Miniaturas Mogóis PARTE 2 OUTRAS PRECIOSIDADES <strong>São</strong> variados os exemplares <strong>de</strong> pinturas e <strong>de</strong>senhos executados durante o período mogol que remetem para o imaginário cristão. Este profundo fascínio pelo cristianismo advém, não só da presença portuguesa no subcontinente, mas também do interesse pela cultura oci<strong>de</strong>ntal manifestado pelos soberanos e corte mogol. Foi, nomeadamente, durante o reinado <strong>de</strong> Akbar (1556-1605) que se atingiu o apogeu na execução <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> miniaturas, fomentada pelo intenso ambiente cultural então vivido. Gran<strong>de</strong> estadista, o seu reinado foi um período áureo <strong>de</strong> crescimento e gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, inclusive a nível artístico. Não abdicando das suas origens, Akbar, seguidor do islão e impondo o persa como língua oficial, manifestou inteligência ao administrar esta po<strong>de</strong>rosa corte estrangeira, em convívio com um povo maioritariamente hindu, mas com um vasto leque <strong>de</strong> tradições religiosas e culturais, fomentando a tolerância e criando uma religião única que englobava o islão, o hinduísmo e o cristianismo – o Din-i-Ilahi, proclamado em 1579. Esta nova religião favorecia encontros e discussões teológicas, on<strong>de</strong> as crenças e costumes eram partilhados, conduzindo a um maior conhecimento das diferentes comunida<strong>de</strong>s, incentivando a troca <strong>de</strong> influências e i<strong>de</strong>ias. O cristianismo foi facilmente aceite pela corte muçulmana, situação facilitada pelo facto <strong>de</strong> Jesus Cristo ser consi<strong>de</strong>rado um dos profetas do Corão. Gauvin Alexan<strong>de</strong>r Bailey sustenta no seus textos que, embora a maior <strong>parte</strong> das representações cristãs fossem puro exotismo, muitas <strong>de</strong>las parecem ter sido associadas à função <strong>de</strong> culto, facto confirmado por fontes históricas da época. Calcula-se que as comunida<strong>de</strong>s locais utilizavam as representações <strong>de</strong> santos e anjos cristãos para proclamar uma mensagem baseada na simbologia islâmica, sufi e hindu. Estas imagens eram inspiradas nas inúmeras gravuras flamengas e pinturas italianas que os variados visitantes e emissários levavam consigo à corte e ofereciam ao Imperador. Importantes testemunhos da civilização europeia, repletos <strong>de</strong> novas técnicas pictóricas, eram assimilados pelos artistas locais e adaptados às influências persas e escolas hindus locais. O enorme interesse pelas temáticas e imaginária cristã foram também apreciadas pelos sucessores <strong>de</strong> Akbar, sendo <strong>de</strong> referir o reinado <strong>de</strong> Jahangir, quando foram produzidas inúmeras miniaturas on<strong>de</strong> abundam anjos, resplendores e imperadores com globo na mão. Bibliografia: - “Mughal Miniatures”; Rogers, J.M.; The British Museum Press; Londres; 1993. - “Na Rota do Oriente”; Manuel Castilho; Lisboa; 1999. 161. Nobre Indiano Mongol Desenho a tinta preta sobre papel Índia; séc. XVII / XVII Dim.: 5 cm x 3,8 cm Fragmento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho miniatura a tinta preta sobre papel. O rosto masculino retrata o Imperador Jahangir (1605-27) <strong>de</strong> perfil, jovem com turbante e brincos e traje imperial mogol. Este exemplar segue os traços das típicas representações conhecidas do Imperador. Jahangir foi um gran<strong>de</strong> entusiasta da cultura, incentivando a produção <strong>de</strong> miniaturas, muitas <strong>de</strong>las repletas <strong>de</strong> influências oci<strong>de</strong>ntais. Vd. - “Mughal Miniatures”; Rogers, J.M.; The British Museum Press; Londres; 1993. 185 _
_ 186 PARTE 2 OUTRAS PRECIOSIDADES 162. Virgem Maria Desenho a tinta preta sobre papel Índia, séc. XVI / XVII Dim.: 4,3 cm x 7,8 cm Desenho a tinta preta sobre papel on<strong>de</strong> surgem dois rostos <strong>de</strong> Virgem Maria em semelhante atitu<strong>de</strong>, reclinada e <strong>de</strong> olhar sereno.