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O CONFLITO DAS FACULDADES - OUSE SABER!

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governo acha que não lhe convém lidar com acções<br />

eruditas 6 . A classe das Faculdades superiores (como a<br />

ala direita do parlamento da ciência) defende os estatutos<br />

do governo; no entanto, numa constituição tão<br />

livre como deve ser aquela em que se trata da verdade,<br />

tem de existir igualmente um partido da oposição<br />

(a ala esquerda) que é o banco da Faculdade filosófica,<br />

porque, sem o seu severo exame e objecções, o<br />

governo não estaria assaz industriado sobre o que lhe<br />

pode ser útil ou prejudicial. — Mas se os agentes práticos<br />

das Faculdades pretendem, pela sua cabeça,<br />

fazer alterações no tocante à prescrição dada para a<br />

exposição pública, a supervisão do governo pode persegui-los<br />

como inovadores que se poderiam tornar perigosos;<br />

e, no entanto, não de um modo imediato, mas<br />

só após terem pedido à Faculdade superior a sua humílima<br />

opinião, porque tais agentes práticos só por<br />

meio da Faculdade podem ser encarregados da exposição<br />

de certas doutrinas pelo governo.<br />

4. Esta disputa pode muito bem subsistir com a<br />

harmonia entre a comunidade erudita e a comunidade<br />

civil em máximas cuja observância deve operar um<br />

progresso constante das duas classes de Faculdades<br />

6 Pelo contrário, se o conflito fosse apresentado à comunidade<br />

civil (publicamente, por exemplo, nos púlpitos), como de bom grado tentam<br />

os profissionais (sob o nome de práticos), seria de modo incompetente<br />

submetido ao tribunal do povo (ao qual não cabe juízo algum em<br />

matérias de ciência) e deixa de ser um conflito de eruditos; e surge<br />

então o estado de conflito ilegal, que acima se mencionou, em que se<br />

expõem doutrinas conformes às tendências populares e se espalha a<br />

semente da insurreição e das facções, pondo assim o governo em perigo.<br />

Estes tribunos da plebe, que a si mesmos para tal se constituem, renunciam<br />

assim ao estado de eruditos, imiscuem-se nos direitos da constituição<br />

civil (disputa politica) e são, em rigor, os neólogos, cujo nome,<br />

detestado e com razão, ê muito mal entendido, se concernir a todos os<br />

autores de uma inovação nas doutrinas e respectivas formas. (De facto,<br />

porque é que o antigo haveria de ser sempre o melhor?) Em contrapartida,<br />

merecem ser marcados com tal ferrete os que introduzem uma<br />

forma inteiramente diversa de governo, ou antes, uma ausência de governo<br />

(anarquia), abandonando à decisão da voz do povo o que è um<br />

afazer da ciência e, dirigindo à discrição o seu juízo por meio da influência<br />

nos seus hábitos, sentimentos e tendências, podem deste modo<br />

tirar o influxo a um governo legítimo.<br />

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para uma perfeição maior e, por fim, prepara a supressão<br />

de todas as restrições da liberdade do juízo<br />

público pelo arbítrio do governo.<br />

Poderia, deste modo, muito bem acontecer um<br />

dia que os últimos se tornassem os primeiros (a Faculdade<br />

inferior a superior), não decerto no exercício<br />

do poder, mas no aconselhamento de quem o detém<br />

(o governo), que depararia assim na liberdade da Faculdade<br />

filosófica e na sabedoria que daí lhe adviria,<br />

bem mais do que na sua própria autoridade absoluta,<br />

com meios para a obtenção dos seus fins.<br />

RESULTADO<br />

Este antagonismo, ou seja, esta disputa de dois<br />

partidos entre si unidos para um fim último comum<br />

(concórdia discors, discórdia concors), não é, pois,<br />

uma guerra, i.e., uma discórdia por oposição dos<br />

propósitos finais no tocante ao erudito meu e teu<br />

que, como o político, consiste na liberdade e na propriedade,<br />

em que aquela, como condição, deve necessariamente<br />

preceder esta; por conseguinte, não pode<br />

conceder-se às Faculdades superiores direito algum<br />

sem que, ao mesmo tempo, a inferior fique autorizada<br />

a apresentar ao público erudito as suas dúvidas.<br />

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