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UMA TEIA DO SABER: - Unesp

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Universidade Estadual Paulista<br />

“Júlio de Mesquita Filho”<br />

Instituto de Artes<br />

<strong>UMA</strong> <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong>:<br />

LINGUAGENS CONTEMPORÂNEAS E<br />

TECNOLÓGICAS NA<br />

ARTE-EDUCAÇÃO<br />

Aurea Karpor Franchi<br />

Dissertação de Mestardo apresentada à Comissão de Pós Graduação do Instituto<br />

de Artes da UNESP como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Artes<br />

Visuais. (Linha de Pesquisa: Ensino e aprendizagem da arte)<br />

Orientadora: Profª Drª Luiza Helena da Silva Christov<br />

São Paulo / SP<br />

2008<br />

1


“Não há solução, porque não há problema.”<br />

Marcel Duchamp<br />

2


Aurea Karpor Franchi<br />

<strong>UMA</strong> <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong>:<br />

LINGUAGENS CONTEMPORÂNEAS E TECNOLÓGICAS NA<br />

ARTE-EDUCAÇÃO<br />

APROVADA POR:<br />

___________________________________________<br />

Luiza Helena da Silva Christov, Doutora (Instituto de Artes da UNESP)<br />

(ORIENTA<strong>DO</strong>R)<br />

___________________________________________<br />

Milton Terumitsu Sogabe, Doutor (Instituto de Artes da UNESP)<br />

(EXAMINA<strong>DO</strong>R INTERNO)<br />

___________________________________________<br />

(EXAMINA<strong>DO</strong>R EXTERNO)<br />

SÃO PAULO/SP, _______ de __________________________de 2008.<br />

3


Ao Wilton Roberto dos Anjos Rozante,<br />

meu companheiro de todas as horas, pelo incentivo, apoio e paciência.<br />

Aos meus pais,<br />

que sempre me incentivaram.<br />

À minha orientadora Profª Drª Luíza Helena da Silva Christov,<br />

que “adotou-me” como sua orientanda.<br />

À Profª Drª Claudete Ribeiro e ao Prof. Dr. Milton Terumitsu Sogabe,<br />

que sempre acreditaram em mim, desde a graduação.<br />

4


Meus agradecimentos:<br />

À Profª Drª Eunice Vaz Yoshiura, que iniciou a orientação desta pesquisa.<br />

À Profª Drª Luíza Helena da Silva Christov, por assumir minha orientação depois de<br />

quase dois anos, com todo carinho e atenção e respeito não só pelo trabalho<br />

mas com minha pessoa, entendendo as dificuldades profissionais e pessoais<br />

principalmente durante o percurso final.<br />

À Profª Drª Rejane Coutinho e ao Prof. Dr. Milton Terumitsu Sogabe por<br />

importantíssimas contribuições no meu exame de qualificação.<br />

Ao Ricardo Barreto e toda a equipe do Festival Internacional de Linguagens<br />

Eletrônicas, por auxiliarem a pesquisa abrindo diálogo e fornecendo<br />

informações.<br />

À Profª Drª Marília Coelho, pelo carinho e por autorizar e apoiar a realização desta<br />

pesquisa durante o curso “Estruturação da linguagem expressiva: o fazer e o<br />

saber criativo” oferecido ao projeto <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong> da Secretaria da<br />

Educação do Estado de São Paulo e realizado nas diretorias de Ensino regiões<br />

Jacareí e São José dos Campos.<br />

Às professoras Ana Maria dos Reis Martins; Eunice da Silva Lira; Leda Maria dos<br />

Santos Belo; Maria Adelaide Pires de Almeida Sasaqui; Rosângela Fátima de<br />

Oliveira; Sheila Guimarães Tosta; Sônia Maria Clemente e Stella Elia Martins<br />

pelo retorno dado a esta pesquisa.<br />

Aos professores participantes do curso “Estruturação da linguagem expressiva: o<br />

fazer e o saber criativo” que aceitaram o desenvolvimento desta pesquisa ao<br />

longo do curso.<br />

À toda equipe do Instituto de Artes da UNESP (professores e funcionários) pela<br />

colaboração direta ou indireta para este e outros tantos trabalhos que realizei.<br />

5


À Deborah Carla Vinha pelo auxílio na revisão.<br />

Ao Wilton Roberto dos Anjos Rozante pelo acompanhamento e carinho constante,<br />

além do auxílio em todas as fases de realização desta pesquisa.<br />

À Karin Correia e Silva Santos e Ricardo Vasconcelos, pelo auxílio na impressão.<br />

À Janaína Roza Vale pelo incentivo principalmente na reta final desta pesquisa.<br />

À Larissa Glebova Martins pela compreensão de ausência e incentivo constante<br />

para a realização desta pesquisa.<br />

Aos meus amigos e familiares que me apoiaram de diversas formas.<br />

Aos meus pais pelo amor, dedicação, e pelo incentivo de sempre aos estudos.<br />

À todos aqueles que trabalham em prol do desenvolvimento da educação em nosso<br />

país.<br />

6


RESUMO:<br />

FRANCHI, Aurea Karpor. Uma Teia do Saber: Linguagens Contemporâneas e<br />

Tecnológicas na arte educação. São Paulo, Instituto de Artes/UNESP 2008<br />

(dissertação de mestrado).<br />

Neste trabalho busco o entendimento de como se dá a relação dos professores das<br />

diretorias de ensino regiões de São José dos Campos e Jacareí (SP), participantes<br />

do curso “Estruturação da linguagem expressiva: o fazer e o saber criativo”, com as<br />

questões e metodologias voltadas para ensino de arte contemporânea e tecnológica.<br />

Este curso foi oferecido pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade<br />

Estadual Paulista (UNESP) Campus Presidente Prudente ao projeto de formação<br />

continuada de professores <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong> da Secretaria da Educação do Estado<br />

de São Paulo. O contato destes professores com arte contemporânea e tecnológica<br />

se deu por meio de visita ao Festival Internacional de Linguagens Eletrônicas 2005<br />

(FILE), realizado na Galeria de Arte do Serviço Social da Indústria (SESI) e na Casa<br />

das Caldeiras, representando mais de 300 artistas deste segmento. A pesquisa se<br />

desenvolveu com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio:<br />

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; e em reflexões a respeito da arte-<br />

educação de Ana Mae BARBOSA (1984, 1988, 1998, 2004); e Fernando<br />

HERNÁNDEZ (1998, 2000). Sete questionários respondidos, 2 planos de aula e um<br />

retorno de resultados após o plano ter sido levado à prática, são apresentados e<br />

analisados.<br />

Formação continuada de educadores – arte-educação – arte contemporânea<br />

7


ABSTRACT:<br />

FRANCHI,Aurea Karpor. A Web of Knowledge: Contemporary and Technological<br />

Languages in Art Education. São Paulo, Institute of Arts/UNESP 2008 (master<br />

dissertation)<br />

In this academic work I look for the understanding of how it is the relationship of<br />

teachers of boards of education regions of São José dos Campos and Jacareí (SP),<br />

members of the course "Structuring the expressive language: make and know<br />

creative", with issues and methodologies aimed at teaching of contemporary and<br />

technological art. This course was offered by Faculty of Sciences and Technology of<br />

Universidade Estadual Paulista (UNESP) Campus Presidente Prudente to the project<br />

of continuing education of teachers A WEB KNOWLEDGE of the Secretary of<br />

Education in the State of São Paulo.The contact these teachers with contemporary<br />

and technological art was made by visiting the International Festival of Electronic<br />

Languages 2005 (FILE) held in the Gallery of Art of Social Service Industry (SESI)<br />

and the House of Boilers, representing over 300 artists this segment. The survey was<br />

developed based on Parameters National Curriculum High School: Languages,<br />

Codes and their Technologies, and reflections about art-education of Ana Mae<br />

BARBOSA (1984, 1988, 1998, 2004); and Fernando HERNÁNDEZ (1998, 2000).<br />

Seven questionnaires answered, two plans of lesson and one feedback after the<br />

plan has been brought to practice, are presented and analyzed.<br />

Continuing education for educators – art education – contemporary art<br />

8


Lista de Ilustrações:<br />

Figura1: Instalação dos alunos da 8ª série B do Ensino Fundamental da E.E. Prof.<br />

João Borges. São Paulo. 2003. Foto: Aurea Karpor ............................................... 15<br />

Figura 2: Instalação dos alunos do 1º J do Ensino Médio da E. E. Prof. João Borges.<br />

São Paulo. 2003. Foto: Aurea Karpor ...................................................................... 16<br />

Figura 3: Logotipo do Projeto Teia do Saber ........................................................... 35<br />

Figura 4: Professores participantes da pesquisa em leitura anterior à visita ao FILE.<br />

Instituto de Artes da UNESP. São Paulo. 05/11/2005. Foto: Aurea Karpor . ........... 49<br />

Figura 5: Sonic Totem. FILE. São Paulo, 2005. Foto: Douglas Garcia. Disponível em<br />

. ................................................................................................... 52<br />

Figura 6: PANORAMAS. FILE. São Paulo, 2005.<br />

Disponível em ............................................................................. 53<br />

Figura 7: O Ritual Eletrônico. FILE Hipersônica. Sâo Paulo, 2004. Foto: Eugênio<br />

Vieira. Disponível em . ....................................................... 54<br />

Figuras 8 e 9: Zquizofonia. Objeto Intersemiótico Anti-Ergonômico. FILE Hipersônica<br />

São Paulo, 2005. Foto: Douglas Garcia. Disponível em ............ 56<br />

Figura 10: Zquizofonia. Objeto Intersemiótico Anti-Ergonômico. FILE Hipersônica.<br />

São Paulo, 2005. Foto: Douglas Garcia. Imagem disponível em 58<br />

Figura 11: ORLAN. Imagem disponível em <br />

Acessado em 15/05/2007 ........................................................................................ 58<br />

Figuras 12 e 13 – METAMORFS . FILE. São Paulo, 2005. Fotos: Douglas Garcia.<br />

Disponível em . ............................................................................ 82<br />

9


Figuras 14 e 15: Imagens criadas pelos alunos do Ensino Médio de Leda Maria dos<br />

Santos Belo, a partir do programa Paint. São José dos Campos. 2005. ................. 88<br />

Figuras 16 e 17: Imagens criadas pelos alunos do Ensino Médio de Leda Maria dos<br />

Santos Belo, a partir do programa Paint. São José dos Campos. 2005. ................. 89<br />

Figuras 18 e 19: Imagens criadas pelos alunos do Ensino Médio de Leda Maria dos<br />

Santos Belo, a partir do programa Paint. São José dos Campos. 2005. ................. 90<br />

10


SUMÁRIO:<br />

Introdução ............................................................................................................... 13<br />

Capítulo 1 – A Teia : Educação continuada de professores de arte .................. 23<br />

Qual a importância da formação continuada de professores? .................... 24<br />

Reflexões e Ações ............................................................................................ 25<br />

Arte-educação ................................................................................................... 26<br />

Os primeiros contatos com Fernando Hernández ............................................... 30<br />

Abordagem Triangular não é receita pronta .................................................. 32<br />

Teia do Saber .................................................................................................... 35<br />

Capítulo 2 – As Aranhas : Ensino e Aprendizagem de Arte Contemporânea em<br />

uma experiência de formação continuada de professores ............................... 38<br />

Os grupos e minha intervenção ...................................................................... 45<br />

Ações desenvolvidas ..................................................................................... 45<br />

Disciplina: Criação e pesquisa: procedimentos metodológicos ............... 46<br />

Fotocolagem e Photoshop: diálogo entre o professor e o aluno ......... 47<br />

Visita ao FILE Festival ................................................................................... 48<br />

O FILE ................................................................................................. 50<br />

FILE 2005 ........................................................................................... 51<br />

Lente de água ................................................................................ 52<br />

FILE Panoramas ................................................................................. 53<br />

Visita ao File Hipersônica .............................................................................. 54<br />

ZQUIZOFONIA ................................................................................... 56<br />

Abrindo parêntese ......................................................................... 58<br />

Disciplina: Projetos culturais: a mediação e a recepção da arte .................... 59<br />

11


Capítulo 3 – Os Nós da Teia: Problemas encontrados durante o percurso ...... 61<br />

O Questionário .................................................................................................. 65<br />

Planos de aula e resultados ............................................................................. 79<br />

Uma Janela para a Arte – FILE<br />

(plano de aula de Eunice da Silva Lira) ........................................................ 79<br />

Arte e Tecnologia (plano de aula e resultados apresentado por Leda Maria<br />

dos Santos Belo) .......................................................................................... 84<br />

Capítulo 4 – Desatando (ou não) os Nós: Considerações Finais ....................... 93<br />

Bibliografia .............................................................................................................. 98<br />

Anexos .................................................................................................................. 101<br />

Questionário de Ana Maria dos Reis Martins .............................................. 102<br />

Questionário de Leda Maria dos Santos Belo ............................................. 104<br />

Questionário de Maria Adelaide Pires Sasaqui ........................................... 105<br />

Questionário de Rosângela Fátima de Oliveira .......................................... 111<br />

Questionário de Sônia Maria Clemente ...................................................... 112<br />

Questionário de Stella Elia Martins .............................................................. 115<br />

Plano de aula de Eunice da Silva Lira ......................................................... 116<br />

Plano de aula de Leda Maria dos Santos Belo ............................................ 121<br />

12


Introdução<br />

13


Introdução<br />

Em 1995, eu cursava ensino médio e participava do grupo de teatro amador<br />

“Onomatopéia PRLLL” da Escola Técnica Federal de São Paulo – atual CEFETSP.<br />

Como atriz, conheci o trabalho de Eugéne Ionesco, autor considerado de vanguarda,<br />

interpretando uma das personagens da peça de sua autoria “O Futuro está nos<br />

Ovos”.<br />

Desde então, tenho o desejo de conhecer as linguagens artísticas que<br />

romperam regras, de algum modo, a partir do século XX.<br />

Em 1998, ingressei no curso de Educação Artística no Instituto de Artes da<br />

UNESP, e já no primeiro ano participei como aluna bolsista do projeto “Por uma<br />

Redefinição da Formação Inicial e Contínua do Profissional do Ensino de Arte” sob<br />

orientação do Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho que contou com a colaboração e<br />

participação de diversos profissionais com trabalhos reconhecidos na arte educação<br />

brasileira. Este foi meu primeiro contato com o ensino de arte na educação formal.<br />

Paralelamente, fui aprofundando minha pesquisa pessoal sobre Eugène<br />

Ionesco, transformada em Projeto de Iniciação Científica com o título “Eugène<br />

Absurdo, Teatro de Ionesco” entre os anos de 1999 e 2000, culminando em um<br />

exercício cênico como resultado prático da pesquisa.<br />

Concluído o curso de Licenciatura Plena em Educação Artística com<br />

Habilitação em Artes Cênicas, iniciei trabalho como arte-educadora da rede pública<br />

estadual de São Paulo, lidando com Educação Formal – Ensino Fundamental Ciclo<br />

2, Ensino Médio e EJA – Educação de Jovens e Adultos. Neste período entrei em<br />

contato com a realidade do ensino público de São Paulo.<br />

Por fim, como professora da rede pública estadual tive a oportunidade de<br />

freqüentar o curso “Encontros com a Arte” no Museu de Arte Moderna de São Paulo<br />

no ano de 2003.<br />

14


A idéia dos encontros é trocar experiências e criar projetos de<br />

trabalho que incluam além das visitas ao museu, atividades em sala de<br />

aula, envolvendo mais de uma área do conhecimento. Para potencializar<br />

esta ação, as equipes são constituídas por professores de Língua<br />

Portuguesa, História e Arte com o objetivo de fazer este trabalho ecoar e<br />

multiplicar-se num verdadeiro ‘contágio artístico’.<br />

O fato de o Encontros com a Arte acontecer em um museu como o<br />

MAM, cujas exposições são de arte moderna e contemporânea, favorece a<br />

construção de critérios atualizados necessários a apreciação da produção<br />

de arte, instrumentalizando a equipe para abrir focos de debate no museu e<br />

na escola. 1<br />

A partir deste curso, surgiram idéias e propostas de trabalho com arte<br />

contemporânea em sala de aula. Desenvolvi, portanto, junto aos meus alunos de<br />

oitava série do ensino fundamental da Escola Estadual João Borges, um projeto<br />

onde deveriam desenvolver instalações. Os alunos, especificamente da escola em<br />

questão, estavam acostumados com cadernos de desenho, margem delimitada e<br />

trabalhos bidimensionais que coubessem dentro deste espaço. Aos poucos consegui<br />

fazer com que entendessem o conceito de instalação levando até eles definições,<br />

imagens, fazendo-os pesquisar. Após visita em museu, vivências, problemas com o<br />

espaço da escola e outras adversidades, os alunos trouxeram resultados fantásticos.<br />

Algumas soluções apresentadas pelos alunos foram surpreendentes, como<br />

por exemplo, a idéia de se<br />

utilizar um retroprojetor,<br />

equipamento que todas as<br />

escolas públicas<br />

possuem, como meio para<br />

a criação de uma imagem<br />

com material alternativo<br />

(celofane) substituindo a<br />

transparência – que seria<br />

o material adequado para<br />

o equipamento (fig.1).<br />

Figura 1 - Instalação dos alunos da 8ª série B do Ensino<br />

Fundamental da E.E. Prof. João Borges. São Paulo. 2003.<br />

Foto: Aurea Karpor<br />

1 SZPIGEL, Marisa, LEYTON, Laima e ZATZ, Joana. Caderno de Estudos Encontros com a Arte. São<br />

Paulo: SEE, 2003.<br />

15


Cortando tiras criavam desenhos ao acaso, ao jogá-las sobre o retro-projetor<br />

que projetava esta imagem ampliada no teto, gerando um ambiente diferenciado.<br />

Trabalhei também arte contemporânea com alunos do ensino médio noturno,<br />

focando instalação, performance, música e outras linguagens. Uma das turmas tirou<br />

a sala de aula de seu prumo, invertendo as carteiras escolares, colocando-as de<br />

lado, trasferindo a lousa e a porta de lugar (cobrindo as mesmas com papéis da<br />

mesma cor que as paredes e simbolizando-as com outros papéis em outro local da<br />

sala). Este trabalho foi inspirado na peça “A Lição” de Eugène Ionesco. (fig. 2) Neste<br />

universo caótico eles realizaram uma breve performance que incomodou aos<br />

espectadores pois, para assistirem, deveriam olhar para o lado, e não para frente<br />

como convencionalmente se faz em uma sala de aula, ou sala de espetáculos.<br />

Questionaram ali o modelo escolar, queriam subvertê-lo.<br />

Figura 2: Instalação dos alunos do 1º J do Ensino Médio da E. E. Prof. João Borges.<br />

São Paulo. 2003. Foto: Aurea Karpor.<br />

Eu queria o mesmo: ousar transformar a aula de artes em algo mais<br />

significativo e aproximar mais as metodologias ao universo do aluno.<br />

16


Por ser formada em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas,<br />

este contato com o museu e exposições de arte contemporânea e as trocas<br />

realizadas com outros professores foram fundamentais para meu desenvolvimento<br />

profissional e para o surgimento de questões que me levariam no final desta<br />

experiência, ao meu projeto de mestrado.<br />

As experiências que tive enquanto educadora do ensino formal me mostraram<br />

que, quando se fala nas dificuldades da escola não possuir equipamentos, não se<br />

ter material sobre arte contemporânea e tecnológica para ser trabalhado, ou outra<br />

questão pedagógica, esquece-se que os próprios Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais: Arte (PCN Arte) prevêem o trabalho com os novos meios. Esquece-se<br />

também que utilizando recursos simples encontrados na escola (como foi o exemplo<br />

do retroprojetor) pode-se ativar a criatividade e conseguir resultados surpreendentes<br />

trabalhando conceitos contemporâneos. O que é preciso é a mudança de concepção<br />

do professor. É ter coragem de realizar as mudanças dentro da escola. Ter<br />

coragem de trocar seu confortável caderno de desenho por outras possibilidades.<br />

“Você não consegue chegar na sala de aula se antes você não chegar no<br />

professor”<br />

Valéria Pimentel - Educadora Encontros com a Arte<br />

Educativo MAM 2003 (informação verbal)<br />

Em geral, a arte de diferentes tempos e lugares, quando propõe uma ruptura<br />

– seja ela qual for – costuma gerar resistências de público e requer um novo campo<br />

conceptivo para ser assimilada e desfrutada.<br />

O acesso à produção de arte contemporânea é restrito, mesmo para aqueles<br />

que freqüentam mostras e exposições, apresentações teatrais e de dança, cinemas<br />

e concertos. Nas escolas, sabe-se que é difícil encontrar materiais e informações<br />

acessíveis, a fim de que os professores possam dar aulas apoiados em pesquisa<br />

organizada e material visual ou áudio – visual.<br />

17


Estando no século XXI, se torna necessário que o arte educador seja capaz<br />

de falar sobre a arte de seu tempo e espaço. É necessário que o professor tenha<br />

acesso a materiais adequados com indicações para buscarem métodos<br />

contemporâneos de ensinar linguagens artísticas contemporâneas.<br />

A partir dos anos 60, houve a desmaterialização da arte. Novos conceitos,<br />

novos suportes, até mesmo o conceito substituindo o objeto como por vezes foi<br />

idealizado na arte conceitual. Essa desmaterialização da arte, foi tema da XXIII<br />

Bienal Internacional de São Paulo em 1996, trazendo à tona o seguinte<br />

questionamento: De que maneira este relâmpago cultural onipresente nos idos da<br />

década de 60 mantém seu poder ofuscante trinta anos depois?<br />

A desmaterialização da arte no final do milênio não é somente o<br />

tema de uma exposição, mas uma das próprias condições da obra de arte.<br />

Se a arte exibe de maneira perseverante sua desencarnação, é porque,<br />

nos melhores casos, opta por se desembaraçar de invólucros. (…)<br />

Na década de 60, essa situação configura-se com ênfase (…)<br />

Propostas radicais como as da minimal art, conceptual art, land art, arte<br />

povera, fluxus, performances (multiplicam-se os casos esquadrinhando<br />

outras latitudes) vêm à luz nesta época, antevendo ou acompanhando as<br />

grandes mobilizações sociais. 2<br />

Na década de 80 essa desmaterialização e fragmentação da arte se reforçou<br />

ainda mais com a tecnologia invadindo o cotidiano das pessoas. Mas, por que em<br />

pleno século XXI, ainda não temos esta perspectiva na escola?<br />

A pessoa que nasceu a partir da década de 80, já nasceu em um mundo<br />

digitalizado, pós moderno, globalizado, onde tudo é voltado para a informação e<br />

comunicação. Muitos daqueles que nasceram nesta época e moram nas grandes<br />

metrópoles, desde seus primeiros dias de vida estão envolvidos por: babá eletrônica,<br />

termômetro eletrônico, vídeo e fotos do seu nascimento disponibilizados num<br />

berçário virtual via internet, móbiles que piscam e emitem sons ao serem tocados,<br />

pouco mais adiante o mundo da televisão, videogames, computador... infinitas<br />

tecnologias ao seu redor com as quais se aprende a conviver tranquilamente.<br />

2 AGUILAR, Nelson. Universalis 96. UOL, 1996. Disponível em:<br />

. Acesso em 13 de dezembro de<br />

2007.<br />

18


Ao alcançar a adolescência, muitas destas pessoas têm celular, conta de e-<br />

mail, jogam on-line com amigos virtuais (que inclui pessoas do mundo todo) o último<br />

lançamento do mundo dos games; ouvem música eletrônica e assistem ao seu<br />

videoclipe em primeira mão em um dos vários sites que o disponibilizam.<br />

Apesar de ter nascido bem pouco antes deste período, considero - me uma<br />

destas pessoas, com aproximação e encantamento por este mundo contemporâneo<br />

e tecnológico.<br />

O Estado, responsável pela educação pública – função dada a ele pela<br />

sociedade industrial – investe em uma melhora na educação, oferecendo alguns<br />

cursos de atualização (o projeto Teia do Saber é um exemplo disso), inclusão digital,<br />

e organizando documentos como os PCNs para direcionar os trabalhos dos<br />

professores à contemporaneidade.<br />

Como professora, pude notar a necessidade de uma mudança de atitude na<br />

escola. Os alunos vêem a escola como algo desinteressante porque não é uma<br />

escola do seu tempo. Esta – a escola como um todo (suas regras, funcionários) –<br />

ainda está presa a tradições da sociedade industrial e moderna. Precisa-se<br />

urgentemente transportar o ensino de arte para meios contemporâneos.<br />

O professor de arte, mesmo não sendo artista produtor, deve ser no mínimo<br />

pesquisador da arte de seu tempo e precisa se atualizar constantemente.<br />

Ainda na educação formal fui descobrindo alguns materiais pedagógicos que<br />

foram construídos para se trabalhar arte contemporânea em sala de aula. Um deles<br />

é o “Lá Vai Maria” (POUGY, 2004), produzido pelo Centro Universitário Maria<br />

Antônia em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Este<br />

material traz históricos de alguns artistas da arte contemporânea, sugestões de<br />

atividades e uma transparência de uma obra de cada artista.<br />

No entanto, algumas perguntas ficavam pairando em minha cabeça: os<br />

professores de arte estão preparados para utilizar estes materiais?<br />

Ao cursar o “Encontros com a Arte” percebi que existem muitos professores<br />

que ainda possuem um certo preconceito com relação à arte contemporânea. E era<br />

com isso que eu queria lidar.<br />

19


Neste momento realizei a leitura de um livro de Jair Ferreira dos SANTOS<br />

(1986) : “O que é pós-moderno”.<br />

Na condição pós-moderna, como já se disse, a vida não é um problema a<br />

ser resolvido, mas experiências em série para se fazer. Abertas ao infinito<br />

pelo pequenino e.<br />

Jair Ferreira dos Santos (1986)<br />

Com esta leitura descobri um termo que vai ao encontro do que eu sou e do<br />

que eu penso ser o indivíduo contemporâneo, o BLIP:<br />

Cultura de massa, tecnociência,o chip... tudo levando à máxima:<br />

Pois bem, depois que a matéria se desintegrou em energia (boom) e esta<br />

agora se sublima em informação (bit), assistimos na sociedade pósindustrial<br />

à desmaterialização da economia. O mundo se pulveriza em<br />

signos, o planeta é uma rede pensante, enquanto o sujeito fica um nó de<br />

células nervosas a processar mensagens fragmentadas. (...) O que foi<br />

processado em bit (real) é difundido em blip – pontos, retalhos, fragmentos<br />

de informações (para o sujeito). O indivíduo na condição pós moderna é<br />

um sujeito blip, alguém submetido a um bombardeio maciço e aleatório de<br />

informações parcelares, que nunca formam um todo, e com importantes<br />

efeitos culturais sociais e políticos. (SANTOS, 1986. pág. 27)<br />

Era o termo que estava faltando em meu vocabulário! SANTOS me<br />

presenteou com o BLIP, que me ajudou a entender uma das faces do indivíduo<br />

contemporâneo.<br />

Em 2004, participei com uma performance no Festival Internacional de<br />

Linguagem Eletrônica (FILE), chamada Ritual Eletrônico. Minha pequena, mas<br />

válida, experiência enquanto artista, trabalhando com linguagens híbridas, me levou<br />

a querer incentivar ainda mais o trabalho na educação sobre estas linguagens. Eu já<br />

havia experimentado isso anteriormente com resultados positivos, como os descritos<br />

neste capítulo. Houve então a sugestão de Ricardo Barreto – idealizador do FILE –<br />

para que eu incluísse a tecnologia em meu projeto de pesquisa.<br />

Tendo em vista a descoberta do indivíduo contemporâneo BLIP, a<br />

possibilidade de intercâmbio com um evento que trabalha com esta arte<br />

contemporânea e tecnológica, optei em pesquisar como um grupo de professores<br />

pode lidar com arte contemporânea e tecnológica na sala de aula. E a partir daí<br />

dividir e multiplicar esta minha busca por mudanças e novas concepções - postura<br />

que o Encontros com a Arte causou no meu trabalho enquanto educadora.<br />

20


Com isso veio a hipótese:<br />

• O artista educador: necessidade de atualização e formação continuada<br />

(inclusão digital em alguns casos) dos profissionais do ensino de arte para<br />

trabalhar com arte contemporânea e tecnológica;<br />

A hipótese contém o termo “artista educador” porque acredito que o professor<br />

de arte também deve experimentar produzir, criar, ser também um artista de seu<br />

tempo.<br />

A proposta inicial era de pesquisar os professores de arte da educação formal<br />

da Diretoria de Ensino Leste 5 de São Paulo. Porém, durante o período inicial do<br />

projeto, fui convidada pela Profª Drª Eunice Vaz Yoshiura a participar como<br />

professora assistente no projeto Teia do Saber nas diretorias de Jacareí e São José<br />

dos Campos. Como se tratava de um projeto de formação continuada, com base nos<br />

PCN Arte e nos Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio (PCNEM):<br />

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, onde os professores deveriam realizar<br />

atividades com seus alunos refletindo as experiências do curso e ainda produzirem<br />

uma obra, o curso se mostrou o ambiente perfeito para o desenvolvimento de minha<br />

pesquisa. Então, as diretorias estudadas passaram a ser as de São José dos<br />

Campos e Jacareí - no universo do Teia do Saber – substituindo a Diretoria de<br />

ensino região Leste5.<br />

O foco da pesquisa se fechou então na busca do entendimento de como se<br />

dá a relação dos professores das diretorias de ensino de São José dos Campos e<br />

Jacareí, participantes do projeto Teia do Saber no ano de 2005, com as questões e<br />

metodologias voltadas para ensino de arte contemporânea e tecnológica.<br />

Para explicitar esta experiência e seus resultados, a dissertação está dividida<br />

em: Introdução; Capítulo 1 - A Teia : Educação continuada de professores de<br />

arte – onde apresento as teorias sobre educação continuada e arte-educação em<br />

que fundamentei esta pesquisa e apresento o projeto Teia do Saber enquanto<br />

proposta governamental; Capítulo 2 – As Aranhas : Ensino e Aprendizagem de<br />

Arte Contemporânea em uma experiência de formação continuada de<br />

professores – onde descrevo o curso “Estruturação da linguagem expressiva: o<br />

21


fazer e o saber criativo” (oferecido ao projeto Teia do Saber da Secretaria da<br />

Educação do Estado de São Paulo e realizado nas diretorias de Ensino regiões<br />

Jacareí e São José dos Campos) e minha intervenção no mesmo, incluindo a visita<br />

ao FILE 2005; Capítulo 3 – Os Nós da Teia: Problemas encontrados durante o<br />

percurso – onde são feitas as análises dos retornos obtidos e problemas<br />

encontrados durante o percurso da experiência; e por fim Capítulo 4 – Desatando<br />

(ou não) os Nós: Considerações Finais – onde apresento as conclusões obtidas,<br />

porém deixando-as em aberto para novas análises e concepções.<br />

22


Capítulo 1 – A Teia :<br />

Educação continuada de professores de arte<br />

23


Capítulo 1 - A Teia : Educação continuada de professores de arte<br />

O êxito desse empreendimento requer o preparo intelectual, emocional e<br />

afetivo dos profissionais nele envolvidos. Por essa razão, está priorizando,<br />

entre suas ações, a formação dos educadores que atuam nas escolas. 3<br />

A Arte só passou a ser atividade do currículo escolar a partir de 1971. Neste<br />

momento era a única atividade mais próxima das humanidades e da criatividade.<br />

Não existiam cursos de nível superior para a formação de professores de arte. Os<br />

cursos eram de desenho e em sua maioria focados para o desenho geométrico.<br />

Isso porque a idéia era um ensino profissionalizante no que era denominado<br />

segundo grau – atualmente o Ensino Médio. Com isso, a formação dos nossos<br />

professores de arte continuava não satisfatória. Em 1973 o primeiro curso superior<br />

em Educação Artística foi criado. No entanto, a maioria das universidades adotavam<br />

o currículo básico mínimo, formando professores em apenas dois anos.<br />

Os cursos de atualização ou treinamento, financiados pelo governo para<br />

professores de arte de escolas públicas primárias e secundárias, começaram a<br />

acontecer há mais de 20 anos. Entre esses programas, destaco o Festival de<br />

Campos de Jordão de 1983, que é o primeiro a pensar a Educação Artística a partir<br />

da proposta “Leitura de Obra, Contextualização e Fazer Artístico”, como lembra Ana<br />

Mae BARBOSA (1989):<br />

1996.<br />

“O programa pioneiro foi o Festival de Campos de Jordão em São Paulo, em 1983, o<br />

primeiro a conectar análise da obra de arte, da imagem com história da arte e com trabalho<br />

prático. Tivemos 400 professores de arte convivendo juntos por 15 dias numa cidade de<br />

férias de inverno, Campos de Jordão. Eles podiam fazer uma escolha por 4 entre 25 cursos<br />

práticos e 7 teóricos.” 4<br />

A Arte só passou a integrar o currículo escolar como disciplina no Brasil em<br />

3 CENP. Programa De Formação Continuada “Teia Do Saber” - Capacitação Descentralizada<br />

Mediante Contratação De Instituições De Ensino Superior - Projeto Básico. São Paulo:<br />

Governo do Estado de São Paulo – Secretaria da Educação, 2006.<br />

4 BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação no Brasil: realidade hoje e expectativas futuras Estud.<br />

av. vol.3 no.7 São Paulo Sept./Dec. 1989 (Relato encomendado pela UNESCO à INSEA. O<br />

documento integral organizado por Elliot Eisner teve a colaboração de Graham Graeme<br />

Chalmers, do Canadá; Rachel Mason, da Inglaterra; Marie Françoise Chavanne, da França;<br />

Edwin Ziegfeld, dos Estados Unidos; e Ana Mae Barbosa, do Brasil. Este servirá de base<br />

para o "Congress on Quality on Art Teaching", da UNESCO.)<br />

24


Qual a importância da formação continuada de professores?<br />

Paremos para pensar por um momento… Um engenheiro, veterinário,<br />

psicólogo, ou ainda um médico, necessita de formação continuada e atualização?<br />

Por quê?<br />

A resposta parece óbvia se tratando destes profissionais. Um médico não<br />

atualizado e bem informado, pode receitar algum remédio que já tem sua venda<br />

proibida devido a descobertas recentes que seu princípio ativo causa sérios danos a<br />

saúde.<br />

Porém, ao falar do profissional do ensino da arte, a resposta não parece tão<br />

óbvia (apesar de ser).<br />

A começar pelo conteúdo da disciplina. Na arte, assim como na medicina, a<br />

cada dia se tem um novo dado, uma nova idéia. Artistas e obras não páram de surgir<br />

e isso se vê em diversas mostras, exposições, espetáculos e concertos. O arte<br />

educador deve estar em constante atualização para conseguir trabalhar com todas<br />

as linguagens que a arte possui.<br />

Até um determinado momento da história o professor do que era chamado de<br />

“Educação Artística” era polivalente. Sua formação era generalizada, pouco<br />

aprofundada em qualquer linguagem artística. Com o tempo esta situação foi se<br />

adequando e atualmente as licenciaturas são modalidades dos cursos de Artes<br />

Visuais, Teatro, Dança ou Música. O ensino nos cursos superiores de formação de<br />

arte educadores se tornou especializado. No entanto a escola, principalmente a<br />

escola pública, ainda não absorveu isso de forma especializada. No currículo escolar<br />

consta a disciplina arte e o educador pode ter qualquer uma das formações<br />

específicas para ministrá-la. Porém, não poderá abordar apenas a linguagem de que<br />

é especialista. Deverá também desenvolver seu planejamento de aulas contando<br />

com as outras linguagens. Muito já se debateu e ainda é tema de estudos essa<br />

questão do professor polivalente em artes, mas este não é o foco de minha<br />

pesquisa, de maneira que eu me reservo a apenas citar a mudança no curso de<br />

graduação (especializado), a meu ver, como ganho positivo.<br />

25


Reflexões e Ações<br />

Os cursos de formação continuada trazem ao educador a reflexão sobre seu<br />

próprio trabalho. Um espaço onde os professores falam sobre suas experiências,<br />

debatem sobre elas, repensam conceitos que até então eram imutáveis<br />

individualmente, e tornam-se passíveis de mudança sob o olhar coletivo. Como<br />

resultado disso o educador desvia do óbvio do cotidiano de suas aulas, renovando<br />

suas metodologias, aperfeiçoando seu olhar sobre os mesmos assuntos.<br />

Por fim, os cursos de formação continuada também trazem aos professores<br />

novos conceitos, novos temas, novos conteúdos de sua disciplina. E é neste ponto<br />

que eu encaixo a linguagem contemporânea e tecnológica da arte.<br />

(...) pode-se dizer que o conceito de competência docente apresenta cinco<br />

aspectos essenciais:<br />

· domínio competente e crítico do conteúdo a ser ensinado;<br />

· clareza dos objetivos a serem atingidos;<br />

· domínio competente dos meios de comunicação a serem utilizados para a<br />

mediação eficaz entre o aluno e os conteúdos do ensino;<br />

· visão articulada do funcionamento da Escola, como um todo;<br />

· percepção nítida e crítica das complexas relações entre educação escolar<br />

e sociedade. 5<br />

5 FUSARI, José Cerchi. “A formação continuada de professores no cotidiano da escola fundamental”.<br />

Série Idéias n. 12, São Paulo: FDE, 1992. p. 25-33<br />

26


Arte- Educação<br />

(...) o papel do docente não deve limitar-se (...) a realizar “uma<br />

intervenção ativa, planejada e intencional” para que se dêem as<br />

aprendizagens necessárias para o desenvolvimento global do aluno. Se<br />

nos fixarmos nesta externalidade planejadora, isso significaria eludir uma<br />

questão epistemológica (e política) fundamental: que o professor também<br />

tem pensamento e uma representação da realidade que se projeta em “o<br />

quê” e em “como” ensina. Por isso, não se pode separar a atividade de<br />

ensinar do fato de o docente possuir uma concepção de si mesmo como<br />

“conhecedor”. 6<br />

O indivíduo é fruto da sociedade em que vive. Se esta sociedade está repleta<br />

de tecnologia em seu cotidiano, por que a escola ainda caminha a passos lentos<br />

nessa trajetória?<br />

Para iniciar o entendimento desta questão, recorri ao documento que dá<br />

direcionamento ao trabalho escolar no ensino médio para tais professores: PCNEM<br />

– Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.<br />

Aqui você vai encontrar os Parâmetros Curriculares Nacionais para o<br />

ensino médio. Esses Parâmetros são o resultado de meses de trabalho e<br />

de discussão realizados por especialistas e educadores de todo o país.<br />

Foram feitos para auxiliar as equipes escolares na execução de seus<br />

trabalhos. Servirão de estímulo e apoio à reflexão sobre a prática diária, ao<br />

planejamento de aulas e sobretudo ao desenvolvimento do currículo da<br />

escola, contribuindo ainda para a atualização profissional.<br />

Ao entregá-los a você, reafirmamos a nossa confiança na sua<br />

capacidade de atuar para transformar positivamente a educação em nosso<br />

país e aguardamos por novas contribuições e sugestões, que permitirão a<br />

revisão permanente desses documentos. 7<br />

6 HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre:<br />

Art Med, 2000.<br />

7 BRASIL (Ministério da Educação e do Desporto). Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio:<br />

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2001.<br />

27


Os PCNEM, de 2001, são resultado da busca por uma reforma curricular do<br />

ensino médio. Estruturado em 4 partes, apresenta as bases legais e divide as<br />

“disciplinas” em três grupos de atuação: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;<br />

Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas<br />

Tecnologias. Tal documento teve como ponto de partida a LDB – Lei de Diretrizes e<br />

Bases da Educação (Lei 9.394/96).<br />

As propostas de reforma curricular para o Ensino Médio se pautam nas<br />

constatações sobre as mudanças no conhecimento e seus<br />

desdobramentos, no que se refere à produção e às relações sociais de<br />

modo geral.<br />

Nas décadas de 60 e 70, considerando o nível de desenvolvimento da<br />

industrialização na América Latina, a política educacional vigente priorizou,<br />

como finalidade para o Ensino Médio, a formação de especialistas capazes<br />

de dominar a utilização de maquinarias ou de dirigir processos de<br />

produção. Esta tendência levou o Brasil, na década de 70, a propor a<br />

profissionalização compulsória, estratégia que também visava a diminuir a<br />

pressão da demanda sobre o Ensino Superior.<br />

Na década de 90, enfrentamos um desafio de outra ordem. O volume de<br />

informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é<br />

constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação<br />

dos cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos.<br />

A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de<br />

conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de<br />

utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação.<br />

Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à<br />

formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar,<br />

buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender,<br />

criar, formular, ao invés do simples exercício de Memorização.<br />

São estes os princípios mais gerais que orientam a reformulação curricular<br />

do Ensino Médio e que se expressam na nova Lei de Diretrizes e Bases da<br />

Educação – Lei 9.394/96.” (BASES LEGAIS) 8<br />

Os PCNEM, reunidos em um documento amplamente discutido, com sua<br />

versão primeira de 1997 e finalizada em 1999, propõe uma reforma curricular a ser<br />

desenvolvida e reformulada pelos educadores em sala de aula – uma vez que se<br />

propõe a constantes revisões conforme no trecho citado.<br />

8 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação<br />

Nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 134, n. 248, 23 dez.<br />

1996. Seção 1, p. 27834-27841.<br />

28


Como este é o documento oficial do governo e dá norte aos professores da<br />

rede pública de ensino, achei por bem utilizá-lo como “parâmetro” para orientar<br />

minha pesquisa com os professores no projeto Teia do Saber. Uma forma de<br />

convencê-los a experimentar o trabalho com a linguagem que estava lhes propondo,<br />

sendo também uma proposta dos PCNEM.<br />

Levantei alguns trechos interessantes deste documento que reforçam a<br />

relevância de se tratar arte contemporânea e tecnológica em sala de aula, e<br />

apresentei estes trechos aos professores.<br />

A tecnologia é uma experiência mediada entre o professor em<br />

formação e sua imagem de si mesmo, sua percepção e auto-estima, e tem<br />

em vista especialmente o seu potencial como professor. Nesse contexto, a<br />

experiência do uso da tecnologia está intrinsecamente ligada com a visão<br />

que o professor em formação tem de seu papel, de sua missão, e de seu<br />

próprio “estar no mundo.<br />

(Martin Wild. In: Ramal, 2002.)<br />

Tal trecho, retirado dos PCNEM, que aproveitou a citação de Martin Wild,<br />

mostra claramente a preocupação de quem pensou os parâmetros da educação na<br />

real situação do professor de escola pública. O professor, por vezes, não “ousa”<br />

trabalhar com arte contemporânea, pois não se vê na mesma. Não está acostumado<br />

a freqüentar museus com exposições de arte contemporânea, não conhece os<br />

artistas do seu próprio tempo. Por conta disso criam um determinado “pré-conceito”<br />

para com esta linguagem, fazendo-os não compreendê-la ou afirmarem não gostar<br />

da mesma. Prova disso é a resistência que encontrei nos professores que não<br />

possuíam conhecimentos tecnológicos e a repulsa a certos trabalhos de arte<br />

contemporânea, sem antes mesmo tentar compreendê-los.<br />

29


Neste sentido, foi importante o contato mais aprofundado que tive com os<br />

PCNEM, que propõem trabalhos envolvendo novas mídias, como no trecho abaixo<br />

onde o documento trata das linguagens artísticas e interações:<br />

(...) Outro exemplo de articulação entre as linguagens de arte são as<br />

criações artísticas desenvolvidas com tecnologias digitais, que integram<br />

imagens, sons, movimentos em processos virtuais – e, por vezes,<br />

interativos –, abrindo espaços para novos entendimentos culturais e<br />

estéticos.<br />

(...)<br />

• Arte e tecnologia: criação de novas poéticas que articulam imagens,<br />

sons, animações e possibilitam um novo tipo de interatividade, decorrente<br />

não só da codificação da linguagem digital (de base matemática) como<br />

também das tecnologias que suportam e veiculam essa linguagem (os<br />

multimídia). Videoclipes, trabalhos artísticos em CD-ROM, instalações com<br />

dispositivos interativos, digitalizações são, entre outros, exemplos dessa<br />

interação.” 9<br />

Tal documento trouxe credibilidade à minha pesquisa perante aos professores<br />

participantes e abriu caminhos para o desenvolvimento de programas de aula<br />

envolvendo as linguagens deste trabalho. O que era inicialmente preconceito e<br />

repulsa foi gradativamente se transformando em entusiasmo e sede pelos novos<br />

conhecimentos.<br />

Os primeiros contatos com Fernando Hernández<br />

“Eu vejo o quanto que o professor de arte do ensino médio, mesmo sendo<br />

especialista, ele também está distante da arte contemporânea”<br />

Valéria Pimentel - Educadora Encontros com a Arte<br />

Educativo MAM 2003 (informação verbal)<br />

Também durante os Encontros com a Arte – curso que fiz no MAM em 2003 -<br />

tive o primeiro contato com o autor Fernando Hernández. Ele traça em seu texto,<br />

importantes considerações que trouxe ao meu dia a dia escolar, enquanto<br />

educadora, uma nova perspectiva.<br />

9 BRASIL (Ministério da Educação e do Desporto). Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio:<br />

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2001.<br />

30


No livro de Fernando Hernández “Cultura Visual, Mudança e Projeto de<br />

Trabalho” (2000) ele fala sobre uma pesquisa realizada pela revista October (VVAA,<br />

1996) em que enviou-se um questionário a uma série de professores vinculados a<br />

departamentos de história da arte, estudos culturais e estudos de cultura visual<br />

sobre o conteúdo atual da história da arte e da cultura e da cultura visual. A resposta<br />

de Emily Apter (1966) dizia:<br />

(...) os novos meios e a estética da cibervisão reclamam outras<br />

perspectivas da história da arte, baseadas em modelos de interpretação<br />

diferentes dos que hoje estão vigentes. Esses modelos estão baseados em<br />

aproximações: (a) formalistas da pintura (e das obras artísticas em geral);<br />

(b) considerações temáticas em torno de topologias e tipologias da arte; (c)<br />

iconológicas; (d) da história social da arte e (e) relacionadas com a história<br />

dos materiais. Todos eles apresentam muito pouco em relação aos novos<br />

meios e formas de representação no campo da cultura visual. Em sua<br />

opinião são necessários novos marcos interpretativos baseados, por<br />

exemplo, na psicanálise lacaniana, no gênero, na etnia, nas tecnologias<br />

mediáticas e no papel da economia globalizadora. O que leva Apter a<br />

refletir sobre a posição que ocupam atualmente na história da arte o onírico<br />

ou a estética das aparelhagens tecnológicas da cibervisualidade. 10<br />

Pensar o ensino da arte sob esta perspectiva de buscar novas formas de<br />

interpretação para a arte contemporânea e tecnológica é um desafio, principalmente<br />

no que diz respeito à rede pública de ensino do estado de São Paulo. Vi-me diante<br />

deste desafio e o texto de Hernández, veio ao encontro com o que, durante minha<br />

experiência docente, fui questionando enquanto educadora: a tradição e forma do<br />

currículo escolar diante da realidade que nos cerca. Este texto foi propulsor ao<br />

pensar inicialmente minha pesquisa, instigou questionamento pessoal sobre o meu<br />

próprio trabalho e me levou a querer multiplicar este desejo de mudança. Do curso<br />

Encontros com a Arte e desta leitura específica, nasceu o projeto que se vê<br />

concretizado nesta dissertação.<br />

Outro item importante deste autor que me impulsionou durante o decorrer do<br />

projeto, é sua posição sobre o papel do professor. Qual é o verdadeiro papel do arte-<br />

educador na escola? HERNÁNDEZ diz, ainda nesta obra, em trecho já mencionado<br />

10 HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre:<br />

Art Med, 2000.<br />

31


na página 27 desta dissertação, que o professor não deve limitar-se a uma atuação<br />

planejada e inalterável. Afirma que o professor ainda possue uma visão de si mesmo<br />

de “conhecedor” .<br />

Durante minha experiência docente eu aprendi muito com meus alunos.<br />

Sempre mantive uma relação de troca de conhecimentos. Mas também vi muitos<br />

colegas que praticamente seguiam uma “cartilha” em suas aulas ultrapassadas e<br />

desinteressantes. Ao ler HERNÁNDEZ e visualizar esta imagem de professor<br />

conhecedor em colegas de trabalho, tive a certeza de que deveria ao menos<br />

experimentar trilhar os caminhos propostos nesta pesquisa, numa tentativa de<br />

mudar esse quadro.<br />

Abordagem Triangular não é receita pronta<br />

Não poderia deixar de citar uma das grandes pioneiras no Brasil ao tratar de<br />

arte educação: Ana Mae BARBOSA. Primeira doutora em Arte Educação no Brasil,<br />

BARBOSA| criou em 1987, durante sua gestão no Museu de Arte Contemporânea<br />

(MAC), a “Abordagem Triangular” que gira em torno do Fazer artístico, Leitura de<br />

Obra e Contextualização - em qualquer ordem. Como ela mesma afirma em<br />

entrevista dada ao CCBB em 2004, a Abordagem Triangular é o primeiro programa<br />

sistematizado pós-modernista de Arte Educação a estabelecer uma abordagem<br />

metodológica clara. No entanto ela também afirma:<br />

Hoje eu desmontaria o triângulo. Acho que essa abordagem tem<br />

que estar mais parecida com um zig-zag. Podemos afirmar, com certeza,<br />

que o aluno que não vê arte e não fala a respeito não se desenvolve tanto<br />

quanto aquele que fala sobre arte, desenha, pinta, faz arte. 11 (BARBOSA,<br />

2004)<br />

O mesmo pode se dizer com relação ao professor de arte. É importante que o<br />

professor esteja apto a interagir com a obra de arte de maneira segura, para que o<br />

mesmo possa trabalhar em sala de aula. E por isso se torna cada dia mais<br />

importante trabalhos de formação continuada e projetos pedagógicos voltados aos<br />

professores em museus e outras instituições, como é o caso do “Diálogos e<br />

11 BARBOSA, Ana Mae. Abordagem Triangular não é receita pronta. CCBB, 2004. Entrevista<br />

concedida para o CCBB. Diponível em <br />

32


Reflexões” do Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Este projeto foi<br />

pesquisado por Erick Orloski em sua dissertação de mestrado “Diálogos e reflexões<br />

com educadores: A instituição cultural como potencialidade na formação docente.”<br />

Portanto, para falar em linguagens contemporâneas da arte na educação, foi<br />

fundamental conhecer melhor a Abordagem Triangular, que é entendida por vezes<br />

de forma equivocada como metodologia pelos professores da rede pública. Mas<br />

como a própria autora afirma esta abordagem não deve ser levada como receita<br />

pronta.<br />

Tive o prazer de conhecer pessoalmente Ana Mae BARBOSA em 1998, em<br />

meu primeiro ano de graduação, quando eu ainda estava iniciando meu percurso na<br />

arte educação. Após este contato é que fui conhecer melhor sua obra e só ao<br />

ingressar na pós graduação percebi quão pertinentes e importantes foram e ainda<br />

são seus estudos para nossa profissão. Tendo em vista que o livro “O que é pós-<br />

moderno” de Jair Ferreira dos Santos, despertou em mim alguns pontos de partida<br />

para minha pesquisa, devo citar que do material de Ana Mae, ressalto uma<br />

entrevista dada a Martha Mendes em 2004 e disponível no site do CCBB, que ao<br />

responder uma pergunta sobre como se deu as mudanças na arte educação do<br />

Brasil, mostra a ressignificação do professor de arte que ocorreu na década de 80.<br />

A visão modernista que imperava na época era muito expressionista.<br />

Tinha-se aquela idéia de que arte era uma produção interna. A arte não era<br />

para ser entendida. Era um conceito muito epitelial. As metodologias que<br />

orientaram o ensino da arte nos 80, denominado de ensino pós-moderno,<br />

questionaram o absurdo que era fazer com que as pessoas fizessem arte<br />

sem ter contato com ela. É como ensinar uma pessoa a ler sem deixar<br />

entrar livros em casa.<br />

33


O ensino contemporâneo da arte, na maioria dos países europeus e<br />

latino-americanos, considerou a arte não apenas como expressão, mas<br />

como cultura e procurou estabelecer um contato perene com o público.<br />

Para isso, era preciso ensinar as pessoas a decodificar e entender a arte.<br />

Essa nova idéia mudou tudo. O professor de arte passou a ter mais<br />

respeitabilidade também. Não era mais aquele que tinha a função de<br />

apenas dar um lápis e um papel para a criança liberar o espírito criador<br />

nem apenas o festeiro que cuidava dos eventos sociais da escola. A Arte -<br />

Educação e a Arquitetura foram os campos onde o pós-modernismo mais<br />

se realizou. 12<br />

Pensando justamente neste ponto da mudança do ensino da arte a partir da<br />

década de 80, que reclamava maior contato com as produções artísticas, e<br />

afastamento desta função “festeira”; e esta “obra aberta” que a autora sugere para<br />

sua abordagem, tomei Ana Mae BARBOSA como aliada para mostrar aos<br />

professores que era preciso que eles não só repensassem suas aulas de arte para a<br />

inserção da arte contemporânea e tecnológica, como também que tivessem contato<br />

mais íntimo com a mesma, fazendo-os conhecer os artistas que estão produzindo<br />

em seu tempo, e abrir a possibilidade de que se transformem nestes artistas.<br />

Com essa base teórica, trouxe para este trabalho a proposta de uma<br />

mudança de concepção do professor de arte para suas aulas, e convívio com a arte<br />

contemporânea. Um repensar contínuo, uma busca incessante por novas<br />

experiências, digna dos professores que estão em um curso de formação<br />

continuada, como é o Teia do Saber.<br />

12 BARBOSA, Ana Mae. Abordagem Triangular não é receita pronta. CCBB, 2004. Entrevista<br />

concedida para o CCBB. Disponível em<br />

. Acesso em 12 de Dezembro de<br />

2007.<br />

34


Teia do saber<br />

“O Teia do Saber foi criado pela Secretaria de Estado da Educação com<br />

a finalidade de aliar o trabalho de fundamentação teórica com as vivências<br />

efetivas dos educadores que atuam nas escolas públicas estaduais; manter<br />

os professores atualizados sobre novas metodologias de ensino, voltadas<br />

para práticas inovadoras; além de habilitar os docentes a utilizar novas<br />

tecnologias a serviço do ensino, organizar situações de aprendizagem e a<br />

enfrentar as inúmeras contradições vividas nas salas de aula.” 13<br />

Figura 3: Logotipo do Projeto Teia do Saber.<br />

O projeto Teia do Saber da Secretaria de Estado da Educação, é um projeto<br />

de formação continuada de professores. O público alvo deste projeto são<br />

professores da rede pública estadual de ensino de São Paulo.<br />

É um projeto de ações descentralizadas, que se realiza por meio da<br />

contratação de instituições de nível superior. A instituição contratada deve oferecer e<br />

sediar cursos, divididos por nível de ensino, área de conhecimento e em 3 módulos:<br />

Inicial (I), Continuidade (II) e Aperfeiçoamento (III).<br />

O curso Inicial – módulo do qual participei como professora assistente,<br />

oferecido pela UNESP para as diretorias de ensino de São José dos Campos e<br />

Jacareí - deve ser ainda dividido em no mínimo 2 e no máximo 5 módulos com<br />

duração de 40 horas cada um, sendo 4 horas diárias durante a semana, e 4, 6 ou 8<br />

horas aos sábados, e recesso escolar.<br />

Os projetos dos cursos oferecidos pelas instituições de nível superior, são<br />

escolhidos via licitação, e devem ser norteados pelas diretrizes e parâmetros<br />

curriculares nacionais, bem como por indicadores externos de desempenho.<br />

13 CENP. Programa De Formação Continuada “Teia Do Saber” - Capacitação Descentralizada<br />

Mediante Contratação De Instituições De Ensino Superior - Projeto Básico. São Paulo:<br />

Governo do Estado de São Paulo – Secretaria da Educação, 2006.<br />

35


Dois dos objetivos descritos para este projeto são:<br />

• atualização permanente para o uso de novas metodologias voltadas para<br />

práticas inovadoras e para o uso de materiais didáticos que atendam às<br />

necessidades de aprendizagem das crianças e jovens, explicitadas pelos<br />

indicadores de desempenho;<br />

• desenvolvimento de competências para a utilização de novas tecnologias a<br />

serviço da aprendizagem;<br />

Tendo em vista os objetivos citados acima e a congruência com o objetivo<br />

central da minha pesquisa que é “Analisar a relação de um grupo de professores<br />

com as questões e metodologias voltadas para ensino de arte contemporânea e<br />

tecnológica”, o trabalho com os professores no projeto Teia do Saber se mostrou o<br />

ambiente perfeito para o desenvolvimento de minha pesquisa.<br />

O projeto Básico teia do saber – artes – ensino médio propõe também que<br />

o desenvolvimento do curso siga por temas. Dos temas sugeridos no projeto básico,<br />

destaquei alguns abaixo (pela proximidade com o que trabalhei durante minha<br />

pesquisa):<br />

• Os conhecimentos artísticos e estéticos necessários para uma leitura e<br />

interpretação do mundo que sejam competentes, críticas e acessíveis à<br />

compreensão do aluno.<br />

• O conhecimento arte: arte é saber produzir, apreciar e interpretar formas<br />

artísticas e culturais em uma dimensão crítica e contextualizada, segundo<br />

os sistemas simbólicos que integram cada linguagem da arte (Teatro,<br />

Dança, Música e Artes Visuais) separadamente ou articuladas entre si.<br />

• O uso de materiais pedagógicos constantes do acervo da escola e outros,<br />

bem como a produção de novos materiais, específicos para a reflexão<br />

sobre as diferentes linguagens, para compreendê-las e utilizá-las<br />

apropriadamente em situações e propósitos definidos.<br />

• Compreensão das diferentes mídias de comunicação e de informação nos<br />

diferentes contextos.<br />

36


O projeto <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong> foca suas ações formativas no esquema ação –<br />

reflexão – ação. O curso deve incentivar o estudo e o participante aprenderá<br />

fazendo, resolvendo problemas e discutindo suas práticas e descobertas em sala de<br />

aula com outros professores.<br />

A avaliação do professor participante é feita continuamente, com auto-<br />

avaliação, relatório e ao final do curso, o participante apresenta uma produção,<br />

contendo atividade pedagógica que vem desenvolvendo com os alunos, ou uma<br />

proposta de trabalho (um projeto, um plano de ensino, uma aula) que demonstre a<br />

articulação entre as ações do curso e a sua prática em sala de aula.<br />

O curso oferecido pela instituição também é avaliado a cada aula pelos<br />

próprios professores participantes e por relatórios parciais e final encaminhados à<br />

diretoria de ensino pela instituição de ensino superior contratada. No relatório final<br />

deve constar avaliação geral do curso e seus impactos na prática docente, com<br />

reflexo na aprendizagem do aluno, acompanhada de um plano de aplicabilidade<br />

futura dos fundamentos e práticas apresentados<br />

37


Capítulo 2 – As Aranhas:<br />

Ensino e Aprendizagem de Arte Contemporânea<br />

em uma experiência de formação continuada de<br />

professores<br />

38


Capítulo 2 – As Aranhas: Ensino e Aprendizagem de Arte Contemporânea em<br />

uma experiência de formação continuada de professores<br />

No início do desenvolvimento de minha pesquisa houve o convite para que eu<br />

participasse do projeto <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong> como professora assistente. Eu havia saído<br />

recentemente das salas de aula. Quase cheguei a participar como aluna de um<br />

curso do <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong>. No entanto aceitei o desafio.<br />

Recebi o projeto do curso proposto e iniciei minha atuação nos cursos das<br />

diretorias de ensino de São José dos Campos e Jacareí, onde seguiriam o mesmo<br />

programa.<br />

O projeto em questão se entitulava: “Estruturação da linguagem<br />

expressiva: o fazer e o saber criativo” .<br />

O curso, considerando a dilatação das fronteiras na estética<br />

contemporânea, tem como foco o fazer saber criativo nas artes visuais<br />

explorando suas relações com outras formas expressivas, tais como a<br />

expressão verbal e a corporal, além de buscar o aperfeiçoamento da leitura<br />

e da escrita dos professores participantes através da redação de pequenas<br />

monografias. 14<br />

Primeiro ponto de congruência deste curso com meu projeto de pesquisa: o<br />

curso propunha o que eu denominei em minha pesquisa de artista-educador. Aquele<br />

que não se fecha no universo do ensino, mas desenvolve seu próprio fazer artístico.<br />

O objetivo era o de ampliar no participante as possibilidades criativas do fazer<br />

artístico e do fazer saber com relação ao produzir, apreciar e interpretar formas<br />

expressivas nas artes visuais, em dimensão crítica e contextualizada, capacitando-o<br />

a contribuir no processo de desenvolvimento humano através da atuação<br />

competente e consciente como mediador em situações de ensino da arte.<br />

14 COELHO, Marília e YOSHIURA, Eunice Vaz. “Estruturação da linguagem expressiva: o fazer e o<br />

saber criativo” . Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus Presidente<br />

Prudente: Presidente Prudente, 2005. Plano de curso apresentado ao programa Teia do<br />

Saber para as diretorias de ensino de Jacareí e São José dos Campos.<br />

39


A análise da realidade em diferentes regiões do estado de São<br />

Paulo, e até mesmo na capital, tem mostrado que a maioria dos<br />

professores de Arte da rede pública propõe a seus alunos uma série de<br />

técnicas plásticas, mas tem se dedicado pouco ao desenvolvimento<br />

sistemático daquilo que é a essência da arte - o processo de criação.<br />

Muitas vezes vemos professores que sequer vivenciaram um processo de<br />

criação autêntico, e não têm na própria prática artística uma fonte de<br />

experiência que dê sustentação para suas atividades docentes, ou não o<br />

estudaram suficientemente para poder suscitá-lo em seus alunos.<br />

Este curso pretende contribuir para preencher esta lacuna,<br />

oferecendo ao participante, além da oportunidade de experimentar e refletir<br />

sobre diferentes técnicas plásticas, a vivência do processo criativo e da<br />

estruturação de sua linguagem expressiva individual, o conhecimento do<br />

processo de criação fundado em pesquisas científicas da criatividade e a<br />

estimulação a sua inserção no contexto artístico-cultural. Soma-se assim, a<br />

experiência do fazer artístico inserido no contexto sócio-cultural e<br />

atualizado quanto às linguagens contemporâneas à experiência do saber<br />

artístico, isto é, do conhecimento do que se processa com a pessoa que<br />

cria, dos fatores condicionantes e propulsores da criação e daquilo que<br />

caracteriza o produto criativo. 15<br />

Segundo ponto de congruência deste curso com minha pesquisa: as questões<br />

da linguagem artística contemporânea. O projeto deste curso, veio ao encontro das<br />

minhas reflexões pessoais sobre minha atuação enquanto educadora, e do que eu<br />

pretendia trabalhar com aqueles professores. Além de propôr um professor<br />

pesquisador, que deve saber organizar seu fazer artístico e o fazer saber calcados<br />

em outros artistas e pesquisadores de arte.<br />

As disciplinas propostas neste curso foram:<br />

Disciplina: Percepção, interpretação e construção do sentido<br />

Docente: Prof. Dra. Marília Coelho<br />

Horas-aula: 8<br />

Ementa:<br />

Visando o desenvolvimento das possibilidades de criação plástica<br />

contemporânea ambiental, realiza-se experimentação plástica com materiais<br />

naturais e manufaturados, em pesquisas geradoras de reflexões referentes às<br />

questões de significação simbólica na relação indivíduo/contexto cultural.<br />

15 Idem 14<br />

40


Disciplina: Criação e pesquisa: procedimentos metodológicos<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura / Aurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 8<br />

Ementa:<br />

Como parte do núcleo estrutural do curso, a disciplina objetiva subsidiar a reflexão e<br />

a produção escrita do saber e do fazer criativo, com enfoque na distinção entre a<br />

natureza do conhecimento científico e a natureza do conhecimento artístico.<br />

Disciplina: Criação tridimensional contemporânea<br />

Docente: Prof.a Ms. Selma Simão<br />

Horas-aula: 8<br />

Ementa:<br />

Visando à estimulação da percepção da dialética forma/espaço tridimensional, assim<br />

como a ampliação das possibilidades criativas nessa dinâmica numa linguagem<br />

plástica contemporânea, serão abordados o olhar, com relação à imagem, ao objeto<br />

e ao espaço; os suportes, quanto à sua materialidade real, virtual e simbólica;<br />

questões referentes a repertório, código e tradução - no decorrer da utilização de<br />

técnicas expressivas de modelagem, escultura e assemblage.<br />

Disciplina: Criatividade: a pessoa, o contexto, o processo e o produto<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura / Aurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 4<br />

Ementa:<br />

A disciplina objetiva explicitar como a criatividade, sob qualquer enfoque, pode<br />

tornar-se um elemento importante para a constituição da individualidade, isto é, a<br />

evolução na direção do ser. Nesta perspectiva serão identificadas as características<br />

da pessoa criativa e relacionadas às condições favoráveis do contexto. Da mesma<br />

forma, serão examinadas as características do pensamento necessárias em cada<br />

uma das etapas do processo de criação, e identificados elementos que permitirão<br />

relacionar características do produto criativo às da pessoa que cria.<br />

41


Disciplina: Leitura da obra plástica<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura / Aurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 4<br />

Ementa:<br />

Os níveis de leitura do significado nas artes visuais e a abordagem fenomenológica<br />

na percepção da obra de arte na perspectiva relacional hedeggeriana, focalizando<br />

praticamente e conceituando teoricamente os aspectos essenciais dessa proposta,<br />

tais como a relação sujeito-objeto, as perspectivas objetiva e subjetiva, o encontro, a<br />

presença, a eclosão de beleza e a manifestação da verdade. Abordam-se também<br />

os diversos níveis de estruturação da obra plástica.<br />

Disciplina: Expressão pictórica e representação plástica<br />

Docente: Prof.a Dra. Marília Coelho / Roberto Bertoncini<br />

Horas-aula: 8<br />

Ementa:<br />

Observação da realidade e sua representação plástica em suportes diversos. A<br />

poética visual. As maneiras de olhar. As maneiras de representar. A observação da<br />

tridimensionalidade. O suporte e a adequação da obra. Novos suportes e<br />

interferências. A releitura da obra de arte. A representação e discurso plástico. O<br />

modelo e a abstração.<br />

Disciplina: Linguagem plástica: metodologia específica<br />

Docente: Profa. Dra. Eunice Vaz Yoshiura / Aurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 4<br />

Ementa:<br />

Reflexão referente aos mecanismos da criação e identificação dos elementos<br />

estruturadores da poética do artista. Apresentação de possibilidades de pesquisa<br />

plástica. Apresentação da proposta para o processo de criação de obras plásticas<br />

durante o curso, sob a ótica do objeto imediato e portanto como uma nova<br />

experiência e uma nova formulação.<br />

42


Disciplina: Corporeidade e concepção criativa<br />

Docente: Prof.a Dra. Sonia Maria Coelho<br />

Horas-aula: 8<br />

Ementa:<br />

Tendo em vista o conhecimento de novas modalidades de articulação dos códigos<br />

visuais e com o objetivo de ampliar a capacidade criativa dos participantes,<br />

desenvolvem-se atividades de percepção corporal e espacial de modo a explorar<br />

suas relações com as possibilidades expressivas das linguagens visuais.<br />

Disciplina: Movimentos estéticos e períodos históricos<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura/ Áurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 4<br />

Ementa:<br />

Síntese da evolução histórica e conceitual de movimentos artísticos. Análise de suas<br />

concepções estéticas através de observação de obras plásticas, com ênfase na<br />

mutação do processo sígnico como manifestação de uma nova experiência, nova<br />

formulação, e uma nova proposta.<br />

Disciplina: Projetos culturais: a mediação e a recepção da arte<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura / Aurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 4<br />

Ementa:<br />

Reflexão a respeito do fazer, do perceber e do pensar artístico em suas<br />

possibilidades de inserção social, seja como processo de realização em si, seja<br />

como veiculação da produção, através de produção bibliográfica ou eventos –<br />

mostras e exposições, ou da mediação pedagógica, seja através da organização<br />

institucional de um núcleo artístico-cultural.<br />

43


Disciplina: Seminário de pesquisa<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura / Aurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 4<br />

Ementa:<br />

A partir da apresentação sintética da pesquisa fenomenológica individual relatada na<br />

monografia de cada participante, se fará uma reflexão a respeito do processo do<br />

fazer, perceber, pensar e mostrar arte, assim como de suas implicações e resultados<br />

nas atividades desenvolvidas pelos professores em suas ações com os alunos na<br />

sala de aula.<br />

Disciplina: Significação simbólica e criação artística<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura / Aurea Karpor Franchi<br />

Horas-aula: 8<br />

Ementa:<br />

Pretende-se promover a apropriação de um corpo de conhecimentos, tendo como<br />

paradigma o imaginário simbólico. O processo criativo será visto à luz do processo<br />

de elaboração simbólica, através da presentificação e explicitação dos processos<br />

simbólicos configurados nos projetos e temas dos participantes. Será estimulada a<br />

prática de um modo de pensar existencial e simbólico. A investigação teórica será<br />

feita a partir da historização das próprias vivências e da respectiva atribuição de<br />

significados, mediante relatos de sentido.<br />

Disciplina: Sintaxe da linguagem visual e expressão criativa<br />

Docente: Prof. Dr. Milton Terumitsu Sogabe<br />

Horas-aula: 8<br />

Ementa:<br />

Aprender a “ver” a linha, a forma, o volume e o resultado interativo de suas<br />

relações. Percepção de relações entre representação gráfica e expressividade.<br />

Criação plástica a partir da apropriação da tecnologia da fotografia, de técnicas<br />

plástico-visuais, e do uso de materiais expressivos tais como carvão, giz de cera,<br />

nanquim, aquarela e outros.<br />

44


Ao longo das aulas em que atuei como professora assistente, pude notar que<br />

os grupos de professores participantes deste curso estavam abertos a novas<br />

experiências. Estavam realmente em busca de renovação profissional. Então foi o<br />

momento em que, analisando as outras disciplinas nas quais ainda atuaria como<br />

assistente, e tendo em vista a estrutura do curso propícia a isto, propus a inserção<br />

de minha pesquisa no programa do curso, para a Coordenadora Prof. Dra. Marília<br />

Coelho. Ela confiou em meu trabalho e aceitou a realização de minha pesquisa<br />

dentro do curso. A única exigência foi a de que os professores participantes também<br />

estivessem de acordo. Então, aproveitando a disciplina Criação e pesquisa:<br />

procedimentos metodológicos, apresentei meu projeto de pesquisa e foi unânime<br />

nos dois grupos (São José e Jacareí) a aceitação da participação na mesma. No<br />

próximo item discorrerei sobre a experiência detalhada de cada encontro.<br />

Os grupos e minha intervenção<br />

- Grupo1:<br />

Local: Diretoria de Ensino São José dos Campos<br />

Número de professores: 26<br />

- Grupo 2:<br />

Local: Diretoria de Ensino de Jacareí<br />

Número de professores: 40<br />

Ações desenvolvidas<br />

Organizo aqui o dia a dia de minha pesquisa dividido por encontro e disciplina<br />

proposta. (Coloco aqui apenas as disciplinas que, a partir da proposta, foram<br />

voltadas ao meu projeto de pesquisa). O relato de cada encontro ficou estruturado<br />

da seguinte forma:<br />

• Nome da disciplina ou atividade e quantidade de horas<br />

• Docentes responsáveis<br />

45


• Data<br />

• Objetivo do encontro<br />

• Atividades desenvolvidas<br />

• Metodologia<br />

• Avaliação (uma breve reflexão sobre os resultados de cada encontro)<br />

Segue, portanto, o relato desta experiência:<br />

Disciplina: Criação e pesquisa: procedimentos metodológicos (8h)<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura (Ass. Aurea Karpor Franchi)<br />

Data: 22/10/2005<br />

Objetivo do encontro:<br />

Como parte do núcleo estrutural do curso, a disciplina objetiva subsidiar a<br />

reflexão e a produção escrita do saber e do fazer criativo, com enfoque na distinção<br />

entre a natureza do conhecimento científico e a natureza do conhecimento artístico.<br />

Atividades desenvolvidas:<br />

- Apresentação do projeto de pesquisa de mestrado que em desenvolvimento<br />

pela Professora Assistente Aurea Karpor Franchi.<br />

- Estrutura e escrita científica a ser aplicada no projeto pessoal de cada<br />

professor.<br />

Metodologia:<br />

- Com uso de recurso multimídia (datashow, computador e telão) explanação sobre<br />

o que é o projeto de pesquisa da Professora Assistente Aurea Karpor Franchi, quais<br />

seus objetivos, justificativa, hipótese, metodologia e explicação de como os<br />

professores participarão da pesquisa.<br />

- Explicação detalhada dos procedimentos metodológicos que deverão ser utilizados<br />

no desenvolvimento dos trabalhos individuais.<br />

46


Avaliação:<br />

Os professores demonstraram grande interesse e estiveram atentos à<br />

apresentação do projeto de mestrado, principalmente porque alguns deles<br />

pretendem desenvolver projetos para ingressar em programas de pós-graduação.<br />

Fizeram diversas perguntas sobre a estrutura da escrita do projeto e de detalhes da<br />

participação deles na pesquisa em questão. Questionaram principalmente a questão<br />

da tecnologia. Alguns alegaram que nas escolas em que trabalham, por serem de<br />

regiões menos favorecidas, o aluno não tem nenhum contato com tecnologia. Isso<br />

gerou uma boa discussão que mostrou a heterogeneidade das escolas e do grupo.<br />

No entanto, esta discussão trouxe à tona uma experiência particular de uma das<br />

professoras participantes que merece ser citada.<br />

Fotocolagem e Photoshop: diálogo entre o professor e o aluno.<br />

Durante a discussão que nasceu neste encontro, sobre acesso à tecnologia,<br />

os recursos disponíveis na escola e os conhecimentos dos professores para lidar<br />

com tal, uma das professoras participantes narrou uma experiência que teve em sala<br />

de aula em uma de suas turmas do ensino médio. Ela estava explicando à sala qual<br />

seria o próximo trabalho a ser desenvonvido pela turma – fotocolagem – técnica<br />

muito utilizada por professores de arte, de fácil preparo utilizando imagens de<br />

revistas e material escolar básico como cola e tesoura. Os alunos a princípio não<br />

entenderam muito bem a montagem que deveriam propôr, recortando e colando<br />

imagens em um papel. Ao entender o propósito da “edição” que este tipo de técnica<br />

proporciona, um dos alunos imediatamente citou : “ Ah! Agora entendi! Isso é<br />

PHOTOSHOP professora!”. A professora nunca havia trabalhado com um programa<br />

de edição de imagens por meio do computador. E o aluno nunca havia<br />

experimentado isso sem ser no meio digital. Então a professora propôs uma troca.<br />

Os alunos mostravam à ela como fazer este trabalho por meio do programa do<br />

computador – Photoshop – e ela mostrava como fazer pelo método tesoura e cola.<br />

Ambos realizaram um trabalho novo para o seu universo, e todos saíram ganhando<br />

com esta experiência.<br />

A escola em que ela trabalhava não era uma escola com grandes recursos<br />

tecnológicos disponíveis, nem sua localização era privilegiada. Mas isso foi um<br />

exemplo específico que pode refletir que subestimamos o aluno ao pensar que por<br />

47


sua condição social ou falta de recursos na escola, ele não possui contato com a<br />

tecnologia.<br />

A partir desta experiência narrada, o rumo da discussão seguiu pra outro lado:<br />

os celulares, a televisão, rádios portáteis, e toda a tecnologia que circunda a escola<br />

e o cotidiano do aluno. A conclusão tirada pelos participantes foi que, mesmo em<br />

escolas menos privilegiadas (da região em que atuavam), os alunos mantém contato<br />

com a tecnologia, é bombardeado constantemente por informação através dos<br />

meios de comunicação, enfim, é um indivíduo blip.<br />

Voltando ao andamento do encontro, o entendimento quanto às metodologias<br />

a serem aplicadas em seus trabalhos individuais foi bom.<br />

Visita ao FILE Festival<br />

Início: 05/11/2005 – Término: 05/11/2005<br />

Local: Galeria de Arte FIESP<br />

No período da manhã, no Instituto de Artes da UNESP, realizou-se uma<br />

introdução à visita por meio de algumas atividades:<br />

- Leitura em subgrupos da transcrição do Debate entre Eduardo Chaves e<br />

Valdemar Setzer na TV Cultura em 28/5/99 16 sobre O Uso da Informática na<br />

Educação;<br />

- Exposição das conclusões de cada subgrupo sobre o texto e abertura para<br />

uma conversa geral sobre o texto.<br />

- Explicação sobre como deve ser desenvolvido e apresentado os projetos de<br />

aula dos professores a partir do FILE – enumerando tópicos.<br />

- Apresentação de um questionário a ser respondido pelos participantes,<br />

explicitando a opinião de cada um sobre linguagens contemporâneas e<br />

tecnológicas, suas aplicações em sala de aula, a formação do professor para<br />

isso e equipamentos que a escola disponibiliza.<br />

16 Disponível em http://www.edutec.net/Noticias%20e%20Eventos/Apoio/edsetze1.htm Acessado em<br />

01/11/2005<br />

48


Figura 4: Professores participantes da pesquisa em leitura anterior à visita ao FILE.<br />

Instituto de Artes da UNESP. São Paulo. 05/11/2005. Foto: Aurea Karpor<br />

A leitura do texto trouxe dois pontos de vista, um a favor e um contra à<br />

utilização de tecnologia em aula, aos professores. A posterior conversa foi aquecida<br />

por opiniões diversas, passando por questões como família, limites, vício, e saídas<br />

que circundam o uso da tecnologia, mais especificamente do computador. A<br />

conclusão dos professores foi: não deve ocorrer radicalismo. O encontro do meio<br />

termo, com bom senso, pode transformar a tecnologia em sala de aula (também<br />

como suporte artístico e não só como meio de informação) em algo viável e<br />

enriquecedor. Partimos então à visita.<br />

49


O FILE<br />

Com o crescimento das redes e a multiplicação das hipermáquinas digitais<br />

conectadas entre si surge a megahipermáquina digital por onde circulam as<br />

performances; os telecomandos; os valores; os conhecimentos; a<br />

educação; as aranhas.<br />

Ricardo Barreto e Paula Perissinoto<br />

Organizadores FILE<br />

Conceito (2000)<br />

O FILE (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica), maior festival de arte<br />

e tecnologia do Brasil, desde 2000 vem inserindo o país no contexto mundial das<br />

novas mídias, realizando uma compilação de produções artísticas no campo das<br />

artes eletrônicas e digitais, e funcionando como um indicador da pluralidade dessas<br />

produções.<br />

O Festival não apenas trata da arte eletrônica contemporânea, como também<br />

mantém uma estrutura hipertextual, com muitos caminhos e escolhas, universos<br />

simultâneos, interatividade. Fazer com que seu público se torne a aranha dentro<br />

desta teia de possibilidades, oferecer espaço para novos artistas, entre outros<br />

fatores, fez do FILE o ambiente ideal para que os professores desta pesquisa<br />

tivessem contato mais próximo com a arte que proponho que levem para suas aulas.<br />

“Por mais que se tenha consciência desta novidade, estas mudanças de pensamento<br />

são demasiadamente lentas. É sempre difícil livrar-se de hábitos antigos, pois carregamos<br />

conosco ainda vícios de uma formação analógica linear. Para este novo mundo, precisamos<br />

de inúmeras perspectivas, onde antigas instituições e antigas pragmáticas não conseguem<br />

mais expressar e nem detectar as atuais manifestações culturais, pois não basta ligá-las às<br />

redes mundiais com aspecto de mobilismo, há que se mudar também as estratégias e a<br />

mentalidade. Neste sentido é que os festivais, por serem acontecimentos de grande<br />

mobilidade, por terem uma performance flexível e veloz, podem, na atual circunstância,<br />

colaborar grandemente com o despontar cultural e estético que acontece, principalmente, nas<br />

redes virtuais disseminadas pelo mundo.” 17<br />

Novas estratégias, mudança de mentalidade e mobilidade em sala de aula, é<br />

o que também proponho aos professores. Neste sentido, já está suficientemente<br />

explicada a escolha do FILE para este projeto.<br />

17 BARRETO, Ricardo. FESTIVAL INTERNACIONAL DE LINGUAGEM ELETRÔNICA. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado, Paço das Artes, 2002.<br />

50


FILE 2005<br />

Os trabalhos participantes do FILE 2005, edição na qual este trabalho se<br />

focou, foram resultado de uma intensa pesquisa e seleção que trouxe à tona uma<br />

grande variedade de produções nacionais e internacionais.<br />

Participaram desta edição do FILE aproximadamente 300 artistas - entre<br />

grupos, coletivos e trabalhos individuais - de mais de 30 nacionalidades, com<br />

trabalhos nas áreas de net art, web art, animação interativa, hipertexto, web filme<br />

interativo, cinema interativo, panoramas, VRML, games, software art, generative art,<br />

inteligência artificial, robótica, música, performance, instalações interativas e<br />

instalações eletrônicas.<br />

Em 2005 o FILE preparou várias salas especiais onde os visitantes puderam<br />

acessar diferentes seções que abrangem as diversas linguagens das mídias digitais.<br />

Muitos dos 60 professores que visitaram a exposição, poucas vezes, ou nunca,<br />

tiveram contato com arte eletrônica. Os poucos que já conheciam tal linguagem (os<br />

mais jovens) percorreram o espaço da exposição sem cerimônias. Porém, devido à<br />

aula introdutória feita no período da manhã, e todo o desenvolvimento do curso,<br />

mesmo os professores que nunca haviam presenciado tais manifestações souberam<br />

aproveitar cada detalhe da exposição, interagindo e vivenciando atentamente cada<br />

momento.<br />

Nesta visita, muitos puderam perceber que as metodologias ou propostas<br />

formais aplicadas às artes plásticas não podem se aplicar em obras como as<br />

expostas ali. Mas como trabalhar esse tipo de linguagem? É possível em sala de<br />

aula? A resposta foi unânime: é possível. As idéias começaram a “pipocar” entre os<br />

professores a cada obra que passavam. Claro que as idéias já surgiam adaptadas<br />

para a realidade da sala de aula e visão de cada professor, caindo, por vezes, em<br />

técnicas conhecidas aproveitando apenas tema da obra. Com isso pude notar que<br />

mesmo com professores interessados, a mudança tende a ser gradativa para que<br />

aluno e professor consigam compreender melhor as linguagens contemporâneas e<br />

tecnológicas da arte.<br />

51


Lente de água<br />

Segundo a ATP (Assistente Técnico<br />

Pedagógica) da Diretoria de São José dos<br />

Campos, houve uma notável mudança no<br />

modo de se pensar e criar dos professores<br />

que visitaram o FILE. Essa mudança foi<br />

percebida em uma Orientação Técnica<br />

comumente realizada na Diretoria de Ensino<br />

com os professores de arte. Um dos<br />

professores que visitaram o FILE, em uma<br />

das orientações técnicas, saiu do comum,<br />

abrindo um novo olhar para materiais<br />

comuns. A ATP indicou que realizassem um<br />

Figura 5: Sonic Totem. FILE. São Paulo,<br />

2005. Foto: Douglas Garcia. Disponível<br />

em <br />

trabalho com fotografia, e criassen algo com elas. O professor em questão, a<br />

colocou no fundo de uma vasilha e encheu de água. Era possível ver a foto, porém,<br />

através da lente de água que ele colocou por cima. Esta idéia surgiu após a<br />

visitação ao FILE, numa referência à obra “Totem Sonique”<br />

O som nesta obra passava pelo filtro da água. No caso da obra do professor<br />

em questão, a imagem fotográfica passava por este filtro.<br />

Quanto às minhas impressões pessoais da atividade, notei outro obstáculo do<br />

trabalho com tecnologia: funcionalidade. É muito mais comum se ter problemas<br />

tecnológicos do que técnicos em uma exposição como esta. Obras que funcionam<br />

por um tempo determinado e depois quebram ou necessitam de manutenção<br />

constante. Pelo menos três obras da exposição não estavam com seu<br />

funcionamento adequado. E o próprio educador da exposição alegou que é um dos<br />

problemas ainda não muito bem resolvidos quando se trata de arte e tecnologia.<br />

Alguns problemas simples, o próprio educador está apto a resolver (questões de<br />

informática, por exemplo). Mas nas obras que utilizam mecanismos mais complexos,<br />

existe a necessidade da presença do artista, o que aumenta o tempo para que se<br />

realize a manutenção. A falha, ou falta de qualidade de um equipamento também<br />

acarreta danos no resultado final.<br />

52


Se isso ocorre em uma exposição com pessoas qualificadas, equipe e artistas<br />

do mundo todo, com grandes apoios e patrocínio, esta mesma dificuldade atinge o<br />

professor: materiais inadequados, em mau funcionamento, etc.<br />

FILE Panoramas<br />

Figura 6: PANORAMAS. FILE. São Paulo, 2005. Disponível em <br />

“Panoramas” são fotografias que permitem que geralmente se observe<br />

360º a partir de um ponto. Atualmente, a internet oferece uma grande<br />

variedade de Panoramas interativos, nos quais se pode imergir e vivenciar<br />

experiências singulares na observação de uma foto: deslizar pelo ambiente<br />

fotografado; aproximar e perceber detalhes de uma estrutura arquitetônica,<br />

de uma planta ou de qualquer objeto que apareça na imagem; explorar<br />

ângulos diversos de uma mesma paisagem. Para o FILE, os Panoramas<br />

por si só já são uma forma de expressão artística, mas existem alguns<br />

artistas que exploram novos potenciais dessa ferramenta e criam trabalhos<br />

poéticos e instigantes. O FILE acredita que é muito importante mostrar a<br />

diversidade de qualidade da produção da Web e os Panoramas<br />

representam uma parcela dessa produção de alto nível, valor e relevância.<br />

Nesta edição, o FILE conta com os artistas: Bruno Massara, Douglas Cape,<br />

Elizabeth Gentile, Gerard Kuster, Jorge Alban, Marcelo Maia, Martin Bond,<br />

Sachio Izumi (Studio Post Modern) e Willy Kaemena. 18<br />

Já familiarizados com o universo eletrônico da exposição, os professores<br />

puderam apreciar as obras do FILE PANORAMAS, que têm como princípio a<br />

fotografia digital e as possíveis interatividades de movimentação com a mesma.<br />

Montar panoramas com fotografias, mesmo que não digitais, foi uma proposta feita<br />

por uma das professoras participantes. Utilizar materiais comuns para se construir<br />

um cilindro onde em seu interior seriam coladas e montadas várias fotos para a<br />

criação deste panorama. Ainda estavam presas ao conceito ou temática.<br />

18 FILE 2005. Instalações. File. São Paulo, 2005. Disponível em Acesso em<br />

15/05/2007<br />

53


Visita ao File Hipersônica<br />

Início:05/11/2005 – Término: 06/11/2005<br />

Local: Casa das Caldeiras<br />

Carga Horária: 12horas<br />

FILE Hipersônica<br />

A citação acima<br />

mostra o que é este evento<br />

que, a cada ano, atinge<br />

inovadoras e maiores<br />

proporções. Em 2004,<br />

participei com uma<br />

performance chamada “O<br />

Ritual Eletrônico” que cito<br />

em meu projeto de<br />

pesquisa.<br />

O segmento de ação audiovisual em tempo real do FILE, festival<br />

Hipersônica, objetiva a heterogeneidade através de linhas simultâneas<br />

com passagens e rupturas dentro de uma narrativa operacional múltipla.<br />

Uma forma de produção da experiência estética e audiovisual a partir de<br />

São Paulo com imanência global na rede. Conectando tendências às<br />

formas de expressão clássicas que se recusam à imobilidade, o<br />

Hipersônica é um festival de ação eletrônica ao vivo e de “enunciação<br />

coletiva” (Deleuze). “Não opõe o antigo ao moderno (...) Não cessa de<br />

colocar em cena o passado” (Jacques Rancière) através de um novo<br />

regime de relações atemporais. Com uma linguagem artística que não<br />

define o seu espaço físico e de consumo, a arte eletrônica retorna ao<br />

campo do trabalho onde gera experiências estéticas que repercutem no<br />

cotidiano. Por sua vez, o Hipersônica retorna às Indústrias Matarazzo,<br />

Casa das Caldeiras, para atingir o limiar-ápice entre uma exposição<br />

audiovisual e uma celebração crítica, uma mostra de arte remixada e<br />

uma ocupação laboratorial livre e intempestiva. 19<br />

Figura 7: O Ritual Eletrônico. FILE Hipersônica.<br />

Sâo Paulo, 2004.<br />

Foto: Eugênio Vieira. Disponível em <br />

Eram dois territórios, assim denominados, onde grupos, performers, DJs,<br />

VJs, Bandas entre outras manifestações se revezavam em suas apresentações. O<br />

visitante deveria escolher entre duas opções e montar o seu próprio roteiro dentro<br />

19 FILE 2005. Hipersônica. File. São Paulo, 2005. Disponível em Acesso em<br />

15/05/2007<br />

54


do evento. Em 2005, porém, o número de territórios aumentou para sete. Eram sete<br />

opções de escolha ao participante. Destas sete opções, três – as maiores –<br />

receberam uma maior atenção e definição para a seleção dos artistas que por ali<br />

passaram:<br />

O Território 1 é imersivo; sua estrutura tecnológica recorta o espaço<br />

industrial para a arte digital e audiovisual confrontar e transformar os<br />

participantes a partir das novas tecnologias e dos novos manifestos; O<br />

Território 2 é subterrâneo; recria o ambiente da experiência<br />

underground, cultura que dita os novos cânones e os novos rumos da<br />

música e arte eletrônica; O Território 3 é a arena/palco de contrastes<br />

tecnológicos, onde a verve mais famigerada do rock, do jazz e do<br />

regional dialoga com o videografismo, entre outras linguagens digitais. 20<br />

O Hipersônica, Braço Sonoro do FILE, amplia-se e ganha força, com mais de<br />

cem apresentações artísticas em seus sete territórios e ainda se subdivide em três<br />

ações: Performance (esta citada acima, na Casa das Caldeiras com os sete<br />

territórios); Exposição (onde cinco artistas expuseram suas obras sonoras ao longo<br />

de cinco dias) e Teatro (onde mais oito artistas fizeram apresentações no Teatro<br />

Popular do SESI, nos dias 01 e 02 de Novembro).<br />

O Hipersônica é um evento que dá ênfase às manifestações musicais,<br />

sonoras, visuais e performáticas da arte eletrônica. Sem se preocupar com o<br />

mainstream, o Hipersônica lança expoentes da sonoridade e da música eletrônica<br />

em um evento multi-ambientado que conta com performances, DJs, VJs e músicos<br />

eletrônicos eruditos, enfatizando principalmente as produções experimentais. O<br />

festival de hiper-sonoridades, poesias sonoras, error-music, esculturas sônicas e<br />

antimusica, localiza estilos e tendências, rumo a abstrações performáticas derivadas<br />

da inter-relação residual com o videografismo, game-art, teatro eletrônico e<br />

intervenções diretas.<br />

20 FILE 2005. Hipersônica. File. São Paulo, 2005. Disponível em Acesso em<br />

15/05/2007<br />

55


Das performances deste evento destaco:<br />

ZQUIZOFONIA<br />

Figuras 8 e 9 : Zquizofonia. Objeto Intersemiótico Anti-Ergonômico. FILE Hipersônica.<br />

São Paulo, 2005. Foto: Douglas Garcia. Imagem disponível em <br />

OBJETO INTERSEMIÓTICO ANTI-ERGONÔMICO<br />

O tema da apresentação gira em torno do conceito de anti-ergonomia, aqui<br />

usado no sentido de desconfortável, inapropriado, inadequado,<br />

desagradável, desajeitado, anti-anatômico, inarmônico, incômodo,<br />

inadaptável etc. Esse tema foi escolhido devido a uma certa persistência do<br />

desconforto e mal-estar encontrado no ato fruitivo, principalmente nas<br />

práticas artísticas contemporâneas. É uma proposta multi-linguagem, onde<br />

a fusão de linguagens aparece não só como múltipla [sobre e superposição<br />

de linguagens], mas como intersemiótica [todas as linguagens fazem parte<br />

de uma única composição, onde o trabalho não existiria sem uma delas],<br />

que utilizará projeção de vídeo, performance de body art e composição<br />

musical.<br />

O discurso musical é anti-ergonômico através de recursos, tais<br />

como sonoridades não usuais e linguagens sonoras usuais desenvolvidos<br />

com ritmos não usuais e sonoridades ruidísticas. A performance constará<br />

basicamente de uma intervenção pseudo-cirúrgica executada por Priscilla<br />

Davanzo, dentro da tradição da body art. O discurso imagético [vídeo]<br />

consistirá na parte explicativa/didática mais narrativa do tema.<br />

BIOGRAFIA<br />

A zquizofonia é um grupo multi-linguagem, de características<br />

intersemióticas, que desenvolve trabalhos em campos como performance<br />

sonora, música eletrônica/eletroacústica, vídeo-instalação e música<br />

instrumental.<br />

56


A zquizofonia surgiu em 2002, e é formada por Régis Frias<br />

[Desenho Insdustrial/Belas Artes e Composição e Regência/UNESP],<br />

Priscilla Davanzo [Artes Plásticas/UNESP, Construção Civil/ETFSP e<br />

mestranda em Artes Visuais/UNESP] e Leandro Coradini [Filosofia/São<br />

Judas Tadeu, Composição e Regência/UNESP e mestrando em<br />

Música/UNESP] 21<br />

Desagradável? Inapropriado? A arte deve ser sempre agradável? A ruptura<br />

com conceitos como o belo na arte, é algo que não é mais novidade. E a arte<br />

proposta por Zquizofonia também não é, conforme veremos mais adiante as<br />

comparações feitas pelos professores que assistiram a apresentação do trio. No<br />

entanto, deve-se “traduzir” o que foi feito no território 2 do FILE Hipersônica por<br />

estes artistas. Enquanto os dois músicos experimentavam sonoridades<br />

eletroacústicas, eram exibidas no telão imagens de body art, intervenções<br />

cirúrigicas, cenas “não agradáveis”. Paralelamente Priscilla Davanzo literalmente<br />

costurava sua boca com o auxílio de um outro artista especializado em body art e o<br />

público escrevia frases em papéis a eles distribuídos. Com a boca já costurada,<br />

Priscilla lia as frases dos papéis diante de um microfone e este som somava-se ao<br />

dos músicos e às imagens que continuavam a ser projetadas. Muitas pessoas se<br />

reuniram ao redor desta performance “antianatômica e desconfortável”.<br />

Este evento foi em 2004 meu primeiro contato com a equipe do FILE e, as<br />

vivências que proporciona, além do contato com artistas da cena eletrônica do<br />

mundo todo, incentivou alguns professores a permanecerem em São Paulo após a<br />

visita ao FILE Festival e me acompanharem até o Hipersônica em 2005. Para quem<br />

nunca havia ido a uma exposição de arte eletrônica, passar por uma experiência<br />

como o FILE Hipersônica foi inovador e inspirador. Alegaram que era muita coisa<br />

acontecendo ao mesmo tempo e que gostariam de poder conferir todos os eventos<br />

da programação...<br />

Mais uma vez, o Hipersônica, input urgente do FILE, convida todos<br />

para uma jornada livre e avançada. 22<br />

21<br />

FILE 2005. Hipersônica. File. São Paulo, 2005. Disponível em Acessado em<br />

15/05/2007<br />

22<br />

FILE 2005. Hipersônica. File. São Paulo, 2005. Disponível em Acedo em<br />

15/05/2007<br />

57


Abrindo parêntese<br />

Ao presenciarem a apresentação do<br />

grupo “ZQUIZOFONIA” composto por<br />

Leandro Pedrotti Coradini, Régis Frias e<br />

Priscila Davanzo (todos alunos do Instituto<br />

de Artes da UNESP), os professores<br />

Camilo e Rafaela imediatamente<br />

reconheceram semelhanças com o<br />

trabalho da artista ORLAN visto em livros<br />

nas aulas do curso. O trabalho de Bod Art<br />

que Priscila Davanzo desenvolve foi<br />

comparado à CARNAL AT de Orlan.<br />

Olhar para a performance do grupo, em<br />

um evento como o Hipersônica, sem antes ter<br />

vivenciado nada parecido fora dos livros de<br />

arte apresentados recentemente, e ainda<br />

conseguir ter um olhar que contextualiza e faz<br />

relações com obras de outros artistas, é uma<br />

prova das mudanças que esta experiência<br />

causou neste educadores – tanto no<br />

repertório, quanto na capacidade de estarem<br />

abertos a novas propostas da arte<br />

contemporânea.<br />

Figura 10: Zquizofonia. Objeto Intersemiótico<br />

Anti-Ergonômico. FILE Hipersônica.<br />

São Paulo, 2005. Foto: Douglas Garcia. Imagem<br />

disponível em <br />

Figura 11: ORLAN. Imagem disponível<br />

em <br />

Acessado em 15/05/2007<br />

58


Disciplina: Projetos culturais: a mediação e a recepção da arte (4)<br />

Docente: Prof.a Dra. Eunice Vaz Yoshiura (Ass. Aurea Karpor Franchi)<br />

Data: 19/11/2005<br />

Objetivo do encontro:<br />

Reflexão a respeito do fazer, do perceber e do pensar artístico em suas<br />

possibilidades de inserção social, seja como processo de realização em si, seja<br />

como veiculação da produção, através de produção bibliográfica ou eventos –<br />

mostras e exposições, ou da mediação pedagógica, seja através da organização<br />

institucional de um núcleo artístico-cultural.<br />

Atividades desenvolvidas:<br />

- Conversa sobre os aspectos da visita ao FILE (quais impressões, idéias,<br />

vivências de cada um)<br />

- Montagem de um planejamento de aula utilizando o que se extraiu da visita à<br />

exposição.<br />

Metodologia:<br />

- Perguntas e hipóteses são lançadas ao grupo para direcionar uma conversa<br />

sobre como a visita a uma exposição como o FILE pode auxiliar tanto no<br />

desenvolvimento criativo do artista, como no trabalho do professor.<br />

- Em grupos, os professores terão de montar um plano de aula que desenvolva<br />

Avaliação:<br />

algum aspecto retirado da experiência vivida na visita ao FILE.<br />

Os professores, em sua maioria, pareciam ainda um pouco “deslumbrados”<br />

com a exposição. A interatividade com as obras foi um dos destaques apontados por<br />

eles. Porém, mesmo com uma aula preparativa, e tantas outras lidando com o tema<br />

da contemporaneidade e organização criativa, as obras superaram as expectativas<br />

dos professores. E por terem superado as expectativas, os professores sentiram<br />

dificuldade de transpor aquela realidade para a sala de aula. As idéias eram muitas,<br />

mas em sua maioria caíam nos materiais comuns, usando temas e não o suporte<br />

tecnológico. Alguns questionaram a viabilidade disso em escola pública. (precisa<br />

mudar concepção)<br />

59


Portanto, a atividade de preparação do plano de aula foi fundamental para<br />

incentivar uma atividade interessante. Divididos em grupos as idéias foram se<br />

moldando, e à medida que dúvidas surgiam, eram discutidas até acharem uma<br />

solução. Uma das idéias foi o trabalho com fotografias digitais. Trabalhar as fotos em<br />

softwares específicos como Adobe ou Corel, ensinando também aos alunos como<br />

trabalhar com tais programas (isso requer conhecimento específico do professor).<br />

Uma segunda idéia, mais simples, foi a de scanear imagens e trabalhá-las no<br />

programa Paint que vem com o pacote do Windows.<br />

Tendo em vista estas duas turmas de professores, a visita ao FILE, e o que<br />

foi apresentado de novo durante as disciplinas, passo pra fase de análise do que foi<br />

feito neste curso em questão: quais foram os problemas enfrentados, em que<br />

fundamentos me baseei para esta análise, quais foram os reais resultados desta<br />

experiência? Este é o assunto que trato no próximo capítulo.<br />

60


Capítulo 3 – Os Nós da Teia:<br />

Problemas encontrados durante o percurso<br />

61


Capítulo 3 – Os Nós da Teia: Problemas encontrados durante o percurso<br />

Como professora de artes visuais, surpreendeu-me minha prática. Ao me<br />

aproximar dos interesses dos alunos, agregava imagens do cotidiano e<br />

cada vez mais me distanciava dos conteúdos tradicionais da arte. As<br />

propostas desenvolvidas em torno de movimentos artísticos europeus ou<br />

técnicas de pintura, foram lentamente cedendo lugar a escola de samba do<br />

bairro, a sexualidade na propaganda, a produção de desenhos animados, a<br />

tatuagem, ao grafitti, ao videoclipe, entre outros<br />

Sonia Maria Clemente<br />

Professora da Diretoria de Ensino de Jacareí,<br />

participante do Teia do Saber<br />

Inicialmente, ao perguntar a estes professores se era possível trabalhar com<br />

arte contemporânea e tecnológica em sala de aula a resposta surgia rápida e sem<br />

muita dúvida: Não. Quais eram os motivos para esta resposta? A escola não possui<br />

recursos; o aluno é de uma região pouco privilegiada e não tem contato com<br />

tecnologia; o próprio professor não conhece arte contemporânea; a pseudo<br />

obrigatoriedade de se seguir um plano de trabalho de sua unidade escolar; entre<br />

outros motivos.<br />

Alguns destes motivos, já foram constatados e as soluções encontradas<br />

gradativamente, como no caso da preferência do professor por determinada<br />

linguagem da arte. Já se viu que o grande problema era o não conhecimento das<br />

linguagens contemporâneas e tecnológicas da arte que os faziam “preferir” trabalhar<br />

com outras linguagens e excluir de seus planejamentos de aula o contemporâneo.<br />

Tal experiência traz a importância da formação continuada de professores.<br />

Ao final do curso, como em um “passe de mágica”, as escolas passaram a ter<br />

recursos e espaços apropriados; o aluno era conhecedor de tecnologias nem antes<br />

pensadas pelo professor, o plano de trabalho da escola ficou flexível; os professores<br />

passaram a acreditar na possibilidade de se trabalhar com linguagens<br />

contemporâneas e tecnológicas da arte em sala de aula. Bastava uma nova<br />

percepção do mundo ao seu redor. Uma nova concepção de si mesmo.<br />

No entanto o dia a dia é o termômetro que pode confirmar se as propostas<br />

feitas pelos participantes foram levadas para sua prática profissional.<br />

62


Neste capítulo trago a análise do retorno que estes professores me<br />

forneceram a partir da minha interferência. Inicio esta análise a partir do questionário<br />

citado no capítulo anterior, que foi entregue aos professores no encontro do dia 05<br />

de Novembro de 2005, antes da visita ao FILE. Depois passo à análise dos planos<br />

de aula que os professores propuseram a partir desta experiência, e por último,<br />

verifico a única proposta com retorno efetivamente trabalhado em sala de aula por<br />

uma professora participante do projeto.<br />

O primeiro critério de análise que aplico nos três itens, é a análise com<br />

abordagem quantitativa. Quantos professores retornaram com o questionário<br />

respondido, plano de aula e resultados obtidos na prática.<br />

A porcentagem de devolutivas foi consideravelmente baixa. De 60<br />

professores inscritos no projeto e que aceitaram participar da pesquisa, apenas 9<br />

destes professores retornaram o questionário respondido, 2 apresentaram plano de<br />

aula e apenas uma professora apresentou os resultados deste plano de aula<br />

trabalhado com seus alunos.<br />

Quais os motivos que levaram à este retorno tão pouco significativo em<br />

termos quantitativos? A primeira possibilidade que vejo é o real interesse dos<br />

professores no que diz respeito ao curso. O projeto Teia do Saber é um projeto que<br />

aumenta a pontuação dos professores que participam e obtém aprovação. Tal<br />

pontuação implica em uma melhora salarial e vantagens na escolha das turmas e<br />

unidades escolares. Portanto, alguns destes professores buscam o projeto Teia do<br />

Saber movidos mais pelo desejo de aumentar sua pontuação do que pela busca de<br />

novos conhecimentos e trocas de experiências. Tal fato me fez refletir sobre até que<br />

ponto oferecer este retorno em pontuação é um incentivo ou um “adestramento”<br />

destes professores que somam títulos, mas não renovam suas concepções a<br />

respeito do conteúdo de sua disciplina nem ao menos sobre a educação.<br />

Em contrapartida, mesmo estes professores que freqüentam o curso do Teia<br />

do Saber sem maiores preocupações reflexivas, acabam entrando em contato com<br />

outros professores, com novos artistas, e com isso há uma pequena perspectiva de<br />

63


que a longo prazo este professor passe a buscar novos horizontes em seu trabalho<br />

como arte educador.<br />

Outro fator que pode explicar este percentual baixo de retorno é que, por se<br />

tratar de uma atividade incluída no curso de forma paralela ao andamento do mesmo<br />

(posto que avaliaria a relação destes professores com a arte contemporânea e<br />

tecnológica, sem fugir dos objetivos iniciais do curso), os itens solicitados<br />

especificamente para minha pesquisa não eram itens obrigatórios para a avaliação<br />

final dos professores no projeto Teia do Saber. Muitos professores deram prioridade<br />

às atividades diretamente relacionadas às suas avaliações oficiais e deixaram de<br />

lado o que foi solicitado para a pesquisa. Isso traz à tona novamente a preocupação<br />

de alguns destes professores mais com suas pontuações do que com a busca de<br />

formação continuada.<br />

Por fim o fator que principalmente interferiu no retorno dos trabalhos<br />

realizados por estes professores em sala de aula: o período do ano letivo em que se<br />

encontravam durante a pesquisa. A visita ao FILE foi efetuada no início de<br />

Novembro de 2007. E somente dia 19 de Novembro é que houve a proposta de se<br />

criar um plano de aula a ser aplicado com seus alunos. É sabido que o período de<br />

aulas se encerra oficialmente por volta do dia 20 de dezembro. No entanto, neste<br />

período estão incluídos recuperação, conselho e entrega final das notas pelos<br />

professores, o que implica em atividades normais efetivamente até o final de<br />

novembro, início de dezembro no máximo. Neste período, dificilmente algum<br />

professor consegue desenvolver um projeto específico, como o que foi solicitado em<br />

minha pesquisa.<br />

Passadas tais considerações, vamos aos questionários.<br />

64


O Questionário<br />

O propósito deste questionário era o de verificar quais eram os<br />

conhecimentos dos professores participantes do projeto, a respeito da arte<br />

contemporânea e tecnologia; quais eram suas relações com este universo, além de<br />

fazê-los refletir sobre as possibilidades do trabalho em sala de aula a partir deste<br />

contexto.<br />

As perguntas eram:<br />

1- Diga sua opinião sobre o uso da tecnologia em sala de aula<br />

2- O que de Arte Contemporânea e tecnológica você se lembra de ter visto?<br />

3- É possível trabalhar com arte contemporânea e tecnológica em sala de<br />

aula?<br />

4- Sua escola oferece quais recursos para o trabalho em sala de aula?<br />

5- Você se sente seguro a trabalhar com tecnologias em sala de aula? Por<br />

quê?<br />

6- Qual o sentido (finalidade) da Arte Contemporânea e da Tecnologia na<br />

educação?<br />

O questionário foi solicitado no encontro do dia 05 de Novembro de 2005, no<br />

intuito de que respondessem antes do contato com o FILE, para evitar as influências<br />

da visita nas respostas. No entanto, pelo curto tempo que tiveram para tal, e devido<br />

à ansiedade dos mesmos, 4 dos 9 professores que me retornaram os questionários,<br />

entregaram somente no encontro seguinte.<br />

Dos 9 questionários respondidos que tenho em mãos, escolhi sete para uma<br />

análise mais aprofundada. Os critérios utilizados para a escolha foram:<br />

- comprometimento com o projeto;<br />

- disponibilidade em lidar com o contemporâneo.<br />

65


Em palestra no dia 27 de Novembro de 2007, no FÓRUM TEATRO<br />

CONTEMPORÂNEO 23 realizado no Centro Cultural São Paulo, a Professora Doutora<br />

Maria Lúcia Pupo disse que é preciso que os arte educadores sejam pessoas<br />

disponíveis para lidar com o contemporâneo. Pessoas que tenham o desejo e o<br />

prazer nas manifestações contemporâneas e em decifrá-las. Estando o professor em<br />

um curso onde ele tem a oportunidade de, junto com outros colegas de profissão,<br />

refletir, conhecer e inovar tanto o seu conteúdo de aula, como as formas como suas<br />

aulas se dão, e o mesmo não tem interesse nisto, o que vem à tona? Um dos<br />

questionários respondidos é uma cópia resumida de outro questionário. Ou seja,<br />

uma professora que é comprometida, participante e disponível para o projeto,<br />

emprestou seu questionário para que outra professora pudesse ler e acabou tendo o<br />

seu trabalho copiado. É a considerada “cola” escolar, que os professores tanto<br />

criticam. O que os professores dizem não aceitar de seus alunos, eles realizam em<br />

um curso de formação continuada, que deveria significar um espaço para<br />

crescimento profissional a partir da reflexão e troca de experiências. Isso me faz<br />

pensar: o que este professor leva para sua aula? Antes ter o descaso daqueles que<br />

não retornaram os questionários do que um retorno copiado de um colega. Isso<br />

reforça minha idéia de que muitos estavam ali apenas em busca de aumento de<br />

pontuação e consequentemente de salário. Além disso, não há como considerar<br />

este questionário uma vez que corresponde a dados e opiniões de outro profissional.<br />

Outro questionário respondido teve resposta em apenas 4 das seis questões<br />

e ainda sim de forma ilegível. Como o professor em questão não era assíduo aos<br />

encontros, não levava contribuições reflexivas aos mesmos e era pouco<br />

participativo, o fato de sua letra ser ilegível demostra o descaso para com o projeto.<br />

Por serem retornos de professores não comprometidos e sem disponibilidade<br />

para com o contemporâneo, não me aprofundarei nestes dois questionários e<br />

também não os identificarei por uma questão ética.<br />

23 FÓRUM TEATRO CONTEMPORÂNEO, I, 2007, São Paulo.<br />

66


Os outros professores que retornaram os questionários respondidos foram:<br />

Ana Maria dos Reis Martins - Jacareí<br />

Leda Maria dos Santos Belo – São José dos Campos<br />

Maria Adelaide Pires de Almeida Sasaqui – Jacareí<br />

Rosângela Fátima de Oliveira – Jacareí<br />

Sheila Guimarães Tosta - Jacareí<br />

Sônia Maria Clemente - Jacareí<br />

Stella Elia Martins - Jacareí<br />

Optei por apresentar esta análise a partir de cada pergunta do questionário e<br />

o que as respostas destes professores trazem para a pesquisa, de maneira<br />

comparativa.<br />

Na primeira questão, “Diga sua opinião sobre o uso de tecnologia em sala<br />

de aula”, procurei justamente colocar a tecnologia ainda separada da arte, para<br />

saber qual é a idéia que eles tem sobre o uso da tecnologia em sala de aula e<br />

subjetivamente acabei por encontrar também nestas respostas o que estes<br />

professores entendem por tecnologia.<br />

A resposta foi: Informática. Ao encontro com a hipótese do projeto que leva<br />

em conta a necessidade de atualização e inclusão digital em alguns casos, dos<br />

professores de arte da rede pública estadual de São Paulo, as respostas da primeira<br />

questão falam direta ou indiretamente sobre a informática. Apesar de deixar claro a<br />

liberdade de expressão para esta resposta, todos defendem o uso da tecnologia,<br />

mais especificamente da informática, em sala de aula.<br />

Ana Maria diz ser favorável ao uso da tecnologia e ressalta que a educação<br />

deve acompanhar a evolução do tempo – o que li como sendo a evolução da<br />

sociedade através dos tempos, uma vez que na seqüência ela fala do Brasil em<br />

relação aos outros países do mundo a respeito da digitalização de salas de aula e<br />

ainda coloca uma citação de Fernando José de Almeida onde ele defende que “As<br />

mudanças sociais e econômicas da informatização da sociedade, os impactos nos<br />

currículos e na formação dos professores são tarefas que devem andar juntas com o<br />

desenvolvimento da sociedade.”<br />

67


Acredita ela que o Brasil esteja atrasado com relação à outros países na<br />

cultura digital em sala de aula. Ela acertou seu palpite. Em entrevista para a revista<br />

“Nova Escola” o especialista em Mídia e Educação da Universidade Católica de<br />

Milão, Pier Cesare Rivoltella, diz que no Brasil ainda há muita resistência ao uso da<br />

tecnologia. Ressalta que esta resistência, na Europa, já foi superada, pelo menos no<br />

que diz respeito a computadores.<br />

Maria Adelaide acredita no uso da tecnologia em sala de aula fundamentando<br />

sua resposta no mercado de trabalho. Por ser uma professora experiente, que já foi<br />

inclusive diretora de escola, realizou algumas pesquisas e deste repertório retirou a<br />

base para as respostas de seu questionário. A resposta dela para esta primeira<br />

questão é uma redação de três laudas, onde inicia falando de desenvolvimento e<br />

conceito de globalização; surgimento de empresas multinacionais e a renovação<br />

constante de projetos e tecnologia. Com isso coloca a importância do indivíduo estar<br />

em constante atualização para conseguir se inserir no mercado de trabalho, e<br />

delega à escola a responsabilidade para tal:<br />

Devido a estas mudanças nos modos de produção e organização<br />

do trabalho na sociedade globalizada há exigência de um novo perfil de<br />

trabalhador quanto ao seu preparo e formação educacional levando a<br />

escola como instituição encarregada da educação formal a rever seus<br />

objetivos, programa, conteúdo e conseqüentemente a mudança de<br />

paradigmas e a rever seu projeto pedagógico.<br />

Faz algumas colocações a respeito dos aspectos que a escola deve mudar,<br />

em sua opinião, para educar o cidadão nesta sociedade globalizada. Uma delas é<br />

que a sala de aula deve ser um local de vivências e experimentações.<br />

Rosângela, muito mais sucinta que Maria Adelaide, também coloca a<br />

tecnologia em sala de aula como ponto positivo por levar justamente a vivências e<br />

experimentações.<br />

A tecnologia em sala leva o educando a vários tipos de<br />

conhecimentos com uma reflexão dinâmica constante para desenvolver o<br />

senso crtítico com vivências e experimentos.<br />

Sônia inicia sua resposta falando das dificuldades em se trabalhar cultura<br />

popular na escola. De uma forma um pouco confusa ela chega ao popular como<br />

68


sendo as produções culturais mais “familiares” ao educando, como as imagens<br />

publicitárias, quadrinhos, etc. Neste ponto é que entra a tecnologia (o computador)<br />

em sala de aula, em sua opinião.<br />

Os recursos tecnológicos promovem a aquisição do conhecimento,<br />

o desenvolvimento de diferentes modos de representação e de<br />

compreensão do pensamento. (…) Os computadores possibilitam<br />

representar e testar idéias ou hipóteses, que levam à criação de um mundo<br />

abstrato e simbólico, ao mesmo tempo que introduzem diferentes formas<br />

de atuação e interação entre as pessoas.<br />

Stella defende não só o uso da tecnologia em sala de aula, como também<br />

tratá-la como tema, para que a escola acompanhe a evolução tecnológica que<br />

ocorre fora dela.<br />

Sheila começa sua resposta com uma pergunta: “A tecnologia está presente<br />

em nossa vida diariamente em todos os setores, por que não estaria em sala de<br />

aula?” Esta é uma pergunta que eu também me faço às vezes. Tendo em vista a<br />

sociedade em que vivemos e o indivíduo “blip”, a pergunta de Sheila faz sentido.<br />

Incrível a coincidência pois ela ainda fala em arsenal tecnológico... sendo que a<br />

palavra arsenal tem sua definição intimamente ligada às armas, munições ou<br />

intrumentos de guerra, e a definição de “blip”, segundo SANTOS, é um indivíduo<br />

BOMBARDEA<strong>DO</strong> por tecnologia por todos os lados. No entanto Sheila traz à tona<br />

uma concepção de educação como transmissão de conhecimentos, ao passo que<br />

ela afirma:<br />

O arsenal tecnológico disponível deve ser usado de maneira a<br />

facilitar a transmissão e entendimento da matéria e mesmo mostrar<br />

imagens que tornem a aula mais agradável.<br />

Neste sentido, a tecnologia não traz uma nova concepção de aula para esta<br />

professora. Pois pensa a tecnologia como instrumento de transmissão de<br />

conhecimento. Esta concepção de professor como conhecedor, que mencionei no<br />

capítulo 1 em citação de HERNANDEZ, já deveria ter sido quebrada. Apesar dos<br />

debates e discussões sobre perspectivas contemporâneas na educação, o professor<br />

ainda leva consigo algumas idéias do ensino tradicional onde o aluno era<br />

69


considerado “tábua rasa” e o professor conhecedor, na escola, deveria enchê-lo de<br />

conteúdos. Como já foi constatado no capítulo 2 ao descrever a experiência de uma<br />

professora com o PHOTOSHOP, os alunos, na maioria das vezes, são mais<br />

conhecedores das tecnologias contemporâneas do que o professor.<br />

Então retorno à questão da inclusão digital e tecnológica de professores, e<br />

formação continuada.<br />

Maria Adelaide fala, ainda na resposta da primeira questão, sobre o<br />

computador e internet serem aliados para novos procedimentos educacionais e cita<br />

10 aspectos favoráveis ao uso da Informática em sala de aula. Um deles é: favorece<br />

um professor permanentemente bem preparado. Isso quer dizer que o professor,<br />

para se utilizar da informática em aula, deve se atualizar constantemente, tanto nos<br />

conteúdos de sua aula, como com a tecnologia com a qual está lidando. É a questão<br />

da formação continuada de professores.<br />

Rosângela também acredita que a tecnologia acaba “colocando o professor<br />

como mediador em constante reciclagem intelectual para atualização.”<br />

Em contrapartida, ao contrário da resposta de Sheila a respeito da<br />

transmissão de conhecimentos por meio da tecnologia, Ana Maria coloca justamente<br />

a idéia de que a utilização de tecnologia em sala de aula terá melhor efeito quando<br />

esta transmissão não for o foco no ensino:<br />

Os benefícios da integração da tecnologia são melhores<br />

percebidos quando a aprendizagem não é meramente um processo de<br />

transferência de fatos de uma pessoa para a outra, mas quando o objetivo<br />

do professor é delegar poderes aos alunos como pensadores e pessoas<br />

capazes de resolver problemas.<br />

Leda também acredita que o uso de tecnologia em sala de aula depende do<br />

comprometimento do professor e levanta a questão da estrutura escolar, quando diz<br />

que também é necessário a “vontade dos profissionais administrativos do grupo<br />

escolar”.<br />

Esta questão da falta de “vontade” dos profissionais da área da administração<br />

nas unidades escolares no que diz respeito à utilização dos recursos tecnológicos da<br />

70


escola, não é levantada apenas por Leda, e nem tão somente nas respostas da<br />

primeira questão. Sônia também fala sobre isso quando diz que o sistema<br />

educacional, que ela entende como inconsistente, que mostra a tecnologia, ao<br />

mesmo tempo cria dificuldades para sua utilização:<br />

O clima de euforia em relação à utilização de tecnologias em todos<br />

os ramos da atividade humana coincide com um momento de<br />

questionamento e de reconhecimento da inconsistência do sistema<br />

educacional, que nos mostra o caminho da tecnologia, mas que cria<br />

dificuldades enormes na sua execução devido às carências básicas. Por<br />

ex.: quando há computador está quebrado, ou inviável, ou está sendo<br />

reparado, daí chega o final do ano e o espaço que foi indicado não pode<br />

ser usado.<br />

Retornarei nesta questão mais adiante, ao abordar as respostas da pergunta<br />

4 do questionário, a respeito dos recursos que a escola oferece.<br />

Com a segunda pergunta, O que de Arte Contemporânea e tecnológica<br />

você se lembra de ter visto?, busquei um levantamento de quais as referências de<br />

arte contemporânea e tecnológica que estes professores possuíam, se é que<br />

possuíam.<br />

Ana Maria responde esta questão com uma única palavra: fotografia. Uma<br />

linguagem da arte existente desde o século XIX, a fotografia evolui e se mantém no<br />

mundo contemporâneo. No entanto, se a fotografia é a única referência desta<br />

professora, é um contato extremamente restrito com a arte contemporânea e<br />

tecnológica.<br />

Rosângela e Stella citam nesta resposta conceitos que parecem terem sidos<br />

copiados de um livro. Arte Cibernética, Arte Conceitual, Instalações, Performances,<br />

nada muito específico. Elas podem ter visto essas coisas em livros e revistas, mas<br />

talvez não tiveram o contato direto com obras de arte contemporâneas. Rosângela<br />

ainda cita um livro e uma revista, como referências de arte contemporânea para ela.<br />

Neste sentido, ela se torna um pouco pesquisadora da arte contemporânea, posição<br />

que defendo no arte educador na introdução desta dissertação.<br />

71


Leda, Maria Adelaide e Sheila vão além e contextualizam o que já viram em<br />

arte contemporânea, mostrando que de alguma forma também são frequentadoras<br />

de exposições. Leda cita a exposição da artista Marinélia Pirelli “Luz e Sombra”. Ela<br />

errou o local da exposição, mas uma falha cabível pelo perfil dos professores que<br />

moram fora da capital paulista. Disse que a exposição foi na OCA, quando na<br />

verdade foi no MAM. Ambos estão localizados no parque do Ibirapuera, e<br />

provavelmente no mesmo dia em que visitou a exposição no MAM, deve ter visitado<br />

também outra exposição na OCA, o que deve ter lhe confundido na hora de<br />

responder a pergunta.<br />

Sheila e Maria Adelaide citam visitas às Bienais e Maria Adelaide ainda ilustra<br />

seu comprometimento com a atualização constante ao colocar que lê publicações<br />

especializadas em arte e assina TV a cabo citando o canal SESC TV, por exemplo.<br />

Sônia foi uma das professoras que entregou o questionário após a visita ao<br />

FILE, e acabou por descrever nesta questão, as obras de arte com a qual fez<br />

contato durante a visita.<br />

Apesar das referências, a única professora que se lembra do nome da<br />

ARTISTA foi Leda.<br />

No entanto, a arte contemporânea possui esta característica mais coletiva do<br />

que autoral - como citado em material pedagógico fornecido e discutido pelos<br />

professores participantes do curso ENCONTROS COM A ARTE no MAM – e Maria<br />

Lúcia PUPOI 24 lembra que na arte contemporânea importa mais o processo que o<br />

resultado, é mais percepção e significação que vem do público, e não o que é dado<br />

como intenção do artista.<br />

24 FÓRUM TEATRO CONTEMPORÂNEO, I, 2007, São Paulo.<br />

72


Terceira pergunta: É possível trabalhar arte contemporânea e tecnológica<br />

em sala de aula?<br />

O primeiro passo é a atualização do professor na área da<br />

informática desde o manuseio do computador passando por novos<br />

programas, softwares, novidades em acessórios e cursos de<br />

aprofundamento. Como sugestão: a organização de cursos de capacitação<br />

específica de professores de arte para elaboração de projetos em Arte<br />

Digital, com orientação dos Núcleos de Informática das diretorias de ensino<br />

do estado de São Paulo; instruindo o manuseio com câmeras digitais e<br />

outros componentes. (…)<br />

Maria Adelaide Pires de Almeida Sasaqui<br />

Professora da Diretoria de Ensino de Jacareí, participante do <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong><br />

<strong>SABER</strong><br />

Mais uma vez a questão da formação continuada proposta pela própria<br />

professora. Porém, sempre que se fala em formação continuada se visualiza um<br />

curso, em sua maioria proposto pelo ESTA<strong>DO</strong>. E aí se cria a “muleta”. Se não há<br />

iniciativa governamental – no caso das escolas públicas – a maioria dos professores<br />

não se auto-questionam, não buscam o aperfeiçoamento profissional. Independente<br />

de qualquer ação externa, o professor deve buscar atualização constante, assim<br />

como outros profissionais o fazem: participação de congressos, produção artística<br />

própria, visitas constantes a mostras e exposições variadas (para que não se feche<br />

ao universo de um único evento ou museu), concertos, espetáculos, etc. Não é<br />

necessário que aconteça um “curso” – seja ele governamental ou de iniciativa<br />

privada, como podemos encontrar em algumas instituições e galerias. O educador<br />

tem de ter a preocupação de se apropriar de novos conteúdos e linguagens, para<br />

ser capaz de trabalhar com os mesmos em sala de aula.<br />

Stella apenas repondeu SIM à pergunta, sem especificar COMO esse<br />

trabalho pode se dar.<br />

Ana Maria e Rosângela afirmam esta possibilidade dando algumas sugestões<br />

de materiais para serem utilizados neste trabalho e quais resultados podem obter<br />

(videoclipes, montagens fotográficas, criação de música por meio do computador,<br />

etc.). Ana Maria ainda narra a experiência de criação de uma revista eletrônica com<br />

seus alunos, mostrando já ter se colocado em contato com algum tipo de tecnologia<br />

em sala de aula.<br />

73


Sônia traz em sua resposta novamente a questão da estrutura escolar<br />

dificultando o trabalho, a assim como Maria Adelaide afirma existir a necessidade de<br />

uma preparação do professor (e ela ainda diz que o aluno também precisa ser<br />

preparado) para utilização da tecnologia. No entanto, a maneira como ela coloca,<br />

deixa subentendido que esta preparação do professor é responsabilidade alheia a<br />

ele. O professor deve “ser preparado” e não “preparar-se” para o trabalho com arte<br />

contemporânea e tecnológica – e mais uma vez fazendo menção ao uso de<br />

computadores:<br />

Enquanto o laboratório de informática não for aberto e preparados<br />

professor e aluno para efetiva e capaz atuação, fica cada vez mais adiada<br />

esta possibilidade.<br />

Contraditoriamente com essa fala que nega a possibilidade do trabalho com<br />

arte contemporânea e tecnológica em sala de aula, Sônia afirma ter trabalhado com<br />

seus alunos a montagem de clipes em computador e apresentados em dvd. Porém o<br />

trabalho foi realizado em casa pelos alunos com o auxílio de seus pais. Isso, a meu<br />

ver, não tira o mérito da iniciativa. Mas o que Sonia defendeu é que a escola deve<br />

também oferecer recursos tecnológicos para que ela possa orientar de perto a<br />

confecção destes trabalhos.<br />

Sheila, ao responder esta questão, demonstra mais uma vez o que pensa ser<br />

uma atuação do professor com relação ao seu aluno. Ao dizer que a escola onde ela<br />

trabalha possui sala de informática e que ela já fez uso da mesma para “ mostrar as<br />

obras de arte que consegui fotografar na bienal” traz novamente a idéia do professor<br />

conhecedor que vai transmitir conhecimento ao aluno. Ela também levanta a<br />

questão que as escolas públicas sofrem limitações “de ordem econômica” - o que<br />

eu entendo que é não possuir equipamentos adequados para o trabalho com<br />

tecnologia. E cita um trabalho que realizou com os alunos utilizando um programa<br />

gráfico para a construção de desenhos com “linhas e formas abstratas ou<br />

figurativas”.<br />

74


Leda afirma ser possível o trabalho em sala de aula com arte contemporânea<br />

e tecnológica, mas que isso depende do comprometimento do professor. É<br />

interessante verificar que Leda, ao contrário da maioria, ao falar do<br />

comprometimento do professor, acaba por colocar a responsabilidade da formação<br />

continuada, a busca constante pelo novo e de como trabalhar isso, nas mãos do<br />

mesmo. Em todos os questionários respondidos, o professor fica em terceira<br />

pessoa. No entanto Leda traz este comprometimento que tanto defende em suas<br />

respostas para o seu trabalho, posto que foi a única a apresentar todos os trabalhos<br />

solicitados – é dela o único retorno da prática em sala de aula com os conceitos<br />

trabalhados durante o curso.<br />

Sua escola oferece quais recursos para o trabalho em sala de aula?<br />

De uma maneira geral todas as professoras, exceto Sônia, afirmaram que<br />

suas escolas oferecem alguns recursos tecnológicos básicos para o trabalho em<br />

aula: TV, DVD, Computadores, Máquina fotográfica, filmadora, retroprojetor,<br />

aparelho de som, e por vezes até impressora e escaner.<br />

Sônia diz que sua escola não oferece recursos para o trabalho do professor<br />

em aula, no que diz respeito à arte e tecnologia. No entanto é uma afirmação<br />

contraditória, uma vez que na resposta da questão 3 diz que os trabalhos<br />

desenvolvidos pelos alunos em suas casas foram apresentados à ela na TV, então a<br />

própria TV já é um recurso que a escola onde ela leciona oferece e está disponível<br />

ao professor.<br />

Já alguns professores falam novamente da questão da administração escolar.<br />

Stella diz que não tem acesso ao aparelho de DVD de sua escola. Leda também<br />

afirma que a escola possui recursos mas que a diretoria os guarda “a sete chaves” e<br />

o professor não tem acesso.<br />

É fácil afirmar que a escola pública não oferece recursos financeiros,<br />

tecnológicos e outros detalhes que são senso comum na fala de muitos professores<br />

da rede pública estadual de São Paulo. Mas como mostram as respostas destes<br />

questionários, e minha própria e curta experiência docente (lecionei em 6 escolas<br />

diferentes na região leste da cidade de São Paulo) todas as escola fornecem algum<br />

75


tipo de recurso tecnológico. A administração escolar, por vezes, dificulta o acesso a<br />

estes recursos e isso pode ter variadas explicações. No entanto este não é o foco de<br />

minha pesquisa. Cabe talvez ao professor a busca de uma maneira de entender os<br />

mecanismos burocráticos da sua unidade escolar e ganhar o espaço para a<br />

utilização destes recursos.<br />

quê?<br />

Você se sente seguro a trabalhar com tecnologias em sala de aula? Por<br />

O Pós-modernismo propõe uma visão social, pessoal e intelectual bem<br />

diferentes [do modernismo]. Sua visão intelectual baseia-se não na certeza<br />

positivista e sim na dúvida pragmática, a dúvida que vem de qualquer<br />

decisão que não se baseia em termos metanarrativos, mas na experiência<br />

humana e na história local. A aceitação desta situação (perturbadora)<br />

provavelmente nos faz sentir medo, mas também nos proporciona um<br />

motivo para negociarmos melhor conosco, com nossos conceitos, nosso<br />

meio ambiente, com os outros. A perda da certeza encoraja, se é que não<br />

nos leva a dialogar e a comunicar-nos uns com os outros. 25<br />

De uma maneira geral, a insegurança para o trabalho com tecnologia em aula<br />

foi percebida nas respostas desta pergunta. Como <strong>DO</strong>LL afirma na citação acima, o<br />

momento do pós-modernismo (ou contemporâneo) é justamente pautado na não<br />

certeza. É mais pautado na experiência e isso gera uma sensação de insegurança.<br />

As professoras sugerem cursos de capacitação a atualização mais uma vez,<br />

para se sentirem seguras no trabalho com a tecnologia e reforçam a necessidade de<br />

colaboração da administração da escola.<br />

De qualquer forma, uma vez que a arte contemporânea é mais processo que<br />

resultado, segundo PUPO, conforme já foi citado antes, e a incerteza é uma<br />

característica do contexto contemporâneo, segundo <strong>DO</strong>LL, talvez a chave do<br />

sucesso em se trabalhar arte contemporânea e tecnológica em sala de aula seja<br />

25 <strong>DO</strong>LL Jr., William E. (1997). Currículo: uma perspectiva pós-moderna. Porto Alegre: Artes Médicas<br />

Sul, L.da<br />

76


justamente a experimentação, do professor com seus alunos, no esforço da fruição<br />

de obras de arte contemporâneas e tecnológicas, e de utilização de novos recursos<br />

para a criação artística em aula. Reforçando essa perspectiva da experimentação<br />

em aula, já foi afirmado em resposta a outras perguntas, pelas professoras<br />

participantes da pesquisa, que a sala de aula no contexto contemporâneo deve ser<br />

um espaço de vivências e experimentações.<br />

A única professora que afirmou, sem nenhum complemento, ter segurança<br />

para trabalhar com tecnologia em sala de aula foi Stella. Não coloca o porquê, como<br />

está elucidado na pergunta para ser respondido. Portanto, não considerei esta<br />

resposta para análise.<br />

educação?<br />

Qual o sentido (finalidade) da Arte Contemporânea e da Tecnologia na<br />

Curiosamente apenas 4 das 7 professoras escolhidas, responderam esta<br />

questão. Foram elas: Maria Adelaide, Rosângela, Sônia e Stella.<br />

Maria Adelaide e Rosângela vêem o sentido de acompanhar a evolução da<br />

sociedade; desenvolvimento de novas habilidades e interatividade.<br />

Outra finalidade que Maria Adelaide cita é a ampliação de visão de mundo<br />

sobre a Arte e suas possibilidades, e novamente fala sobre mercado de trabalho.<br />

Stella diz que a tecnologia além de suporte da arte é também contexto para<br />

alguns alunos. Se encararmos o indivíduo na sociedade contemporânea como um<br />

BLIP 26 , ela acerta em dizer que a tecnologia está no contexto de seus alunos. Mas<br />

ela mesma não se inclui neste contexto na resposta, apesar de também ser um<br />

indivíduo que vive na sociedade contemporânea.<br />

26 SANTOS, Jair Ferreira dos O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Coleção Primeiros<br />

Passos; 165).<br />

77


Fazendo um apanhado geral das respostas obtidas nestes 7 questionários, o<br />

que pôde ser verificado:<br />

- A informática é a principal referência em tecnologia para estes professores.<br />

Apesar do pouco contato com a mesma, é o meio que percebem mais próximo ao<br />

trabalho em sala de aula;<br />

- A maioria dos professores citam dificuldades de acesso aos equipamentos<br />

tecnológicos que a escola pode oferecer – seja por defeito, má “vontade” dos<br />

funcionários da escola ou por excesso de zêlo;<br />

- Indicam necessidades de mais cursos de capacitação, atualização,<br />

formação continuada, vindos da secretaria da educação;<br />

- Possuem algum tipo de contato com arte contemporânea e tecnológica, mas<br />

demonstram insegurança em trabalhar com isso em aula;<br />

- Acreditam que a escola deve acompanhar a evolução tecnológica, aceitam<br />

trabalhar com arte contemporânea e tecnológica em aula, mas ainda não sabem ao<br />

certo como fazer isso.<br />

Pensando neste último item, podemos partir para como duas professoras<br />

pensaram em um plano de aula após a visita ao FILE.<br />

78


Planos de aula e resultados<br />

Algumas idéias de plano de aula – que vieram à tona informalmente nas falas<br />

das professoras a partir do que viram na visita ao FILE - resumiu esta experiência<br />

apenas a uma apropriação temática, e não pensando tecnologia também como<br />

suporte e material de trabalho para a arte contemporânea. Daí a insegurança<br />

perante o novo.<br />

Como já foi citado anteriormente, duas professoras apresentaram planos de<br />

aula e dessas duas, apenas uma apresentou os resultados obtidos com a execução<br />

deste plano de aula.<br />

As professoras que apresentaram os planos de aula foram: Eunice da Silva<br />

Lira e Leda Maria dos Santos Belo – ambas da diretoria de Ensino de São José dos<br />

Campos.<br />

Uma Janela para a Arte - FILE<br />

(plano de aula de Eunice da Silva Lira)<br />

Eunice trouxe um plano de aula que ela denominou como “<strong>UMA</strong> JANELA<br />

PARA A ARTE – FILE”. Vou me ater inicialmente a descrição de como foi redigido<br />

este plano de aula, para posteriormente comentá-lo.<br />

Eunice inicia seu plano de aula com uma breve descrição do FILE 2005 -<br />

encontrado no site do festival - e apenas cita como destaque 3 obras da exposição<br />

(sem descrevê-las): SILVERFISH STREAM (Constança Silva – Canadá); LES<br />

ETERNELS (Jean-Marc Munerelle – França) e METAMORFS (Tim Coe –<br />

Alemanha).<br />

Ao falar do que será desenvolvido afirma que a técnica (como ela coloca) de<br />

outra obra do FILE – PANORAMA – será aproveitada para se trabalhar com arte<br />

contemporânea em sala de aula.<br />

79


Enuncia 4 atividades:<br />

I – Navegar pelo site do Projeto Portinari “Viagem ao Mundo de Candinho”<br />

II – Vivência a partir do que ela chama de “Leitura formal e interpretativa” de<br />

uma obra de Almeida Júnior onde Pedro Alexandrino está representado e parece<br />

“rasgar” a tela.<br />

III – Atividade de fotocolagem a partir da concepção temática da obra<br />

METAMORFS do FILE.<br />

IV – Montagem de instalação e vivência das paisagens ao redor da escola<br />

partindo da idéia da obra PANORAMA do FILE.<br />

Ainda no mesmo plano diz que vai colocar os alunos em contato com obras<br />

de outros artistas contemporâneos como Rita Barros, Keila Alaver, Alex Flemming e<br />

cita um poema de Gonçalves Dias.<br />

Após as descrições das atividades propostas coloca mais três itens:<br />

Metodologia, Justificativa e Bibliografia. Na Bibliografia apenas 3 títulos:<br />

“Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte” de Ana Mae Barbosa; “Espelho de<br />

Artista” de Kátia Canton e o site do FILE.<br />

aula:<br />

Metodologia e Justificativa transcrevo abaixo tal como ela colocou no plano de<br />

Metodologia: Apreciação e leitura de obra de arte. Pesquisa e<br />

visitas as salas dos museus virtuais. Descrição e análise do Museu Virtual.<br />

Ex: Projeto Portinari, especialmente a página “Viagem a Mundo de<br />

Candinho”, uso de ilustrações, animações, vídeos e recursos sonoros,<br />

interatividade por meio de jogos.<br />

Justificativa:<br />

A dificuldade do professor com a Arte Contemporânea e a falta de<br />

materiais na sala de aula por falta de um planejamento e crédito no<br />

trabalho do professor. Orientar para o uso do computador como<br />

ferramenta.<br />

O resultado não tenho ainda, preciso de um tempo para realizar o<br />

projeto.<br />

Optei em iniciar os comentários pela Justificativa. Eunice não justifica seu<br />

plano de aula (a sua importância, o porquê deve ser realizado na escola). Ela afirma<br />

existir alguns problemas para a realização do trabalho do professor com arte<br />

contemporânea. E ainda “cobra” uma orientação para o uso do computador. Justifica<br />

80


apenas a não mostra de resultados por conta da falta de tempo para a execução do<br />

mesmo. Mas este não é o maior dos problemas de seu plano de aula. No plano de<br />

aula primeiro surgem as descrições das atividades a serem realizadas e depois a<br />

metodologia que fica limitada ao projeto Portinari e à visitas a outros “museus<br />

virtuais”. No entanto as atividades descritas mostram outras metodologias e<br />

procedimentos além da leitura e apreciação de obras. (mesmo que de maneira<br />

virtual). As atividades que ela propõe são muito mais focadas no trabalho plástico<br />

prático. Na atividade I onde é proposta a visita ao site do projeto Portinari “Viagem<br />

ao mundo de Candinho”, a tecnologia (informática) é utilizada, mas não como<br />

suporte de criação e sim como meio para o ensino-aprendizagem. Além de trabalhar<br />

com um artista não contemporâneo. Na Atividade II ela propõe que a partir da leitura<br />

de uma obra (também não contemporânea de Almeida Júnior) os alunos vivenciem a<br />

experiência de passar por uma tela, rasgando-a e que este momento seja registrado<br />

por meio de fotos, desenhos e redigindo sobre tal experiência. Uma releitura ou<br />

recriação dessa obra. Tal procedimento pode ser considerado contemporâneo uma<br />

vez que gera uma reflexão da obra por outros suportes e vivências. Na Atividade 3<br />

Eunice se apropria da obra METAMORFS do FILE 2005.<br />

As partes I a III da série em progresso METAFORMS têm como tema<br />

abelhas, peixes e o artista, respectivamente. Em cada um dos loops de 60<br />

segundos, o tema aparece primeiro em tela cheia, mas, através de um<br />

constante e lento zoom-out, torna-se uma massa de sujeitos semelhantes<br />

que começam a agir como "pixels" da imagem inicial. Os loops não têm<br />

realmente começo ou fim, e embora os movimentos da "câmera"<br />

permaneçam constantes, o espectador é forçado a trocar entre perceber os<br />

detalhes individuais e a imagem maior que surge em metanível. O ponto<br />

em que essa mudança ocorre é decidido individualmente.<br />

BIOGRAFIA<br />

Tim Coe nasceu em 1963 em Blackpool, Inglaterra. Mudou-se para<br />

Londres em 1984 para estudar Filosofia. Depois de estudar audiovisual e<br />

animação, ele foi co-fundador da produtora Chromatose Films, fazendo<br />

vídeo-clipes para os músicos da cena independente de Londres, além de<br />

produzir filmes e vídeos para eventos e exibições. Em 1995 mudou-se para<br />

Berlim onde continua a fazer pequenos filmes, vídeos e vídeo instalações. 27<br />

27 FILE 2005. Instalações. File. São Paulo, 2005. Disponível em Acessado em<br />

15/05/2007<br />

81


Figuras 12 e 13 – METAMORFS . FILE. São Paulo, 2005. Fotos: Douglas Garcia.<br />

Disponível em <br />

Apropriando-se desta concepção do artista da parte no todo e o todo na parte,<br />

nesta atividade Eunice propõe um trabalho de fotocolagens ainda sem passar pela<br />

tecnologia.<br />

Na atividade 4, a mesma apropriação temática acontece ao propor a<br />

instalação com montagem fotográfica das paisagens. (utilizando interior de caixas ou<br />

formas cilíndricas penduradas ao teto). No entanto os alunos devem sair para<br />

fotografar essas paisagens e depois de impressas as fotos, montarem a colagem<br />

para a instalação. Tal atividade foi inspirada nos PANORAMAS (já citados nesta<br />

dissertação) expostos no FILE 2005.<br />

Em nenhum momento do planejamento está descrito como e quando os<br />

artistas contemporâneos citados ao final serão trabalhados. Também não é<br />

explicitada forma de avaliação. Outro detalhe é que 4 obras do FILE são citadas no<br />

início do plano de aula, porém apenas duas são utilizadas no planejamento.<br />

Nenhuma delas é descrita nem seus destaques e escolhas são justificados.<br />

Por fim, a poesia de Gonçalves Dias que fica descontextualizada dentro do<br />

plano de aula.<br />

82


O que se pode deduzir ao ler tal planejamento é que a professora aproveitou<br />

algumas atividades que lhe são “confortáveis” para se trabalhar em sala de aula –<br />

provavelmente propostas que chegam até as diretorias de ensino (como o trabalho<br />

com o site do projeto Portinari) – e mesclou com algumas idéias surgidas durante a<br />

visita ao FILE para dar mais conteúdo ao plano. O resultado é um plano de aula com<br />

muitas referências e atividades propostas, a partir de diversas obras muito diferentes<br />

umas das outras e por vezes nem trabalhando no contexto contemporâneo.<br />

O plano de aula apresenta problemas na redação e clareza de objetivos. Um<br />

fator preocupante, se levado em consideração, é que esse plano de aula foi redigido<br />

por uma professora que na época era ATP (Assistente Técnico Pedagógica –<br />

responsável pelo direcionamento do trabalho das outras professoras de arte da<br />

região) da diretoria de ensino de São José dos Campos. A dificuldade de estruturar<br />

o trabalho pautado em processos de criação contemporâneos e a partir de um<br />

projeto escrito não é só de Eunice.<br />

Conforme citação já transcrita nesta dissertação, o Curso proposto ao Teia do<br />

Saber, do qual as professoras aqui citadas participaram, propõe um<br />

aperfeiçoamento da leitura e escrita dos professores participantes e afirma haver<br />

dificuldades no desenvolvimeto sistemárico das atividades práticas. O Plano de<br />

Eunice (apenas o projeto, mesmo sem os resultados práticos) evidencia essas<br />

dificuldades na escrita e planejamento de atividades para aula de arte.<br />

Possivelmente tais atividades nem foram levadas à prática, porém se foram, a<br />

professora pode ter constatado as falhas em seu planejamento – uma vez que ao<br />

levar um plano de aula confuso para a prática os problemas se evidenciam na sua<br />

execução e ela repensaria a escrita e o desenvolvimento dos seus próximos<br />

planejamentos focando menos atividades em um determinado assunto, auxiliando<br />

para a melhora de sua atuação enquanto educadora.<br />

83


Belo)<br />

Arte e Tecnologia<br />

(plano de aula e resultados apresentado por Leda Maria dos Santos<br />

O Plano de aula de Leda é dividido em 5 partes: Sinopse, Justificativa,<br />

Metodologia, Conclusão e Referência Bibliográfica. O item Metodologia foi<br />

subdividido em: Tema, Explanação, Questionamento, Proposta, Avaliação, sendo<br />

que ela indica a proposta triangular como “metodologia” (assim assumida por ela) de<br />

todo o trabalho.<br />

De forma mais organizada e clara que o plano de Eunice, Leda propõe uma<br />

única atividade: trabalhar no programa paint do computador com imagens<br />

escaneadas de objetos variados. Pela escrita foi possível notar que o plano de<br />

trabalho só foi efetivamente redigido após a realização do mesmo; ou seja, a prática<br />

veio antes da redação do projeto. Já na sinopse apresentada no início do plano de<br />

trabalho Leda descreve o processo no passado, como algo que já ocorreu:<br />

A atividade com o uso da tecnologia realizada pelos alunos do<br />

Ensino Médio foi desenvolvida a partir do uso de um escaner, um<br />

computador e do programa Paint, onde foram experimentados novas<br />

possibilidades na elaboração e representação artística. Este trabalho foi<br />

realizado a partir de uma brincadeira onde os alunos em posse de uma<br />

máquina digital começaram a retratar partes do corpo, registrando uma<br />

imagem que dava margem a interpretação de algo inusitado nada tendo a<br />

ver com a imagem original. Foi a partir daí que propus a cada aluno que<br />

escaniassem um objeto diferente (folha de planta, talher, lápis, etc...) e<br />

que trabalhássemos a imagem no programa Paint. 28<br />

O Plano de Leda, na verdade, se transformou em um relatório de atividades<br />

onde o plano estava inserido. Uma devolutiva dos resultados obtidos incluindo<br />

algumas imagens trabalhada pelos alunos.<br />

No item “Justificativa” Leda busca elucidar que seu trabalho está de acordo<br />

com o que propõe os Parâmetros Curriculares Nacionais.<br />

28 Plano de aula apresentado por Leda Maria dos Santos Belo<br />

84


De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais o<br />

Conhecimento de Arte deve Consolidar e profundar os conhecimentos já<br />

adquiridos inclusive os estéticos, preparando assim o educando para o<br />

mundo do trabalho e o exercício pleno da cidadania, desenvolvendo a<br />

capacidade de articular conceitos, procedimentos e valores ao exercitar as<br />

competências do fazer, fruir e refletir sobre arte, através das práticas<br />

artísticas e estéticas em música, artes visuais, dança, teatro, artes<br />

audiovisuais, além das articulações com as linguagens da área<br />

Linguagens, Códigos e suas tecnologias.<br />

Desta forma este trabalho tem por objetivo desenvolver no jovem a<br />

consciência de uma sociedade multicultural e compreender sua dimensão<br />

sócio-histórica explorando novas tecnologias e seu potencial criador e<br />

imaginativo. 29<br />

Ao chegar na METO<strong>DO</strong>LOGIA, voltamos à questão já citada neste projeto: os<br />

professores de arte lidam com a proposta Triangular de Ana Mae Barbosa como<br />

receita pronta. Vou transcrever exatamente como está o início da metodologia<br />

descrita poe Leda em seu plano, pois até a forma como é disposta confirma esse<br />

ponto de vista:<br />

METO<strong>DO</strong>LOGIA<br />

TRIANGULAR: Fazer, Fruir e refletir. 30<br />

Mesmo aberta ao contemporâneo, e com uma proposta de utilização da<br />

tecnologia como suporte criativo, ainda está cristalizada a visão da proposta<br />

triangular como METO<strong>DO</strong>LOGIA para o ensino da arte. Sem contar que a<br />

abordagem triangular proposta por Ana Mae BARBOSA, trabalha com o Fazer<br />

artístico, Leitura de Obra e Contextualização. Da forma como Leda coloca, a<br />

contextualização não fica evidente. De qualquer forma, essa visão percebida na<br />

redação do plano de aula não reduz a experiência a algo sem valor, uma vez que o<br />

trabalho desenvolvido foi um esforço válido da professora e a única que trouxe<br />

resultados práticos.<br />

Ao abordar o item Explanação, Leda escreve como se falasse com os<br />

alunos, como se estivesse transcrevendo sua fala em sala de aula. Cita também<br />

algumas reações dos alunos perante tal “explanação” e escreve um pouco sobre sua<br />

visão de Arte Conceitual:<br />

29 Idem 28<br />

30 Idem 28<br />

85


Vocês se lembram das fotos tiradas pelos colegas com a máquina<br />

digital? Elas apresentam uma poética pessoal de que fotografou, são<br />

partes do corpo tiradas tão próximas que dão margem a diversas<br />

interpretações quanto a imagem. As fotos são bonitas? Alguns acham que<br />

sim, outros não.<br />

Isso é Arte Contemporânea, é Arte Conceitual. Na Arte Conceitual a<br />

ideia com conceitos é essencial, enquanto que a experiência visual é um<br />

componente secundário, é uma forma de libertação das maneiras e<br />

materiais tradicionais de se fazer uma obra. Vale procedimentos de toda a<br />

espécie como o uso de Multimeios como fotografia, vídeo e computador...<br />

(Explicar as diferentes formas que os artistas Contemporâneos utilizam-se<br />

de multimeios para representar um tema, enfatizar o contexto social e<br />

histórico e que o artista esta inserido. Apresentar ilustrações de arte<br />

fotográfica e a fotografia em P&B de cor sobre papel da fotografa de<br />

Claudia Jaguaribe).<br />

Não aprofundarei a discussão sobre Arte Conceitual, pois este não é o foco<br />

desta pesquisa. No entanto voltarei a visão de Leda sobre Arte Conceitual mais<br />

adiante, ao comentar a avaliação deste plano de aula.<br />

No item Questionamentos, Leda volta a colocar as perguntas que direcionou<br />

aos alunos durante a aula, em uma espécie de mediação com as fotos<br />

apresentadas. A partir deste contato mediado com a arte da fotografia<br />

contemporânea, Leda traz no item proposta, a descrição da atividade que<br />

desenvolveu com seus alunos, a atividade central de seu plano de aula:<br />

1. Utilizando a linguagem Tecnológica, escaneie uma imagem inusitada e<br />

faça uma montagem usando multimeio, programa Paint no computador.<br />

2. Apresente a imagem criada para o restante da turma e fale sobre ela.<br />

Qual o material você escaneou? Por que você o escolheu? Como<br />

surgiu as primeiras ideias? O resultado final é a concretização da<br />

primeira ideia? Você teve dificuldade para utilizar os materiais<br />

propostos? 31<br />

Na Avaliação que ela propôs os alunos falaram sobre como foi a idéia para a<br />

criação daquela imagem, os caminhos percorridos para tal, recursos utilizados. A<br />

idéia, o conceito da obra, foi um dos fatores relevantes para avaliação dos<br />

resultados deste plano de aula. A visão que Leda deu para Arte Conceitual diz<br />

respeito à importância do processo de criação, a idéia original do aluno, suas<br />

explicações para o resultado final. Porém é complicado definir exatamente quais<br />

obras podem ser consideradas obras de Arte Conceitual.<br />

31 Idem 28<br />

86


Devido à grande diversidade, muitas vezes com concepções<br />

contraditórias, não há um consenso que possa definir os limites precisos do<br />

que pode ou não ser considerado como arte conceitual. 32<br />

No entanto, apesar de ter esse ponto de partida pelo conceito da obra, Leda<br />

não abandona a concepção da imagem pela visão estética. Isso fica claro quando<br />

ela escreve ainda na avaliação que confrontou os resultados das imagens criadas.<br />

Afirma avaliar o que ela denomina de “imagens poéticas” ou o “modo único, especial<br />

e particular que cada um retratou e trabalhou na imagem”. Esse dito confronto é uma<br />

comparação entre as imagens criadas, e neste momento o conceito não é o mais<br />

importante e sim a imagem em si; o resultado estético. Mas se levado em conta que<br />

essa estética foge das “maneiras e materiais tradicionais de se fazer uma obra” –<br />

lendo tradicional como a arte e suas técnicas até o modernismo – pode-se<br />

considerar que o projeto de Leda trabalhou com Arte Contemporânea e Conceitual.<br />

Antes de comentar a conclusão redigida por Leda para a prática de seu plano<br />

de aula, apresento algumas imagens resultantes desta experimentação artística:<br />

32 Enciplopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Arte Conceitual. Disponível em:<br />

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_te<br />

xto&cd_verbete=3187. Acesso em 15/12/2007.<br />

87


Figuras 14 e 15: Imagens criadas pelos alunos do Ensino Médio<br />

de Leda Maria dos Santos Belo, a partir do programa Paint.<br />

São José dos Campos. 2005.<br />

88


Figuras 16 e 17: Imagens criadas pelos alunos do Ensino Médio<br />

de Leda Maria dos Santos Belo, a partir do programa Paint.<br />

São José dos Campos. 2005.<br />

89


Figuras 18 e 19: Imagens criadas pelos alunos do Ensino Médio<br />

de Leda Maria dos Santos Belo, a partir do programa Paint.<br />

São José dos Campos. 2005.<br />

Estas foram as imagens apresentadas por Leda e criadas por alguns de seus<br />

alunos. No projeto não está justificada a escolha destas imagens, apenas cita que<br />

ela os selecionou, sem apresentar quais foram os critérios desta escolha.<br />

90


Eu poderia realizar uma leitura e análise formal destas imagens, mas optei<br />

por não fazê-la, uma vez que a ênfase está no processo de criação das imagens e o<br />

que está em jogo nesta pesquisa é o esforço do professor em trabalhar com<br />

linguagens contemporâneas e tecnológicas da arte em sala de aula. O foco principal<br />

é o trabalho do professor e não dos alunos.<br />

Na conclusão apresentada por Leda para seu trabalho, ela parece satisfeita<br />

com os resultados, mas especifica as dificuldades enfrentadas tanto com materiais e<br />

equipamentos – nem todos os alunos puderam realizar individualmente este trabalho<br />

por falta de recursos tecnológicos na escola, ex: apenas um scaner disponível para<br />

a aula - como com a aceitação da proposta pelos alunos. Em um primeiro momento<br />

houve o estranhamento dos alunos perante as imagens criadas (mesmo<br />

estranhamento inicial dos professores ao receberem a proposta para se trabalhar<br />

arte contemporânea e tecnológica em sala de aula), bem como uma não satisfação<br />

com os resultados obtidos. Leda afirma que isso se deve ao fato de que “fazemos<br />

parte da cultura que valoriza o belo”. As imagens não saíram exatamente como eles<br />

pensaram, mas importante ressaltar que são resultado da transformação e da<br />

experimentação da tecnologia (ainda que simples, mas não deixa de ser um esforço<br />

de Leda nesta direção) como suporte para criação artística.<br />

É também apontado na conclusão que os alunos de Leda já eram<br />

familiarizados com a informática. No entanto utilizada na maioria das vezes para fins<br />

de diversão.<br />

Leda encerra seu plano afirmando:<br />

Ao final deste projeto concluí que é necessário trabalharmos mais<br />

com Arte Contemporânea e suas tecnologias, pois a arte do nosso século<br />

ainda é vista com estranheza por nossos alunos.<br />

É importante lembrar que Leda Maria dos Santos Belo foi a única professora,<br />

entre os 60 inscritos para o Curso, que efetivamente apresentou os resultados de<br />

um esforço realizado, a partir da proposta desta pesquisa, de se trabalhar arte<br />

contemporânea e tecnológica em sala de aula. Apesar de um resultado ainda<br />

91


idimensional (mesmo que virtual), houve essa iniciativa, um passo na direção deste<br />

trabalho. E Eunice, apesar dos problemas apontados na estruturação do seu plano<br />

de aula, apontou para o contemporâneo quando propôs vivências e instalações,<br />

saindo do convencional ainda que sem o uso da tecnologia como suporte para a<br />

criação artística.<br />

Mesmo com apenas um único retorno prático apresentado, (levando em conta<br />

as diversas justificativas que poderiam ser dadas pelos outros 59 participantes) essa<br />

experiência mostra que o trabalho com arte contemporânea e tecnológica em sala<br />

de aula é possível. No entanto ainda há um prazo de tempo indefinido para que isso<br />

ocorra em maior escala, para a aceitação tanto dos alunos como do esforço dos<br />

professores nesta direção. Pois se os alunos de Leda chegaram a afirmar que<br />

aquelas imagens não eram arte, é porque em algum momento aprenderam com<br />

outro professor de arte, ou até mesmo com ela em um tempo anterior, que a arte<br />

está relacionada com alguns conceitos como o Belo. É preciso que outros<br />

professores tomem a mesma iniciativa de Leda em se “aventurarem” pelo mundo da<br />

arte contemporânea e tecnológica para que possa levar junto consigo seus alunos<br />

para esta aventura. Entender e vivenciar a arte de seu tempo.<br />

Voltamos então ao ponto onde afirmo que o arte educador deve estar em<br />

constante atualização e buscar não só cursos e iniciativas governamentais, como o<br />

Teia do Saber, mas ser o ator protagonista que toma as atitudes de sua própria<br />

história.<br />

(…) é fundamental que o educador seja agente de sua formação,<br />

de maneira ativa e consciente, da mesma forma que sua prática e reflexão<br />

não podem se restringir apenas à sua sala de aula, sendo necessário que<br />

este educador se nutra tanto de teorias como de experiências de outros<br />

profissionais, como também divulgue suas experiências, contribuindo para<br />

uma reflexão coletiva. 33<br />

33 ORLOSKI, Erick. Diálogos e reflexões com educadores: A instituição cultural como potencialidade<br />

na formação docente. Dissertação de Mestrado. IA – UNESP: São Paulo, 2005.<br />

92


Capítulo 4 – Desatando<br />

(ou não) os Nós:<br />

Considerações Finais<br />

93


Capítulo 4 – Desatando (ou não) os Nós: Considerações Finais<br />

A visão modernista era que a princípio há uma forma correta para se<br />

entender uma obra de arte. A visão contemporânea é a de que podem<br />

haver muitas formas significativas. 34<br />

Na citação acima, de PARSONS (1998), o ensino de arte pela perspectiva<br />

contemporânea passa pelas diversas possibilidades interpretativas de uma obra e as<br />

significações que as mesmas podem gerar no indivíduo.<br />

Retomando o problema principal desta dissertação, “O artista educador:<br />

necessidade de atualização e formação continuada (inclusão digital em alguns<br />

casos) dos profissionais do ensino de arte para trabalhar com arte contemporânea e<br />

tecnológica”; e a verificação de como um determinado grupo de professores se<br />

relaciona com a arte contemporânea e tecnológica, faço aqui as considerações finais<br />

sobre este trabalho.<br />

Na introdução cito minha experiência enquanto participante de um curso de<br />

formação continuada de professores de arte o ENCONTROS COM A ARTE NO<br />

MAM. Tendo em vista minha habilitação em Artes Cênicas, este curso me colocou<br />

em contato com o universo das artes visuais e do contemporâneo. Com isso, percebi<br />

o quanto foi importante este curso e este pontapé inicial que ele gerou, servindo<br />

inclusive, como um dos motes desta pesquisa. Anuncio meus anseios em multiplicar<br />

essas mudanças conceptivas que este curso gerou em mim, a partir de uma<br />

intervenção que faria no curso “Estruturação da linguagem expressiva: o fazer e o<br />

saber criativo” do <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong>. Penso que a prática do educador é fundamental<br />

em um processo de pesquisa, e ao longo deste trabalho procurei fazer um paralelo<br />

de minha experiência, tanto como artista contemporânea que participou de uma das<br />

edições do FILE – um dos fatores que influenciaram na escolha deste evento para o<br />

contato mais aproximado dos professores desta pesquisa com obras de arte<br />

contemporâneas e tecnológicas – quanto como arte educadora que teve sua prática<br />

em sala de aula transformada após ter participado de um curso de formação<br />

continuada.<br />

34 PARSONS, Michael J. Trad. PADILHA, Jorge e BARBOSA, Ana Amália T. B. Mudando direções na<br />

arte-educação contemporânea. Encontro A compreensão eo prazer da Arte, São Paulo:<br />

SESC, 1998.<br />

94


Os primeiros sinais apresentados durante o projeto, que evidenciaram a<br />

possível necessidade de atualização e formação continuada para o trabalho com<br />

arte contemporânea e tecnológica em sala de aula surge em um depoimento de uma<br />

professora, a respeito da Fotocolagem e Photoshop, experiência de troca de<br />

conhecimentos entre professor e aluno mencionada no capítulo 3 desta dissertação.<br />

A professora não era conhecedora da tecnologia do PHOTOSHOP para a realização<br />

de trabalhos de fotocolagens digitalizados. No entanto aprendeu com seus alunos a<br />

lidar com esta tecnologia enquanto os mesmos experimentaram o modo manual de<br />

se realizar o mesmo trabalho. Este mesmo relato vai ao encontro do que defende<br />

HERNÁNDEZ: o professor deixando de se ver como único conhecedor em sala de<br />

aula. Pode-se mencionar ainda que esta professora está disponível ao trabalho com<br />

o contemporâneo e tecnológico, conforme defendeu Maria Lúcia PUPO no já citado<br />

FÓRUM DE TEATRO CONTEMPORÂNEO – 2007.<br />

Apesar do baixo percentual de retornos de questionários e dos problemas<br />

apresentados no capítulo 3 referentes aos mesmos, analisando as respostas obtidas<br />

é possível notar uma certa confirmação de que os professores não apenas<br />

necessitam da atualização e formação continuada para o trabalho com arte<br />

contemporãnea e tecnológica e contemporânea como alguns estão em busca disso.<br />

Sendo a informática a principal referência em tecnologia apresentada por estes<br />

professores a partir dos questionários e planos de aula, e cursos de capacitação<br />

para o trabalho com a mesma são sugeridos por alguns professores, a inclusão<br />

digital pode ser considerada como necessária em alguns casos, assim como é<br />

colocada na hipótese desta pesquisa.<br />

Ao analisar os dois planos de aulas entregues a partir da proposta desta<br />

pesquisa, volto a citar uma das competências docentes que FUSARI (1992)<br />

apresenta: clareza dos objetivos a serem atingidos. O Plano de aula de Eunice não<br />

apresentava tal clareza. No entanto o de Leda já caminhou bem neste sentido.<br />

Apesar de algumas atividades propostas por Eunice demostrarem algumas<br />

características de experimentações contemporâneas, Leda teve um maior esforço<br />

de se apropriar da arte tecnológica e contemporânea, trazendo os resultados<br />

95


práticos deste processo. Apesar de um pouco confusa ao falar de Arte<br />

contemporânea e conceitual, Leda foca seu trabalho mais no processo criativo do<br />

aluno do que no resultado final estético (mesmo não abandonando-o por completo.).<br />

Trabalhou também as diversas leituras e interpretações que as imagens criadas<br />

puderam suscitar em seus alunos. Apesar de não trazer os conceitos que geraram<br />

as imagens que selecionou, ela ousou trabalhar com novos materiais e tecnologia<br />

(mesmo que um software simples como o paint). E ainda levantou um<br />

questionamento com o qual eu não contava: afirma que os alunos são íntimos da<br />

tecnologia da informática – pode ser considerado um indivíduo BLIP - mas estão<br />

acostumados a trabalhar com isso por diversão. A proposta da informática como<br />

suporte de criação artística em aula, gerou um estranhamento inicial. A<br />

consideração de Leda pelas diversas leituras que a obra pode sucitar é uma postura<br />

contemporânea de se lidar com a arte.<br />

O projeto <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong> (o curso em questão e a intervenção que esta<br />

pesquisa propôs no mesmo) foi um dos responsáveis pela transformação da prática<br />

de Leda enquanto arte educadora. Assim como o ENCONTROS COM A ARTE fez<br />

com relação à minha prática enquanto arte educadora. Apesar de ter sido um<br />

retorno único, assim como afirma Leda, é preciso se trabalhar mais com a arte<br />

contemporânea nas aulas de arte, pois ela ainda é vista com estranheza.<br />

Reafirmo ainda minha defesa de um professor que busque atualização não só<br />

através de cursos de formação continuada (ferramentas importantes para a troca de<br />

experiências e reflexão sobre as metodologias desenvolvidas) mas também<br />

individualmente, enquanto agente responsável por sua própria formação.<br />

96


Para finalizar, deixo uma última citação de PARSONS a respeito das direções<br />

da arte educação contemporânea, com a expectativa que este trabalho possa<br />

promover uma reflexão contínua a respeito do ensino da arte contemporânea:<br />

(…) a meu ver a compreensão da arte é um paradigma da espécie<br />

de reflexão exigida pela sociedade contemporânea: complexa, exigente,<br />

atenciosa, carregada de emoção, multi-expressiva e contextualmente<br />

sensível. Obras de arte são poderosas encarnações de interesses comuns,<br />

pedem uma interpretação ativa, podem unir diversos meios de<br />

pensamento, realcionam-se a vários contextos e são suscetíveis a<br />

múltiplas interpretações. Por essas razões, o estudo da arte promove em<br />

sua mais alta sofisticação o tipo de entendimento exigido por uma<br />

sociedade pluralista, na qual grupos podem coexistir com diferentes<br />

histórias, valores e pontos de vista.<br />

Isto, creio, estabelece a tarefa do ensino e da pesquisa em arteeducação.<br />

De investigar as habilidades e meios pelos quais os estudantes<br />

encontram significado em obras de arte, como eles relacionam as obras de<br />

arte a vários contextos e considerar múltiplas interpretações delas. De<br />

experimentar programas educacionais que irão nutrir essas habilidades e,<br />

finalmente, de criar maneiras para avaliá-las. Isto, como vejo, é o desafio<br />

contemporâneo do ensino e da pesquisa em arte-educação.” 35<br />

35 PARSONS, Michael J. Trad. PADILHA, Jorge e BARBOSA, Ana Amália T. B. Mudando direções na<br />

arte-educação contemporânea. Encontro A compreensão eo prazer da Arte, São Paulo:<br />

SESC, 1998.<br />

97


Bibliografia:<br />

AGUILAR, Nelson. Universalis 96. UOL, 1996. Disponível em:<br />

. Acesso em 13 de<br />

dezembro de 2007.<br />

BARBOSA, Ana Mae. Abordagem Triangular não é receita pronta. CCBB, 2004.<br />

Entrevista concedida para o CCBB. Diponível em <br />

BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação no Brasil: realidade hoje e expectativas futuras<br />

Estud. av. vol.3 no.7 São Paulo Sept./Dec. 1989 (Relato encomendado pela<br />

UNESCO à INSEA. O documento integral organizado por Elliot Eisner teve a<br />

colaboração de Graham Graeme Chalmers, do Canadá; Rachel Mason, da<br />

Inglaterra; Marie Françoise Chavanne, da França; Edwin Ziegfeld, dos<br />

Estados Unidos; e Ana Mae Barbosa, do Brasil. Este servirá de base para o<br />

"Congress on Quality on Art Teaching", da UNESCO.)<br />

BARBOSA, Ana Mae. (org) História da Arte-Educação. São Paulo: Max Limonad,<br />

1984.<br />

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BRASIL (Ministério da Educação e do Desporto). Parâmetros Curriculares Nacionais<br />

Ensino Médio: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEF,<br />

2000.<br />

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases<br />

da Educação Nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil],<br />

Brasília, DF, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27834-27841.<br />

BRILL, Alice. Da Arte e da Linguagem. Ed. Perspectiva. – São Paulo, 1988.<br />

98


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UNESP Campus Presidente Prudente: Presidente Prudente, 2005. Plano de<br />

curso apresentado ao programa Teia do Saber para as diretorias de ensino<br />

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FILE 2005. Hipersônica. File. São Paulo, 2005. Disponível em<br />

Acessado em 15/05/2007<br />

FILE 2005. Instalações. File. São Paulo, 2005. Disponível em<br />

Acesso em 15/05/2007<br />

FÓRUM TEATRO CONTEMPORÂNEO, I, 2007, São Paulo.<br />

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HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na Educação – Os projetos de<br />

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99


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XXI. Série LINK da arte. São Paulo: Editora Moderna, 2003.<br />

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compreensão eo prazer da Arte, São Paulo: SESC, 1998.<br />

POPPER, Frank. Art of the electronic age. Ed. Thames and Hudson<br />

100


ANEXOS<br />

101


Questionário de Ana Maria dos Reis Martins<br />

1. Diga a sua opinião sobre o uso de tecnologia em sala de aula.<br />

A minha opinião sempre foi favorável ao uso da tecnologia em sala de aula, como<br />

também é importantíssimo à educação acompanhar a evolução do tempo. Sei que o<br />

nosso país está muito atrasado em relação a outros países na era digital criando<br />

salas de aula centradas nos alunos.<br />

Os benefícios da integração da tecnologia são melhores percebidos quando a<br />

aprendizagem não é meramente um processo de transferência de fatos de uma<br />

pessoa para a outra, mas quando o objetivo do professor é delegar poderes aos<br />

alunos como pensadores e pessoas capazes de resolver problemas.<br />

Os softwares para propósitos educacionais muitas vezes concentram-se no<br />

desenvolvimento de habilidades básicas. Ao contrário, o software de feramentas<br />

como o processamento de palavras, os bancos de dados, as planilhas as aplicações<br />

de hipermídia e multimídia podem levar a oportunidades para a solução de<br />

problemas pelos alunos e ao raciocínio crítico.<br />

A fala de Fernando José de Almeida “As mudanças sociais e econômicas da<br />

informatização da sociedade, os impactos nos currículos e na formação dos<br />

professores são tarefas que devem andar juntas com o desenvolvimento da<br />

tecnologia da sociedade. Sem eses estudos, não adianta a sociedade cobrar a<br />

informatização da escola. Sem um rumo claro dos destinos da escola, a informática<br />

só levará mais depressa ao caminho da destruição e da perda de seu verdadeiro<br />

significado social: a humanização das relações sociais, a verdade e a melhoria da<br />

qualidade de vida para todos.<br />

Inúmeras tarefas da educação, que supõem a sutileza das analogias, só poderão ser<br />

transmitidas integralmente pelo convívio e pelas relações afetivas e corpóreas e o<br />

sistema de computador não admite a analogia, até porque funciona como sistema<br />

binário de comunicação.<br />

A tecnologia fornece uma excelente plataforma – um ambiente conceitual na qual as<br />

crianças podem coletar informações em vários formatos e, então, organizar,<br />

visualizar, ligar e descobrir relações entre fatos e eventos. Os alunos podem usar as<br />

mesmas tecnologias para comunicar suas idéias a outras pessoas, para discutir e<br />

102


criticar suas perspectivas, para persuadir e ensinar outras pessoas e para<br />

acrescentar níveis maiores de compreensão a seu conhecimento em expansão, mas<br />

sempre junto com o professor mediando o trabalho e com limites para o aluno no<br />

uso da máquina.<br />

2. O que de arte Contemporânea utiliza a tecnologia você se lembra de ter<br />

visto?<br />

Foi a fotografia.<br />

3. É possível trabalhar arte contemporânea e tecnológica em sala de aula?<br />

Sim! Podemos trabalhar com montagens de fotos, criar vídeo clipe, cinema e vídeo,<br />

criar revista eletrônica com os alunos. Inclusive já trabalhei com alunos do ensino<br />

médio a criação de revista eletrônica dentro do Projeto Cidadania – Tema<br />

Solidariedade, no momento está montando outra revista com as atividades<br />

diversificadas com alunos de 6ª e 7ª séries nas disciplinas de Línguas, Artes e<br />

História.<br />

4. Sua escola oferece quais recursos para o trabalho em sala de aula?<br />

Sim! A escola oferece vários tipos de equipamentos tecnológicos para o trabalho<br />

diário do professor. Esses recursos são: laboratório de informática com 11<br />

computadores, scaner e impressora todos conectados em rede, retroprojetor,<br />

periscópio, TV, Vídeo, DVD com karaokê, máquina digital, filmadora, rádio gravador<br />

e CD.<br />

5. Você se sente seguro para trabalhar com tecnologia em sala de aula? Por<br />

quê?<br />

Faço uso dos equipamentos mensalmente, mas com receio de que vão estragar ou<br />

quebrar, estou fazendo curso de informática para melhoria do trabalho com os<br />

alunos.<br />

103


Questionário de Leda Maria dos Santos Belo<br />

1- Diga a sua opinião sobre a tecnologia em sala de aula:<br />

Excelente, mas é preciso comprometimento do professor, ter a tecnologia para ser<br />

explorada e vontade do profissionais administrativo do grupo escolar.<br />

2- O que de Arte Contemporânea que utiliza tecnologia você se lembra de ter<br />

visto?<br />

Exposição de Luz e Sombra da artista Marileia Pirreli na Oca no Parque do<br />

Ibirapuéra na cidade de São Paulo.<br />

3- É possível trabalhar arte contemporânea e tecnológica em sala de aula?<br />

Sim é possível trabalhar linguagens Conteporâneas e tecnológicas em sala de aula,<br />

mas isso depende do comprometimento do professor.<br />

4- Sua escola oferece quais recursos para o trabalho do professor?<br />

A minha escola possui muitos recursos como computador, vídeo, DVC, televisão,<br />

reto projetor, máquina de xérox e até uma rádio escola (que eu nunca vi), mas a<br />

direção da escola guarda tudo a “sete chaves” e não deixa ninguém chegar perto.<br />

5- Você se sente seguro a trabalhar com tecnologias na escola? Por que?<br />

Não, porque falta “vontade” da parte administrativa em liberar os recursos<br />

disponíveis. Espero que para o próximo ano possamos trabalhar melhor, pois veio<br />

um ordem da Secretária da Educação para que os recursos tecnológicos sejam<br />

explorados no próximo ano e para isso serão elaborados projetos que farão parte do<br />

Plano de Ensino da Escola.<br />

104


Questionário de Maria Adelaide Pires Sasaqui<br />

1. Diga a sua opinião sobre o uso da tecnologia em sala de aula.<br />

O mundo das ultimas décadas aprofundou bastante a interdependência dos povos,<br />

dos Estados, das inúmeras regiões do planeta. Vivemos cada vez amis uma<br />

realidade mundializada, onde todas as partes mantêm íntimas relações entre sí, não<br />

é mais possível um desenvolvimento autônomo, isolado, como chegou a ocorrer no<br />

passado. Todo desenvolvimento, toda modernização hoje tem por base a<br />

interdependência, a integração no mercado mundial.<br />

Um dos grandes agentes dessa mundialização são as empresas multinacionais ou<br />

transacionais que são chamadas também de globais.<br />

As empresas multinacionais ou transacionais não são constituídas somente por<br />

firmas industriais, elas são também, em número crescente, bancos, empresas de<br />

seguros ou assessorias, redes de comunicações, empresas criadoras de softwares,<br />

ect. Cada vez maio o poderio econômico deixa de estar nas indústrias no sentido<br />

estrito do termo (petroquimica, siderurgica, automóveis, navios, etc) e se transfere<br />

para os serviços: a produção de software para computadores passa a ser mais<br />

lucrativa que a fabricação do próprio hardware (a máquina e seus acessórios); a<br />

tecnologia biogenética passa a ser mais importante para a produção agrícola; os<br />

serviçoes de assessorias, as comunicações (jornais, revistas, rádio, televisão), o<br />

turismo e o lazer, a pesquisa científica e tecnológica e outras atividades do setor<br />

terciário, principalmente o setor financeiro, ampliam sua parceria na renda nacional à<br />

custa do setor industrial.<br />

Não é apenas na economica que isto vem acontecendo, mas também na cultura,<br />

nos hábitos, na tecnologia, nos valores, nas comunicações, por exemplo, nos meios<br />

de transporte e de comunicaçõa permitem hoje viajar rapidamente de um extremo ao<br />

outro do globo, ou então se comunicar em segundos com alguém distante milhares<br />

de quilômetors.<br />

O poder das comunicações se expandiu a tal ponto que alguns dizem que vivemos<br />

mais numa sociedade global do espetáculo, onde o importante são as notícias e<br />

imagens. Podemos observar isso na crescente infuência que os meios de<br />

comunicação desempenham nas eleições, nas políticas governamentais e até<br />

guerras.<br />

105


Além das empresas multinacionais ou transacionais, que muitas vezes têm<br />

estratégias diferentes dos países onde se localizam ou até do país – sede, existem<br />

organizações supranacionais, que se expandem e impõem decisões ou normas em<br />

comum, que devem ser aceitas por todos, como o Banco Mundial, o FMI, a própria<br />

ONU ou as comunidades como a União Européia, o Grupo dos países mais<br />

desenvolvidos (EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá) e<br />

inúmeras outras.<br />

Para muitos autores, como Otavio Ianni, estas mudanças são chamadas de<br />

Globalização, reflee nossa realidade e traz à tona a corrida individual do ser humano<br />

em busca de conhecimentos e habilidades que os tornem perfeitos ao Mundo Atual.<br />

Para Marshall Mcluhan, que criou o termo Aldeia Global, formou-se a comunidade<br />

mundial, concretizada com as realizações e as possibilidades de comunicação,<br />

informação e fabricação abertas pela eletrônica, sugere que estão em curso a<br />

harmonização e a homogeneização progressivas.<br />

Na aldeia Global, além das mercadorias convencionais, sob formas antigas e atuais,<br />

empacotam-se e vendem-se as informações, as quais são fabricadas como<br />

mercadorias e comercializadas em escala mundial tal como as informações, os<br />

entretenimentos e as idéias são produzidos, comercialmente e consumidas como<br />

mercadorias.<br />

Na Globalização existem novas formas de organização produtiva, é uma<br />

organização mais plana e aberta, existem amplos poderes de decisão nas unidades<br />

locais e com a inteligência distribuída em forma mais homogênea exige-se mais<br />

conhecimentos e qualificação para o trabalho; a necessidade da introdução da<br />

inteligência em todas as fases do processo produtivo elevou a qualidade total,<br />

assim, é imprescindível para as empresas modernas a inovação e melhoria<br />

contínua, os ciclos de vida dos produtos encurtam-se cada vez mais, obrigando a<br />

renovação de novos projetos.<br />

Devido a estas mudanças nos modos de produção e organização do trabalho na<br />

sociedade globalizada há exigência de um novo perfil de trabalhador quanto ao seu<br />

preparo e formação educacional levando a escola como instituição encarregada da<br />

eduação formal a rever seus objetivos, programa, conteúdo e conseqüentemente a<br />

mudança de paradigmas e a rever seu projeto pedagógico.<br />

O projeto pedagógico é a chave da gestão escolar, o qual deve ser real, dinâmico e<br />

coerente e refletir as necessidades da comunidade onde está a escola.<br />

106


Graças às inovações provocadas pela popularização dos computadores (surgimento<br />

da internet) a escola está deixando de ser apenas o local onde se acumulam<br />

conhecimentos, que tem o professor como o depositário da sabedoria e o estudo um<br />

fim em si mesmo para se tornar um ambiente voltado à reflexão.<br />

A conferência da UNESCO, em Paris, outubro de 1998, divulgou os dez<br />

mandamentos do jovem do século XXI, para viver na sociedade globalizada:<br />

1- Ser flexível, isto é, não se especialize demais.<br />

2- Invista na criatividade, não só no conhecimento.<br />

3- Aprenda a lidar com incertezas, o mundo está assim.<br />

4- Prepare-se para estudar durante toda a vida.<br />

5- Tenha habilidades sociais e capacidade de expresão<br />

6- Saiba trabalhar em grupo, bons empregos exigem isso.<br />

7- Esteja pronto para assumir responsabilidades.<br />

8 – Busque ser empreendedor, talvez você crie seu emprego.<br />

9- Entenda as diferenças culturais, o trabalho globalizou.<br />

10- Adquira intimidade comas novas tecnologias como a internet.<br />

Para educar o jovem, o futuro trabalhador, o cidadão da sociedade globalizada, a<br />

escola deverá mudar nos seguintes aspectos:<br />

1- O conteúdo deve ser um meio para desenvolver habilidades e competências;<br />

2- O conhecimento é interdisciplinar, contextualizado, privilegia a construção de<br />

conceitos e a criação de sentidos;<br />

3- O currículo em rede, por áreas de conhecimento e temas geradores;<br />

4- A sala de aula é local de vivências e experimentações;<br />

Hoje o computador e a internet transformam-se em poderosas estratégias para<br />

auxiliar o trabalho pedagógico em sala de aula criando novos procedimentos como:<br />

Video-aula, Tele-conferência e a Vídeo-conferência.<br />

A Video-aula – é um programa de ensino a distância, destinado a um grupo de<br />

pessoas com características comuns (ex.: trabalhadores que não tem tempo para<br />

estudar ou condições financeiras).<br />

Teleconferência – transmissão de um programa de TV (sinal aberto) ou em circuito<br />

fechado (codificados) com cobertura nacional ou internacional, via-satélite, em<br />

tempo real, quem assiste vê o conferencista mas não pode no momento se<br />

comunicar, só por telefone ou e-mail.<br />

107


Vídeo-conferência – comunicação entre várias pessoas em tempo real, onde cada<br />

uma delas pode estar em lugares diferentes, como por exempoo, cidades diferentes.<br />

Diante deste panorama destaco os aspectos favoráveis do uso da informática na<br />

escola, em sala de aula:<br />

1- Favorece a aprendizagem cooperativa.<br />

2- Possibilita a comunicação com pessoas e comunidades distantes em tempo<br />

real.<br />

3- Acesso em tempo real a informações complexas.<br />

4- É capaz de ensinar.<br />

5- Estimula e favorece a presença do professor como mediador e orientador.<br />

6- Propicia uma reflexão dinâmica e constante quanto aos métodos e a prática<br />

educativa.<br />

7- Possibilita o pensamento de caráter democrático.<br />

8- Permite o usuário (o aluno) a construir o conhecimento; melhorando a auto-<br />

confiança e, conseqüentemente, a auto-estima.<br />

9- Permite através da imagem virtual a vivência, a experimentação de<br />

atividades, a interatividade.<br />

10- Favorece um professor permanentemente bem preparado.<br />

2. O que de arte Contemporânea utiliza a tecnologia você se lembra de ter<br />

visto?<br />

Desde que comecei a estudar arte, quando era universitária, visito as bienais, pois<br />

São Paulo é perto de Jacareí, além disso, procuro ler publicações em jornais como a<br />

Folha de São Paulo e revistas especializadas como o “Guia das Artes”, publicação<br />

feita pela Casa Editorial Paulista e atualmente assino uma TV a cabo, a Sky, assim<br />

tenho acesso aos canais da Globosat como a Globonews que possui programas de<br />

entrevistas com artistas ou documentários sobre Arte Contemporânea, os canais<br />

Sesc TV e GNT também exibem bons documentários sobre exposiçãoes e artistas<br />

que trabalham com Arte digital e atualmente temos as revistas enviadas pela D.E. –<br />

Art BR.<br />

108


3. É possível trabalhar com arte contemporânea e tecnológica em sala de<br />

aula?<br />

Sim, o primeiro passo é a atualização do professor na área da informática desde o<br />

manuseio do computador passando por novos programas, softwares, novidades em<br />

acessórios e cursos de aprofundamento.<br />

Como sugetstão: a organização de cursos de capacitação específica de professores<br />

de Arte para elaboração de projetos em Arte Digital, com orientação dos Núcleos de<br />

informática das diretorias de ensino do estado de São Paulo; instruindo o manuseio<br />

com câmeras difgitais e outros componentes.<br />

4. Sua escola oferece quais recursos para o trabalho em sala de aula?<br />

A minha escola oferece os seguintes recursos para trabalhar:<br />

1- Televisão.<br />

2- Videocassete.<br />

3- DVD<br />

4- Retroprojetor com tela.<br />

5- Biblioteca.<br />

6- Sala de informática.<br />

7- Espaço livre para atividades artísticas como pintura e teatro.<br />

5. Você se sente seguro a trabalhar com tecnologia na sala de aula? Porquê?<br />

O uso da tecnologia na escola será uma estratégia rica e eficiente na medida que eu<br />

como profissional me atualise permanentemente e domine o conteúdo para trabalhá-<br />

lo com segurança na sala de aula, e também saiba utilizar de forma correta e<br />

propícia a tecnologia.<br />

6. Qual o sentido (finalidade) da Arte da tecnologia na Educação?<br />

Os benefícios da informática dentro da escola já forma citados na primeira questão,<br />

porém, pode-se acrescentar os seguintes aspectos:<br />

109


a) Ampliação de visão de mundo sobre a Arte e suas possibilidades.<br />

b) Interatividade.<br />

c) Com a criação do novo propicia a melhora da auto-estima.<br />

d) Desenvolve novas habilidades.<br />

e) Acompanha a evolução da sociedade humana como conhecimento.<br />

f) Favorece uma melhor adaptação ao mundo do trabalho, visto que cada vez<br />

mais a automação está presnete em todos os campos profissionais.<br />

110


Questionário de Rosângela Fátima de Oliveira<br />

1. Diga sua opinião sobre o uso da tecnologia em sala de aula<br />

A Tecnologia em sala leva o educando a vários tipos de conhecimentos com uma<br />

reflexão dinâmica constante para desenvolver o senso crítico, com vivências e<br />

experimentos. Colocando o professor como mediador em constante reciclagem<br />

intelectual para a atualização.<br />

2. O que de Arte Contemporânea e tecnológica você se lembra de ter visto?<br />

Arte Cibernética, arte conceitual, arte ótico-cinética, 13ª Bienal da Video-arte, arte<br />

mecânica, o livro Arte Pós Moderna Objeto, conceito, corpo de Frederido Moraes,<br />

a revista Bien’art, hiper-realismo, Apart, Arte Ecológica.<br />

3. É possível trabalhar com arte contemporânea e tecnológica em sala de<br />

aula?<br />

Sim, utilizando filmadora para montagem de vídeo, o aparelho de som 3X1 com<br />

mudança de rotação 78, variando os ritmos musicais, música eletrônica, máquina<br />

digital, web câmera, softwares.<br />

4. Sua escola oferece quais recursos para o trabalho em sala de aula?<br />

Vídeo, TV, DVD, Biblioteca, retroprojetor com tela, sala de informática, aparelho<br />

de cd, máquina digital.<br />

5. Você se sente seguro a trabalhar com tecnologias em sala de aula?<br />

Por quê?<br />

Na medida em que recebemos orientações nos sentimos mais seguros e<br />

capacitados para desenvolver projetos com arte digital.<br />

6. Qual o sentido (finalidade) da Arte Contemporânea e da Tecnologia na<br />

educação?<br />

Acompanhar a evolução da sociedade, visitar museus, desenvolver novas<br />

habilidades, a interatividade com o mundo globalizado.<br />

111


Questionário de Sônia Maria Clemente<br />

1. Diga sua opinião sobre o uso da tecnologia em sala de aula<br />

Pensar na formação do professor para exercitar uma adequada pedagogia dos<br />

meios, uma pedagogia para a modernidade, é pensar no amanhã, numa<br />

perspectiva moderna e própria de desenvolvimento, numa educação capaz de<br />

manejar e produzir conhecimento, fator principal das mudanças que desta forma<br />

seremos como contemporâneos do futuro, construtores da ciência e participantes<br />

da reconstrução do mundo.<br />

Lecionar na rede pública, possibilita “viver” espaços diferentes, mesmo que<br />

seja no bairro onde moramos, as experiências e o olhar dos alunos apresentam-<br />

nos um novo bairro, mediante diferentes leituras, associações e interpretações. A<br />

cidade não é a mesma que conhecemos, eles habitam diferentes lugares,<br />

elegem novos pontos de referências, assistem a programas, vestem roupas,<br />

criando um universo só reconhecível pelo próprio grupo.<br />

Como professora de artes visuais, surpreendeu-me a transformação da minha<br />

prática. Ao me aproximar dos interesses dos alunos, agregava imagens<br />

populares do cotidiano e cada vez mais me distanciava dos conteúdos<br />

tradicionais da arte. As propostas desenvolvidas em torno de movimentos<br />

artísticos europeus ou técnicas de pintura foram lentamente cedendo lugar a<br />

projetos que abordavam a escola de samba do bairro, a sexualidade na<br />

propaganda, a produção de desenhos animados, o estilismo/ a moda, a<br />

tatuagem, o grafitti, o videoclipe, entre outros.<br />

2. O que de Arte Contemporânea e tecnológica você se lembra de ter visto?<br />

Trabalhar com linguagens populares exige maior esforço a fim de localizar fontes<br />

de pesquisa que não se encontram em acervos convencionais de um museu ou<br />

biblioteca. No trabalho de pesquisa fica mais fácil procurar conteúdos<br />

introduzindo entrevistas com artistas locais, priorizando conteúdo nobre a<br />

influência cultural africana, utilizando imagens e símbolos que representam a<br />

diversidade em todos os aspectos. Tais projetos discutem as imagens da<br />

publicidade, de desenhos nos muros da cidade, de histórias em quadrinhos e<br />

novelas, colocando em evidência a produção cultural mais familiar, mais popular.<br />

112


Os recursos tecnológicos promovem a aquisição do conhecimento, o<br />

desenvolvimento de diferentesmodos de representação e de compreensão do<br />

pensamento.<br />

Os computadoers possibilitam representar e testar idéias ou hipóoteses, que<br />

levam à criação de um mundo abstrato e simbólico, ao mesmo tempo que<br />

introduzem diferentes formas de atuação e interação entre as pessoas. Essas<br />

novas relações, além de envolverem a racionalidade ténico-operatória e lógico-<br />

formal, ampliam a compreensão sobre aspectos sócio-afetivos e tornam<br />

evidentes fatores pedagógicos, sociológicos, psicológicos e epistemológicos.<br />

O clima de euforia em relação à utilização de tecnologias em todos os ramos<br />

da atividade humana coincide com um momento de questionamento e de<br />

relacionamento da insconsistência do sistema educacional, que nos mostra o<br />

caminho da tecnologia, mas que cria dificuldades enormes na sua execução<br />

devido às carências básicas. Por ex: quando há computador, está quebrado, ou<br />

inviável, ou está sendo reparado, daí chega o final do ano e o espaço que foi<br />

indicado não pode ser usado.<br />

3. É possível trabalhar com arte contemporânea e tecnológica em sala de<br />

aula?<br />

No museu de arte contemporânea, telas que se movimentam através de ruídos;<br />

bolas que interagem inteligentemente através de reações de passos e<br />

movimentos; filmes e videoclipes montados; parafernálias de fios com “bombril”<br />

na ponta; produção de movimentos através de sons.<br />

4. Sua escola oferece quais recursos para o trabalho em sala de aula?<br />

Enquanto o laboratório de informática não for aberto e preparado professor e<br />

aluno para efetiva e capaz atuação fica cada vez mais adiada esta possibilidade.<br />

Na minha escola foi feito trabalho de montagem de clipes, fotos com uso do<br />

computador em DVD, mas somente apresentado pelos alunos em TV; a “história<br />

de Jacareí” mas este trabalho foi elaborado nas casas dos alunos, com ajuda dos<br />

pais. Foi um belo trabalho.<br />

113


.<br />

5. Você se sente seguro a trabalhar com tecnologias em sala de aula?<br />

Não.<br />

Por quê?<br />

6. Qual o sentido (finalidade) da Arte Contemporânea e da Tecnologia na<br />

educação?<br />

Sei usar o computador, mas acredito que a capacitação exclusiva como<br />

metodologia não pode ser jogada sobre professores e alunos, mas sim aplicar<br />

cursos de capacitação com projetos coletivos de todo o corpo docente.<br />

114


Questionário de Stella Elia Martins<br />

1. Diga sua opinião sobre o uso da tecnologia em sala de aula<br />

O uso da tecnologia é necessário. Como recurso ou como tema, para<br />

acompanhar a evolução tecnológica de fora da escola.<br />

2. O que de Arte Contemporânea e tecnológica você se lembra de ter visto?<br />

Instalações, performances, sites e trabalhos de computação gráfica. Animações,<br />

etc.<br />

3. É possível trabalhar com arte contemporânea e tecnológica em sala de<br />

aula?<br />

Sim.<br />

4. Sua escola oferece quais recursos para o trabalho em sala de aula?<br />

Retroprojetor, alguns computadores (apenas 2 com acesso a internet), câmera<br />

fotográfica, câmera de vídeo, vídeocassete, televisão e um aparelho de DVD<br />

(que não temos acesso).<br />

5. Você se sente seguro a trabalhar com tecnologias em sala de aula?<br />

Sim.<br />

Por quê?<br />

6. Qual o sentido (finalidade) da Arte Contemporânea e da Tecnologia na<br />

educação?<br />

A tecnologia é suporte da arte e contexto da maioria dos alunos de escolas<br />

públicas. A maioria, não todos.<br />

115


Plano de Aula de Eunice da Silva Lira.<br />

PROJETO: <strong>TEIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>SABER</strong><br />

<strong>UMA</strong> JANELA PARA A ARTE – FILE<br />

EUNICE DA SILVA LIRA<br />

SÃO JOSÉ <strong>DO</strong>S CAMPOS<br />

PROFª AUREA KARPOR FRANCHI<br />

116


<strong>UMA</strong> JANELA PARA A ARTE<br />

O Centro Cultural FIESP recebe de 1º a 20 de novembro, o FILE – Festival<br />

Internacional de Linguagem Eletrônica que está sendo realizado pelo segundo ano<br />

consecutivo, na galeria do SESI. Os trabalhos participantes do FILE 2005 resultam<br />

de intesa pesquisa e seleção que trouxe à tona vasta variedade de produtos<br />

nacionais e internacionais. Participam desta 6ª edição do festival cerca de 300<br />

artistas - entre grupos, coletivos e trabalhos individuais – de mais de 30<br />

nacionalidades, que estão apresentando trabalhos na de net art, web animação<br />

interativa, hipertexto, web filme interativo, cinema interativo, panoramas, VRML,<br />

games software art, generative art, inteligência artificial, robótica, música,<br />

performance, instalações interativas e instalações eletrônicas. Há seis anos o FILE,<br />

o maior festival de arte e tecnologia do Brasil, insere o País no contexto mundial das<br />

novas mídias a partir de compilação de produções artísticas nos campos das artes<br />

eletrônicas e digitais. Ele funciona como um indicador da pluralidade dessas<br />

produções.<br />

Destaques:<br />

SILVER VERFISH STREAM<br />

Artista: Constanza Silva<br />

País: Canadá<br />

LES ETERNELS<br />

Artista: Jean-Marc Munerelle<br />

País: França<br />

METAFORMS<br />

Artista: Tim Coe<br />

País: Alemanha<br />

O trabalho a ser desenvolvido com os alunos do ensino fundamental. Arte<br />

contemporânea Aplicando algumas técnicas da Arte e Tecnologia: Panorama,<br />

Metaforms e outros.<br />

117


ATIVIDADE I<br />

Conhecer o site Projeto Portinari “Viagem ao Mundo de Candinho”<br />

http://www.portinari.org.br/candinho/candinho<br />

Levar os alunos para conhecer o Projeto Portinari – organizar em grupos para fazer<br />

as atividades propostas no computador.<br />

ATIVIDADE II<br />

Leitura formal e interpretativa da obra Pedro Alexandrino pintado por Almeida Junior.<br />

O quadro é o Pedro Alexandrino saindo de dentro como se estivesse rasgando a<br />

tela. Poderemos vivenciar essa mesma situação cada aluno saindo de dentro de<br />

uma tela. Poderemos fotografar também no momento que eles estão saindo.<br />

Terminada atividade cada um falará do momento vivido, o que aprenderam. A partir<br />

daí cada aluno fará por escrito ou em desenho um momento significativo de sua<br />

vida.<br />

O desenho poderá ser com lápis 6B, com grafitismo. E poderão fazer de forma<br />

tridimensional com cartolina. Leitura e comentários depois de terminado.<br />

ATIVIDADE III<br />

A partir do trabalho: METAFORMS do artista Tim Coe, os alunos desenvolverão com<br />

fotos e recortes de revista onde possa recortar retratos de pessoas só o rosto, fazer<br />

uma colagem primeiro uma firgura grande e sozinho. A segunda seria todos os<br />

rostos repetidos, podem ser xerocados até completar uma cartolina, escolher uma<br />

frase para repetir numa folha a mesma frase até terminar a folha.<br />

Outra atividade deste mesmo artista seria escolher um detalhe pode ser uma mão,<br />

ou boca cada um esolhe o que quiser, repetir o desenho em variadas posições e<br />

cores diferentes.<br />

Terminado o trabalho experimentar colocar papel celofane para ver variedade das<br />

cores.<br />

118


ATIVIDADE IV<br />

Os alunos formarão filas para olhar a janela. Primeiro olharão a direita depois à<br />

esquerda e finalmente para frente. Voltar aos lugares cada um comenta o que viu.<br />

Depois do comentário cada grupo discutirá alguns lugares que eles conhecem o que<br />

tem a direita à esquerda e a frente. Poderá sair da sala e ver um pouco da paisagem<br />

local.<br />

A partir das exposições FILE – Panorama<br />

Os alunos farão colagem de paisagem com caixas ou formas cilíndricas colocando<br />

as paisagens recortadas nas mais variadas posições. Essas caixas ou formas<br />

cilíndricas poderão ficar penduradas por um fio para poder ficar girando e as<br />

pessoas poderem ter uma visão de vários ângulos. Leitura e comentário do que<br />

viram e fizeram.<br />

Mostrar alguns trabalhoes de artistas contemporâneos para leitura e análise.<br />

Rita Barros<br />

Keila Alaver – auto-retrato com boneca<br />

Alex Fleming – auto-retrato e o poema de Gonçalves Dias<br />

Meu canto de morte<br />

Guerreiros ouvi<br />

Sou filho das selvas<br />

Nas selvas cresci<br />

Guerreiros descendo<br />

Datribo tupi<br />

Da tribo punjante<br />

Que ora anda errante<br />

Por fado inconstante<br />

Guerreiros ouvi<br />

Sou bravo, sou forte<br />

Sou filho do norte<br />

Meu canto de morte<br />

Guereiros ouvi<br />

119


Metodologia: Apreciação e leitura de obras de arte. Pesquisa e visitas as sala dos<br />

museus virtuais, Descrição e análise do Museu Virtual ex: Projeto Portinari,<br />

especialmente a página “Viagem ao Mundo de Candinho”, uso de iluminações,<br />

animações, vídeo e recursos sonoros, interatividade por meio de jogos.<br />

Justificativa:<br />

A dificuldade do professor com a Arte Contemporânea e a falta de materiais na sala<br />

de aula por falta de um planejamento e crédito no trabalho do professor. Orientar<br />

para o uso do computador como ferramenta.<br />

O resultado não tenho ainda, preciso de um tempo para realizar o projeto.<br />

Bibliografia:<br />

BARBOSA, Ana Mae: Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte.<br />

CANTON, Kátia Espelho de Artista, São Paulo: Cosac & Naif edições, 2001<br />

FILE – Festival Internacional de Linguagens Eletrônica<br />

Eunice da Silva Lira<br />

120


Plano de Aula de Leda Maria Dos Santos Belo<br />

ARTE E TECNOLOGIA<br />

UNESP<br />

São José dos Campos - SP<br />

2005<br />

Projeto de Arte e<br />

Tecnologia realizado com<br />

alunos do EM sob a<br />

orientação da Profª. Áurea<br />

Karpor Franchi do curso Teia<br />

do Saber da <strong>Unesp</strong>.<br />

121


SINOPSE<br />

O Ensino da Arte vem explorando o uso da tecnologia de forma gradual e<br />

rudimentar devido a falta de preparo dos profissionais da área e de instrumentos de<br />

trabalho, mas na medida do possível temos desenvolvido em nossos alunos a<br />

curiosidade, a apreciação estética da arte tecnológica e de sua contextualização<br />

sociocultural.<br />

A atividade com o uso da tecnologia realizada pelos alunos do Ensino Médio foi<br />

desenvolvida a partir do uso de um escaner, um computador e do programa Paint,<br />

onde foram experimentados novas possibilidades na elaboração e representação<br />

artística. Este trabalho foi realizado a partir de uma brincadeira onde os alunos em<br />

posse de uma máquina digital começaram a retratar partes do corpo, registrando<br />

uma imagem que dava margem a interpretação de algo inusitado nada tendo a ver<br />

com a imagem original. Foi a partir daí que propus a cada aluno que escaniassem<br />

um objeto diferente (folha de planta, talher, lápis, etc...) e que trabalhássemos a<br />

imagem no programa Paint.<br />

Como tema gerador apresentei a eles varias ilustrações fotográficas do livro “ A arte<br />

internacional brasileira” entre elas a fotografia em P&b sobre fundo de cor sobre<br />

papel, 1997 da artista Claudia Jaguaribe.<br />

122


JUSTIFICATIVA<br />

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais o Conhecimento de Arte<br />

deve Consolidar e profundar os conhecimentos já adquiridos inclusive os<br />

estéticos, preparando assim o educando para o mundo do trabalho e o exercício<br />

pleno da cidadania, desenvolvendo a capacidade de articular conceitos,<br />

procedimentos e valores ao exercitar as competências do fazer, fruir e refletir<br />

sobre arte, através das práticas artísticas e estéticas em música, artes visuais,<br />

dança, teatro, artes audiovisuais, além das articulações com as linguagens da<br />

área Linguagens, Códigos e suas tecnologias.<br />

Desta forma este trabalho tem por objetivo desenvolver no jovem a consciência<br />

de uma sociedade multicultural e compreender sua dimensão sócio-histórica<br />

explorando novas tecnologias e seu potencial criador e imaginativo.<br />

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METO<strong>DO</strong>LOGIA<br />

TRIANGULAR: Fazer, Fruir e refletir.<br />

TEMA<br />

Arte Conceitual e Multimeios<br />

EXPLANAÇÃO<br />

Vocês se lembram das fotos tiradas pelos colegas com a maquina digital? Elas<br />

apresentam uma poética pessoal de que fotografou, são partes do corpo tiradas tão<br />

próximas que dão margem a diversas interpretações quanto a imagem. As fotos são<br />

bonitas? Alguns acham que sim, outros não.<br />

Isso é Arte Contemporânea, é Arte Conceitual. Na Arte Conceitual a ideia com<br />

conceitos é essencial, enquanto que a experiência visual é um componente<br />

secundário, é uma forma de libertação das maneiras e materiais tradicionais de se<br />

fazer uma obra. Vale procedimentos de toda a espécie como o uso de Multimeios<br />

como fotografia, vídeo e computador... (Explicar as diferentes formas que os artistas<br />

Contemporâneos utilizam-se de multimeios para representar um tema, enfatizar o<br />

contexto social e histórico e que o artista esta inserido. Apresentar ilustrações de<br />

arte fotográfica e a fotografia em P&b de cor sobre papel da fotografa de Claudia<br />

Jaguaribe).<br />

QUESTIONAMENTO<br />

Quais as primeiras impressões que essa obra lhes causaram? O que vocês já<br />

sabiam sobre a montagem de fotografia? De que forma será que a artista fez esta<br />

montagem? Existe um possibilidade de vocês fazerem isso? Quais os meios<br />

vocês dispõem para fazer uma montagem fotográfica? Qual a sua opinião sobre<br />

estes trabalhos? Que ideia essa obra gera em você a partir das análises feitas?<br />

Qual a sua opinião sobre ela? Justifique. Por que a artista deu importância a<br />

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determinadas temáticas? A leitura dessa obra de arte ampliou o seu<br />

conhecimento sobre Arte Contemporânea e sobre essa nova forma artística? Por<br />

quê?<br />

PROPOSTA<br />

7. Utilizando a linguagem Tecnológica, escaneie uma imagem inusitada e<br />

faça uma montagem usando multimeio, programa Paint no computador.<br />

8. Apresente a imagem criada para o restante da turma e fale sobre ela. Qual<br />

AVALIAÇÃO<br />

o material você escaniou? Por que você o escolheu? Como surgiu as<br />

primeiras ideias? O resultado final é a concretização da primeira ideia?<br />

Você teve dificuldade para utilizar os materiais propostos?<br />

A partir da apreciação feita pelos alunos, fizemos um levantamento dos<br />

significados que foram lidos (ideias apresentadas, recursos de multimídia,<br />

criatividade, originalidade, etc.).<br />

Confrontamos os resultados das várias imagens e avaliamos as imagens poéticas<br />

como modos singulares de desvelar a proposta (modo único, especial e particular<br />

que cada um retratou e trabalhou na imagem).<br />

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CONCLUSÃO<br />

Através dos experimentos realizados pudemos obter resultados<br />

surpreendentes, demostrando a capacidade imaginativa e criativa dos nossos<br />

alunos e da capacidade de desenvolver trabalhos esteticamente adequados<br />

dentro do seu próprio contexto sociocultural.<br />

Nem todos puderam realizar um trabalho individual devido a falta do<br />

aparelho de escaner, mas participaram contribuindo com idéias nas escolha de<br />

materiais e na interferência das imagens, as fotografias tiradas em sala ficaram<br />

ótimas, mas não foi possível apresenta-las neste relatório, pois não tinha-mos<br />

mais posse das mesmas.<br />

Procurei se justa e objetiva na escolha dos trabalhos aqui apresentados,<br />

todos ficaram ótimos, mas apenas alguns foram selecionados (ver pasta de<br />

imagens: imagens originais e imagens no Paint).<br />

Quanto aos questionamentos os alunos colocaram que para eles “isso não é<br />

arte”, a primeiras impressões ao apresentar as imagens fotográficas foi de<br />

repugnância, pois ainda estão presos a conceitos de arte como expressão do<br />

belo, muito acharam divertido mas se mostraram insatisfeito com o resultado,<br />

fazemos parte da cultura que valoriza o belo e para dismitificarmos isso é preciso<br />

um trabalho mais intenso e contínuo.<br />

As imagens apresentadas no final não foram as primeiras idéias elas são a<br />

transformação e a experimentação do novo material que revela a poética de cada<br />

indivíduo.<br />

Percebi através deste trabalho que os alunos apresentam grande<br />

familiaridade com o informática, mas para eles o computador é uma “diversão”<br />

informal e quando lançamos uma proposta de trabalho mais elaborado as<br />

dificuldades aparecem.<br />

Ao final deste projeto conclui que é necessário trabalharmos mais com arte<br />

Contemporânea e suas tecnologias, pois a arte do nosso século ainda é vista com<br />

estranheza por nossos alunos.<br />

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />

CHIARELLI, Tadeu. A Arte Internacional Brasileira. São Paulo: Lemos. 2002.<br />

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