1 A origem da coca pelo vício do Inca Alexandre C ... - ANPHLAC
1 A origem da coca pelo vício do Inca Alexandre C ... - ANPHLAC
1 A origem da coca pelo vício do Inca Alexandre C ... - ANPHLAC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Anais Eletrônicos <strong>do</strong> VIII Encontro Internacional <strong>da</strong> <strong>ANPHLAC</strong> Vitória – 2008<br />
ISBN - 978-85-61621-01-8<br />
sobreleva A<strong>do</strong>rno, o Buen gobierno é um texto “cansativamente repetitivo” 29 – e sem<br />
dúvi<strong>da</strong>, a expressão “borracho y coquero” é um <strong>do</strong>s principais elementos <strong>da</strong> viciosa<br />
escrita <strong>do</strong> cronista.<br />
O uso bucal <strong>da</strong> <strong>coca</strong>, que estigmatiza o índio como “coquero”, e o uso <strong>do</strong><br />
tabaco, principalmente <strong>pelo</strong> negro “tauaquero”, são “<strong>vício</strong>s” porque são consumi<strong>do</strong>s<br />
de forma gratuita: “aunque no lo a menester el cuerpo, lo toma”. 30 Mas ao menos no<br />
caso <strong>do</strong> tabaco, existe o elogio de suas quali<strong>da</strong>des medicinais. 31 Mas a erva <strong>da</strong> <strong>coca</strong><br />
nunca será considera<strong>da</strong> como medicamento ou apresentan<strong>do</strong> qualquer boa serventia.<br />
Em Guaman Poma, a <strong>coca</strong> será nota<strong>da</strong>, propriamente, como veneno. Será assim e de<br />
forma exemplar, numa história conta<strong>da</strong> por umas velhas, que o autor <strong>da</strong> crônica<br />
comenta ter encontra<strong>do</strong> na sua peregrinação pelas serras andinas rumo à Ciu<strong>da</strong>d de los<br />
Reyes (Lima) para despachar seu trata<strong>do</strong> para Felipe III. O cronista coloca-se como<br />
figura messiânica que observa as inúmeras injustiças contra os pobres índios. Nessa<br />
caminha<strong>da</strong> de denúncias, as velhinhas que havia visto no trajeto lhe contam tenebrosa<br />
cena, na qual “hechiceros” obrigam a a<strong>do</strong>rar o “<strong>do</strong>lo uaca” mediante um suplício.<br />
Chicoteiam as costas <strong>do</strong> índio velho que está senta<strong>do</strong> sobre uma lhama branca, até que<br />
seu sangue escorra <strong>pelo</strong> animal. Nesse momento, a vítima se nega a participar <strong>do</strong><br />
“tormento enjusto”, e para tanto, comete o suicídio. Morre pela ingestão de <strong>coca</strong>:<br />
“tomó <strong>coca</strong> moli<strong>do</strong> hecho polbo y lo tomó y se ahogó y morió con ella”. 32<br />
Este não é o único conto que mostra o teor de veneno mortal <strong>da</strong> <strong>coca</strong>. Num<br />
momento <strong>da</strong> narrativa, Guaman Poma procura encontrar as causas <strong>da</strong> diminuição <strong>da</strong><br />
população indígena. O principal motivo foi a política de “reducción”, o trasla<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
população nativa para novas povoações, por ordem <strong>do</strong> vice-rei Tole<strong>do</strong>, que teria<br />
desconsidera<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Guaman Poma, a previdência <strong>do</strong>s incas e de seus “sauios y<br />
<strong>do</strong>tores, lesencia<strong>do</strong>s, filósofos”, que haviam escolhi<strong>do</strong> os bons sítios para multiplicar<br />
as gentes. Agora, os deslocamentos trouxeram o contato com maus ares e más<br />
influências astrais, causan<strong>do</strong> as enfermi<strong>da</strong>des mortais. Mas outra causa <strong>da</strong><br />
depopulação é “la borrachera, el mosto y uino, la chicha y la <strong>coca</strong>, el azogue<br />
[mercúrio]”. Além <strong>da</strong> bebi<strong>da</strong>, a <strong>coca</strong> e o mercúrio, em associação, matam os índios.<br />
29<br />
ADORNO, op. cit., 1986, p. 141.<br />
30<br />
GP 154[156].<br />
31<br />
Ibid., 901[915] e 826[840].<br />
32<br />
GP 1111[1121].<br />
8