a condição social e econômica do garimpeiro da cidade de ... - UFVJM
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Quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> restavam garimpos em rios e córregos próximos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, era<br />
possível o <strong>garimpeiro</strong> trabalhar durante o dia e a noite estar em casa com a família. 11<br />
Mas, com a exaustão <strong>do</strong> ouro e <strong>do</strong> diamante nestes, foi preciso buscá-los em<br />
lugares ca<strong>da</strong> vez mais distantes. Não havia um lugar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> para o garimpo,<br />
estes iam garimpar on<strong>de</strong> se tinha notícias que “tava <strong>da</strong>n<strong>do</strong>”, ou seja, para on<strong>de</strong> era<br />
mais provável a retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro e principalmente <strong>do</strong><br />
diamante.<br />
A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> garimpeira foi e é muito árdua, uma vez que exige um esforço<br />
físico intenso e quase sempre os trabalha<strong>do</strong>res são submeti<strong>do</strong>s a exaustivas horas<br />
<strong>de</strong> trabalho, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> quase sempre até a noite. Tu<strong>do</strong> isso pela expectativa <strong>de</strong><br />
“salvar o serviço”. Luiz Santiago compartilha <strong>da</strong> mesma opinião. 12<br />
É inegável que tal ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> rendia, em certos momentos, uma boa quantia<br />
em dinheiro, mas em outros, na<strong>da</strong>. E isso exigia um “malabarismo” por parte <strong>do</strong><br />
<strong>garimpeiro</strong>, pois <strong>de</strong>via administrá-lo quan<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> em maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>, para<br />
quitarem suas dívi<strong>da</strong>s no momento em que o “serviço” na<strong>da</strong> tinha rendi<strong>do</strong>. Essa<br />
dívi<strong>da</strong> estava associa<strong>da</strong> praticamente à provisão <strong>de</strong> víveres para a família que ficava<br />
na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. 13<br />
Além <strong>da</strong> longa e dura jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho em que foram submeti<strong>do</strong>s, corriam<br />
ain<strong>da</strong> outros riscos. Risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a vi<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>parava com um<br />
11 [...] mas tinha lugar que eu trabalhava durante o dia à noite eu tava em casa, lá na gruta mesmo,<br />
agente trabalhou muito tempo na gruta ai cê enten<strong>de</strong>u? [...] Aí quan<strong>do</strong> era à tar<strong>de</strong> agente tava em<br />
casa, <strong>do</strong>rmia em casa, ficava junto com a família. Mas aí foi fracassan<strong>do</strong> o garimpo aqui mais pra<br />
perto, agente optou a trabalhar mais pra longe, pro la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>da</strong>nha, Maria Nunes, [...] Capinhaçu.<br />
(J.L.N) E ain<strong>da</strong>, segun<strong>do</strong> J.M.S: Aí, <strong>de</strong>ssa época pra cá, agente garimpou vários lugar, garimpou no<br />
Rio <strong>da</strong> Palha, <strong>de</strong>pois agente partiu pro Jequitinhonha, <strong>do</strong> Jequitinhonha agente <strong>de</strong>pois, saímos <strong>do</strong><br />
Jequitinhonha em 86, voltamos prá, pro rio aqui <strong>do</strong> Bandirinha, trabalhamos lá no chama<strong>do</strong> “pau<br />
gran<strong>de</strong>”, trabalhamos bastante lá.<br />
12 “A vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s <strong>garimpeiro</strong>s é ain<strong>da</strong> hoje uma vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> privações e <strong>de</strong> muito trabalho, sempre em<br />
condições insalubres. Ficam separa<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s famílias, que reveem nos finais <strong>de</strong> semanas, ou a ca<strong>da</strong><br />
quinze dias, ou após intervalos ain<strong>da</strong> maiores”. (SANTIAGO, 2010, p.162-163)<br />
13 [...] comecei a trabalhar no garimpo, às vezes tirava, um ano agente tirava, no outro agente perdia,<br />
costumava o que ocê tirava num ano cê gastava no outro; cê enten<strong>de</strong>u? Então, serviço muito<br />
pesa<strong>do</strong>, [...] Aí era assim, agente costumava a pegar serviço ce<strong>do</strong>, tinha dia que não tinha horário,<br />
ocê entrava pra noite a<strong>de</strong>ntro, [...] costumava até amanhecer o dia, porquê <strong>de</strong> conforme a situação<br />
que tava a cata, o rio enchen<strong>do</strong>, ocê era obriga<strong>do</strong> a querer <strong>do</strong>brar, trabalhar dia e noite pra po<strong>de</strong>r ver<br />
se conseguia tirar alguma coisa que se manter, cê enten<strong>de</strong>u? Várias vezes tirava, outras vezes não,<br />
mais prejuízo. Agente tirou muito diamante, mais quan<strong>do</strong> tirava agente já tava <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> aquilo que<br />
agente tirou. [...] (J.L.N)<br />
Revista Vozes <strong>do</strong>s Vales <strong>da</strong> <strong>UFVJM</strong>: Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 02 – Ano I – 10/2012<br />
Reg.: 120.2.095–2011 – PROEXC/<strong>UFVJM</strong> – ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes<br />
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