18.04.2013 Views

as três formas de negação à castração - Psicanálise & Barroco

as três formas de negação à castração - Psicanálise & Barroco

as três formas de negação à castração - Psicanálise & Barroco

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Psicanálise</strong> & <strong>Barroco</strong> em revista v.8, n.2: 74-94, <strong>de</strong>z.2010<br />

As <strong>três</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>negação</strong> <strong>à</strong> c<strong>as</strong>tração<br />

fenômeno o modo utilizado, pelo sujeito, para não reconhecer que captou uma falta no<br />

corpo da mãe. Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>: o fetiche é usado para tamponar a falta captada. Desse<br />

modo, fica <strong>de</strong>smentida a c<strong>as</strong>tração materna. O acesso <strong>à</strong> representação da ausência <strong>de</strong> pênis<br />

na mulher é solucionado, pelo perverso, mediante o <strong>de</strong>smentido do conteúdo <strong>de</strong>ssa<br />

representação, <strong>de</strong> modo não a alijá-la da consciência, m<strong>as</strong> a fazê-la conviver, lado a lado,<br />

com uma outra representação contraditória sem que haja contradição. Essa solução (du<strong>as</strong><br />

representações contraditóri<strong>as</strong> coexistindo sem conflito) é a saída encontrada pelo perverso<br />

frente ao impacto da falta captada na mãe, m<strong>as</strong> é também a perda <strong>de</strong> um fragmento da<br />

realida<strong>de</strong>; não da realida<strong>de</strong> externa, pois o que está em questão é o <strong>de</strong>smentir <strong>de</strong> uma<br />

realida<strong>de</strong> psíquica: no c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>tração.<br />

Enquanto conceito, o <strong>de</strong>smentido é referido inicialmente a problemática do<br />

complexo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>tração e não <strong>à</strong> perversão, especialmente no contexto d<strong>as</strong> formulações que<br />

aparecem em A organização genital infantil, on<strong>de</strong> fica marcada a primazia do falo. (Freud,<br />

1923/1976). É, sem sombra <strong>de</strong> dúvida, em torno do conceito <strong>de</strong> Édipo que começa a se<br />

perfilar o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>smentido como o mecanismo pelo qual o sujeito recusa aceitar a<br />

evidência <strong>de</strong> um fato registrado no âmbito <strong>de</strong> sua percepção. Essa <strong>de</strong>finição somente se<br />

aprimora no estudo freudiano sobre o fetichismo, on<strong>de</strong> encontramos a construção teórica <strong>de</strong><br />

que a criança recusa reconhecer a percepção da ausência <strong>de</strong> pênis na mulher, pois<br />

reconhecer tal ausência a colocaria diante da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter que aceitar a sua própria<br />

c<strong>as</strong>tração. É conveniente ressaltar que o processo <strong>de</strong>fensivo não implica, ness<strong>as</strong><br />

circunstânci<strong>as</strong>, em uma anulação da percepção (processo que parece ocorrer na<br />

subjetivação psicótica), m<strong>as</strong> em uma ação b<strong>as</strong>tante enérgica para manter <strong>de</strong>smentida uma<br />

percepção que se mostra sempre presente.<br />

O fetiche seria o substituto do falo materno, em cuja existência a criança não<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> crer, permitindo a criação <strong>de</strong> um compromisso através do qual a crença <strong>de</strong><br />

que a mulher, c<strong>as</strong>o possua um pênis, é abandonada e ao mesmo tempo conservada. Eis o<br />

paradoxo configurado pela coexistência da antiga crença própria da teoria da universalida<strong>de</strong><br />

do pênis com o saber <strong>de</strong> algo que veio <strong>de</strong>smenti-la.<br />

Desse modo, o perverso estabelece <strong>de</strong>sse modo um compromisso entre o<br />

reconhecimento do perigo da c<strong>as</strong>tração afirmado pela realida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>smentido da c<strong>as</strong>tração<br />

85

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!