Diferentes heróis, Diferentes caminhos - Leia Brasil
Diferentes heróis, Diferentes caminhos - Leia Brasil
Diferentes heróis, Diferentes caminhos - Leia Brasil
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Bartolomeu Campos de Queirós * Celso Sisto * Graziela Bozano Hetzel * Marina Colasanti<br />
Um Convite<br />
à Liberdade<br />
Elaine Cristina R. Gomes Vidal e<br />
Sueli de Oliveira Rocha<br />
Compartilhamento de Andersen e Graziela Bozano Hetzel<br />
{O rouxinol e o imperador e Luiza}<br />
88<br />
Contam que um célebre sueco, muito doente,<br />
como último desejo, pediu à famosa cantora Jenny<br />
Lind que cantasse para ele. Ela atendeu o pedido. E<br />
seu canto foi tão belo que afastou os males do doente.<br />
Contam ainda que Hans Christian Andersen se<br />
inspirou nessa história – oriunda de uma fonte próxima<br />
a ele já que conhecia Jenny e era dela um grande<br />
admirador – e a transformou na graciosa fábula “O<br />
rouxinol e o imperador”.<br />
Já Graziela Bozano Hetzel, para escrever “Luiza”,<br />
provavelmente se inspirou nas anônimas histórias cotidianas<br />
em que a luta pela sobrevivência separa pais e<br />
filhos. Apesar das variações de tempo e espaço, os contos<br />
de Graziela Hetzel e Andersen mantêm entre si interessante<br />
diálogo, reforçado no tema comum aos dois:<br />
a idéia de que mais vale a pobreza com liberdade e amor<br />
do que a riqueza com prisão e adulação artificial.<br />
Nas duas histórias, o leitor é introduzido no ambiente,<br />
como se portasse uma câmera: os textos são muito<br />
visuais, quase roteiros que levam o leitor a conhecer os<br />
espaços onde ele se depara – como que de surpresa – com<br />
as personagens principais: o rouxinol e a menina Luiza.<br />
Andersen o fisga de pronto, ó leitor desavisado,<br />
usando de estratégias persuasivas para envolvê-lo.<br />
Ele o transforma numa fonte qualificada, testemunha<br />
pronta a corroborar as palavras do narrador. Dessa<br />
Para ler Andersen<br />
8<br />
forma, ele o enreda e o coloca no espaço da história,<br />
conferindo-lhe a autoridade do conhecimento: “Na<br />
China, você sabe, o imperador é chinês...”.<br />
Espie, pois, antes de tudo, os espaços onde as<br />
duas histórias acontecem. No texto de Andersen, o<br />
primeiro espaço descrito é o do luxo: o palácio do imperador!<br />
Mas Andersen o convida a sair do palácio e<br />
passear pelos jardins, até chegar ao ambiente de liberdade<br />
e pobreza onde se encontra o rouxinol. Depois<br />
disso, Andersen o traz de volta ao palácio onde você,<br />
rico leitor, acompanha a história sob a ótica do luxo<br />
imperial. Já Graziela Hetzel o faz conhecer o outro extremo:<br />
o primeiro ambiente explorado em sua história<br />
é o casebre pobre de Luiza; e mesmo quando os espaços<br />
de luxo são retratados, o que prevalece é a ótica da<br />
pobreza, personificada na menina ou na babá.<br />
Agora, inquieto leitor, desvie sua câmera para outro<br />
lugar. Ouvidos atentos, ouça o barulho das águas<br />
que beijam a praia e logo se vão, em busca de histórias<br />
que contam os mistérios do mundo. Olhar arguto,<br />
observe outro elemento de composição do espaço nos<br />
dois textos: o mar. Enquanto Andersen usa o “mar”<br />
como cenário de liberdade e pobreza (o rouxinol era<br />
livre e morava nos arvoredos à beira-mar, de onde era<br />
ouvido pelos humildes pescadores), Graziela oferece à