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Diferentes heróis, Diferentes caminhos - Leia Brasil

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Bartolomeu Campos de Queirós * Celso Sisto * Graziela Bozano Hetzel * Marina Colasanti <strong>Diferentes</strong> Heróis, <strong>Diferentes</strong> Caminhos<br />

A velha deixou o patinho ficar, mas como depois<br />

de três semanas ele não havia posto nenhum<br />

ovo, nem aprendido arquear as costas e a ronronar,<br />

e só falava em nadar e mergulhar, o gato e a galinha<br />

trataram de mandá-lo embora.<br />

E o patinho se foi. Logo encontrou um lago<br />

onde boiou, nadou e mergulhou, mas todos os animais<br />

o desprezavam pela sua feiura.<br />

Mesmo assim ele foi ficando por ali até chegar o outono.<br />

Na mata as folhas se tingiram de amarelo e de marrom<br />

e eram carregadas pelo vento que, a cada dia, ficava<br />

mais frio. Todos os animais começaram a preparar seus<br />

esconderijos para enfrentar o inverno e o patinho, que<br />

nunca havia visto nenhum, tinha a certeza de que seria<br />

um tempo muito ruim, e começou a se sentir muito mal.<br />

Já bem perto do inverno, num final de tarde,<br />

saiu do bosque todo um bando de grandes aves brancas<br />

e vistosas. O patinho nunca as havia visto, antes.<br />

Eram aves tão lindas, de um branco brilhante, com<br />

um longo pescoço delgado e flexível.<br />

Eram cisnes que soltaram gritos muito estranhos;<br />

abriram as longas e esplêndidas asas e parti-<br />

16<br />

ram da região fria, em busca de lugares mais quentes<br />

e lagos mais claros. E foram subindo, subindo...<br />

O patinho sentiu algo muito estranho ao vêlas<br />

partir, e esticou o pescoço para acompanhá-las<br />

em seu vôo, e soltou um grito tão agudo e esquisito<br />

que ele próprio se assustou. Observou-as até sumirem<br />

no horizonte e depois mergulhou até o mais<br />

fundo que podia.<br />

Quando voltou à tona estava feliz. Não sabia<br />

o nome daquelas aves, mas sentiu que gostava delas<br />

como nunca havia gostado de alguém.<br />

O inverno chegou, muito, muito frio. O patinho<br />

era obrigado a nadar o tempo todo para evitar<br />

que a água do lago congelasse. Cada noite, porém o<br />

espaço em que ele nadava tornava-se menor, até que<br />

um dia seus pés ficaram presos no gelo.<br />

Por sorte sua um camponês o encontrou e o levou<br />

para a sua casa e lhe deu de presente para a sua<br />

mulher. Dentro da casa quente o patinho reanimouse.<br />

Como os filhos do camponês quiseram brincar<br />

com ele, o patinho assustou e fugiu, indo cair direto<br />

no latão de leite, derramando tudo no chão.<br />

A mulher ficou muito brava e o patinho assustou-se<br />

ainda mais, voando até cair no tacho da manteiga<br />

e depois na barrica de farinha de trigo, deixando<br />

a casa em estado lastimável.<br />

Então a mulher e as crianças correram para<br />

pegá-lo e ele não teve outra alternativas senão escapar<br />

pela porta entreaberta, e esconder-se nos arbustos cobertos<br />

pela neve que havia caído no início da tarde.<br />

Bem, seria muito triste contar todas as desventuras<br />

e dificuldades pelas quais o patinho teve que passar durante<br />

o longo e rigoroso inverno. Mas o fato é que, quando o<br />

Sol começou a aquecer a terra, foi encontrá-lo deitado no<br />

pântano entre os juncos. Os pássaros, alegres, começaram<br />

a cantar a primavera que se iniciava linda e radiante.<br />

Sem saber bem por que abriu as asas, que fizeram<br />

um rumor maior do que antes, e o carregaram potentes<br />

para longe. Antes mesmo que soubesse achavase<br />

num lago junto a um grande pomar, com árvores<br />

em flor inundando o ar de suave perfume. Tudo ali era<br />

delicioso, e da curva do lago surgiram três lindos cisnes<br />

brancos, flutuando leves e ligeiros, sobre a água, e<br />

o patinho reconheceu as aves e decidiu vê-las de per-<br />

17<br />

to. Nadou até elas, mesmo sabendo que iriam matá-lo<br />

a bicadas por conta da sua feiura. Mas nada disso importava.<br />

Preferível morrer assim do que passar o resto<br />

da vida sendo humilhado com sempre havia sido.<br />

Entrou na água e nadou em direção aos belos<br />

cisnes que, ao vê-lo, nadaram velozes em sua direção.<br />

O patinho abaixou a cabeça à espera do ataque,<br />

viu seu corpo refletido, e espantou-se. Não era um<br />

pato pardo e desengonçado que ele via no espelho da<br />

água, mas um enorme e lindo cisne branco.<br />

Os grandes cisnes brancos nadaram até ele afagando-o<br />

com os bicos.<br />

No jardim apareceram crianças que lhes jogaram<br />

pão e pedaços de bolo.<br />

– Olha! – Gritou o menor dos meninos. – Apareceu<br />

um cisne novo.<br />

– Verdade! – Falaram as outras crianças, e bateram<br />

palmas. – Ele é o mais bonito de todos.<br />

Embaraçado, ele tentou esconder a cabeça sob a asa,<br />

mas os outros cisnes não deixaram, sorrindo para ele, que<br />

finalmente também lhes sorriu e pensou: “Nunca pensei<br />

que um dia seria tão feliz quando era um patinho feio.”

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