Conservação da Natureza - E eu com isso? - Global Garbage
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Excesso de capaci<strong>da</strong>de de pesca<br />
O excesso de capaci<strong>da</strong>de de pesca pode ser traduzido pela<br />
quanti<strong>da</strong>de excessiva de embarcações, pescadores e aparelhos de<br />
captura (permitidos ou não) que, segundo MARRUL FILHO (2004) é<br />
considerado fator mais ameaçador <strong>da</strong> viabili<strong>da</strong>de econômica <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />
pesqueira e um forte indicador de sobrepesca.<br />
Segundo DIAS NETO & DORNELES (1996), para corrigir<br />
o excesso de capaci<strong>da</strong>de de pesca no Brasil, é necessário uma redução<br />
do esforço de pesca de até 2/3 de conformi<strong>da</strong>de <strong>com</strong> o tipo de pescaria<br />
empregado. Estes autores destacam que “entre 1970 e 1990, enquanto<br />
o esforço de pesca no mundo em termos quanti-qualitativos, aumentou<br />
entre 200% e 300%, a produção aumentou em pouco mais de 30%”.<br />
A ca<strong>da</strong> ano observa-se um aumento no contingente humano<br />
migrando para a pesca profissional, em todo o Pantanal, tornando-se uma<br />
“rota de fuga” <strong>da</strong> extrema pobreza rural e urbana. Entretanto, cabe ao<br />
Estado inibir este processo, pois se estes contingentes forem incorporados<br />
às pescarias, que já operam sobre recursos finitos e sobrepescados, podemos<br />
estar presenciando uma nova mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de sobrepesca – a malthusiana.<br />
Todo este <strong>com</strong>portamento humano provoca freqüentes conflitos <strong>com</strong><br />
a fiscalização ambiental, motivados por interesses divergentes quanto<br />
ao acesso aos recursos naturais. As flutuações no tamanho dos estoques<br />
explotáveis, provoca<strong>da</strong>s tanto por fatores naturais <strong>com</strong>o por aqueles<br />
decorrentes de desequilíbrios ambientais (...), causam imensas dificul<strong>da</strong>des<br />
na previsão de ren<strong>da</strong>s futuras, resultando em altas incertezas econômicas<br />
para a ativi<strong>da</strong>de pesqueira (MARRUL FILHO, 2004).<br />
A concessão de licenças tem sido o principal mecanismo de<br />
alocação de direitos de acesso aos recursos pesqueiros de proprie<strong>da</strong>de do<br />
Estado (MARRUL FILHO, 2004). O argumento central do arcabouço<br />
conceitual do sistema de licenciamento é a limitação do esforço de<br />
pesca por meio do controle do número de embarcações e usuários.<br />
Entretanto, a inexistência ou mesmo a indisponibili<strong>da</strong>de de informações<br />
sobre o desempenho econômico dos pescadores profissionais, ou ain<strong>da</strong>,<br />
o <strong>com</strong>portamento humano diante do quadro biológico-pesqueiro do<br />
Pantanal, faz parte <strong>da</strong>s preocupações <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong> pesca, mas isto não se<br />
torna fator impeditivo de que normas de uso sejam propostas e executa<strong>da</strong>s.<br />
As políticas públicas também podem potencializar o excesso<br />
de capaci<strong>da</strong>de, estimulado por incentivos econômicos à ativi<strong>da</strong>de. Os<br />
subsídios estão aju<strong>da</strong>ndo a financiar ciclos de manejo inadequado que<br />
acabam deixando milhares de pescadores desempregados nos países<br />
em desenvolvimento. Os incentivos econômicos de produção são<br />
in<strong>com</strong>patíveis <strong>com</strong> o desenvolvimento de medi<strong>da</strong>s para resolver o<br />
problema do excesso de capaci<strong>da</strong>de, que procuram reduzir o esforço de<br />
captura em níveis sustentáveis. Estes incentivos encorajam a expansão <strong>da</strong><br />
frota pesqueira, atrai um novo contingente pesqueiro, que já é grande,<br />
desencadeando a chama<strong>da</strong> “corri<strong>da</strong> do peixe”, que não é racional do ponto<br />
de vista biológico nem prudente do ponto de vista <strong>com</strong>ercial. Em 1977,<br />
o WWF iniciou uma campanha internacional para eliminar os subsídios<br />
governamentais que impulsionam a sobrepesca. Infelizmente a campanha<br />
não surtiu efeito junto à pesca extrativista continental.<br />
Onde há excesso de capaci<strong>da</strong>de, os pescadores têm mais<br />
dificul<strong>da</strong>de para pescar, gastam mais para capturar menos peixes e<br />
ganham menos. O excesso de captura também intensifica a destruição<br />
do meio ambiente e a captura de espécies não <strong>com</strong>erciais. Muitos<br />
problemas ambientais vêm <strong>da</strong> pobreza – contribuindo muitas vezes<br />
para um espiral descendente em que a pobreza exacerba a degra<strong>da</strong>ção<br />
ambiental e a degra<strong>da</strong>ção ambiental exacerba a pobreza. Na área rural<br />
isto é facilmente demonstrado, por exemplo, há ligações estreitas entre<br />
eleva<strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil, eleva<strong>da</strong> fertili<strong>da</strong>de, elevado crescimento<br />
populacional e extenso desmatamento, na medi<strong>da</strong> que os camponeses<br />
derrubam florestas tropicais para obter lenha e terra arável. Da<strong>da</strong> esta<br />
cadeia de causali<strong>da</strong>de, as políticas públicas que reduzem a mortali<strong>da</strong>de<br />
infantil podem aju<strong>da</strong>r o ambiente, reduzindo o crescimento populacional<br />
e as pressões demográficas sobre ecossistemas frágeis.<br />
Assim, reduzir a pobreza pode desempenhar um papel central<br />
na proteção ambiental. Agravar as condições ambientais – incluindo o<br />
esgotamento dos recursos naturais e a degra<strong>da</strong>ção de ecossistemas e s<strong>eu</strong>s<br />
serviços – atinge mais as pessoas pobres. E quando as pessoas pobres<br />
degra<strong>da</strong>m o ambiente, muitas vezes é porque os s<strong>eu</strong>s direitos aos recursos<br />
naturais lhes foram negados pelas elites. Em muitos casos, por exemplo,<br />
as pessoas pobres são obriga<strong>da</strong>s a ir para terras marginais mais propensas<br />
à degra<strong>da</strong>ção.<br />
Até o final dos anos de 1980 os recursos pesqueiros eram<br />
considerados apenas <strong>com</strong>o um recurso econômico, cujas gestões<br />
eram orienta<strong>da</strong>s por práticas fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s na agricultura.<br />
Por exemplo, no passado, certos pesquisadores projetaram a potenciali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> produção pesqueira do Pantanal em hectares de lâmina d´água, o que<br />
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