MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
possibilitou ainda a montagem de Os Ossos do Barão e Vereda da Salvação, de<br />
Jorge Andrade, antes de encerrar definitivamente suas apresentações, no final de<br />
1964.<br />
Em 1963, Myrian entrou para o elenco do Teatro de Arena de São Paulo.<br />
Ela considerou sua passagem por lá extremamente importante, definitiva e<br />
revolucionária para sua vida pessoal e profissional, pois foi no Arena que ela<br />
adquiriu consciência social e política, entendeu o artista como um ser socialmente<br />
ativo e o teatro como um instrumento de luta política. Essa experiência<br />
representou, na formação artística de Myrian, um momento de mudança de<br />
crenças e atitudes: “Fui politizada, reneguei a EAD e o TBC, que esse pessoal do<br />
novo Arena achava duas caretices absurdas.” (IDEM, p. 65)<br />
O Teatro de Arena iniciava a fase de “nacionalização” dos clássicos, com a<br />
encenação de A Mandrágora, de Maquiavel, espetáculo no qual Myrian fez sua<br />
estréia no grupo, substituindo a atriz Nilda Maria. O Noviço, de Martins Pena, foi o<br />
texto encenado no ano seguinte e a atuação de Myrian lhe rendeu o Prêmio<br />
Governador do Estado de melhor atriz do ano de 1963. Ela relata:<br />
Ganhei o Prêmio Governador do Estado em O Noviço e quem me<br />
entregou foi o Adhemar de Barros, que era o Governador. Pedi<br />
emprestado um sapato de verniz, comprei um tailleurzinho por conta do<br />
prêmio, e fui com Dina Sfat e Paulo José ao Palácio dos Campos Elíseos,<br />
numa sala cheíssima. Me chamaram: “Dona Myrian Muniz”. Atravessei a<br />
multidão, com dor no pé, e o Adhemar me olhou e falou: “Aí hein! Dona<br />
Myrian!” e me entregou o cheque de cem mil cruzeiros. Logo me<br />
empurraram para um lado e fui para casa chorando de dor no pé.<br />
Cheguei, paguei o tailleur, fiquei sem nenhum tostão de novo e nunca<br />
mais me interessei por prêmios. (IDEM, p.70)<br />
Myrian descreve o que aconteceu, durante a temporada de O noviço:<br />
A Florência, que é o meu personagem, abria o espetáculo cantando uma<br />
musiquete, descendo as escadas. Eu estava me achando a mais linda de<br />
todas, quando duas velhas surdas na platéia começaram a conversar.<br />
Uma falou assim pra outra: “Coitada, feia ela, né?” e a outra respondeu:<br />
“Ah! Mas é simpática, coitada!”. A platéia inteira ouviu [...] Me achou feia,<br />
coitada! Me deu tanto ódio que eu pensei assim: “Bom , agora como é<br />
que eu vou me vingar dessas duas?”. Isso foi no início do espetáculo. Foi<br />
no primeiro ato, no segundo ato elas deram muita risada e no terceiro<br />
27