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Bienal de Antiguidades 2011 parte 3 - Antiguidades São Roque

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_ 138<br />

119. Taça<br />

Ágata e ouro<br />

Provavelmente Guzarate, séc. XVII; com montagens posteriores<br />

Dim.: altura: 5,8 cm; diâmetro 7,5 cm<br />

PARTE 2 SÃO ROQUE’S KUNSTKAMMER<br />

Esta pequena taça em ágata matizada e <strong>de</strong> tons fumados tem como característica principal o facto <strong>de</strong><br />

ser monolítica, ou seja, corpo e pé foram lavrados <strong>de</strong> um único bloco <strong>de</strong> mineral e permanecem<br />

contínuos. Ágatas são uma das muitas formas da calcedónia, um tipo <strong>de</strong> quartzo on<strong>de</strong> se incluem<br />

também as cornalinas e os heliotrópios. A i<strong>de</strong>ntificação da origem geográfica <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> peças<br />

– trabalhadas a partir <strong>de</strong> um bloco <strong>de</strong> mineral e sem <strong>de</strong>coração – apresenta normalmente gran<strong>de</strong>s<br />

dificulda<strong>de</strong>s. No entanto, a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mineral usado e a sua forma sugerem que a taça <strong>de</strong>verá ter<br />

origem no Guzarate, província do noroeste da Índia. De acordo com os diários dos muitos viajantes<br />

e comerciantes que visitaram o Guzarate nos séculos XVI e XVII, era dali que provinham objectos<br />

utilitários mas também outros com maior intervenção artística realizados em calcedónias várias.<br />

Entre estes contam-se taças, cabos adagas e espadas, sinetes, anéis, etc 1 . Das raríssimas peças<br />

datadas que chegaram até nós <strong>de</strong>staca-se uma pequena taça semi-hemisférica também em ágata<br />

inscrita com versículos do Corão e data correspon<strong>de</strong>nte a 1606, presentemente na Khalili Collection,<br />

Londres 2 . Uma segunda taça também em ágata matizada e atribuída ao segundo quartel do século<br />

XVII encontra-se no Los Angeles County Museum of Art 3 .<br />

A pronunciada copa <strong>de</strong>sta taça assenta num pequeno pé reproduzindo a base <strong>de</strong> um cone truncado. O<br />

bordo apresenta-se com lábio curvado para o exterior e direito, e com menor espessura do que as<br />

pare<strong>de</strong>s. Embora tanto a copa como o pé sejam mais pronunciados, estes aproximam-se das formas<br />

do cálice em ja<strong>de</strong> do imperador mogol Jahangir (r. 1605-27) nas colecções do Brooklyn Museum e<br />

com data inscrita correspon<strong>de</strong>nte a 1607-08 4 . Uma segunda taça, na al-Sabah Collection, Kuwait, em<br />

cristal <strong>de</strong> rocha mas enriquecida com ouro e pedras preciosas apresenta também forma semelhante 5 .<br />

Foram vários os imperadores mogóis que se fizeram retratar com pequenas taças nas mãos mas<br />

infelizmente e <strong>de</strong>vido às reduzidíssimas dimensões dos objectos reproduzidos é difícil ter a certeza<br />

das formas <strong>de</strong>stas, e daí retirar quaisquer conclusões.<br />

A taça foi enriquecida com dois aros em filigrana e granulado em ouro. O motivo <strong>de</strong>corativo usado, uma<br />

sucessão <strong>de</strong> ondas vistas <strong>de</strong> perfil, é algo incomum na Índia mogol ou mesmo em outras regiões ao<br />

sul da Índia. O chamado enrolamento <strong>de</strong> Vitrúvio faz <strong>parte</strong> do repertório da arquitectura da Roma<br />

Antiga e apresenta-se aqui a <strong>de</strong>corar a borda do pé e a zona imediatamente anterior ao lábio da taça.<br />

Uma ligeira reentrância nesta última zona indica que a taça foi i<strong>de</strong>alizada para ser <strong>de</strong>corada com<br />

montagens. No entanto, o motivo escolhido assim como o facto <strong>de</strong> o aro superior impedir o seu<br />

uso – pelo menos <strong>de</strong> uma forma confortável – indicam que as montagens serão posteriores, datando<br />

possivelmente do séc. XIX.<br />

Pedro Moura Carvalho<br />

Historiador <strong>de</strong> Arte<br />

1 P. Moura Carvalho; “Gems and Jewels of Mughal India”, com ensaios <strong>de</strong> S. Vernoit e H. Sharp; The Nasser D. Khalili<br />

Collection of Islamic Art; vol. XVIII; Londres, 2010; p. 50.<br />

2 I<strong>de</strong>m., p. 85, cat. 30.<br />

3 P. Pal, J. Leoshko, J.M. Dye III, e S. Markel; “Romance of the Taj Mahal”; Catálogo <strong>de</strong> exposição (Los Angeles County<br />

Museum of Art); Los Angeles e London, 1989; pp. 152-3, cat. 162.<br />

4 Datado e com data correspon<strong>de</strong>nte a 1607-8. Illustrado em R. Skelton, et al., “The Indian Heritage. Court Life and Arts<br />

un<strong>de</strong>r Mughal Rule”; Catálogo <strong>de</strong> exposição; Londres (Victoria and Albert Museum) 1982; p. 117, cat. 350.<br />

5 M. Keene com S. Kaoukji; “Treasury of the World. Jewelled Arts of India in the Age of the Mughals: The al-Sabah<br />

Collection”; Kuwait National Museum; Catálogo <strong>de</strong> exposição (British Museum, etc.); Nova Iorque, 1997; p. 33, cat. 2.7.

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