Conservação da Natureza - E eu com isso? - Global Garbage
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Com esta situação, aos poucos, a panacéia do desenvolvimento<br />
sustentável, <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de e do adjetivo sustentável aplicado a tudo<br />
e qualquer coisa, parece entrar em colapso de aparência irreversível, talvez<br />
por falência múltipla, se usarmos uma metafórica referência médica.<br />
Mas, lamentável e preocupante ao mesmo tempo, em última instância<br />
essa falência é <strong>da</strong> própria civilização que habita o planeta, incapaz que<br />
tem sido de se ajustar aos s<strong>eu</strong>s limites, antes que do planeta em si, que<br />
sobreviverá ao saque e à pre<strong>da</strong>ção humanos desenfreados.<br />
Cria<strong>da</strong> para orientar políticas sociais e econômicas,<br />
mormente estas últimas, assentando de forma propositiva os rumos do<br />
desenvolvimento econômico aos limites naturais do planeta, em especial<br />
àqueles de ordem ecológica e assim limitando-o, a idéia do desenvolvimento<br />
sustentável floresc<strong>eu</strong> no contexto <strong>da</strong>s profícuas discussões que ocorreram<br />
entre a Conferência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s de Estocolmo, em 1972, e do Rio<br />
de Janeiro, em 1992, sendo consagra<strong>da</strong> nesta última e intensamente usa<strong>da</strong><br />
nos vinte anos que a seguiram.<br />
Na primeira destas conferências foi severamente questionado o<br />
modelo de desenvolvimento sócio-econômico até então dominante nas<br />
socie<strong>da</strong>des mais prósperas e desenvolvi<strong>da</strong>s, reconhecendo-se limites<br />
e impactos já inaceitáveis e propondo-se limitações aos mesmos.<br />
Foram então muitos os fóruns e processos de discussões, baseados na melhor<br />
ciência, que prepararam o caminho para os acordos multilaterais que se<br />
seguiram, condicionando minimamente o desenvolvimento econômico<br />
aos limites geológico, edáfico, climático e biológico do planeta. É notável<br />
o sucesso de um dos frutos desse processo, o Relatório Brundtland<br />
(em homenagem a Gro Harlem Brundtland, ex-primeira ministra <strong>da</strong><br />
Noruega, que presidiu a <strong>com</strong>issão <strong>da</strong> ONU que o produziu) ou “Nosso<br />
Futuro Comum”, altamente influenciador de tudo que veio a seguir. Lá<br />
está o desenvolvimento sustentável, definido <strong>com</strong>o “aquele que atende<br />
às necessi<strong>da</strong>des do presente sem <strong>com</strong>prometer as habili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s gerações<br />
futuras de atenderem às suas próprias”, que passou a ser, juntamente <strong>com</strong><br />
o termo sustentabili<strong>da</strong>de, a panacéia mágica vali<strong>da</strong><strong>da</strong> naquele contexto<br />
<strong>com</strong>o solução para todos os problemas planetários. Não sem críticas de<br />
muitos céticos, é importante frisar! É necessário reconhecer que não se<br />
vislumbrava e nem se vislumbra hoje qualquer saí<strong>da</strong> para a situação sem<br />
a incorporação de boa dose <strong>da</strong> utopia que a proposta continha, mas de<br />
forma associa<strong>da</strong> a alto grau de pragmatismo executivo <strong>com</strong> análise crítica<br />
contínua (coisa que sempre faltou). Mais importante, entretanto, é o fato<br />
de que a proposição do desenvolvimento sustentável que serviu e tem<br />
servido para quase tudo, <strong>com</strong>o título ou adjetivo que justificou e justifica<br />
qualquer coisa, não trouxe resultados práticos em termos de mu<strong>da</strong>nças<br />
<strong>com</strong>portamentais humanas, a não ser por raras exceções.<br />
Na Conferência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s sobre Meio Ambiente e<br />
Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992, a maior r<strong>eu</strong>nião de chefes<br />
de estado e governos até então realiza<strong>da</strong>, mais de uma centena de países<br />
assinaram, entre outros acordos, duas <strong>da</strong>s mais importantes convenções<br />
mundiais em tempos de paz: as Convenções <strong>da</strong> Diversi<strong>da</strong>de Biológica e <strong>da</strong>s<br />
Mu<strong>da</strong>nças Climáticas. Antecederam-nas, e em boa medi<strong>da</strong> as definiram<br />
ou influenciaram uma enorme profusão de eventos preparatórios e, ao<br />
final, paralelos àqueles oficiais. Essa Conferência, ou simplesmente Rio<br />
92, <strong>com</strong>o também ficou conheci<strong>da</strong>, não foi apenas a maior r<strong>eu</strong>nião de<br />
governos <strong>com</strong>o também o mais expressivo processo de participação pública<br />
na construção de normativas mundiais. Foi um novo (à época) e diferente<br />
momento “<strong>da</strong>” e “na” governança global. Através dos mais diversos<br />
eventos, grupos de interesse e pressão tão distintos quanto <strong>com</strong>uni<strong>da</strong>des<br />
indígenas de áreas remotas e <strong>com</strong>uni<strong>da</strong>des de favelas urbanas, cientistas de<br />
grandes centros do pensamento mundial e associações empresariais, além<br />
de ONGs de to<strong>da</strong> e qualquer orientação política e localização geográfica<br />
quanto se possa imaginar, estiveram presentes e se fizeram ouvir, num<br />
processo ímpar.<br />
O que tivemos em 2012? Comparativamente, na<strong>da</strong> ou quase<br />
na<strong>da</strong> <strong>com</strong>o resultado do pouco que foi feito em termos preparatórios,<br />
sendo este pouco sem relevância pública, quer pela falta de eco dos meios<br />
de <strong>com</strong>unicação quer pelo ceticismo <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des, em boa medi<strong>da</strong><br />
preocupa<strong>da</strong>s <strong>com</strong> as emergências sociais e econômicas decorrentes <strong>da</strong>s<br />
crises financeiras <strong>eu</strong>ropéia e norte americana que engolfam a todos.<br />
Importante lembrar, também, que jogaram contra soluções e acordos<br />
planetários significativos a liderança (ou quase) exerci<strong>da</strong> pelas economias<br />
emergentes, destaca<strong>da</strong>mente Brasil, Índia, Rússia, África do Sul e<br />
China. As agen<strong>da</strong>s desenvolvimentistas destes países em boa medi<strong>da</strong><br />
desconsideram os limites ecológicos do planeta e atravancam <strong>com</strong> acordos<br />
mais significativos que se fazem urgentemente necessários, embora a<br />
China dê sinais sistemáticos de que surpreenderá a todos mais uma vez,<br />
não nos acordos internacionais, mas nos s<strong>eu</strong>s resultados práticos internos,<br />
onde tenta virar o jogo <strong>da</strong> “sustentabili<strong>da</strong>de”.<br />
12 CONSERVAÇÃO DA NATUREZA<br />
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