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Conservação da Natureza - E eu com isso? - Global Garbage

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esultou em projeções fictícias de “produção” e no imaginário coletivo<br />

de uma “fartura a ser explora<strong>da</strong>”. Dentro deste cenário “otimista” e<br />

tecnocrata, empresários <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong>ercial foram atraídos e convencidos<br />

a se instalarem no Pantanal, mas as previsões de fartura na produção<br />

foram substituí<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> ano pela redução <strong>da</strong> pesca e muitas incertezas.<br />

Em 1993 a pesca <strong>com</strong>ercial deixou de existir e os pescadores profissionais<br />

passaram a ser pescadores artesanais, revestidos pelo manto e áurea de<br />

“produtores” de peixes.<br />

Com o fim <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong>ercial, as leis de mercado beneficiaram<br />

o aparecimento <strong>da</strong> figura dos “atravessadores de peixes”, que alimentaram<br />

a pesca clandestina por muitos anos e, em muitas regiões do Pantanal,<br />

esta figura continua presente. Estes <strong>com</strong>ercializaram ou, no linguajar<br />

local, “puxavam” grandes volumes de pescado, burlando a fiscalização,<br />

para abastecer o mercado externo, principalmente o estado de São Paulo.<br />

SILVA (1986) estimou que a pesca clandestina <strong>com</strong>ercial no Mato Grosso<br />

do Sul, em 1986, deva alcançar cerca de 50% dos desembarques oficiais.<br />

O intermediário era ágil, informal e utilizava os laços afetivos que<br />

dispunha <strong>com</strong> os pescadores. Muitos destes intermediários eram<br />

pessoas <strong>da</strong> <strong>com</strong>uni<strong>da</strong>de ou ex-pescadores que se especializaram na<br />

<strong>com</strong>ercialização.<br />

Operavam um flexível sistema de financiamento, baseado nas relações<br />

de confiança, sistema considerado “escravizante”, pois as pescarias eram<br />

financia<strong>da</strong>s pelos atravessadores e quando os pescadores retornavam a<br />

“produção” era moe<strong>da</strong> para quitar as dívi<strong>da</strong>s contraí<strong>da</strong>s antes <strong>da</strong> viagem. O<br />

mecanismo de financiamento é bastante parecido <strong>com</strong> o atual mecanismo<br />

bancário do cheque especial. O sistema do atravessador não encontrou<br />

substituto nos outros sistemas oferecidos pelas cooperativas e associações.<br />

Infelizmente, este sistema continua a escravizar centenas de pescadores<br />

profissionais em várias ci<strong>da</strong>des do Pantanal tais <strong>com</strong>o Corumbá, Coxim<br />

e Miran<strong>da</strong>.<br />

Nesse cenário desolador e humilhante na vi<strong>da</strong> dos pescadores<br />

artesanais, uma nova ameaça se aproxima, impedindo ain<strong>da</strong> mais o<br />

rompimento do ciclo <strong>da</strong> pobreza – a migração. A ca<strong>da</strong> ano observa-se um<br />

aumento no contingente humano migrando para a pesca profissional, em<br />

todo o Pantanal, tornando-se uma “rota de fuga” <strong>da</strong> extrema pobreza rural<br />

e urbana. Um bom exemplo são os “catadores de iscas” de Mato Grosso<br />

do Sul. Trata-se de uma ativi<strong>da</strong>de recente, <strong>com</strong> menos de 20 anos, e que<br />

tem atraído um expressivo número de moradores urbanos, ribeirinhos e<br />

ex-pescadores profissionais.<br />

Os estudos revelam que, quando há diminuição <strong>da</strong> abundância<br />

dos recursos pesqueiros, o ordenamento é ignorado e suas normas são<br />

desrespeita<strong>da</strong>s pelos usuários, cria-se um imenso espaço para as ativi<strong>da</strong>des<br />

pre<strong>da</strong>tórias e, conseqüentemente, os interesses <strong>da</strong>s <strong>com</strong>uni<strong>da</strong>des de<br />

pescadores são afetados no curto, médio e longo prazos a Ativi<strong>da</strong>de<br />

econômica <strong>da</strong> qual muitas pessoas dependem deixa de funcionar.<br />

A pesca pre<strong>da</strong>tória, do ponto de vista ambiental, pode resultar<br />

em uma remoção adicional do recurso, não considera<strong>da</strong> nos registros<br />

oficiais, e uma proporção considerável do estoque ain<strong>da</strong> não pescado pode<br />

ser <strong>da</strong>nificado durante essas operações ilegais. Obviamente, entende-se<br />

que tais situações são movi<strong>da</strong>s também por pressões econômicas e sociais;<br />

entretanto deve ser supera<strong>da</strong> pela via <strong>da</strong> negociação e <strong>com</strong>bati<strong>da</strong> <strong>com</strong><br />

o vigor <strong>da</strong> lei, quando necessária. Muitos autores concor<strong>da</strong>m que esses<br />

impactos, oriundos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de humana, têm efeito devastador sob<br />

os recursos pesqueiros e que se refletem na estabili<strong>da</strong>de econômica dos<br />

pescadores. Entretanto, há aqueles que apontam as políticas de pesca<br />

<strong>com</strong>o causadoras <strong>da</strong> crise social instala<strong>da</strong>.<br />

RESENDE (1993) declara que “é usual afirmar que o estado de<br />

pobreza do pescador profissional é inerente à sua profissão. Não acreditamos<br />

nesse ponto de vista, pois em muitas regiões deste país os pescadores têm uma<br />

vi<strong>da</strong> digna, possuindo casa própria, adequados apetrechos de pesca e barco<br />

a motor, propiciando uma situação de vi<strong>da</strong> confortável aos s<strong>eu</strong>s familiares.<br />

Se atualmente no Pantanal, encontram-se em situação econômica difícil, é<br />

porque a política pesqueira dos últimos anos tem arbitrado desfavoravelmente<br />

à sua causa”. Não <strong>com</strong>ungamos <strong>com</strong> o ponto de vista <strong>da</strong> autora, uma vez<br />

que desconhecemos qualquer publicação técnica que indique esta situação<br />

para os pescadores em águas interiores, sobretudo para o Pantanal. A<br />

título de ilustração, o BANCO MUNDIAL (2004) pondera esta questão<br />

ao afirmar que “pesca e a pobreza estão inexoravelmente uni<strong>da</strong>s em muitos<br />

países clientes do Banco. De fato, o livre acesso aos recursos faz <strong>com</strong> que um<br />

grande número de pessoas opte pela pesca <strong>com</strong>o último recurso de ocupação<br />

quando se deteriora a situação em outros setores, <strong>com</strong>o na agricultura.<br />

Como conseqüência d<strong>isso</strong>, os pescadores e suas famílias <strong>com</strong> freqüência são<br />

considerados os mais pobres entre os pobres”.<br />

DIAMOND (2005) é bastante claro quando afirma que “a<br />

sobrepesca prejudica os pescadores, acabando por eliminar a base de sua<br />

sobrevivência e custar-lhes s<strong>eu</strong>s empregos”. Mas enquanto formadores de<br />

140 CONSERVAÇÃO DA NATUREZA<br />

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