1 A origem da coca pelo vício do Inca Alexandre C ... - ANPHLAC
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Anais Eletrônicos <strong>do</strong> VIII Encontro Internacional <strong>da</strong> <strong>ANPHLAC</strong> Vitória – 2008<br />
ISBN - 978-85-61621-01-8<br />
em histórias <strong>do</strong>s séculos XVI e XVII”. 3 Antes de refletir sobre a história <strong>do</strong> cronista<br />
indígena, vejamos, com temerária brevi<strong>da</strong>de, algumas peculiari<strong>da</strong>des <strong>do</strong> polêmico<br />
autor e sua obra. 4<br />
Guaman Poma nasceu após a conquista <strong>do</strong> Peru e produz a Nueva corónica y<br />
buen gobierno provavelmente entre 1580 e 1615. O cronista só pode ser conheci<strong>do</strong> ou<br />
caracteriza<strong>do</strong> praticamente através <strong>da</strong> análise de um único mas extenso <strong>do</strong>cumento,<br />
seu próprio manuscrito ilustra<strong>do</strong>, que tem quase mil e duzentos fólios, <strong>do</strong>s quais<br />
quatrocentos com gravuras, obra que só foi descoberta no início <strong>do</strong> século XX nos<br />
recônditos <strong>da</strong> Biblioteca Real <strong>da</strong> Dinamarca. 5<br />
A obra de Guaman Poma está dividi<strong>da</strong> em duas partes. A Nueva corónica<br />
relata a história humana a partir <strong>do</strong> evento <strong>da</strong> Criação de Adão e Eva, reforça que<br />
pós-diluvianos povoaram o Peru, e caracteriza as eras ancestrais andinas até os<br />
tempos <strong>do</strong> governo <strong>do</strong>s incas antes <strong>da</strong> vin<strong>da</strong> <strong>do</strong>s espanhóis. Ain<strong>da</strong> na Nueva corónica,<br />
temos o capítulo <strong>da</strong> “conquista”, na recepção a Pizarro até a conclusão <strong>da</strong> chama<strong>da</strong><br />
“guerra civil” entre os espanhóis conquista<strong>do</strong>res, com a vitória final <strong>da</strong>s tropas fiéis<br />
ao império <strong>do</strong>s Habsburgos com sede na Espanha. A segun<strong>da</strong> parte <strong>do</strong> trata<strong>do</strong>, o Buen<br />
gobierno, que descreve um deprimente e violento cotidiano <strong>do</strong> vice-reino <strong>do</strong> Peru,<br />
traz informes sócio-econômicos e dá conselhos de Esta<strong>do</strong>, faz denúncias e<br />
provocações contra indivíduos, “castas” e “nações”, etc, terminan<strong>do</strong> com uma<br />
peregrinação <strong>do</strong> próprio autor Guaman Poma rumo a Lima, para despachar sua obra<br />
ao rei <strong>da</strong> Espanha. 6<br />
Pelos <strong>da</strong><strong>do</strong>s que oferece, Guaman Poma deve ter nasci<strong>do</strong> no conturba<strong>do</strong><br />
contexto após a conquista de Pizarro e Almagro, e ain<strong>da</strong> jovem foi educa<strong>do</strong> na língua<br />
3 VARELLA, <strong>Alexandre</strong> C. Substâncias <strong>da</strong> i<strong>do</strong>latria; as medicinas que embriagam os índios <strong>do</strong><br />
México e Peru em histórias <strong>do</strong>s séculos XVI e XVII. Dissertação de Mestra<strong>do</strong> – FFLCH/USP, 2008.<br />
4 Fizemos o estu<strong>do</strong> pela seguinte edição: GUAMAN POMA de AYALA, Felipe. Nueva corónica y<br />
buen gobierno, 1993. Contu<strong>do</strong>, optamos por seguir as transcrições e traduções <strong>do</strong> manuscrito original<br />
de acor<strong>do</strong> com a versão digitaliza<strong>da</strong> pela seguinte edição: GUAMAN POMA de AYALA, Felipe.<br />
Nueva crónica y buen gobierno, 1987 [versão eletrônica, 2004]. Para as próximas citações utilizamos a<br />
abreviatura GP (numeração <strong>do</strong>s fólios <strong>do</strong> manuscrito <strong>pelo</strong> que o autor indicara e pela contagem nas<br />
edições atuais). Ex.: GP 950[964].<br />
5 Aqui não nos detemos na análise <strong>da</strong>s gravuras de Guaman Poma, mas sem dúvi<strong>da</strong>, o estu<strong>do</strong><br />
iconográfico de sua obra é o que mais consome os investiga<strong>do</strong>res dentro <strong>da</strong>s polêmicas sobre o caráter<br />
<strong>da</strong> produção <strong>do</strong> cronista indígena e sua maneira de pensar o mun<strong>do</strong> andino. Por outro la<strong>do</strong>, o escrito<br />
alfabético <strong>do</strong> mesmo pode indicar semelhante riqueza de conteú<strong>do</strong>s e de problemas para a investigação<br />
histórica.<br />
6 ADORNO, Rolena. Guaman Poma; writing and resistance in colonial Peru, 1986, p. 09.<br />
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