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TERRITÓRIOS DESLIZANTES: - UFSC

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Cesaca é o que rola, os parceiro tão ligado se chover é embaçado,<br />

outro dia estava lá no terminal central(...) tá chegando o<br />

amarelinho quem ta dentro é o povinho (...)” 143<br />

O rapper fala da cidade de dentro dela 144 . A linguagem e as letras instauram<br />

diferenças. O Clube Operária 145 , um dos territórios negros da cidade, ganha voz. Na Cesaca,<br />

antiga fábrica da cidade, posteriormente transformada em pavilhão onde se realizaram duas<br />

das quinze Quermesses, como vimos, há o encontro, e “rola o som”. O território é assim<br />

mesmo, ao ar livre e na rua quase sempre, por isto, se chover fica “embaçado”. No trânsito<br />

vai chegando o amarelinho, o ônibus de linha circular da cidade, que pode levar todos à Zona<br />

Sul, onde não é diferente, “o som rola e o bicho pega”. Esta é a territorialização local.<br />

Contudo, há também, e as músicas permitem identificar isto, os territórios que se deixam<br />

atravessar por outras manifestações. O próprio Rap do Ato Consciente é muito resultado<br />

disto. As referências iniciais do rap foram forjadas em territórios negros americanos, ainda<br />

em fins da década de 1960. O Ato Consciente deixa claro alguns ícones da expressão rapper<br />

americana: “É Nike Jordan no pé, na cabeça o boné”. Mais que isto, o Rap na cidade acaba<br />

143 Esta citação recupera trechos de algumas músicas do Grupo Ato Consciente, sendo elas: Idéia Forte; Zé<br />

Povinho; . O CD lançado pelo grupo foi uma produção caseira. Segundo Willian, um dos integrantes do Grupo,<br />

“é muito caro fazer um CD registrado, e conseguir uma gravadora, então, é quase impossível. Já passamos<br />

dificuldade para fazer a música tocar nas emissoras de rádio da cidade, coisa que ainda não conseguimos. O<br />

recurso foi gravar na casa de um amigo, no computador que ele tinha. Para as vendas a gente acertou com um<br />

comerciante da cidade. Ele dá o material, os cd´s no caso, e faz capas e tal. O Cd é pirata é claro. Mas foi o<br />

jeito. Dividimos o lucro meio a meio com comerciante. Vendemos já umas 250 cópias desta forma. Também<br />

vendemos cópias do cd nos shows que a gente faz pela cidade”. In: depoimento concedido a mim na cidade de<br />

Criciúma, por Willian Santiago Bernardo, em 05/09/2003.<br />

144 Um leitura muito interessante sobre isto pode ser encontrada em: ORLANDI, Eni P. Tralhas e Troços: o<br />

Flagrante Urbano. In: ORLANDI, Eni Puccinelli. Cidade atravessada: os sentidos públicos no espaço urbano.<br />

Campinas, Pontes, 2001, pgs. 9-24. Ver também na mesma obra, os sentidos públicos no espaço urbano<br />

discutidos por Pedro de Souza (Espaços interditados e efeitos-sujeito na cidade) e Sueli Rolnik (novas figuras do<br />

Caos: mutações da subjetividade contemporânea).<br />

145 Clube União Operária, instalado na cidade desde 1937, foi desde sua fundação, um território negro. Mais<br />

que isto, fez frente a outros territórios, a exemplo daquele forjado pelo Clube União Mineira (criado em 1935),<br />

onde até fins da década de 1960, “negro não entrava”. A relação entre estes dois clubes sempre foi muito tensa.<br />

Conversando com várias pessoas do Bairro Santa Bárbara, não negras, foi possível perceber a indiferença destas<br />

com a participação do União Operária na construção social do bairro. Quando da realização da festa de Santa<br />

Bárbara (que ocorre de forma intermitente há mais de 80 anos), havia sempre no sábado à noite, um baile festivo<br />

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