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1 Práticas corporais e esportivas – ST 21 Sissi A. Martins Pereira ...

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<strong>Práticas</strong> <strong>corporais</strong> e <strong>esportivas</strong> <strong>–</strong> <strong>ST</strong> <strong>21</strong><br />

<strong>Sissi</strong> A. <strong>Martins</strong> <strong>Pereira</strong><br />

Young Guimarães Rodrigues<br />

Valéria de Souza<br />

Milena de Oliveira Russoni<br />

Fátima Gomes Silva<br />

Valéria Nascimento<br />

LEEFEG/UFRRJ<br />

Palavras-chave: Educação Física, gênero, atividades motoras.<br />

Educação Física Escolar: aula mista ou separada por sexo?<br />

1- Introdução<br />

Mesmo antes de nascer, os pais criam uma expectativa relacionada ao sexo das crianças, que<br />

serão vestidas com a cor “ideal”, brincarão com os jogos e brinquedos “apropriados”, e deverão se<br />

comportar segundo os padrões estabelecidos pela sociedade.<br />

É desta forma que nossas crianças aprendem e reproduzem como devem desempenhar os<br />

papéis que lhes são atribuídos, demonstrando, assim, o quanto já absorveram das expectativas dos<br />

adultos.<br />

Deste modo, vários estereótipos são transmitidos pela educação das crianças. Uma primeira<br />

providência tomada é a separação dos universos masculino e feminino, ou seja, mesmo as crianças<br />

estudando ou brincando juntas, quase sempre são lembradas das suas diferenças.<br />

A escola e os (as) professores (as) corroboram esses padrões quando separam meninos e<br />

meninas em filas distintas, e propõem aulas separadas por sexo.<br />

Em uma pesquisa desenvolvida por Rosa (2003, p. 17) com alunos de quinta e oitava séries,<br />

sobre a opinião deles em relação ao papel dos homens e das mulheres, o autor concluiu que as<br />

características relacionadas à força física, rudeza e agressividade referem-se aos homens, enquanto<br />

que as características relacionadas à delicadeza, ao belo e ao sentimento referem-se às mulheres.<br />

Para Rosa “as relações de gênero masculino e feminino são um aspecto fundamental ao se planejar<br />

e executar atividades didáticas com os alunos”.<br />

Recorrendo às questões históricas para buscar entendimento sobre os papéis masculinos e<br />

femininos, ao homem coube a ocupação do espaço público, desenvolvendo habilidades como<br />

liderança, tomada de decisão, maior desempenho físico e motor global, dentre outros, enquanto as<br />

mulheres ocuparam, principalmente, o espaço privado, aprimorando habilidades como:<br />

sociabilidade, afetividade e habilidades motoras finas. Tais comportamentos contribuíram para uma<br />

diferenciação no contexto motor de homens e mulheres ao longo da evolução do ser humano.<br />

A habilidade motora é levada muito em conta no contexto lúdico das crianças. A maioria dos<br />

meninos considera as meninas menos habilidosas e são menos tolerantes com elas. Os meninos as<br />

1


discriminam, mesmo sem conhecer os níveis de capacidade motora feminina, enquanto as meninas<br />

os culpam por não permitirem a participação delas nos jogos deles.<br />

Destarte, ao longo da existência humana, a sociedade passou a proporcionar oportunidades<br />

distintas para homens e mulheres, e no que diz respeito às atividades inerentes ao sexo masculino,<br />

fez com que o homem possuísse um maior campo de desenvolvimento das suas habilidades<br />

motoras. Diferentemente, a mulher, cujo comportamento e atitudes são orientados para as atividades<br />

no espaço privado, seu campo de aprendizado se tornou mais estreito.<br />

Por isso, entendemos que a interação entre meninos e meninas através das atividades lúdicas e<br />

<strong>esportivas</strong>, pode oferecer uma oportunidade para ambos no que se refere ao desenvolvimento das<br />

suas habilidades motoras, e conseqüentemente criar um espaço de discussão sobre as diferenças de<br />

oportunidade entre os sexos.<br />

Com base nos vários estudos realizados sobre as relações de gênero nas atividades motoras<br />

(ABREU, 1993; SOUZA, 1999; ALTMANN, 2002; SPINELLI, 2003; PEREIRA, 2004), as aulas<br />

mistas de Educação Física devem, acima de tudo, estimular debates entre alunos e professores sobre<br />

o que pensam da divisão por sexo nas aulas, fazendo com que as crianças e jovens percebam muito<br />

mais semelhanças do que diferenças entre eles (as). As referidas aulas podem proporcionar um novo<br />

olhar sobre o assunto, contribuindo para uma reflexão sobre o relacionamento entre eles nas aulas<br />

práticas de Educação Física, o que leva, também a refletir fora delas.<br />

Abreu (1993) percebe que a escola é também uma das instituições encarregados de transmitir<br />

valores tradicionais, na medida em que os mantém da forma como estão. Para a autora, a Educação<br />

Física, como parte desse processo educativo, pode transformar, ou colaborar para a manutenção de<br />

valores conservadores dependendo das atitudes tomadas pelos professores perante o assunto.<br />

De acordo com Louro (2003), a Educação Física parece ser, também, um palco privilegiado<br />

para manifestações de preocupação com relação à sexualidade das crianças. Se dentro da sala de<br />

aula meninos e meninas são tratados como iguais, o mesmo não ocorre, na maioria das vezes, nas<br />

aulas práticas de Educação Física, onde, muitas vezes, ocorre desde cedo a separação por sexo,<br />

fazendo com que crianças tornem-se jovens preconceituosos em relação ao sexo oposto, devido, por<br />

exemplo, ao pensamento de superioridade motora que os meninos têm em relação às meninas; e<br />

essas em relação à brutalidade deles.<br />

Uma história dessa disciplina, muito vinculada à Biologia, então, à manutenção de<br />

saúde e da higiene, contribuiu para que aí fossem acionadas justificativas de<br />

ordem biológica (da ordem da “natureza”) para a separação das turmas femininas<br />

e masculinas. […] Embora se valendo de discursos de diferentes matrizes, muitos<br />

professores e professoras atuam, ainda hoje, com uma expectativa de interesses e<br />

desempenhos distintos entre seus grupos de estudantes. A idéia de que as mulheres<br />

são, fisicamente, menos capazes do que os homens, possivelmente ainda é aceita.<br />

(LOURO, 2003, p.73)<br />

2


A escola é o espaço de aprendizado de várias vivências e, segundo Rosa (2003) “ser homem,<br />

ser mulher, ou, simplesmente ser diferente não significa ser melhor ou pior do que ninguém e sim<br />

ter capacidades e características próprias que nos fazem seres únicos e especiais”.<br />

Portanto, o objetivo desse estudo é obter opiniões de alunos e professores de Educação Física<br />

do segundo segmento do ensino fundamental a respeito da organização mista ou separada por sexo<br />

das aulas práticas.<br />

2- Metodologia<br />

A metodologia do presente estudo foi desenvolvida através de uma pesquisa descritiva de<br />

levantamento. Para tanto, foi utilizado um roteiro de entrevista cujas respostas foram analisadas<br />

através da análise de conteúdo. As informações foram obtidas em cinco escolas do município de<br />

Seropédica <strong>–</strong> RJ. Participaram da pesquisa o (s) professor (es) de Educação Física das escolas e 10<br />

alunos do terceiro ciclo do Ensino Fundamental de cada escola, sendo cinco do sexo masculino e<br />

cinco do sexo feminino, perfazendo um total de 50 alunos.<br />

3- Discussão dos resultados<br />

As informações foram obtidas através de um roteiro de entrevista para alunos e professores<br />

das escolas participantes.<br />

Primeiramente serão apresentadas as respostas dos (as) alunos (as) sobre a organização das<br />

aulas de Educação Física.<br />

3.1- Opinião dos alunos<br />

Os quadros a seguir apresentam a análise das respostas das meninas e dos meninos sobre a<br />

satisfação com relação às aulas mistas ou separadas por sexo.<br />

Quadro 1- Opinião das meninas sobre a organização das aulas de Educação Física<br />

Depoimentos das meninas<br />

- É melhor aula separada;<br />

- Porque fica muito junto dos meninos (ela não gosta);<br />

Categorias Ocorrências<br />

- Porque elas podem brincar do que elas gostam;<br />

- É mais organizado;<br />

- Dividido é melhor, os meninos são violentos;<br />

Separação 6<br />

- Os meninos não gostam de brincar com elas;<br />

- Os meninos são brutos e as meninas não gostam de participar;<br />

- Os meninos machucam e não passam a bola<br />

- Os garotos são violentos.<br />

- Os meninos são brutos, pode nos machucar;<br />

- Dividido é melhor, os meninos são violentos;<br />

- Por causa das brincadeiras de mau gosto, passar a mão e são brutos;<br />

- Os meninos são brutos e as meninas não gostam de participar;<br />

- Tem pouca menina para jogar;<br />

- Eu gosto de jogar bola enquanto as outras meninas ficam sentadas;<br />

- Porque quando as meninas não estão a fim de jogar, elas conversam e<br />

Violência<br />

masculina<br />

Desinteresse<br />

feminino<br />

6<br />

5<br />

3


os meninos jogam bola;<br />

- É chato porque as meninas não gostam de jogar;<br />

- Porque é divertido todos na quadra;<br />

- Todo mundo junto é melhor;<br />

- Todos juntos é melhor;<br />

- Porque separada a aula fica chata;<br />

Integração 4<br />

- Porque é maneiro mas só com os meninos que sabem jogar;<br />

Habilidade 2<br />

- Não passam a bola para as meninas<br />

masculina<br />

- Tanto faz; Indiferente 1<br />

- Por causa das brincadeiras de mau gosto, passar a mão e são brutos; Malícia<br />

masculina<br />

1<br />

- Não acho legal, somos iguais; Igualdade 1<br />

- Os meninos fazem mais bagunça; Indisciplina<br />

masculina<br />

1<br />

Das 25 meninas entrevistadas, 6 preferem aulas separadas e 6 alegam que um dos motivos<br />

para a separação é a violência masculina. 4 delas reconhecem que as aulas mistas integram os<br />

alunos, porém 5 admitem o desinteresse feminino nas aulas. 2 meninas reconhecem uma maior<br />

habilidade masculina, 1 declara insatisfação com a malícia masculina e, da mesma forma, 1 alega<br />

que os meninos são indisciplinados.<br />

Quadro 2- Opinião dos meninos sobre a organização das aulas de Educação Física<br />

Depoimentos dos meninos<br />

- Com as meninas é mais divertido;<br />

- Porque é mais alegre;<br />

Categorias Ocorrências<br />

- Maior integração e eles jogam futebol c/ as meninas;<br />

- Curtição;<br />

- Com as meninas não tem disputa, mais engraçado e interessante;<br />

- Todo mundo junto é mais divertido;<br />

Integração 7<br />

- Porque todo mundo joga junto;<br />

- Aulas mistas, porque temos os mesmos direitos;<br />

- Mista <strong>–</strong> assim não tem briga;<br />

- Porque não tem discriminação;<br />

- Porque elas podem fazer as mesmas coisas que nós;<br />

- Como tem meninas que n gostam de jogar handebol o prof organiza<br />

times separados;<br />

- Dá para jogar futebol;<br />

- Porque elas reclamam na hora de jogar;<br />

- Porque a gente quer jogar bola e elas querem jogar outra coisa.<br />

- Homem com homem só sai briga;<br />

- A bola pode machucar as meninas;<br />

- Aulas mistas são menos violentas;<br />

- Pode machucar as meninas com o jogo;<br />

- As meninas atrapalham, não sabem jogar;<br />

- Com menina no time não dá para jogar, fica muito ruim;<br />

- Porque tem gente que ocupa a quadra e não deixa mais ninguém<br />

jogar;<br />

- Prefiro aula mista porque sou homem;<br />

- A gente passa a mão nas meninas;<br />

Igualdade de<br />

gênero<br />

Separação<br />

Violência<br />

masculina<br />

Habilidade<br />

masculina<br />

Malícia<br />

masculina<br />

Foi notável a preferência de 7 meninos pelas aulas mistas porque consideram mais divertidas,<br />

além de 2 alunos também preferirem esta organização por causa da malícia masculina: “a gente<br />

passa a mão nas meninas”. Foram 4 ocorrências na categoria igualdade de gênero podendo-se<br />

4<br />

4<br />

4<br />

3<br />

2<br />

4


concluir que dos 25 meninos, 11 gostam das aulas mistas. Também 11 alunos preferem aulas<br />

separadas, de acordo com as seguintes categorias: separação, violência e habilidade masculina. Vale<br />

lembrar que a escola IV segue a orientação da direção da escola para que as aulas sejam separadas<br />

por sexo.<br />

A última questão indagou como os (as) alunos (as) gostariam que fossem as aulas e as<br />

respostas encontram-se sintetizadas no quadro 3.<br />

Quadro 3: Preferência por aulas mistas ou separadas<br />

Preferem aulas mistas Preferem aulas separadas<br />

I II III IV V Total I II III IV V Total<br />

meninas 4 4 1 3 4 16 1 1 4 2 1 9<br />

meninos 5 5 4 - 3 17 - - 1 5 2 8<br />

Tanto meninas quanto meninos, em sua maioria, preferem que as aulas de Educação Física<br />

sejam mistas. Nas escolas I e II todos os meninos preferem essa organização. Apesar de a direção<br />

da escola IV orientar para que as aulas sejam separadas, 3 meninas gostariam que fossem mistas.<br />

3.2- Opinião dos professores<br />

Obtivemos a opinião de seis professores, sendo cinco homens e uma mulher, sobre as aulas de<br />

Educação Física. Das 5 escolas participantes, não conseguimos entrevistar o professor de uma<br />

delas, portanto, serão apresentados os dados docentes de 4 escolas. Para manter o anonimato, todos<br />

os professores respondentes serão apresentados no sexo masculino.<br />

O primeiro questionamento feito aos professores foi: O que você entende por gênero?<br />

Os dois professores da Escola I responderam: Prof 1 <strong>–</strong> Homem = menino e mulher = menina;<br />

Prof 2 <strong>–</strong> É a diferença entre a personalidade dos sexos. O Prof. da Escola II disse ser “As diferenças<br />

e peculiaridades de cada sexo”. Já o Prof. da Escola III respondeu ser a “Distinção entre os sexos” e<br />

o outro não soube responder. Também o Prof da Escola IV não sabe o que é gênero.<br />

De acordo com as respostas nenhum professor apresentou conhecimento sobre o assunto,<br />

portanto avaliamos que, para eles, fica difícil discutir o que não se conhece.<br />

Quando perguntamos em que situações os professores observam a presença de “questões de<br />

gênero” nas aulas, os professores apresentaram as seguintes respostas:<br />

Escola I: Prof 1 <strong>–</strong> “Nas diferenças físicas” (este professor disse que não há sexismo nas escolas<br />

públicas do RJ). Prof 2 <strong>–</strong> “Quando as meninas não deixam os meninos participar”;<br />

Prof. da Escola II: “Nas habilidades motoras e nas situações relacionadas à sexualidade”;<br />

Escola III: Prof I - “Quando se tem poucos meninos em uma fileira de meninas”. Prof 2 - Os<br />

meninos não respeitam as dificuldades de habilidades das meninas;<br />

Prof da Escola IV: “Nas aulas práticas”.<br />

Ao serem indagados sobre como intervém nas situações citadas, os professores responderam:<br />

5


Escola I: Prof 1 <strong>–</strong> “Formando equipes mistas”. Prof 2 <strong>–</strong> “20 minutos separados e depois juntos”;<br />

Prof da Escola II <strong>–</strong> “Explico as diferenças entre os gêneros”;<br />

Escola III: Prof 1 <strong>–</strong> “Explicando que todos são iguais”. Prof 2 <strong>–</strong> “A bola tem que passar por todos<br />

da equipe, só vale gol das meninas”;<br />

Prof da Escola IV - Criar regra que inclua sempre um líder que sempre irá precisar de ambos em<br />

qualquer situação.<br />

Podemos observar que, mesmo sem terem um embasamento teórico sobre o assunto, os<br />

professores procuram resolver os problemas que envolvem as relações sociais entre meninos e<br />

meninas, utilizando o bom senso para tentar minimizar as divergências que se apresentam nas aulas.<br />

Um dos métodos citados por um professor foi a alteração das regras para favorecer as meninas: “só<br />

vale gol das meninas”.<br />

Sobre esse assunto Souza e Altmann (1999, p.63) alertam sobre a estratégia de determinar que<br />

um gol só possa ser efetuado após todas as meninas terem tocado a bola, ou autorizar apenas as<br />

meninas a marcá-los, ou seja, adaptar regras em favor das meninas pode solucionar um problema e<br />

criar outros, pois “quebram a dinâmica do jogo e, em última instância, as meninas são as culpadas<br />

por isso, pois foi para elas que as regras foram modificadas”. Mas, felizmente, a maioria dos<br />

professores utiliza métodos de inclusão que possibilitam a participação das meninas e dos menos<br />

habilidosos.<br />

Ao serem inquiridos sobre quais situações percebem-se diferentes comportamentos entre<br />

alunos e alunas, os professores apresentaram as seguintes respostas:<br />

Escola I: Prof 1 - “Meninas preferem aulas teóricas para não se expor”. Prof 2 <strong>–</strong> “As meninas não<br />

gostam de participar com os meninos”;<br />

Escola II <strong>–</strong> “Em jogos separados, as meninas são mais agressivas, nas aulas mistas isso diminui”;<br />

Escola III: Prof 1 - “No manejo com a bola”. Prof 2 “Os meninos têm mais vontade de participar<br />

das aulas praticas”;<br />

Escola IV <strong>–</strong> “Nas escolhas de equipe e nas atividades em grupo”.<br />

As respostas dos professores foram diversificadas, mas os professores da escola 1 observam<br />

uma preferência das meninas por aulas separadas.<br />

Com relação à diferença no desempenho escolar de alunos e alunas, os professores<br />

apresentaram as seguintes respostas:<br />

Escola I: - Prof 1 “Meninas são mais interessadas e tiram notas melhores na teoria”. Prof 2<br />

“Meninos mais participativos e meninas mais esforçadas”;<br />

Prof da Escola II <strong>–</strong> “Não percebo diferença”;<br />

Escola III: Prof 1 <strong>–</strong> “Sim, os meninos têm mais facilidade para aprender e praticar”. Prof 2 <strong>–</strong> “Sim,<br />

na teoria as meninas são melhores”;<br />

6


Prof da Escola IV <strong>–</strong> “Depende, pois tanto os meninos quanto as meninas que são levados nas outras<br />

disciplinas são melhores na Ed. Física ou outros alunos que não têm reação em outras disciplinas se<br />

revelam nas aulas de Ed. Física”.<br />

O discurso de alguns professores aponta para um melhor desempenho intelectual das meninas<br />

e um maior interesse dos meninos nas atividades práticas. Esta idéia nos remete à Louro (2003,<br />

p.63) quando questiona sobre os desempenhos, interesses e aptidões diferentes para cada gênero e<br />

“os meninos são ‘naturalmente’ mais agitados e curiosos do que as meninas?”. O professor, sem se<br />

dar conta, tem uma expectativa diferente sobre comportamentos, atitudes e desempenho de alunos e<br />

alunas.<br />

Considerações finais<br />

O estudo trouxe à tona uma temática ainda pouco explorada na escola que se refere à<br />

interpretação da convivência entre meninos e meninas durante as aulas de Educação Física. Outro<br />

aspecto fundamental foi a possibilidade de dar voz aos alunos, para que pudessem expor suas idéias<br />

a respeito da interação entre meninos e meninas nas aulas práticas. Também levantou informações<br />

importantes sobre como os professores estão solucionando as questões ligadas à integração entre<br />

meninos e meninas durante a prática de atividade física.<br />

Finalmente, o trabalho apresenta uma oportunidade de discussão sobre a preferência e o<br />

entendimento dos alunos sobre as aulas mistas ou separadas por sexo, o que pode contribuir para<br />

uma reflexão por parte do corpo docente e direção da escola acerca das relações de gênero no<br />

ambiente escolar.<br />

Referências<br />

ABREU, Neíse G. Meninos pra cá, meninas pra lá. In: VOTRE, Sebastião et al. Ensino e avaliação<br />

em educação física. São Paulo: Ibrasa, 1993.<br />

ALTMANN, Helena. Exclusão nos esportes sob um enfoque de gênero. Motus Corporis, Rio de<br />

Janeiro, UGF, v. 9, n. 1, p. 9-20, maio 2002.<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília:<br />

MEC/Secretaria de Educação Fundamental, 1998.<br />

______. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. 2. ed. Rio<br />

de Janeiro: DP&A, 2000.<br />

LOURO, Guacira L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 5. ed.<br />

Petrópolis: Vozes, 2003.<br />

PEREIRA, <strong>Sissi</strong> A. M. O sexismo nas aulas de Educação Física: uma análise dos desenhos infantis<br />

e dos estereótipos de gênero nos jogos e brincadeiras. Tese (Doutorado em Educação Física),<br />

Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2004.<br />

7


ROSA, José Antônio R. Orientação sexual: discutindo as relações de gênero e as desigualdades<br />

entre homens e mulheres. Revista do Professor, Porto Alegre, n.19, pp.17-22, out-dez/2003.<br />

SOUZA, Eustáquia Salvadora; ALTMANN, Helena. Meninos e meninas: expectativas <strong>corporais</strong> e<br />

implicações na educação física escolar. Cadernos CEDES, Campinas: Unicamp, ano XIX, n. 48, p.<br />

52-68, ago. 1999.<br />

SPINELLI, Nilton. Posso brincar? brincadeira de menino ou menina - brinquedo e brincadeira<br />

um estudo de gênero na perspectiva da motricidade humana. Dissertação (Mestrado em Ciência da<br />

Motricidade Humana). Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade Castelo Branco,<br />

Rio de Janeiro, 2003.<br />

8

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