida<strong>de</strong> e o império: o Rio <strong>de</strong> Janeiro no século XVIII”.<br />
4