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dissonante 28 . Há ainda que se considerar a projeção de uma historiografia pós-1980,<br />
produzida especialmente a partir de reflexões iniciadas por professores e estudantes do Curso<br />
de História da UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense) e que tem contribuído<br />
muito para a visibilidade da Criciúma Contemporânea.<br />
O instrumental (as fontes): uma cidade é sempre um bom lugar para se perder,<br />
como lembra Walter Benjamim. Andar por uma cidade é se lançar à perdição. É pouco<br />
provável que se consiga sair ileso ao contato diário com as ruas e sinais que se multiplicam<br />
numa cidade. Isto auxiliou em demasia o andamento de meu trabalho. Auxílio que acredito<br />
agora se reflita não em uma abordagem inédita, mas no encontro prazeroso de olhares<br />
possíveis sobre Criciúma.<br />
Há contudo uma pedagogia da perdição que não se encontra ainda assimilada<br />
apesar dos esforços enormes empreendidos por sociólogos, antropólogos, arquitetos e<br />
historiadores de subversivamente caminharem em direção a esta perdição 29 . Portanto, parece<br />
estranho que para me deixar perder tenha que necessariamente encontrar algo. Mas o<br />
estranhamento é uma prática há muito absorvida pelos historiadores, e fatalmente me deparo<br />
com elas: as fontes. Arquivos, bibliotecas, instituições, entrevistas, fotografias, publicidade,<br />
festas, trabalho, viagens, junto ao esquecimento momentâneo de outras tantas, frente a uma<br />
evidente perdição, e num Português tão extraviado quanto, se constituem em “achamentos”.<br />
E simultaneamente são a razão do meu afeto ⎯ pelo prazer que me proporcionaram ⎯ e a<br />
incerteza de meus apontamentos ⎯ pela incompletude irredutível que encerram. Incursões<br />
28 Existe um desgaste visível de polarizações no debate historiográfico atual, é certo que já não existem<br />
“mocinhos e bandidos”. Aliás, muito recentemente a comunidade internacional de imediato rechaçou a idéia<br />
posta pelo atual presidente americano, George W. Busch, de polarizar o conflito envolvendo o terrorismo<br />
cometido às torres do World Trade Center e ao pentágono como “a luta entre o bem e o mal”.<br />
29 Destaco entre outros tantos os trabalhos de: Nestor Garcia Canclini, Homi K. Bhabha, Massimo Canevacci,<br />
Walter Benjamim, Michel de Certeau e Michel Maffesoli.<br />
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