Diferentes heróis, Diferentes caminhos - Leia Brasil
Diferentes heróis, Diferentes caminhos - Leia Brasil
Diferentes heróis, Diferentes caminhos - Leia Brasil
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Bartolomeu Campos de Queirós * Celso Sisto * Graziela Bozano Hetzel * Marina Colasanti <strong>Diferentes</strong> Heróis, <strong>Diferentes</strong> Caminhos<br />
lutou sozinho contra um batalhão,<br />
Perdeu no mar sua embarcação,<br />
Foi engolido por um tubarão<br />
Mas saiu vivo e virou notícia<br />
Em tudo quanto é nação.<br />
Mas a fama não bastou<br />
E o coração da donzela<br />
Ele não conquistou.<br />
Tentou lhe dar carinho<br />
Cobrir-lhe de atenção<br />
Fez verso de amor<br />
Cantoria e serenata<br />
Mas nada, nada dobrava a moça<br />
Que parecia ter coração de lata.<br />
Mas o vento da revolta,<br />
Ou quem sabe da vingança<br />
Entrou fazendo estrago<br />
Naquele brinquedo de criança.<br />
Levantou no ar a bailarina<br />
Colocou-a pra rodopiar<br />
Correu com ela pra lareira,<br />
E deixou-a no fogo queimar.<br />
O soldado chorou dias<br />
Não conseguia aceitar<br />
Que aquele seu grande amor<br />
Fosse assim se acabar.<br />
40<br />
Mas guardou a lantejoula<br />
Que sobrou lá do vestido<br />
Colocou-a no chapéu<br />
E agora, com ar sofrido,<br />
Declara em alto e bom som:<br />
– Amar de novo,<br />
Não quero mais não!<br />
E pra não perder a pose<br />
E para ganhar a vida<br />
Faz papel de soldado<br />
Em festa do povoado.<br />
Bailados, folguedos, folganças<br />
Ou autos ou danças,<br />
Onde quer que haja<br />
Necessidade de milícia,<br />
Esse soldado valente<br />
Aceita participar.<br />
Na Cavalhada, no Cavalo Marinho,<br />
Até em baile pastoril,<br />
No reisado ou em congada.<br />
E entre reis, rainhas, reinados<br />
Lá vai nosso soldado.<br />
De azul ou encarnado.<br />
E sai por rua ou praça<br />
Em cortejo milenar<br />
Pra outra história contar!<br />
Quando seu Baltazar terminou de narrar a sua<br />
história, já era tarde. Marcus não ia ter mais tempo de<br />
estudar pra prova.<br />
– E então, gostou?<br />
– Nossa, seu Baltazar, como é que o senhor<br />
sabe tudo isso de memória? – Disse o Marcus impressionado.<br />
– Ora, ora , garoto, às vezes invento na hora...<br />
– Mas então...? – Marcus fez cara de quem tinha<br />
sido traído.<br />
– Calma, menino! Invento as palavras, mas a<br />
história continua a mesma!<br />
O Rodrigo apareceu na sala com cara de sono e<br />
o Marcus se despediu, explicando:<br />
– Tenho que voltar pra casa, não vai dar mais<br />
pra estudar... Já é tarde e minha mãe vai me matar se<br />
eu demorar!<br />
– Eu não disse que isso era pra nunca acabar?<br />
T O V<br />
41<br />
– Disse o Rodrigo, coçando a cabeça e bocejando.<br />
Seu Baltazar riu com gosto. O Marcus falando assim,<br />
cheio de rima, parecia influência dele. Na hora que o<br />
menino já estava cruzando a porta, seu Baltazar chamou:<br />
– Marcus! Vem cá! Toma!<br />
Seu Baltazar caminhou uns passos. O Marcus<br />
voltou atrás. Seu Baltazar abriu a mão e colocou na<br />
mão dele, o soldadinho de chumbo, e completou:<br />
– Pra você aumentar sua coleção – Disse seu<br />
Baltazar, sorrindo.<br />
– Mas, não posso...<br />
– Só me promete uma coisa: que vai contar essa<br />
história pra outras pessoas...<br />
Marcus deu um largo sorriso e disse:<br />
– Pode deixar, seu Baltazar!<br />
Correu para a porta, bateu continência e saiu.<br />
Lá fora outra infantaria o esperava: pai, mãe e a<br />
noite gelada.