a violência em “Pulp Fiction”e “Cães - Faculdade de Comunicação ...
a violência em “Pulp Fiction”e “Cães - Faculdade de Comunicação ...
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torturador arranca a orelha <strong>de</strong> um policial 26 , s<strong>em</strong> que se veja o ato <strong>em</strong> si, é tida<br />
como uma das mais fortes dos últimos t<strong>em</strong>pos. A diferença é que, <strong>em</strong> Pulp Fiction,<br />
toda a crueza presente nessa forma original <strong>de</strong> se materializar nas telas a <strong>violência</strong><br />
(tendose <strong>em</strong> mente o contexto <strong>de</strong> outras produções recentes que a abordam com<br />
nuances mais escancaradas) é amortizada pela ironia. Além disso, esse jogo <strong>de</strong><br />
mostrar s<strong>em</strong> mostrar completamente s<strong>em</strong>pre é antecedido e sucedido por diálogos<br />
que envolv<strong>em</strong> amenida<strong>de</strong>s, como se a explosão <strong>de</strong> <strong>violência</strong> fosse antes pano <strong>de</strong><br />
fundo a protagonista <strong>de</strong> Pulp Fiction. É a verborragia que importa e ocupa lugar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>staque na narrativa, não o tratamento visual, que po<strong>de</strong>, por sua vez, abraçar,<br />
<strong>de</strong>ntre outras coisas, a <strong>violência</strong> explícita.<br />
Tampouco, po<strong>de</strong>se falar que esse filme apela para a <strong>violência</strong> gratuita: assim<br />
como inexiste um personag<strong>em</strong> central, ou a figura <strong>de</strong> um protagonista e outra <strong>de</strong> um<br />
antagonista, a cena violenta não funciona como pretexto moral. Tanto Vincent,<br />
como Jules e mesmo Butch são personagens amorais que não d<strong>em</strong>onstram<br />
conflitos ou r<strong>em</strong>orsos por matar<strong>em</strong> alguém. O lutador chega mesmo a cantarolar<br />
junto com a música do rádio após matar seu algoz, Vincent Vega. O “mocinho” não<br />
mata o “bandido” porque este, enquanto “bandido”, merecia morrer. Mesmo<br />
porque, não há maniqueísmo possível <strong>em</strong> Pulp Fiction: o esqu<strong>em</strong>a b<strong>em</strong> x mal não<br />
funciona no universo criado pela narrativa.<br />
Na lógica <strong>de</strong> Tarantino, observável tanto nesse filme como <strong>em</strong> Cães <strong>de</strong> aluguel,<br />
inexiste uma <strong>violência</strong> legítima. Há, sim, uma <strong>de</strong>sestabilização, ou seja, qualquer um<br />
26 Ver análise <strong>de</strong>sta cena na parte II da monografia<br />
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