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TERRITÓRIOS DESLIZANTES: - UFSC

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Falamos de fronteiras, e finalizando esta parte, gostaria de voltar brevemente a<br />

duas dimensões colocadas. Os limites e limiares 200 . O caso de Silvana 201 bem pode continuar<br />

explicitando isto. Em outra fala, na mesma entrevista, ela colocou que aguardava a concessão<br />

da dupla cidadania ao marido, criciumense descendente de italianos, para ter facilitado seu<br />

acesso aos Estados Unidos. Falou também que já que “este negócio de etnias tá em moda,<br />

veja só a Festa das Etnias, quero aproveitar. Antes nem ouvia ou sabia o que era isto”.<br />

Agora ela consegue traduzir. Para ela o sentido étnico é prático e real. Esta é uma<br />

compreensão de fronteira enquanto limite, e mesmo neste sentido, para além da idéia clássica<br />

de Estado-Nação ou de uma “comunidade política e imaginada – e imaginada como<br />

implicitamente limitada e soberana” 202 , na hoje já bastante surrada expressão de Benedict<br />

Anderson, estão ali os entre-lugares. Engana-se quem pensa que os entre-lugares são<br />

expressões apenas dos limiares, os limites se fazem neles presentes também. Na junção do<br />

possível, limite e limiar estão vivos e presentes no jogo híbrido. Territórios que são<br />

deslocados, que se constituem a partir de sentidos deslizantes.<br />

Finalmente, território sendo “etmologicamente instável, deriva tanto de terra<br />

como de terrere (amedrontar), de onde territorium, “um lugar do qual as pessoas são<br />

privilegia a abordagem da tradução, pois esta permite o fluxo e o trânsito, enquanto a tradição insiste em falar de<br />

um continuum.<br />

200 Há muito se vê discutindo a idéia de fronteira enquanto limites e limiares. Gostaria de deixar claro meu<br />

agradecimento ao professor e amigo Luiz Felipe Falcão, quem primeiro me chamou atenção para esta noção.<br />

Aliás uma abordagem interessante e competente desta possibilidade de fronteira pode ser encontrada em sua<br />

tese, transformada recentemente em livro. Ver: FALCÃO, Luiz Felipe. Entre ontem e amanhã: diferença<br />

cultural, tensões sociais e separatismo em Santa Catarina no século XX. Itajaí: UNIVALI, 2000.<br />

201 Apenas tentando não deixar no ar o desfecho da saga de Silvana, deixo anotado seu encerramento. Após a<br />

viagem e chegando na capital mexicana novamente, as mulheres foram encaminhadas para a detenção nacional<br />

de emigrantes no México. Lá ficaram presas por vinte e dois dias, e, após intervenção de advogados, do<br />

consulado brasileiro e até mesmo da Anistia Internacional, foram deportadas pelo governo mexicano. Chegando<br />

no Brasil de volta, uma delas, amiga de Silvana, voltou imediatamente ao México, mantendo contato com outro<br />

coiote, fazendo novamente o mesmo trajeto. Desta vez a amiga conseguiu atravessar. Quanto a Silvana, quatro<br />

meses após ter me concedido a entrevista, conseguiu finalmente entrar nos Estados Unidos, de modo “diferente”.<br />

Obteve visto e entrou legalmente naquele país.

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