1 A origem da coca pelo vício do Inca Alexandre C ... - ANPHLAC
1 A origem da coca pelo vício do Inca Alexandre C ... - ANPHLAC
1 A origem da coca pelo vício do Inca Alexandre C ... - ANPHLAC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Anais Eletrônicos <strong>do</strong> VIII Encontro Internacional <strong>da</strong> <strong>ANPHLAC</strong> Vitória – 2008<br />
ISBN - 978-85-61621-01-8<br />
diretamente o consumo <strong>da</strong> <strong>coca</strong> à gula <strong>da</strong> coya [senhora, mulher] <strong>do</strong> oitavo inca:<br />
“comía muchos manjares y más comía <strong>coca</strong> por uicio; <strong>do</strong>rmien<strong>do</strong> tenía en la boca”. 73<br />
A <strong>coca</strong> está imersa na saca de i<strong>do</strong>latrias e maus costumes. Quanto às eras<br />
anteriores à sinistra saga i<strong>do</strong>látrica <strong>do</strong>s incas, não há sinal de uso <strong>da</strong>s folhas ou <strong>do</strong> pó<br />
de <strong>coca</strong>. E se nos tempos <strong>do</strong> vice-reino <strong>do</strong> Peru, muitos índios, de principais a<br />
tributários, são caracteriza<strong>do</strong>s como “coqueros”, é porque a<strong>do</strong>taram o <strong>vício</strong> <strong>pelo</strong><br />
exemplo <strong>do</strong>s incas, os quais, como pondera Henman, se optaram por segregar e<br />
controlar o uso <strong>da</strong> substância para a elite e para eventos e ritos especiais, isto não<br />
apaga uma antiqüíssima cultura <strong>do</strong> uso <strong>da</strong> <strong>coca</strong> na enorme extensão <strong>da</strong>s serras<br />
andinas, e enfim, o relativo <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s incas durante um curto perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> história<br />
pré-hispânica não pôde ter impedi<strong>do</strong> o uso <strong>da</strong> <strong>coca</strong> por diversas etnias andinas. 74<br />
Entrementes, é interessante notar que para Guaman Poma a <strong>coca</strong> não deveria<br />
ser elimina<strong>da</strong> <strong>da</strong>s plantações. O cronista faz uma pergunta para si mesmo, no pretenso<br />
diálogo com o rei <strong>da</strong> Espanha, como se, ain<strong>da</strong> que de tão longe, estivesse D. Felipe III<br />
realmente pedin<strong>do</strong> os conselhos e ouvin<strong>do</strong> atentamente D. Felipe Guaman Poma de<br />
Ayala:<br />
Dime, autor, ¿cómo se hará rrico los yndios?<br />
A de sauer vuestra Magestad que an de tener hazien<strong>da</strong> de comuni<strong>da</strong>d<br />
que ellos les llama sapci, de sementeras de mas y trigo, papas, agí,<br />
magno [verdura seca], algodón, uiña, obrage [oficina], teñiría, <strong>coca</strong>,<br />
frutales... 75<br />
Surpreende que justamente a <strong>coca</strong>, planta sempre maldita no discurso <strong>do</strong><br />
escritor, agora, em franco conselho ao rei, deva ter “aumentación” na comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />
índios. 76 Se a retórica de Guaman Poma fecha o caminho <strong>do</strong> consumo <strong>da</strong> <strong>coca</strong> em<br />
forte tom de extirpação <strong>do</strong> <strong>vício</strong>, o juízo final livraria a substância <strong>da</strong> eterna <strong>da</strong>nação.<br />
Lembremos que a <strong>coca</strong> já propiciava, desde mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI, grandes<br />
lucros aos que controlavam as plantações e o transporte para abastecer os índios<br />
fin, con la lanza le atraviesan los gaznates y le <strong>da</strong>n de beber orines. Y en lugar de <strong>coca</strong> un poco de<br />
chilca (o sus hojas)” (SANTA CRUZ PACHACUTI, op. cit., 1995, p. 125).<br />
73<br />
GP 135[135].<br />
74<br />
Cf. HENMAN, op. cit., 2005.<br />
75<br />
GP 963[977]. Segun<strong>do</strong> A<strong>do</strong>rno, o esquema de perguntas e respostas que se inscreve na parte final <strong>da</strong><br />
obra, quan<strong>do</strong> Guaman Poma se posiciona abertamente como conselheiro <strong>do</strong> rei, “mimics the formula of<br />
the relación typified in the Relaciones geográficas de Indias (1586)” (op. cit., 1986, p. 07).<br />
76<br />
Ibid., 892[906].<br />
18