A Morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói - Liceu Albert Sabin Ribeirão ...
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O rapaz estremeceu, visivelmente temeroso <strong>de</strong> que houvesse cometido algum<br />
<strong>de</strong>scuido, e rapidamente volveu o rosto fresco, bondoso, simples e quase<br />
imberbe.<br />
— Que <strong>de</strong>seja, senhor?<br />
— Deve ser muito <strong>de</strong>sagradável para você. Desculpe-me. Mas eu não posso<br />
me limpar.<br />
— Que <strong>de</strong>sagradável coisa nenhuma — Os olhos <strong>de</strong> Guerássim cintilaram e<br />
ele mostrou a <strong>de</strong>ntadura alvíssima:<br />
— O senhor está doente, não está? Portanto não e mais do que a minha<br />
obrigação.<br />
E, com as mãos ágeis; e ru<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sempenhou a tarefa, saindo logo <strong>de</strong>pois com<br />
o vaso. Não <strong>de</strong>morou muito a voltar e encontrou o amo ainda sentado na<br />
poltrona.<br />
— Venha cá, Guerássim, — disse <strong>Ivan</strong> <strong>Ilitch</strong>, <strong>de</strong>pois que o outro recolocou o<br />
vaso lavado na ca<strong>de</strong>ira furada. Aju<strong>de</strong>-me por favor.<br />
Guerássim acercou-se.<br />
— Levante-me. Sozinho, é muito difícil para mim, eu man<strong>de</strong>i o Dmítri embora.<br />
Guerássim segurou-o com seus braços fortes, suspen<strong>de</strong>u-o cuidadosamente,<br />
e, sustentando-o num braço só, com a outra mão levantou-lhe as calças. Ia<br />
sentá-lo novamente, quando <strong>Ivan</strong> <strong>Ilitch</strong> pediu que o levasse para o divã.<br />
Sem esforço, amparando-o suavemente, Guerássim carregou o doente para o<br />
divã, on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ixou. — Muito obrigado. Como você faz tudo com facilida<strong>de</strong>. E<br />
faz bem! Guerássim esboçou um sorriso e virou-se para ir embora. Mas <strong>Ivan</strong><br />
<strong>Ilitch</strong> sentia-se tão bem com ele que quis retê-lo.<br />
— Outra coisa, por favor. Chegue esta ca<strong>de</strong>ira para junto <strong>de</strong> mim. Não, a outra.<br />
Ponha as minhas pernas em cima <strong>de</strong>la. Sinto-me melhor com os pés mais<br />
altos.<br />
Guerássim trouxe a ca<strong>de</strong>ira, pousou-a no chão sem fazer barulho e,<br />
<strong>de</strong>licadamente, colocou as pernas <strong>de</strong> <strong>Ivan</strong> <strong>Ilitch</strong> sobre a ca<strong>de</strong>ira. O doente teve<br />
uma sensação <strong>de</strong> alívio, quando Guerássim levantou-lhe os pés.<br />
— Sinto-me muito melhor quando meus pés estão mais alteados — disse, —<br />
Ponha mais uma almofada.<br />
Guerássim obe<strong>de</strong>ceu. Levantou novamente as pernas do amo, ajeitou a<br />
almofada, <strong>de</strong>ixou-as repousar cautelosamente. Outra vez, <strong>Ivan</strong> <strong>Ilitch</strong> sentiu-se<br />
melhor, quando lhe suspendiam as pernas e, quando Guerássim as largou,<br />
teve a impressão <strong>de</strong> que piorava.<br />
— Guerássim, você estava ocupado?<br />
— Nem um pouco, senhor — respon<strong>de</strong>u Guerássim, que apren<strong>de</strong>ra com a<br />
gente da cida<strong>de</strong> a falar com os patrões.<br />
— Que é que você tem ainda a fazer?<br />
— O que tenho a fazer, senhor? já fiz tudo. Só falta picar um pouco <strong>de</strong> lenha<br />
para amanhã.<br />
— Se é assim, fique segurando um pouco meus pés no alto... Po<strong>de</strong> ser?<br />
— Como não?<br />
Guerássim manteve mais altas a- pernas do amo e <strong>Ivan</strong> <strong>Ilitch</strong> achou que em tal<br />
posição não sentia dor nenhuma.<br />
— E a lenha, como vai ser?<br />
— Não se preocupe, senhor. Eu arranjarei tempo.