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Dando voz aos presidentes das associações étnicas, o que se pode perceber é<br />
mesmo um forte sentimento de propriedade de criação que, segundo esta perspectiva, fornece<br />
legitimidade à Quermesse: Tradição e Cultura, ou melhor, à Festa das Etnias. Isto se mostra da<br />
seguinte forma:<br />
“Partimos para a organização da quermesse, desejando transformar em<br />
festa das etnias. É a Festa das Festas na cidade. O nome veio da<br />
prefeitura, mas fazia sentido, porque era ao redor da igreja(...). Não foi<br />
quermesse desde do início. Porque quermesse que eu conheço é aquela<br />
festa ao redor da igreja, com barraquinhas. Aí os italianos quiseram na<br />
segunda reunião, fazer um café colonial. Eu sugeri que a gente fizesse<br />
um jantar. E assim foi sendo criado a festa. Desde da primeira não foi<br />
quermesse. O nome veio da prefeitura. Nós acatamos. A idéia começou<br />
a pegar. Meus amigos vinham de fora e perguntavam quando ia ter<br />
quermesse. Eu trouxe gente até da Argentina pra festa. Então outras<br />
entidades começaram a inchar a festa. (...).Veio da prefeitura o nome.<br />
Era quermesse porque tinha barraquinha, isto dava um ar de quermesse.<br />
Com a participação de outras entidades a festa começou a inchar muito.<br />
Por vários anos o número de entidades não étnicas foi maior que as<br />
nossas. Somente em 2001 foi que conseguimos cortar estas entidades.<br />
Isto tava descaracterizando a quermesse, que é uma festa das etnias”. 102<br />
O que fica vincado a partir da fala dos presidentes das Associações Étnicas é a<br />
capacidade que estes habilmente têm demonstrando, de forma bastante pragmática, de<br />
transformar a festa numa manifestação étnica quase que exclusiva. A documentação com a<br />
qual tive contato (ver bibliografia) e, as conversas obtidas com várias pessoas da cidade sobre a<br />
quermesse me parecem suficientes para afirmar que existe uma supremacia, eu diria até mesmo<br />
outro motivo que não o étnico ela se desfigurará, será outra coisa, e não festa das etnias. O que tento colocar<br />
desde já é que a Festa é “outra” faz algum tempo, ela é cada dia mais uma festa da cidade e não das entidades<br />
étnicas, ou melhor, não apenas delas. O argumento de “donas da festa” é forte e conforme colocado no corpo do<br />
texto, pode ser facilmente encontrado na imprensa, quer local ou estadual. No Jornal da Manhã, ainda em 1991,<br />
já se podia ver a seguinte matéria: “A quermesse das etnias e do sucesso”. Jornal da Manhã, 18/08/91, p.08.<br />
102 Numa noite de abril de 2002, após longo esforço, finalmente consegui reunir na Fundação Cultural de<br />
Criciúma, a exceção do representante da etnia árabe, todos os demais presidentes das associações étnicas<br />
envolvidos na organização da quermesse. Embora tenham realizado ao longo das 14 edições da festa vários<br />
encontros semelhantes, e a documentação sobre a quermesse indica isto (sistematicamente a partir de 1993,<br />
conforme as atas destes encontros), somente a partir de 2001 é que parece mesmo uma preocupação,<br />
especialmente do poder público, em entender melhor as correlações de forças e a importância destas entidades<br />
no fazer da festa. A conversa naquela noite é apresentada de modo fragmentado ao longo desta tese. Neste trecho<br />
citado, as falas que se apresentam estão separadas por (...), indicando o inicio e fim de cada uma. Dele fazem<br />
parte, pela ordem: João Quintino Dalpont – etnia italiana; Walternei Fidêncio Loch – etnia alemã; Arlindo<br />
Milack – etnia polonesa.<br />
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