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INSTRUÇÕES ORAÇÕES PARA A SANTA MISSA ... - Portal La Salle

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<strong>INSTRUÇÕES</strong><br />

E<br />

<strong>ORAÇÕES</strong><br />

<strong>PARA</strong> A <strong>SANTA</strong> <strong>MISSA</strong><br />

A CONFIISSÃO,<br />

E A COMUNHÃO<br />

Com uma instrução metódica por perguntas<br />

e respostas, para aprender a se confessar bem.<br />

Pelo Senhor João Batista de <strong>La</strong> <strong>Salle</strong>,<br />

Sacerdote, Fundador dos Irmãos<br />

Das Escolas Cristãs.<br />

1


Advertência sobre as Instruções e Orações<br />

Para a Santa Missa<br />

Entre todas as ações que ordinariamente se realizam todos os dias, a<br />

principal, e a mais excelente é assistir à Santa Missa. Também é a mais importante<br />

para um cristãos, que deseja atrair sobre sua fé e sobre todas as<br />

ações que deve praticar durante o dia, as graças e as bênçãos de Deus. Contudo<br />

raras são as pessoas que a assistem com piedade, pouquíssimas são<br />

instruídas sobre a maneira de assistir bem a ela. Foi o que levou a estabelecer<br />

estas Instruções e estas Orações, para ensinar aos Fiéis tudo o que se<br />

refere a este santo sacrifício, e dar-lhes os meios de nele se ocupar santa e<br />

utilmente.<br />

Em primeiro lugar se instrui sobre a excelência da santa Missa, e sobre<br />

os bens que recebemos assistindo a ela; sobre as disposições interiores,<br />

de que devemos animar nossa presença exterior, e sobre a maneira de aplicar-nos<br />

durante esse tempo.<br />

Em seguida explicam-se todas as cerimônias da santa Missa e se propõem<br />

por fim duas espécies de orações: umas, tiradas do Ordinário da Santa<br />

Missa, as outras que se referem às ações santas que o Sacerdote faz na celebração,<br />

para que os Fiéis, ao recitarem ora umas ora outras, não se aborreçam<br />

e para que os que gostarem de umas ou de outras, possam escolher as<br />

que mais lhes agradarem ou mais devoção lhes inspirarem.<br />

Procurou-se inserir nessas orações algumas Instruções e práticas<br />

Cristãs, Instruções que podem esclarecer o espírito em diversas verdades<br />

pouco conhecidas; e algumas práticas cristãs a serem postas em prática durante<br />

o dia. Este é o fim que foi proposto neste Livro.<br />

2


<strong>INSTRUÇÕES</strong><br />

SOBRE O SACRIFÍCIO DA <strong>SANTA</strong> <strong>MISSA</strong><br />

E sobre a maneira com que se assistir a ela.<br />

Do Sacrifício da Santa Missa<br />

E de seus efeitos.<br />

O Sacrifício é uma ação na qual se oferece a Deus uma criatura que é imolada,<br />

isto é, destruída de alguma forma, quer para prestar a Deus a honra que lhe é devida,<br />

quer para reconhecer o domínio supremo dele sobre as criaturas. A criatura imolada e<br />

destruída no Sacrifício chama-se vítima ou hóstia sacrificada e oferecida a Deus.<br />

A Missa é uma Sacrifício e mesmo é uma continuação do sacrifício que Jesus<br />

Cristo ofereceu a Deus, seu Pai, sobre a cruz, porque é Jesus Cristo que morreu sobre o<br />

Calvário que ainda é oferecido a Deus neste santíssimo e augustíssimo Sacrifício.<br />

Embora o Sacrifício da santa Missa seja o mesmo que o da Cruz, e seja sua continuação,<br />

há a seguinte diferença entre um e a outra: Jesus Cristo se ofereceu sobre a<br />

Cruz, para satisfazer à justiça de Deus por nossos pecados, e para esse fim derramou seu<br />

sangue precioso; ao passo que na santa Missa não mais derrama seu Sangue, mas sacrifica-se<br />

ao Eterno Pai como vítima gloriosa, para aplicar aos homens, em virtude deste<br />

Sacrifício, as graças que lhes mereceu por seus sofrimentos e por sua morte.<br />

Como Jesus Cristo, ao morrer sobre o Calvário, satisfez inteiramente, e mais do<br />

que suficientemente por todos os pecados cometidos e a cometer no mundo, e como este<br />

Sacrifício teve e ainda tem sempre seu efeito, não era preciso que Jesus Cristo satisfizesse<br />

por pecado algum, e assim teria sido inútil que instituísse o Sacrifício da santa<br />

Missa se este Sacrifício não tivesse outros efeitos e outros frutos além dos da Cruz. Mas<br />

as graças que Jesus Cristo mereceu por sua morte, ao não terem sido imediatamente<br />

aplicados pela virtude da Cruz aos homens para os quais foram obtidas, por isso foi que<br />

Jesus Cristo instituiu o Sacrifício da santa Missa e os Sacramentos, para dar a todos os<br />

homens os meios de aplicar a si esses méritos pela participação neste sacrifício e pela<br />

recepção dos Sacramentos.<br />

Essas graças que nos são adquiridas pela morte de Jesus Cristo Nosso Senhor,<br />

são muito numerosas e de diferentes espécies, de onde resulta que o sacrifício da santa<br />

Missa produza também muitos frutos e de espécies diferentes e efeitos correspondentes<br />

a todas graças que procura aplicar.<br />

Os principais frutos e vantagens deste sacrifício são as seguintes, expressas em<br />

diversos lugares do Cânon da santa missa.<br />

1. O Sacrifício da santa Missa presta a Deus a maior honra que ele possa receber,<br />

porque é seu próprio Filho que presta essa honra ao se aniquilar, ao se<br />

destruir tanto quanto pode para a glória de Deus. Os que assistem à santa<br />

Missa e que têm a felicidade de participar nela, honram também a Deus da<br />

maneira mais alta possível, pela união que têm com Jesus Cristo.<br />

3


2. Este Sacrifício produz o meio de agradecer a Deus por seus benefícios da<br />

maneira mais perfeita possível, oferecendo-lhe seu próprio Filho em ação de<br />

graças.<br />

3. Ele faz obter da bondade de Deus novos benefícios.<br />

4. Este Sacrifício liberta as Almas do Purgatório, ou lhes diminui os sofrimentos,<br />

de acordo com o que essas almas ainda estão devendo à justiça divina.<br />

5. Ele perdoa a pena temporal devida, tanto pelo pecado mortal, como pelo venial.<br />

6. Obtém a remissão dos pecados e a graça da conversão.<br />

7. Atrai de Deus as graças necessárias para se preservar da caída no pecado.<br />

8. Produz a graça de deixar os maus hábitos por mais arraigados que estejam.<br />

9. concede forças para abandonar inteiramente todas as ocasiões próximas de<br />

pecado.<br />

10.Concede a graça da união e da reconciliação com o próximo, se há alguém<br />

com quem não se está tão unido como se deveria estar.<br />

11.Adquire um socorre poderoso para cumprir bem seus deveres de estado, e realizar<br />

todas as suas ações de maneira cristã.<br />

12.É um meio muito eficaz de conservar e recuperar a saúdo do corpo, e todos<br />

os outros bens temporais, quando forem úteis para a glória de Deus e para<br />

nossa salvação.<br />

13.Enfim pode-se obter mais facilmente o que se pede a Deus, e receber dele<br />

mais graças pela assistência a uma só Missa bem assistida, do que por todas<br />

as ações mais santas que se puder fazer.<br />

Estes são os efeitos muito importantes, os bens e as vantagens que a Igreja pede<br />

todos os dias a Deus para seus filhos no santo sacrifício, efeitos que devem levar os fiéis,<br />

que desejam consegui-los, a assistir assiduamente a ele, mesmo nos dias em que não<br />

são obrigados, e a somente assistir a ele com as disposições necessárias para participar<br />

dele e para se colocar em situação de obter todos os dias algumas dessas graças enquanto<br />

as pedem a Deus conforme suas necessidades.<br />

Da obrigação de assistir à santa Missa<br />

É obrigação assistir a santa Missa todos os Domingos, e todas as Festas. A intenção<br />

própria da Igreja é que cada um a assista em sua Paróquia, e a missa que ordinariamente<br />

se chama a Missa Paroquial. É por isso que a Igreja pede aos pastores que dêem<br />

aos fiéis a seu encargo, algumas instruções, explicando-lhes o santo Evangelho, e<br />

ensinando-lhes as regras de vida cristã.<br />

Não se está obrigado a assistir a santa Missa nos outros dias, contudo não se pode<br />

negligenciar isso, e por mais ocupações que se tenha, deve-se fazer de modo que não<br />

se falte a ela um dia sequer. Deve-se estar persuadido de que esse tempo não será perdido<br />

mas bem empregado, e muito melhor do que se fosse empregado no trabalho. Pois<br />

por uma ação tão santa se atraem as graças e as bênçãos de Deus sobre tudo o que se<br />

deve fazer durante o correr do dia.<br />

Os que trabalham manualmente ou cuja mente deve estar ocupada com negócios<br />

temporais e exteriores durante o dia, devem fazer da santa Missa seu primeiro cuidado e<br />

sua primeira ação, a fim de não estarem facilmente distraídos ao a assistirem, por pensamentos<br />

que lhes enchem o espírito, se apenas assistem a santa Missa depois de terem<br />

ficado a se ocupar de seu emprego, para separar o santo do profano e não se exporem ao<br />

4


perigo de perder o fruto que se pode haurir do mais santo dos exercícios de nossa Religião.<br />

Os doentes que não podem assistir à santa Missa nos Domingos e Festas e os<br />

que por alguma necessidade urgente são impedidos de assisti-la nos outros dias, devem<br />

ao menos unir-se em espírito e com intenção ao sacerdote que a celebra e à assembléia<br />

dos fiéis que a assistem, e oferecer seu coração a Deus e fazer-lhe o sacrifício de si<br />

mesmos e de tudo o que possuem, praticando quanto possível as coisas que deverão<br />

fazer, como se estivessem realmente presentes.<br />

Esta santa disposição e esta união que tiverem à Igreja e às intenções dela suprirão<br />

de alguma forma a presença atual que não puderam ter à santa Missa.<br />

Das disposições para bem assistir à santa Missa<br />

Não basta assistir exteriormente à santa Missa para cumprir a obrigação que a<br />

Igreja impõe a todos os fiéis de a assistir todos os Domingos e Festas. Todos devem<br />

assistir a ela com as disposições, sem as quais sua presença exterior seria inútil e sem as<br />

quais também não cumpririam de nenhuma forma o que a Igreja manda, pois a intenção<br />

da Igreja ao obrigar seus fiéis a assistirem a santa Missa é obriga-los a não somente estarem<br />

presentes nela, mas a oferecerem a Deus seus deveres com ela.<br />

Há três espécies de disposições para bem assistir à santa Missa:<br />

1. Há disposições necessárias para satisfazer ao mandamento da Igreja e essas<br />

disposições são assistir a santa Missa inteira, com atenção e com espírito de<br />

Religião.<br />

Não se assiste a Missa inteira quando não se está presente quer no início,<br />

quer no fim.<br />

Não se assiste a santa Missa com a atenção e a aplicação de espírito que nela<br />

se deve ter quando se dorme, quando se conversa, quando se fica olhando e<br />

um e de outro lado, ou quando se está voluntariamente distraído.<br />

Não se assiste a santa Missa com espírito de Religião quando nela não se<br />

reza com sentimento de piedade interior.<br />

Os que não assistem a missa toda inteira aos Domingos e Festas não cumprem<br />

o mandamento da Igreja.<br />

Os que não têm atenção à santa Missa e a assistem sem espírito de Religião,<br />

cometem dois pecados ao mesmo tempo. 1º Estão na santa Missa como se<br />

não estivessem presentes, e diante de Deus, estariam como se não a estivessem<br />

assistindo. 2º Caem numa espécie de impiedade, porque, por sua imodéstia<br />

escandalosa tanto em sua atitude como em seus olhares, suas conversas<br />

ou sua divagação ou distração de espírito, profanam não somente a igreja,<br />

lugar santo e lugar de oração, mas também os santos Mistérios que nela se<br />

realizam e o mais augusto dos Sacrifícios. Fazem injúria a Jesus Cristo que<br />

se oferece e se sacrifica a seu Pai por eles, e pelos pecados que cometem em<br />

sua presença.<br />

2. Há algumas disposições necessárias para assistir utilmente à santa Missa e<br />

para se colocar em disposições de tirar fruto deste sacrifício, e essas disposições<br />

fazem odiar o pecado, estar em estado de graça, ou pelo menos, trabalhar<br />

para voltar a ele e se unir de intenção ao sacerdote que oferece o Sacrifício.<br />

5


Quem está atualmente em estado de pecado mortal ou na vontade de cometêlo<br />

ou na ocasião próxima de cair nele sem vontade de a evitar, não tem essas<br />

disposições necessárias e não pode tirar fruto algum do Sacrifício da santa<br />

Missa.<br />

3. Há disposições de perfeição muito vantajosas e que produzem grandes frutos<br />

nas almas que as têm. E há também disposições e numerosas e de espécies<br />

muito diferentes que, todavia, podem ser reduzidas a duas principais de<br />

que dependem todas as demais. A 1ª e ter a alma desprendida de todo afeto<br />

até ao menor pecado. A 2ª é unir-se ao sacerdote em todas as partes e em todas<br />

as orações da santa Missa, a fim de oferecer com ele este Sacrifício segundo<br />

a intenção da Igreja.<br />

Os que quiserem adquirir essas disposições de perfeição para assistir muito<br />

bem à santa Missa e participar com abundância deste santo Sacrifício, devem<br />

aplicar-se a não ofender a Deus deliberadamente, e vigiar muito sobre si<br />

mesmos para não cair nos pecados veniais um pouco sérios ou completamente<br />

voluntários.<br />

Também só devem vir a este santo Sacrifício com muita modéstia e profunda<br />

humildade e com toda a atenção interior e toda devoção possível e conformar-se<br />

nela às intenções do próprio Jesus Cristo.<br />

Um cristão revestido de Jesus Cristo e animado por seu espírito deve ir a este<br />

sacrifício com os mesmos sentimentos com que Jesus Cristo nele se oferece<br />

como vítima a seu Pai. Jesus Cristo se sacrifica todos os dias sobre o altar na<br />

santa Missa para render a seu Eterno Pai as homenagens que lhe são devidas.<br />

Precisamos unir-nos às santas intenções de Jesus Cristo e procurar ter os<br />

mesmos sentimentos dele que são: adorar a Deus, agradecer-lhe, pedir perdão<br />

por nossos pecados e para alcançar as graças que nos são necessárias.<br />

Da maneira de se aplicar durante a santa Missa<br />

Durante a santa Missa podemos aplicar-nos de diferentes maneiras, contanto que<br />

seja de acordo com um dos quatros fins e intenções do Sacrifício, unindo-se à Igreja e<br />

com o sacerdote. 1º Para adorar a Deus e reconhecê-lo como o soberano Senhor e Chefe<br />

absoluto de todas as coisas. 2º Para agradecer a Deus os benefícios recebidos dele. 3º<br />

Para obter o perdão dos próprios pecados. 4º Para pedir a Deus as graças que nos são<br />

necessárias.<br />

As orações que os assistentes fizerem durante a santa Missa com alguma destas<br />

intenções e com coração bem disposto, ser-lhes-ão muito úteis e lhes alcançarão muitas<br />

graças, quer rezem vocalmente alguns Salmos ou fórmulas de Oração, quer rezem apenas<br />

de coração, pensando, por exemplo, na paixão de Nosso Senhor ou em algum outro<br />

Mistério.<br />

Contudo é preciso ficar certo que a maneira mais de acordo com o espírito da<br />

Igreja para assistir a santa Missa é acompanhar o sacerdote nas partes principais que a<br />

compõem.<br />

Acompanha-se o sacerdote na santa Missa, por exemplo, pedindo perdão a Deus<br />

quando ele o pede, entrando em sentimentos de fé e de respeito diante da palavra de<br />

Deus quando lê a Epístola e o Evangelho, e oferecendo com ele o Sacrifício do Corpo e<br />

do Sangue de Jesus Cristo.<br />

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É conveniente então somente se ocupar com a vítima divina que está sendo oferecida<br />

por nós sobre o altar e oferecer-nos a nós mesmos.<br />

É isto que pretendemos ensinar aos fiéis pelos dois métodos seguintes e pelas<br />

orações que nelas estão inseridas, nas quais nos aplicamos a fazer entrar os que as recitarem<br />

com os sentimentos do sacerdote, e fazer que tomem parte em cada uma das ações<br />

que ele realiza na santa Missa no momento em que as faz.<br />

Para que estes métodos sejam mais úteis aos que deles se servirem, e para que<br />

possam mais facilmente entrar nas intenções do sacerdote, ao recitarem as orações que<br />

neles são propostas, pensamos instruir primeiro os fiéis nas cerimônias da santa Missa,<br />

desconhecidas por quase toda a gente, fazemo-lo dando a conhecer as orações que o<br />

sacerdote reza e explicando as razões pelas quais ele as reza.<br />

####################<br />

EXPLICAÇÃO DAS CERIMÔNIAS DA <strong>SANTA</strong> <strong>MISSA</strong><br />

Da igreja<br />

A igreja é um lugar santo, destinado a realizar nele os exercícios da Religião<br />

Cristã. Os principais são prestar a Deus a honra que lhe é devida, oferecendo-lhe o Sacrifício<br />

da santa Missa, publicando seus louvores e dirigindo a ele nossas orações. Nela<br />

se administram e recebem os sacramentos e se lê, se prega e se escuta a palavra de<br />

Deus.<br />

Da água benta<br />

Coloca-se água benta à entrada da igreja para nos fazer lembrar nosso Batismo,<br />

pelo qual nos tornamos Templos do Espírito Santo, e para nos chamar a atenção de que,<br />

assim que entramos na igreja, devemos purificar-nos por meio dessa água de nossas<br />

menores faltas, a fim de que com nossa alma, purificada das mais insignificantes manchas,<br />

possamos tornar-nos dignos de assistir à santa Missa e aos outros exercícios de<br />

piedade e de religião, com toda a pureza interior e exterior que lhe é devida.<br />

Da primeira parte da santa Missa<br />

Antigamente chamada Missa dos Catecúmenos<br />

A Missa compõe-se de duas partes principais. A primeira compreende tudo o<br />

que se faz desde o começo até o Ofertório e que antigamente se chamava Missa dos<br />

Catecúmenos. A segunda, desde o Ofertório até o fim, se chamava a Missa dos Fiéis.<br />

Todos podiam assistir a primeira parte da santa Missa, na qual se fazia a leitura da Escritura<br />

sagrada e o pregação do santo Evangelho. Mas, terminado o sermão, os Catecúmenos,<br />

isto é, os que se preparavam para o Batismo, os Energúmenos, isto é, os possessos<br />

do demônio e os Penitentes que cumpriam penitência pública pelos pecados escandalosos<br />

cometidos, eram retirados da igreja.<br />

7


Somente permaneciam na igreja os que estavam em condições de assistir ao Sacrifício<br />

da santa Missa e julgados dignos de participar dela.<br />

Das velas<br />

Durante o sacrifício da santa Missa acendem-se velas para indicar o fogo da caridade<br />

com que Jesus Cristo se imolou por nós, e com que devemos também assistir a<br />

seu Sacrifício.<br />

Do sacerdote revestido para celebrar a S. Missa<br />

Quando o sacerdote aparece para celebrar a santa Missa, deve ser considerado<br />

como representante de Jesus Cristo que carrega sua Cruz e vai oferecer-se à morte por<br />

nós. A santa Missa é a renovação, em memória, desse grande Sacrifício.<br />

Do Salmo “Judica me, etc”<br />

O sacerdote, ao pé do altar, se considera como uma banido, expulso do Paraíso e<br />

afastado de Deus pelo pecado. Nesse espírito ele recita o Salmo 42 que Davi compôs<br />

num momento de exílio, para expressar a dor que sentia por estar longe do lugar em que<br />

Deus era adorado, e para se consolar pela esperança de sair desse exílio e louvar ainda o<br />

Senhor em seu Tabernáculo.<br />

Do “Confesso”<br />

Depois de ter recitado o Salmo “Judica”, faz a confissão de suas faltas e delas<br />

pede perdão a Deus; e já que, para realizar bem a ação que vai fazer, deve ter o coração<br />

purificado não somente dos pecados mortais, mas das faltas mais leves até, então detesta<br />

de todo coração todas as que cometeu para estar em condições de oferecer a Deus um<br />

Sacrifício tão santo.<br />

O coroinha diz o Confesso com o sacerdote para pedir perdão a Deus não só<br />

para si, mas para todos os assistentes, em nome dos quais fala. Estes devem então sentir<br />

no fundo do coração grande horror a seus pecados.<br />

Deus tu conversus, etc<br />

Terminada a confissão, o Sacerdote e os Fiéis se animam e encorajam mutuamente<br />

pela confiança de que Deus quer conceder-lhes sua misericórdia e lhe manifestam<br />

sua gratidão.<br />

Ao subir ao altar, o sacerdote diz uma oração que expressa essa confiança.<br />

8


Do beijo do altar<br />

Depois que o sacerdote subiu ao altar, ele beija-o para manifestar sua reconciliação<br />

com Jesus Cristo, e sua reunião com a Igreja triunfante. Porque o altar representa a<br />

Jesus Cristo crucificado e as relíquias que estão no altar das quais se fala na oração que<br />

o sacerdote reza ao beija-lo, representam os Santos que estão no céu, unidos a Jesus<br />

Cristo e constituem com ele o mesmo Corpo.<br />

Do intróito<br />

No início da santa Missa, o sacerdote primeiro reza uma antífona tirada em geral<br />

de algum salmo, que antigamente se rezava inteiro, para induzir os Fiéis à atenção e ao<br />

fervor. Isto é o que se chama “Intróito”, isto é, a entrada ou começo da santa Missa.<br />

Todos os dias é diferente para estar de acordo com o mistério ou a festa que se celebra.<br />

Kyrie eleison<br />

O Kyrie eleison é uma oração em grego, que significa, Senhor, tende piedade de<br />

nós. Ela se dirige às três pessoas da santíssima Trindade, e três vezes a cada uma, para<br />

indicar a grande necessidade que temos da misericórdia de Deus, o ardente desejo de<br />

atraí-la sobre nós e de ser prontamente libertados do pecado, para nos dispor a este santo<br />

Sacrifício.<br />

Glória in excelsis<br />

O glória in excelsis que se reza logo depois, tira seu nome do canto dos anjos,<br />

porque começa com as palavras que os anjos cantaram por ocasião do nascimento de<br />

Jesus Cristo. O resto foi acrescentado pela Igreja.<br />

Neste cântico a Igreja expressa de maneira admirável o respeito que tem pela<br />

Majestade de Deus, e o amor ardente que tem a Jesus Cristo. Ela o considera como o<br />

Cordeiro que vai se imolar para ela neste santo Sacrifício e em vista disso lhe apresenta<br />

toda sorte de louvores a fim de o tornar favorável a si.<br />

Como este cântico está cheio de sentimentos de alegria, ele não se reza durante<br />

os tempos de penitência, nem nas Missas celebradas para os defuntos<br />

Do beijo do altar<br />

Em seguida, o sacerdote beija o altar, para pedir a Jesus Cristo Nosso Senhor,<br />

como mediador entre Deus e os homens, a paz e a bênção de Deus para a transmitir depois<br />

aos fiéis, como mediador visível neste Sacrifício. Este beijo que o sacerdote dá ao<br />

altar ele o dá por respeito e o dá cada vez que ele se volta para o povo.<br />

Dominus vobiscum<br />

Voltando-se para o povo, o sacerdote o saúda por estas palavras tiradas da saudação<br />

do Anjo à Santíssima Virgem. Com estas palavras deseja que Deus esteja por sua<br />

9


graça com os que estão presentes, e que ele mesmo forme em seus corações o desejo das<br />

coisas que a Igreja vai pedir para eles.<br />

Os assistentes respondem, et cum spiritu tuo, isto é, e também com o teu espírito,<br />

desejando que Deus anime com seu Espírito Santo as orações que o sacerdote vai oferecer<br />

como ministro da Igreja para todos os fiéis.<br />

Sacerdote e povo se saúdam assim reciprocamente várias vezes na santa Missa,<br />

para indicar a união que deve existir entre eles na celebração deste Sacrifício, e em especial<br />

nas orações que o sacerdote faz e que o povo deve fazer com ele.<br />

Oremus<br />

Novamente voltado para o altar, o sacerdote diz Oremus, isto é, Rezemos. Por<br />

essas palavras o sacerdote adverte todos os fiéis a se unirem a ele para fazer a oração<br />

que vai apresentar a Deus para eles.<br />

Da coleta<br />

Em seguida o sacerdote diz uma oração chamada coleta, porque ela é como o<br />

resumo e o conjunto do que a Igreja pede a Deus no ofício do dia, ou porque esta oração<br />

se faz em nome de todos os fiéis. Per Dominum nostrum Jesum Christum, isto é, Por<br />

Jesus Cristo nosso Senhor. A Igreja termina suas orações por meio destas palavras, porque<br />

Jesus Cristo é nosso mediador e nosso intercessor junto de Deus, e porque somente<br />

ele é quem apresenta nossas orações ao Eterno Pai, e nos alcança suas graças.<br />

Da epístola<br />

A epístola é uma leitura do antigo ou do novo testamento. Assim se chama ela<br />

porque muitas vezes é tirada de algum trecho das cartas (=epístolas) dos Santos Apóstolos.<br />

A Igreja, primeiro faz seus fiéis serem instruídos pela voz dos Profetas e dos Apóstolos<br />

para os dispor a ouvirem e gostarem das instruções do Filho de Deus no santo Evangelho.<br />

Depois da epístola, os fiéis agradecem a Deus a instrução que acabam de receber,<br />

por meio do Deo gratias, isto é, Graças a Deus.<br />

Do gradual<br />

O gradual é tirado de algum salmo que possa reanimar a devoção dos fiéis e foi<br />

instituído para servir de preparação para a leitura do Evangelho. Munda cor meum: é<br />

uma oração que o sacerdote diz em voz baixa antes do Evangelho, para pedir a Deus<br />

que lhe purifique o coração e os lábios, para o tornar digno de anunciar o santo Evangelho.<br />

Do Evangelho<br />

O Evangelho contém a Lei e a doutrina de Jesus Cristo; ele mesmo no-lo vem<br />

anunciar. O sacerdote lê nele todos os dias alguma coisa na santa Missa para dizer aos<br />

fiéis que não podem ter parte nos méritos de Jesus Cristo, nem aos frutos deste Sacrifício,<br />

a não ser que façam profissão de observar a Lei e de praticar a doutrina.<br />

10


Ao começar o santo Evangelho, o sacerdote e os assistentes depois dele, fazem o<br />

sinal da Cruz na fronte, na boca e no peito para protestar diante de Deus de que vão imprimir<br />

em seu coração e confessar de boca o Mistério da Cruz, anunciado no Evangelho,<br />

e que não terão vergonha de lhe prestar homenagem nessas ocasiões.<br />

Escuta-se o Evangelho de pé para dizer que se está pronto a obedecer a tudo o<br />

que Jesus Cristo nele nos ordena e guardar dele as menores palavras mesmo se custar a<br />

vida.<br />

Credo in unum<br />

Depois da leitura do santo Evangelho, recita-se o Credo para fazer profissão<br />

pública de que se crê firmemente as verdades que foram lidas e todas as que estão contidas<br />

no santo Evangelho. Depois do Credo o sacerdote diz Dominus vobiscum, para<br />

desejar aos fiéis assistentes a graça de que precisam para crer os Mistérios e praticar as<br />

máximas do santo Evangelho e para oferecer com ele em espírito o que deve ser oferecido<br />

no Sacrifício.<br />

Da segunda parte da santa Missa<br />

Antigamente denominada Missa dos Fiéis<br />

A segunda parte da santa Missa, chamada Missa dos Fiéis, começa com o Ofertório<br />

e contém três partes: a oblação, a consagração e a comunhão.<br />

Da oferta<br />

Era uma prática universal na primitiva Igreja que os assistentes da santa Missa<br />

também nela comungavam ordinariamente. Por isso todos iam apresentar ao sacerdote o<br />

pão que devia servir para ser consagrado. Também isto servia para dar a entender que<br />

todos formavam um mesmo corpo com Jesus Cristo e com todos os fiéis, e que queriam<br />

permanecer nessa união, e entrar com eles em participação do santo Sacrifício que o<br />

sacerdote iria oferecer. Queriam também oferecer-se em espírito com Jesus Cristo, cujo<br />

Corpo devia ser consagrado nos pães oferecidos.<br />

Dentre todos esses pães o sacerdote pegava apenas um para ser mudado no corpo<br />

de Jesus Cristo, o que ainda era mais um sinal de que os fiéis representado por esse pão<br />

eram todos incorporado com Jesus Cristo.<br />

Do pão bento<br />

Como o número de comungantes diminuiu muito, a Igreja permitiu aos fiéis trocarem<br />

em dinheiro a oferta de pão que traziam para a consagração, e instituiu a oferta de<br />

um pão que o sacerdote benze para depois ser dividido em pedaços, para serem distribuídos<br />

entre os assistentes, e eles os devem consumir imediatamente com muito respeito.<br />

Essa prática foi instituída para suprir, de alguma forma, tanto a antiga oferta, como a<br />

comunhão que os assistentes tomavam depois que o sacerdote a tinha tomado na santa<br />

Missa, e para manifestar a união entre os fiéis, significada pelo único pão que é oferecido<br />

em nome de todos, do qual partilharam todos, e do qual todos comem ao mesmo<br />

tempo, por espírito de união entre si, e de participação espiritual com o Sacrifício.<br />

11


Do Ofertório<br />

Enquanto o sacerdote recebe as ofertas dos fiéis, o coro canta uma antífona,<br />

chamada Ofertório, para testemunhar a Deus a alegria com que os assistentes lhe oferecem<br />

seus bens que dele receberam.<br />

Depois que o sacerdote recebeu as ofertas dos fiéis, ele as apresenta a Deus e<br />

lhas oferece em separado e em seguida conjuntamente por uma mesma oração. O pão<br />

que oferece sobre a patena está em lugar de tudo o que lhe foi oferecido realmente, ou<br />

em espírito pelo povo, e representa todos os cristãos que devem ser imolados como incorporados<br />

que estão ao Corpo de Jesus Cristo por este Sacrifício. Por isso, o sacerdote<br />

declara que faz esta oferta para todos os fiéis mortos e vivos, e especialmente por aqueles<br />

que assistem a santa Missa. O sacerdote oferece o pão e o vinho que está no cálice,<br />

mantendo-os erguidos, segundo a maneira de oferecer tal como está prescrita no Antigo<br />

Testamento, para significar por essa cerimônia, que o pão e o vinho cessam de ser alguma<br />

coisa de comum, mas recebem uma santidade especial depois de apresentados a<br />

Deus e destinados a um uso santo e sagrado.<br />

Dos sinais de cruz antes da Consagração<br />

Desde o ofertório até a Consagração, o sacerdote faz freqüentes sinais da cruz<br />

sobre o pão e o vinho, para os benzer conforme o costume da Igreja, que só benze pelo<br />

sinal da cruz, fonte de todas as bênçãos e de todas as graças que os homens podem receber<br />

de Deus.<br />

Do lava-mãos<br />

Depois do ofertório o sacerdote se lava as mãos para significar que é preciso<br />

purificar-se da menores imperfeições para se tornar digno deste santo Sacrifício, e que<br />

os que voluntariamente permanecem nas menores faltas, não são tão puros quanto Deus<br />

os deseja para lhe oferecerem este Sacrifício.<br />

Ele não se lava as mãos completamente, como o faz antes de começar a santa<br />

Missa, mas somente a extremidade dos dedos, para significar que então somente precisa<br />

purificar-se das faltas mais leves, e que é preciso ter tirado os pecados mortais, antes de<br />

se apresentar para oferecer este Sacrifício, e ter renunciado ao menos de afeição a eles<br />

para assistir a ele de maneira útil.<br />

Orate, fratres<br />

Quando o sacerdote ofereceu secretamente o pão e o vinho, ele se volta para o<br />

povo e diz Orate, fratres, isto significa, Orai, irmãos, para que meu e vosso sacrifício<br />

seja agradável a Deus. Quando os assistentes responderam, o sacerdote se volta de<br />

novo para o altar para pedir a Deus essa graça para si e para eles, por meio de uma oração<br />

chamada Secreta, porque é recitada em voz baixa, exceto as últimas palavras em<br />

que levanta a voz, para obter dos assistentes seu consentimento que lhe dão pela aclamação<br />

ordinária: Amém, que significa, que assim seja.<br />

12


Do prefácio<br />

Depois da oração secreta segue o prefácio, que assim é chamado porque é a abertura<br />

do cânon da Missa e a preparação geral, em que o sacerdote e os assistentes se<br />

unem para se disporem ao Sacrifício.<br />

Sursum corda, quer dizer, ao alto os corações. Os assistentes respondem Nosso<br />

coração está no Senhor. Pelas palavras sursum corda, corações ao alto, o sacerdote<br />

adverte os assistentes para que se preparem ao Sacrifício pela elevação de seus corações<br />

a Deus e para isso que se separem de todas as criaturas, afastem de seu espírito e<br />

de seu coração todas as distrações que poderiam impedir-lhes a atenção, de pensar somente<br />

em Deus, e nos santos Mistérios que devem ser sua única ocupação e único objeto<br />

de sua veneração e respeito.<br />

Pelas palavras Habemus ad Dominum, nossos corações estão no Senhor, os assistentes<br />

testemunham publicamente que seus corações estão na disposição que Deus<br />

pede deles através da boca do sacerdote.<br />

Em seguida, o sacerdote concita os assistentes a reconhecer que foi Deus que<br />

pôs seu coração nesse estado e que eles lhe devem agradecer por isso. Mas como se<br />

quisesse dar-lhes a entender que os louvores do povo são pouca coisa, para reconhecer a<br />

grandeza de Deus, o sacerdote os convida a se unirem a Jesus Cristo e oferecerem a<br />

Deus as ações de graça eternas que recebe dele e assim unir-se aos anjos e louvar a<br />

Deus com eles. É o que fazem os assistentes nas Missas solenes, ao cantar este hino<br />

célebre, que Isaías ouviu os Serafins a cantar: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus<br />

Sabaoth. Santo, santo, santo o Senhor Deus dos Exércitos. O céu e a terra estão cheios<br />

de sua glória e de sua majestade. Acrescentam a isso as aclamações que o povo de Jerusalém<br />

gritava a Jesus Cristo, quando entrou triunfante naquela grande cidade. É assim<br />

que os anjos e os homens se unem a Jesus Cristo para oferecer nele seus louvores e suas<br />

ações de graça ao Eterno Pai.<br />

Do cânon<br />

O que vem depois do prefácio chama-se cânon, isto é, Regra, e se chama assim<br />

porque é a regra e a ordem que a Igreja observa na celebração do Sacrifício, e que não<br />

muda como as demais partes da santa Missa, que variam de acordo com as festas ou os<br />

mistérios.<br />

Te igitur e Memento<br />

No começo do cânon o sacerdote se dirige primeiro a Deus Pai e lhe oferece o<br />

Sacrifício por Jesus Cristo seu Filho, que é o sacerdote principal da Missa, pois dele é<br />

que os sacerdotes da Igreja são apenas ministros. Apresenta-lhe em seguida as necessidades<br />

da Igreja e lhe recomenda as pessoas pelas quais vai oferecer o Sacrifício: pois,<br />

embora seja oferecido por toda a Igreja, sempre se faz uma memória particular de algumas<br />

pessoas pelas quais é muito importante rezar, a saber o papa os bispos do lugar, os<br />

imperadores, os reis e príncipes, e os que se recomendaram às orações da Igreja ou que<br />

deram alguma esmola a seus ministros.<br />

13


Communicantes<br />

Assim que o sacerdote rezou e ofereceu o Sacrifício por toda a Igreja da terra por<br />

Jesus Cristo, que é sua cabeça, ele se une aos principais santos que estão no céu, à santíssima<br />

Virgem, aos santos apóstolos, aos primeiros papas, e a alguns outros santos mártires<br />

de quem implora a proteção, com o fim de mostrar a unidade inseparável que existe<br />

entre a Igreja da terá e a do céu.<br />

Hanc igitur<br />

Depois disso o sacerdote estende as mãos sobre o pão e sobre o cálice, como os<br />

sacerdotes da antiga aliança as impunham antigamente sobre as vítimas que iam imolar,<br />

para dizer que eles mesmos se oferecem com elas, e que as vítimas eram oferecidas em<br />

seu lugar.<br />

Esta imposição das mãos quer significar, com efeito, a união do sacrificador com<br />

a hóstia, e o sacerdote, por essa ação, mostra que quer se imolar a Deus com Jesus Cristo,<br />

quanto lhe é possível. É o que os assistentes devem fazer em espírito com o sacerdote<br />

e pedir a Deus com ele que receba esse testemunho de servo.<br />

Da Consagração e da Elevação<br />

Depois desta união a Jesus Cristo, o sacerdote realiza a ação principal do Sacrifício,<br />

que é a Consagração e para isso, repete tudo o que Jesus Cristo fez e disse quando<br />

instituiu este santo Mistério. E, seguindo o seu exemplo, consagra o pão e o vinho da<br />

mesma maneira e com as mesmas palavras que Jesus usou. No momento em que o sacerdote<br />

pronuncia as palavras sagradas, o pão e o vinho são transformados no Corpo e<br />

no Sangue de Jesus Cristo.<br />

Logo depois da consagração o sacerdote adora de joelhos a Hóstia e o Sangue<br />

que está no cálice, e os levanta para os mostrar aos assistentes para que adorem este<br />

sagrado mistério. E como é para representar a elevação do Corpo de Jesus Cristo na<br />

cruz, também é para apresentar esta divina Hóstia a Deus Pai que reina no céu.<br />

Dos sinais da cruz depois da consagração<br />

Depois da consagração, o sacerdote faz várias vezes o sinal da santa cruz sobe a<br />

hóstia e sobre o cálice e com a hóstia sobre o cálice e sobre o altar para nos significar<br />

que foi pelo suplício da Cruz que esta hóstia foi imolada e sacrificada a Deus Pai, para<br />

prestar-lhe uma honra infinita, que todas as criaturas juntas não poderiam lhe prestar.<br />

Unde et memores<br />

Depois da elevação do cálice, o sacerdote faz uma nova oblação a Deus Pai, do<br />

Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, para completar por meio de palavras o que acabou<br />

de realizar por meio de ação. Oferece então este Sacrifício como ofereceu o pão e o vinho<br />

em memória da Paixão, da Ressurreição e da Ascensão de Jesus Cristo porque estes<br />

três santos mistérios foram as fontes de nossa salvação; oferece-o também em nome da<br />

Igreja, como acabou de oferecê-lo em nome de Jesus Cristo em lugar e em nome do<br />

qual realizou a consagração.<br />

14


Supra quae<br />

O sacerdote pede a Deus por meio destas palavras que receba com agrado o Sacrifício<br />

que lhe é apresentado, já que quis aceitar os sacrifícios de Abel, de Abrão e de<br />

Melquisedec, que eram somente figuras deste sacrifício.<br />

Supplices te rogamus<br />

Por meio destas palavras o sacerdote pede a Deus que este santo Sacrifício seja<br />

levado para o grande altar de Deus através de seu santo Anjo, para ser oferecido por<br />

Jesus Cristo em pessoa. Quer significar por esta oração que se reconhece indigno de<br />

oferecer a Deus um Sacrifício tão augusto, e pede a Deus Pai queira receber benignamente<br />

de suas mãos aquele que é seu Filho e porque ele é o principal sacerdote deste<br />

Sacrifício também é o único digno de o apresentar a seu Pai, e nos obter infalivelmente<br />

suas graças e suas bênçãos.<br />

Segundo memento<br />

No segundo memento, o sacerdote oferece o Sacrifício pelas almas que estão no<br />

Purgatório, segundo o costume que sempre foi praticado na Igreja, especialmente por<br />

aquelas pelas quais tem obrigação especial de se lembrar, e pede a Deus que lhes conceda<br />

o fruto deste santo Sacrifício.<br />

Nobis quoque peccatoribus<br />

Ao dizer estas palavras, o sacerdote se inclina e bate-se no peito, implorando a<br />

misericórdia de Deus, tanto por si mesmo quanto pelos assistentes, e reconhecendo que<br />

não temos méritos que nos sejam próprios, pede a Deus, pelos méritos de Jesus Cristo,<br />

que receba um dia os fiéis vivos e também os falecidos na companhia dos santos no céu<br />

cuja intercessão implora.<br />

Per quem haec omnia<br />

Por estas palavras o sacerdote reconhece que somente por meio de Jesus Cristo e<br />

em Jesus Cristo o Pai Eterno pode receber a glória que lhe é devida, especialmente neste<br />

Sacramento e neste Sacrifício. Por isso, ao mesmo tempo que as pronuncia, eleva o<br />

Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, para prestar por este ato e pelo próprio Jesus Cristo, à<br />

santíssima Trindade uma honra digna de sua soberana majestade.<br />

Depois desta ação, o sacerdote deseja que os assistentes como ele, se unam a<br />

Jesus Cristo, para entrar em participação na honra que presta a Deus Pai, e ergue a voz<br />

ao dizer como no início do prefácio, Per omnia saecula saeculorum, Por todos os séculos<br />

dos séculos, palavras que significam que é preciso dar eternamente esta glória a<br />

Deus. Os fiéis respondem Amém e estas palavras são o fim do cânon, como o foram do<br />

seu começo.<br />

15


Pater noster<br />

É por esta oração que começa a última parte da Missa dos fiéis, que é a Comunhão,<br />

a qual contém o fruto e a consumação do Sacrifício. O sacerdote, antes de recitar<br />

o Pater, considerando que Jesus Cristo nos manda nesta oração chamar a Deus de Pai e<br />

de lhe pedir nessa qualidade, tanto para si como para a Igreja, os bens do corpo e da<br />

alma, da vida presente e da eterna, e reconhecendo-se indigno para isso, declara que<br />

ousa chamar Deus “seu Pai” e pedir-lhe tantas coisas boas, com inteira confiança de<br />

obtê-las, não somente em razão do mandamento de Jesus Cristo, mas também por causa<br />

da própria forma das palavras que ele nos prescreveu.<br />

O sacerdote reza em voz alta esta oração, que se chama Oração Dominical, porque<br />

para os assistentes como para si mesmo é que a reza.<br />

Instruída por Jesus Cristo em pessoa como o sacerdote o declara, a Igreja pede a<br />

Deus nesta oração o pão de cada dia, isto é, o alimento corporal, mas muito mais ainda o<br />

da alma, que é a Eucaristia. Por isso, quando o sacerdote diz as palavras o pão nosso de<br />

cada dia nos daí hoje, o diácono toma a patena e erguendo-a, mostra-a ao povo para<br />

dizer que se vai começar a distribuir a comunhão, e entregando-a depois ao celebrante<br />

este deita nela todas as hóstias para as distribuir aos que devem comungar. Esta patena<br />

faz o papel de prato, no qual antigamente era oferecido o pão que os fiéis tinham apresentado.<br />

Libera nos<br />

O sacerdote faz secretamente esta oração pela qual pede a Deus a paz, mas uma<br />

paz contínua e inalterável. Convida também o povo a pedi-la com ele erguendo a voz<br />

por estas palavras. Per omnia saecula saeculorum. Por todos os séculos dos séculos. A<br />

que os assistentes respondem: Amém!<br />

A fração da hóstia<br />

No fim desta oração, o sacerdote rompe a hóstia em três partes. Esta divisão ocupa<br />

o lugar da que se fazia antigamente com o pão que tinha sido consagrado, que era<br />

dividido em três partes, uma parte era para o sacerdote; a segunda, para os comungantes,<br />

e a terceira para o viático, que se conservava na igreja como ainda hoje se faz para<br />

os doentes.<br />

Agnus Dei e Domine Jesu Christe<br />

Em seguida os assistentes unidos ao sacerdote pedem a Jesus Cristo a paz com o<br />

canto ou a recitação três vezes do Agnus Dei, para mostrar a Deus o desejo que têm de a<br />

obter ou conservar. Enquanto se canta, o sacerdote diz em voz baixa outra oração, pela<br />

qual pede ainda e com instância, a Jesus Cristo que não considere seus pecados para lhe<br />

recusar a paz, mas lha conceda em vista da fidelidade de sua Igreja.<br />

O sacerdote e o povo pedem a Deus a paz com tanta insistência antes da santa<br />

comunhão porque a paz é uma das principais disposições para este Sacramento, que é<br />

um sacramento de união e caridade, e para cumprir esta palavra de Jesus Cristo, que<br />

manda reconciliar-se com seu irmão antes de oferecer sua oferta no altar.<br />

16


Do beijo da paz<br />

Depois de ter rezado esta oração que segue o Agnus Dei, o sacerdote beija o altar<br />

como para receber a paz de Jesus Cristo representado pelo altar. Depois beija um instrumento<br />

de paz que o diácono lhe apresenta, instrumento que é levado a todos os Assistente<br />

para ser beijado com as palavras: Pax vobis. A paz esteja convosco.<br />

Antigamente o sacerdote, em vez de beijar o altar, beijava a hóstia que estava<br />

sobre o altar a fim de receber a paz de Jesus Cristo; abraçava depois o diácono com as<br />

palavras A paz esteja convosco; o diácono abraçava o subdiácono que a levava ao clero<br />

para o beijo de paz, com as mesmas palavras. Todos os fiéis se abraçavam também e se<br />

beijavam uns aos outros com um beijo que são Paulo denominava de Beijo santo. A<br />

Igreja quer nos ensinar por estas duas cerimônias que, para ter a paz com Deus, é preciso<br />

tê-la entre os homens e que, a pessoa que conserva em seu coração algum ódio contra<br />

seu irmão, é indigno não somente de receber a comunhão, mas até de assistir a santa<br />

Missa.<br />

Da comunhão<br />

Enquanto se dá o beijo da paz, o sacerdote se dispõe para a comunhão por duas<br />

orações que reza uma depois da outra e em voz baixa. Em seguida comunga depois de<br />

protestar sua indignidade pelas palavras Domine, non sum dignus. Senhor, eu não sou<br />

digno. E, tomando o cálice, distribui a comunhão aos assistentes, para significar que o<br />

sacerdote e o povo participam do mesmo Sacrifício, tomam a mesma refeição espiritual<br />

e estão todos reunidos em torno de uma mesma mesa. Com este gesto dá a conhecer<br />

suficientemente que deve dar de comer aos fiéis com a sua abundância.<br />

O sacerdote diz Dominus vobiscum, para significar que deseja com ardor que<br />

Jesus Cristo permaneça eternamente com os fiéis por sua graça e por seu espírito.<br />

Enquanto o sacerdote comunga, canta-se uma antífona, que se chama Comunhão,<br />

para agradecer a Deus em nome de toda a Igreja os bens recebidos dele e em especial<br />

pela comunhão deste momento, pela qual reuniu todos os seus membros, e para<br />

pedir a Deus que este Sacramento produza nos fiéis que a receberam, os frutos que devem<br />

esperar dele.<br />

No fim da santa Missa, o sacerdote, e o diácono nas Missas solenes, diz, Ite,<br />

Missa est, o que significa, Ide, a Missa acabou. Por estas palavras o sacerdote adverte<br />

que a missa acabou e os fiéis respondem com sentimento de gratidão, Deo gratias, isto<br />

é, damos graças a Deus.<br />

Em seguida o sacerdote, antes de saírem, dá aos assistentes a bênção pedindo ao<br />

mesmo tempo que Deus derrame sobre eles a abundância de suas graças, que os abençoe<br />

espiritual e temporalmente, para que durante o dia não cometam alguma ação sem a<br />

assistência de sua graça e nada de desagradável lhes aconteça em seus negócios e trabalhos.<br />

Do Evangelho de São João<br />

Quando a Missa acabou completamente e o povo recebeu a bênção, o sacerdote<br />

diz o começo do Evangelho de São João que expressa de maneira melhor do que os outros<br />

a divindade de Jesus Cristo, com o fim de mostrar seu reconhecimento por esta vida<br />

divina com a qual foi animado com Jesus Cristo e em Jesus Cristo durante a celebração<br />

do Sacrifício e para mostrar a Deus seu desejo e lhe pedir sua graça para continuar a<br />

17


viver desta vida divina, de se deixar conduzir pelas impressões de Jesus Cristo, e pelos<br />

movimentos de seu espírito. Ao expressar este sentimento de gratidão e de aniquilamento<br />

diante de Deus, o sacerdote dobra os joelhos ao dizer as palavras Et Verbum caro<br />

factum est et habitabit in nobis, isto é E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.<br />

Também para dizer que quer ser animado por esta vida divina, mesmo fora do<br />

Sacrifício é que reza este Evangelho depois que a Missa acabou e que em muitos lugares<br />

ele o reza ao voltar do altar para a sacristia.<br />

******************<br />

<strong>ORAÇÕES</strong> DURANTE A <strong>SANTA</strong> <strong>MISSA</strong><br />

Tiradas do Ordinário da Missa<br />

============<br />

Ao entrar na igreja<br />

Salmo 84 1<br />

Como são amáveis tuas moradas, Senhor dos exércitos!<br />

Minha alma desfalece e suspira pelo átrios do Senhor.<br />

Meu coração e minha carne exultam no Deus vivo.<br />

Até o pássaro encontra casa<br />

e a andorinha o ninho, onde pôr os filhotes,<br />

junto a teus altares, Senhor dos<br />

exércitos, meu rei e meu Deus.<br />

Feliz quem mora em tua casa:<br />

sempre canta teus louvores.<br />

Feliz quem encontra em ti sua força<br />

e decide no seu coração a santa viagem.<br />

Passando pelo vale do pranto,<br />

transforma-o numa fonte<br />

e a primeira chuva o cobre de bênçãos.<br />

Cresce seu vigor ao longo do caminho,<br />

e Deus lhes aparece em Sião.<br />

Senhor, Deus dos exércitos, ouve<br />

minha prece,<br />

presta atenção Deus de Jacó.<br />

1 O original indica erroneamente Salmo 13: é Salmo 84 - Nota do Tradutor.<br />

18


Vê, ó Deus, nosso escudo,<br />

olha o rosto do teu consagrado.<br />

Para mim um dia nos teus átrios<br />

vale mais que mil em outro lugar;<br />

estar na porta da casa do meu Deus<br />

é melhor que morar nas tendas dos ímpios.<br />

Porque sol e escudo é o Senhor Deus;<br />

o Senhor concede graça e glória,<br />

não recusa o bem a quem caminha com retidão.<br />

Senhor dos exércitos,<br />

feliz o homem que em ti confia.<br />

(A tradução dos Salmos é tirada da edição da CNBB)<br />

Quando o sacerdote está ao pé do altar<br />

Salmo 43<br />

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém<br />

Irei ao altar de Deus,<br />

ao Deus que é minha alegria e meu júbilo.<br />

Faze-me justiça, ó Deus,<br />

defende minha causa contra o povo infiel;<br />

livra-me de quem é mentiroso e enganador.<br />

Pois tu és, ó Deus, a minha fortaleza,<br />

por que me rejeitas?<br />

Por que ando triste, oprimido pelo inimigo?<br />

Envia tua luz e tua fidelidade:<br />

que elas me guiem, me conduzam<br />

ao teu monte santo, à tua morada.<br />

Irei ao altar de Deus,<br />

ao Deus que é minha alegria e meu júbilo,<br />

e te darei graças na cítara, Deus, meu Deus.<br />

Por que estás triste, minha alma?<br />

Por que gemes dentro de mim?<br />

Espera em Deus, ainda poderei louva-lo,<br />

a ele, que é a salvação do meu rosto e meu Deus.<br />

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo<br />

em todos os séculos dos séculos<br />

assim como era no princípio agora e sempre.<br />

Irei ao altar de Deus,<br />

ao Deus que é minha alegria e meu júbilo.<br />

Nosso auxílio está no nome do Senhor<br />

que fez o céu e a terra.<br />

Confiteor<br />

Eu pecador me confesso a Deus todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem<br />

Maria, ao bem-aventurado São Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado São João Batista,<br />

aos santos apóstolos São Pedro e São Paulo, a todos os santos e a vós, padre, que<br />

19


pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e obras, por minha culpa, minha culpa,<br />

minha máxima culpa. Portanto, peço e rogo à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao<br />

bem-aventurado São Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado São João Batista, aos santos<br />

Apóstolos São Pedro e São Paulo, a todos os santos e a vós, padre, rogueis por mim ao<br />

Senhor, nosso Deus.<br />

Misereatur. Compadeça-se de vós o Deus onipotente e, perdoados os vossos<br />

pecados, vos conduz à vida eterna. Amém.<br />

Indulgentiam. Indulgência, absolvição e remissão dos nossos pecados nos conceda<br />

o Senhor onipotewnte e misericordioso. Amém.<br />

Deus tu conversus. Ó Deus, voltando-vos a nós, dar-nos-eis vida e vosso povo se<br />

alegrará em vós.<br />

Ostende nobis. Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia. E dai-nos a vossa salvação<br />

que nos fazeis esperar.<br />

Domine, exaudi. Senhor, ouvi a minha oração. E o meu clamor chegue até vós.<br />

Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco e que ele reze em vós.<br />

Quando o sacerdote sobe ao altar<br />

Oremos<br />

Afastai de nós, Senhor, vos rogamos, as nossas iniqüidades, para merecermos<br />

entrar no santo dos santos com as almas purificadas. Por Jesus Cristo Nosso Senhor.<br />

Amém.<br />

Quando o sacerdote beija o altar.<br />

Senhor, nós vos rogamos pelos merecimentos dos vossos santos, cujas relíquias<br />

aqui estão e de todos os santos, que vos digneis perdoar todos os nossos pecados. Amém.<br />

Intróito<br />

Salmo 14<br />

Senhor, que pode habitar na tua tenda?<br />

Quem pode morar no teu santo monte?<br />

Aquele que vive sem culpa, age com justiça<br />

e fala a verdade no seu coração;<br />

que não diz calúnia com sua língua,<br />

não causa dano ao próximo<br />

e não lança insulto ao vizinho.<br />

A seus olhos é desprezível o malvado,<br />

mas ele honra quem respeita o Senhor.<br />

Mesmo se jura com prejuízo para si, não muda;<br />

se empresta dinheiro é sem usura,<br />

e não aceita presentes para condenar o inocente.<br />

Quem agir deste modo ficará firme para sempre.<br />

20


Se este salmo for longo demais, para recita-lo inteiro num dia, enquanto o sacerdote<br />

reza o intróito, deve-se repetir no dia seguinte o primeiro versículo e<br />

depois se dirá o versículo em que se parou no dia anterior, acrescentando no início<br />

deste versículo “Aquele que vive…”, como o segundo versículo.<br />

Kyrie, eleison<br />

Cada uma das orações abaixo se repete três vezes.<br />

Senhor, tende piedade de nós.<br />

Cristo, tende piedade de nós.<br />

Senhor, tende piedade de nós.<br />

Glória in excelsis<br />

Glória a Deus nas alturas e na terra paz aos homens de boa vontade. Nós vos<br />

louvamos. Nós vos bendizemos. Nós vos adoramos. Nós vos glorificamos. Nós vos damos<br />

graças por vossa grande glória, Senhor Deus, Rei do céu, Deus Pai onipotente. Senhor,<br />

Filho unigênito, Jesus Cristo. Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho do Pai. Vós<br />

que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. Vós que tirais os pecados do<br />

mundo, acolhei a nossa deprecação. Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de<br />

nós. Porque só vós sois santo, só vós sois Senhor, só vós Altíssimo, Jesus Cristo. Com o<br />

Espírito Santo, na glória de Deus Pai. Amém. Dominus vobiscm. O Senhor esteja convosco.<br />

Que o vosso Espírito, Senhor esteja sempre conosco.<br />

A coleta<br />

Ó Deus onipotente e infinitamente bom, desviai de nós, por vossa misericórdia,<br />

tudo o que pode ser contrário a nossa salvação, para que não havendo nada no corpo e<br />

na alma que impeça de ir até vós, cumpramos com grande liberdade de espírito tudo o<br />

que é de vosso serviço. É o que pedimos por Jesus Cristo, Nosso Senhor, que convosco<br />

vive e reina em unidade com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.<br />

Da Epístola de S. Paulo aos Romanos. Cap. 12.<br />

1 Eu vos exorto, Irmãos, pela misericórdia de Deus, a vos oferecerdes em sacrifício<br />

vivo, santo e agradável a Deus: este é vosso verdadeiro culto.<br />

2 Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa<br />

maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a<br />

saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.<br />

9 O amor seja sincero. detestai o mal, apegai-vos ao bem.<br />

10 Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos<br />

em atenções recíprocas.<br />

11 Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor.<br />

12 Alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração.<br />

13 Mostrai-vos solidários com os santos em suas necessidades, prossegui firmes<br />

na prática da hospitalidade.<br />

14 Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.<br />

15 Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram.<br />

21


16 Mantende um bom entendimento uns com os outros; não sejais pretensiosos,<br />

mas acomodai-vos às coisas humildes. Não vos considereis sábios aos próprios olhos.<br />

17 A ninguém pagueis o mal com o mal. Empenhai-vos em fazer o bem diante de<br />

todos. 18Caríssimos, não vos vingueis de ninguém, mas cedei o passo à ira de Deus,<br />

porquanto está escrito: “A mim pertence a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor”. Pelo<br />

contrário, “se teu inimigo estiver com fome, dá-lhe de comer, se estiver com sede, dá-lhe<br />

de beber. Agindo assim, estarás amontoando brasas sobre sua cabeça”.<br />

19 Não te deixes vencer elo mal, mas vence o mal pelo bem.<br />

Se esta Epístola for longa demais, deve-se ler cada vez somente quanto se puder,<br />

e continuar no dia seguinte, ou então se pode dividir em duas partes e ler um dia<br />

até o versículo 15 e no dia seguinte, a partir do versículo 15 até o fim.<br />

Gradual ou Tracto<br />

Salmo 118<br />

Felizes os que procedem com retidão, os que caminham na lei do Senhor.<br />

Felizes os que guardam seus testemunhos e o procuram de todo o coração.<br />

Não cometem iniqüidade, andam por seus caminhos.<br />

Promulgaste teus preceitos para serem observados fielmente.<br />

Sejam seguros meus caminhos para eu guardar os teus estatutos.<br />

Quero observar teus estatutos; não me abandones jamais.<br />

Seqüência do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo<br />

Segundo S. Lucas (Cap. 6)<br />

20 Jesus levantou o olhar para os seus discípulos e disse-lhes: “Felizes vós, os po-<br />

bres., porque vosso é o Reino de Deus!<br />

21 Felizes vós que agora passais fome, porque sereis saciados! Felizes vós que<br />

agora estais chorando, porque haveis de rir!<br />

22 Felizes sereis quando os homens vos odiarem, expulsarem, insultarem e amaldiçoarem<br />

o vosso nome por causa do Filho do Homem.<br />

23 Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, porque será grande a vossa recompensa no<br />

céu, pois era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.<br />

24 Mas ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação!<br />

25 Ai de vós que agora estais fartos, porque passareis fome! Ai de vós que agora<br />

estais rindo, porque ficareis de luto e chorareis!<br />

26 Ai de vós quando todos falarem bem de vós, pois era assim que seus antepas-<br />

sados tratavam os falsos profetas.<br />

27 A vós, porém, que me escutais, eu digo amai os vossos inimigos e fazei o bem<br />

aos que vos odeiam.<br />

28 Falai bem dos que falam mal de vós e orai por aqueles que vos caluniam.<br />

29 Se alguém te bater numa face, oferece também a outra. E se alguém tomar o<br />

teu manto, deixa levar também a túnica.<br />

30 Dá a quem te pedir e, se alguém tirar do que é teu, não peças de volta.<br />

31 Assim como desejais que os outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo.<br />

22


32<br />

Se amais somente aos que vos fazem o bem, que generosidade é essa? Até os<br />

pecadores amam aqueles que os amam.<br />

33<br />

E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que generosidade é essa?<br />

Os pecadores também agem assim.<br />

34<br />

E se prestais ajuda somente àqueles de quem esperais receber, que generosidade<br />

é essa? Até os pecadores prestam ajuda aos pecadores, para receberem o equivalente.<br />

35<br />

Amai os vossos inimigos, fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma<br />

em troca. Então, a vossa recompensa será grande. Sereis filhos do Altíssimo, porque ele<br />

é bondoso também para com os ingratos e maus.<br />

Se este Evangelho for longo demais, somente se lerá, cada vez, o que se puder<br />

ler, e se continuará no dia seguinte, ou então, se poderá dividi-lo em duas partes e só<br />

ler num dia até o versículo 29 e no dia seguinte, a partir do versículo 29 até o fim.<br />

O Símbolo do Concílio de Nicéia<br />

Creio em um só Deus, Pai onipotente, Criador do céu e da terra, de todas as coisas<br />

visíveis e invisíveis; e em Jesus Cristo, um só Senhor, Filho de Deus unigênito. E<br />

nascido do Pai antes de todos os séculos. Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro, de<br />

Deus verdadeiro. Gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por quem todos as coisas<br />

foram feitas. O qual por nós, homens e para nossa salvação, desceu dos céus. E encarnou-se<br />

pelo Espírito Santo, de Maria Virgem e se fez homem. Foi também crucificado<br />

por nós; sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. E ressuscitou ao terceiro dia, segundo<br />

as Escrituras, e subiu ao céu, está sentado à direita do Pai. E novamente há de vir<br />

com glória a julgar os vivos e os mortos; e seu reino não terá fim. E creio no Espírito<br />

Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho é<br />

juntamente adorado e glorificado; que falou pelos profetas. E creio na Igreja, una, santa,<br />

católica e apostólica. Confesso um só batismo para a remissão dos pecados. Espero a<br />

ressurreição dos mortos e a vida do século futuro. Assim é: esta é a verdade.<br />

Dominus vobiscum. Senhor, que o vosso espírito sempre esteja conosco.<br />

Ofertório<br />

Oremos. Dn 3.<br />

Recebei, Senhor este Sacrifício de nós mesmos, que vos oferecemos hoje, recebei-o<br />

com olhar favorável, vós que nunca deixais que sejam confundidos os que colocam<br />

sua confiança em vós.<br />

Oblação do pão<br />

Eu vos ofereço, ó meu Deus, o pão que deve ser mudado no cropo de Jesus Cristo,<br />

vosso Filho, que é vítima preparada para o sacrifício, vítima imaculada e sem mancha.<br />

Aceitai, santo Pai, onipotente, eterno Deus, esta hóstia imaculada, que eu, vosso<br />

indigno servo, ofereço a vós, meu Deus vivo e verdadeiro, por meus inumeráveis pecados,<br />

ofensas e negligências, e por todos os circunstantes, mas também por todos os fiéis<br />

cristãos vivos e defuntos, a fim de que aproveite a mim e a eles para a salvação e à vida<br />

eterna. Amém.<br />

23


Ao misturar a água e o vinho<br />

Deus, que maravilhosamente criastes a natureza humana e mais maravilhosamente<br />

a reformastes, pela mistura desta água e vinho feita pelo sacerdote dai-nos, participarmos<br />

da divindade daquele que se dignou participar da nossa humanidade, Jesus<br />

Cristo, vosso Filho, Nosso Senhor, que convosco vive e reina em unidade do Espírito<br />

Santo, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.<br />

Oblação do vinho<br />

Ó meu Deus, toda a Igreja, ao reconhecer o efeito do sangue de vosso Filho, derramado<br />

no Calvário, se une para vos oferecer o vinho que deve ser mudado no próprio<br />

sangue de Jesus Cristo neste Sacrifício; e ela vos pede que esta oferta suba até vós e vos<br />

seja agradável e que, quando este sangue estiver no santo altar, seja tão salutar como o<br />

foi no Sacrifício da Cruz.<br />

Ao lavar as mãos<br />

Salmo 26, 6-12<br />

<strong>La</strong>vo na inocência minhas mãos<br />

e rodeio o teu altar, Senhor,<br />

para fazer ressoar vozes de louvor<br />

e para narrar todas as tuas maravilhas.<br />

Senhor, gosto da casa onde moras<br />

e do lugar onde reside a tua glória.<br />

Não me arrastes junto com os pecadores<br />

não destruas minha vida com os sanguinários,<br />

pois nas mãos deles está a perfídia, sua mão direita está cheia de suborno.<br />

Porém meu caminho é reto;<br />

resgata-me e tem misericórdia.<br />

Meu pé se apóia em terra plana;<br />

nas assembléias bendirei ao Senhor.<br />

Suscipe, Sancta Trinitas<br />

Recebei, ó Trindade santa, esta oblação que vos oferecemos em união com todos<br />

os vossos Santos, para ser transformada no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo vosso<br />

Filho. Temos motivo de esperar que serão bem recebidos por vós esses dons, pois nós<br />

vo-los oferecemos em memória dos mistérios, da Paixão, da morte, da ressurreição e da<br />

Ascensão gloriosa do mesmo Jesus Cristo, fonte de nossa santificação.<br />

Orate, fratres<br />

Ó meu Deus, nós nos unimos todos ao sacerdote para pedir que aceiteis o Sacrifício<br />

de vosso Filho e o nosso. É para vos render glória e honra que vo-lo apresentamos.<br />

Fazei que seja útil para nossa salvação e para a santificação de vossa Igreja.<br />

24


A secreta<br />

Senhor, ouvi favoravelmente e atendei as nossas orações e as de vosso povo.<br />

Suplicamos que aceiteis a oferta que vos fizemos e convertei nossos corações para vós.<br />

Desapegai-nos também das afeições da terra, de modo que somente tenhamos desejos<br />

do céu. É o que pedimos por Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina convosco na<br />

unidade com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.<br />

nós.<br />

Prefácio<br />

Que o vosso espírito, Senhor, sempre esteja conosco e que seja ele quem reza em<br />

Elevamos nossos corações até Deus e que sejam sempre ocupados por ele. Rendemos<br />

graças por todos os seus benefícios.<br />

É muito justo, razoável e muito vantajoso para nós reconhecer em todo tempo e<br />

em todos os lugares as bondades de Deus para conosco. Mas é por Jesus Cristo que devemos<br />

louvar e agradecer-vos, Senhor, infinitamente santo, todo-poderoso e eterno, por<br />

ele é que os anjos louvam vossa imensa majestade, as dominações vos adoram, as potências<br />

se prostram diante de vós. Por isso é que as forças celestes e os bem-aventurados<br />

serafins se unem para vos render glória em transportes de alegria. Permiti, Senhor, que<br />

unamos nossas vozes para vos dizer num profundo sentimento de humildade e respeito:<br />

Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos, o céu e a terra estão cheios de sua<br />

glória e majestade.<br />

Te, igitur<br />

Meu Deus, que sois um Pai cheio de bondade e ternura para com vossos filhos,<br />

nós vos pedimos, por Jesus Cristo nosso Senhor, que abençoeis e santifiqueis os dons,<br />

preparados para o Sacrifício, que vos oferecemos pela Igreja santa e católica, para que a<br />

cumuleis de vossas graças; pelo santo Padre, o Papa, por nosso Bispo, elo Rei, e por<br />

todos os que professam a verdadeira religião.<br />

Memento, Domine<br />

Lembrai-vos, Senhor, neste Sacrifício dos vossos servos e servas, de meu pai e<br />

de minha mãe,de meus irmãos e de minhas irmãs, de meus professores e minhas professoras<br />

e de todos os que procuram ou procuraram minha salvação de qualquer maneira<br />

que seja, e de todos que me fizeram o bem. Fazei que sejam participantes deste santo<br />

Sacrifício, dai-lhes as graças que precisam, em especial a de vos servir com a fidelidade<br />

que desejais deles.<br />

Communicantes<br />

Ó meu Deus, visto que formamos uma mesma sociedade com os santos do céu,<br />

eu me uno a eles, principalmente à santíssima Virgem, a são João Batista, aos Apóstolos<br />

Pedro e Paulo, e são João, a meu santo padroeiro, aos santos aos quais tenho uma devoção<br />

particular, e a todos os santos. Eu lhes peço que apresentem comigo este Sacrifício<br />

de vosso Filho, que adorem continuamente este cordeiro que tirou os pecados do mun-<br />

25


do, que lhe manifestem sua gratidão e agradeçam. Uno-me a eles para o fazer também<br />

com eles.<br />

Hanc igitur<br />

Vós vedes, ó meu Deus, que toda a Igreja se interessa e se une para vos oferecer<br />

este Sacrifício. Aceitai com agrado, eu vos peço, esta homenagem que ela vos presta e<br />

que também eu vos estou prestando com ela. E tende a bondade de nos fazer passar esta<br />

vida em vossa santa paz, de nos libertar da condenação eterna e nos colocar no número<br />

de vossos eleitos. Isto vos pedimos por Jesus Cristo Nosso Senhor.<br />

Quam oblationem<br />

Concedei, Senhor, uma abundância de bênçãos às coisas que vos foram apresentadas;<br />

recebei-as com agrado para se tornarem o Corpo e o Sangue de vosso Filho amado,<br />

Jesus Cristo Nosso Senhor.<br />

Qui pridie. O qual, na véspera de sua Paixão, tomou o pão em suas mãos santas<br />

e veneráveis, e erguendo seus olhos ao céu, o abençoou, e rompeu, e agradecendo a<br />

Deus, seu Pai, o mudou em seu Corpo, pelas palavras sagradas que pronunciou, e o distribuiu<br />

depois a seus santos Apóstolos.<br />

Ato de adoração na elevação da Hóstia<br />

Ó meu Salvador, Jesus, que obedeceis tão pronta e exatamente às palavras do<br />

sacerdote a ponto de transformar o pão em vosso Corpo na mesma hora em que são pronunciadas,<br />

eu vos adoro realmente presente na santa Hóstia, adoro vossa submissão e<br />

vosso aniquilamento neste Sacrifício, e vos peço que me concedais parte nas disposições<br />

santas que nele manifestais.<br />

Simili modo. Após a ceia, Jesus Cristo tomou, da mesma forma, o cálice com<br />

vinho em suas mãos sagradas e veneráveis, e o transformou também em seu Sangue,<br />

pelas palavras que pronunciou; em seguida deu de beber a seus discípulos, dizendo-lhes:<br />

Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em memória de mim.<br />

Ato de adoração na elevação do cálice<br />

Sangue precioso que foste derramado para apagar os pecados dos homens, eu te<br />

adoro neste Sacrifício, com respeito reconheço tua excelência e tua eficácia. Oxalá eu<br />

seja muitas vezes lavado no sangue, pois ele branqueia e purifica nossas almas, e apaga<br />

todas as manchas. Purifica meu coração, ó Sangue adorável, e desapega-me de tudo o<br />

que ainda pode restar nele de pecado.<br />

Unde et memores<br />

Agora é uma Hóstia pura, uma Hóstia imaculada que vos oferecemos, ó meu<br />

Deus, porque é vosso Filho que é a vítima do Sacrifício. E como os três mistérios de<br />

seus sofrimentos e morte, de sua ressurreição e ascensão aos céus foram a causa de nossa<br />

salvação, nós vos pedimos que vos lembreis de conceder, em vista disto, a vossa Igreja<br />

as graças que ela vos pede.<br />

26


Supra quæ<br />

Esta Hóstia é infinitamente mais excelente do que as ofertas do justo Abel, do<br />

que o sacrifício do patriarca Abraão, e o que vos apresentou o sacerdote Melquisedec. E<br />

como as aceitastes com agrado, temos certeza que recebereis favoravelmente a oferta<br />

que vos fazemos de vosso próprio Filho.<br />

Supplices te rogamus<br />

Contudo, por sermos indignos de vos apresentar uma vítima tão preciosa, nós<br />

vos suplicamos, ó Pai eterno, que Jesus Cristo, ao se oferecer a si mesmo a vós sobre<br />

vosso altar santo, como no passado se sacrificou no Calvário, todos nós, que temos a<br />

graça de assistir a este Sacrifício, sintamos também nós, os efeitos dele, e que derrameis<br />

abundantemente sobre nós as graças e bênçãos do céu.<br />

Memento etiam<br />

Eu vos peço, ó meu Deus, por Jesus Cristo Nosso Senhor, que concedais um<br />

santo repouso às almas dos que passaram desta vida Para a eternidade em vossa graça,<br />

sobretudo a meus parentes, meus amigos e benfeitores e a todos pelos quais tenho obrigação<br />

de rezar.<br />

Nobis quoque peccatoribus<br />

Também a nós, embora pecadores, dai-nos ter parte na glória dos vossos santos<br />

Apóstolos e Mártires, sem tomar em consideração os nossos méritos. Nós pedimos por<br />

Jesus Cristo esta graça que esperamos. Também é por ele que temos a vantagem deste<br />

Sacrifício, como é nele, e com ele que vós recebeis toda glória que vos é devida, em<br />

unidade com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos Amém.<br />

Pater noster<br />

É pelo mandamento e pela instituição de Jesus Cristo, que ouso, ó Pai Eterno,<br />

dirigir-vos com confiança esta oração:<br />

Pai nosso que estais nos céus,<br />

Santificado seja vosso nome,<br />

Venha a nós o vosso reino.<br />

Seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu.<br />

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.<br />

Perdoai-nos as nossas ofensas,<br />

Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido,<br />

E não nos deixeis cair em tentação,<br />

Mas livrai-nos do mal. Amém<br />

27


Libera nos quæsumus<br />

Livrai-me, Senhor, de meus pecados passados, das ocasiões que estou no momento<br />

a combater, das tentações que eu possa ter no futuro. Dai-me, pela intercessão da<br />

santíssima Virgem, dos santos Pedro, Paulo e André, uma paz que me afaste não só do<br />

pecado, mas que me livre até da menor perturbação de minhas paixões.<br />

Pax Domini. Que vosso Espírito Santo, ó Deus, esteja em nós. E que vossa paz<br />

esteja sempre conosco.<br />

Haec commixtio. Que esta mistura e consagração do Corpo e do Sangue de Jesus<br />

Cristo, Nosso Senhor, procure para mim e para todos os que o receberem, a vida eterna.<br />

Agnus Dei<br />

Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.<br />

Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.<br />

Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz.<br />

Domine Jesu Christi, qui dixisti<br />

Ó meu Senhor Jesus Cristo, que devolvestes a vida ao mundo morto pelo pecado,<br />

para cumprir a vontade de vosso Pai, e para satisfazer às instâncias do Espírito Santo<br />

para a santificação de nossas almas, colocai-me na situação de receber o vosso Corpo<br />

sagrado, com uma disposição tal, que eu não mais recaia em algum pecado e permaneça<br />

sempre fielmente apegado à observância de vossos santos mandamentos, e que no futuro,<br />

nunca seja separado de vós.<br />

Perceptio Corporis<br />

Embora indigno, ó meu Salvador, de receber vosso Corpo sagrado, ouso disporme<br />

a fazê-lo porque vós o mandais e porque mostrais um grande desejo que eu o faça.<br />

Eu vos suplico que eu não o receba para a condenação, mas que me sirva, por vossa<br />

bondade, como sustento para meu corpo e minha alma e de remédio para todas as minhas<br />

enfermidades.<br />

Panem cælestem. Tomarei o pão celeste que Deus me dá e em sinal de gratidão<br />

por esta graça, invocarei o nome do Senhor.<br />

Domine, non sum dignus<br />

Senhor, eu não sou digno que entreis dentro de mim, mas dizei somente uma<br />

palavra e minha alma será salva.<br />

Que o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo conserve minha alma para a vida<br />

eterna.<br />

Quid retribum Domino? Que é que vos retribuirei, ó meu Deus, por todos os<br />

benefícios que recebi de vós? Tomarei o cálice da salvação que me apresentais, para<br />

sofrer de bom grado por vós e invocarei vosso santo nome, cantando e publicando vossos<br />

louvores. É por este meio que serei livre dos inimigos que se opõem mais a minha<br />

salvação.<br />

28


Quod ore sumpsimus. Fazei, Senhor, que a nossa participação neste Sacrifício,<br />

produza em nós uma pureza de coração tal, que seja para nós não somente uma graça<br />

temporal, mas se torne para nós um remédio eterno.<br />

Corpus tuum, Domine. Alimentado por tão puro e santo Sacramento, fazei, Senhor,<br />

por vossa graça, que não fique em mim nenhuma nódoa nem resto de pecado, e<br />

que a união a vosso Corpo sagrado não seja somente exterior em mim, mas penetre até o<br />

fundo de minha alma e me seja fonte de graças.<br />

Comunhão (Sb 16)<br />

Senhor, destes-nos um pão do céu no qual se contém toda sorte de delícias e um<br />

sabor sumamente agradável.<br />

Dominus vobiscum. Senhor que o vosso Espírito esteja conosco.<br />

Post communio<br />

Senhor que nos alimentastes com as coisas que são as delícias do céu, nós vos<br />

suplicamos que sempre nos concedais o desejo dessas mesmas coisas que nos fazem<br />

viver uma vida verdadeira. E o que vos pedimos por Jesus Cristo Nosso Senhor que<br />

vive e reina convosco na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.<br />

Amém.<br />

Dominus vobiscum. Senhor, que o vosso Espírito sempre esteja conosco.<br />

Placeat tibi, Sancta Trinitas<br />

Meu Deus, aceitai favoravelmente o serviço que vos apresentamos e o Sacrifício<br />

que acabamos de oferecer pelas mãos do sacerdote e do qual pudemos participar. Fazei<br />

que ele seja útil para mim e para todos os que nele tiveram alguma parte.<br />

Benedicat vos. Que o Deus todo-poderoso, o Pai, o Filho e o Espírito Santo vos<br />

abençoe. Amém.<br />

Dominus vobiscum. Senhor, que o vosso Espírito esteja sempre consco.<br />

Início do Evangelho segundo São João<br />

No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era<br />

Deus. ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela<br />

nada foi feito de todo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a<br />

luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. Veio um homem, enviado<br />

por Deus; seu nome era João. Ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da<br />

luz, para que todos pudessem crer, por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar<br />

testemunho da luz. Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela<br />

estava no mundo e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela<br />

veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram. A quantos, porém, a acolheram,<br />

deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que crêem no seu nome. Estes foram<br />

gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas<br />

de Deus. e a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória<br />

como do filho único da parte do Pai – em plenitude de graça e de verdade<br />

29


Depois da santa Missa<br />

Salmo 42 (41)<br />

Como a corça deseja as águas correntes,<br />

assim a minha alma anseia por ti, meu Deus.<br />

A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo:<br />

quando hei de ir ver a face de Deus?<br />

As lágrimas são meu pão dia e noite,<br />

enquanto me repetem o dia inteiro: “Onde está teu Deus?”<br />

Disto me lembro e meu coração se aflige:<br />

quando eu passava junto à tenda admirável, rumo à casa de Deus,<br />

entre cantos de alegria e de louvor de uma multidão em festa.<br />

Por que estás triste, minha alma? Por que gemes dentro de mim?<br />

Espera em Deus, ainda poderei louva-lo, a ele, que é a salvação do meu rosto.<br />

Esta é a oração que oferecerei dentro de mim a Deus, autor de minha vida.<br />

Digo a Deus : tu és meu asilo e meu protetor.<br />

OUTRAS <strong>ORAÇÕES</strong> DURANTE A <strong>SANTA</strong> <strong>MISSA</strong>,<br />

ELAS SE REFEREM ÀS AÇÕES E <strong>ORAÇÕES</strong> DO SACERDOTE<br />

Antes da santa Missa<br />

Meu Salvador Jesus, vou assistir a santa Missa para vos honrar e para agradecer<br />

todos os vossos benefícios, especialmente por terdes morrido por mim. Também é para<br />

vos pedir as graças que me são necessárias e o perdão de meus pecados. Fazei, eu vos<br />

peço, que durante todo o tempo deste santo Sacrifício, meu espírito se una às intenções<br />

da Igreja e do celebrante, e somente se ocupe convosco; que meu coração tenha um ardente<br />

desejo de vos receber e que eu não perca a lembrança de tudo o que sofrestes por<br />

mim no Calvário.<br />

No começo da santa Missa<br />

Ato de humilhação<br />

Como é que eu ousaria, ó meu Deus, aparecer diante de vós, eu que não sou mais<br />

do que uma criatura miserável? Vós sois tudo e eu sou nada; vós tendes tudo e eu tenho<br />

30


nada; vós podeis tudo e eu não posso nada. Já sei o que vou fazer para suprir minha indigência:<br />

vou unir-me a vós para estar inteiramente dentro de vós. Eu ne entregarei todo<br />

a vós para possuir tudo convosco. Eu me aniquilarei em vós, para poder tudo por vós. É<br />

assim, meu Deus, que não tendo nada por mim mesmo, poderei apresentar-me a vós,<br />

como alguma coisa que vos seja agradável; assim vos darei o que eu tiver recebido de<br />

vós.<br />

Ato de confusão<br />

Como estou envergonhado, ó meu Deus, de me aproximar de vós e de vossos<br />

santos altares, por estar todo cheio de pecados. O pecado nasceu comigo e os crimes que<br />

cometi se multiplicaram ao mesmo tempo em que meus dias foram avançando. Dissipai<br />

por vossa luz e por vossa graça toda a malícia de meu coração, para que eu seja capaz<br />

de assistir e de participar do Sacrifício de vosso Filho.<br />

Ato de contrição<br />

Pode-se dizer o Confiteor com o acólito com sentimentos de contrição; ou então<br />

se fará o Ato seguinte:<br />

Ó meu Deus, eu vos peço perdão de meus pecados, eu vo-los apresento para que<br />

os destruais. É pelo Sacrifício de vosso Filho na Cruz que já nos libertastes. O Sacrifício<br />

que vos vai ser oferecido é o mesmo, e tem o mesmo poder e a mesma força. Concedeime<br />

pois, eu vos suplico, em virtude deste, a absolvição de todos os meus pecados. Eu<br />

vo-lo ofereço de ante-mão em vista disso e vos peço esta graça pelos méritos de Jesus<br />

Cristo e pela intercessão da santíssima Virgem e de todos os vossos Santos.<br />

Quando o sacerdote diz “Indulgentiam”, cada um deve, na medida do possível,<br />

se colocar na disposição de receber a absolvição de seus pecados.<br />

Ato de confiança<br />

Ó meu Deus, eu confio que me devolvestes a vida ao me perdoar meus pecados<br />

e é com este pensamento que me aproximo em espírito e de coração de vosso santo altar,<br />

para vos apresentar meus deveres e oferecer um Sacrifício de louvor, o próprio sacrifício<br />

de Jesus Cristo, vosso Filho, com uma alma tão pura quanto me é possível.<br />

Ao intróito<br />

Ato de adoração<br />

Ó meu Deus, eu adoro vossa grandeza infinita e vossa majestade soberana. Os<br />

anjos tremem diante de vós, todas criaturas nada são em vossa presença e a constante<br />

transformação que nelas se processa é uma homenagem que apresentam a vosso domínio<br />

sobre elas e a vossa essência imutável. Ó meu Deus, como sois grande e admirável<br />

em vós mesmo e em tudo o que fazeis! É o sacrifício que vos devemos reconhecer: a<br />

altitude, a extensão e o esplendor de vosso nome adorável e aniquilar-nos diante de vós.<br />

31


Ao Kyrie, eleison<br />

Ato de pedido da misericórdia de Deus<br />

Derramai em nós, ó meu Deus, a vossa misericórdia. É com humildade que vô-la<br />

pedimos, e em união com Jesus Cristo vosso Filho que vô-la pediu na Cruz e ainda agora<br />

a pede neste Sacrifício.<br />

Ao Gloria in excelsis<br />

Ato de louvor e ação de graças<br />

Meu Deus, que destes vossa paz aos homens de boa vontade, nós vos damos a<br />

glória que vos é devida. Nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos, e<br />

nós vos damos graças por todos os benefícios com que cumulais sempre a terra. Vós<br />

nos enviastes vosso Filho único, para libertar todos os homens de seus pecados. Concedei-nos<br />

a graça de apagar todos os nossos pecados e de atender nossas súplicas. Pedimos<br />

insistentemente pelos méritos do próprio Jesus Cristo, vosso Filho, que sendo Deus<br />

convosco, é tão santo, tão grande, tão poderoso, e que possui a mesma glória do que<br />

vós, com o Espírito Santo.<br />

Dominus vobiscum. Que o vosso espírito, Senhor, esteja sempre conosco.<br />

Na coleta<br />

Ó meu Deus, que desejais ardentemente nossa salvação e nos concedeis sem<br />

cessar os meios de a realizar, inspirai-me a vontade de trabalhar na minha com grandíssimo<br />

cuidado, e dai-me para isso a graça de praticar tudo o que nos ensinastes, quer pelos<br />

profetas, quer por vossos apóstolos, quer por vós mesmo, para que, tendo vivido<br />

segundo vossa santa doutrina e as leis do santo Evangelho, eu possa assegurar para<br />

mim, por meio das boas obras que eu tenha praticado, a posse da glória que prometestes.<br />

É o que vos peço por Jesus Cristo, vosso Filho, Nosso Senhor, que convosco vive e reina<br />

com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.<br />

Na epístola<br />

Meu Deus que nos fizestes anunciar por vossos santos profetas o que nos deveria<br />

acontecer na lei da graça, e que nos ensinastes por vossos santos apóstolos as regras, as<br />

máximas da vida cristã, dai-me a compreensão desses santos Mistérios, escondidos nas<br />

profecias e que Jesus Cristo Nosso Senhor cumpriu em sua pessoa. Dai-me também a<br />

graça de ouvir com submissão de espírito o que vós nos ensinais por vossos santos apóstolos,<br />

de saborear as verdades e práticas de que suas cartas estão cheias, e de orientar<br />

minha vida e minha conduta pelos conselhos que eles nos dão. Adoro todas as palavras<br />

que estão em uns e em outros como vossa palavra divina da qual eles são apenas os órgãos<br />

e os ministros. Recebo-as com respeito, a elas me submeto com sentimento de humildade<br />

e de gratidão, e estou disposto, com o auxílio de vossa graça, a observar todas<br />

elas com fidelidade.<br />

32


No gradual<br />

Aspiração<br />

Vossa palavra e vossa santa Lei, ó meu Deus serão dia e noite o assunto de minhas<br />

reflexões. Meu prazer será pensar nelas com freqüência, vou considerar quanto<br />

vossos benefícios foram enormes a meu respeito; quantas graças recebi de vós, e por<br />

conseqüência, quanto devo ser fiel em observar o que ordenais. Vossa lei é um jugo,<br />

mas um jugo que só contém doçura, um fardo que não é pesado. Ó minha alma e meu<br />

coração, considerai e saboreai quão suave é o Senhor, quanto ele é amável.<br />

Ao Evangelho<br />

Aqui, ó meu Deus, não é somente a vossa palavra que adoro em vós, mas vossa<br />

Lei santa, a regra de todos os cristãos. Eu a escuto com respeito, eu a creio com firmeza.<br />

Vós mesmo a publicastes, vossos santos apóstolos, inspirados por vosso espírito, a escreveram.<br />

Ó meu Deus, eu é que devo praticá-la. Eu vos agradeço de me terdes dado<br />

uma doutrina tão excelente, para me servir de guia e de regra em toda a minha maneira<br />

de viver. Eu a lerei, eu a meditarei, e não terei vergonha de observar o que ela nos ensina<br />

de mais contrário às máximas do mundo, contanto que eu seja auxiliado por vossa<br />

graça eu me vou esforçar para praticá-la em toda sua extensão durante toda a minha<br />

vida.<br />

Ao credo<br />

Profissão de Fé<br />

1. Creio que há um só Deus e que não pode haver vários.<br />

2. Creio que há três Pessoas em Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e que<br />

essas três pessoas são um só Deus.<br />

3. Creio que o Filho de Deus, a segunda Pessoa da santíssima Trindade se fez<br />

homem, morreu na Cruz por nossos pecados.<br />

4. Creio que os que morrerem em estado de graça serão eternamente felizes no<br />

céu, vendo a Deus tal qual ele é.<br />

5. Creio que os que morrerem em estado de pecado mortal serão condenados,<br />

isto é, queimarão eternamente nos infernos.<br />

6. Creio que basta ter cometido um só pecado mortal e morrer nesse estado para<br />

ser condenado.<br />

7. Creio que há dez Mandamentos de Deus e que somos obrigados a observálos<br />

todos, e que também devemos observar os Mandamentos da Igreja.<br />

8. Creio que é necessário recorrer muitas vezes à oração e que não podemos<br />

salvar-nos sem rezar com atenção e piedade.<br />

9. Creio que há sete Sacramentos, Batismo, Confirmação, Penitência, Eucaristia,<br />

Unção dos enfermos, Ordem e Matrimônio.<br />

10. Creio que o Batismo apaga o pecado original e nos faz cristãos; que a Penitência<br />

perdoa os pecados cometidos depois do Batismo; que a Eucaristia contém<br />

o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo<br />

sob as aparências do pão e do vinho.<br />

33


Oblação do pão, de nossos corpos e de nossos sentidos<br />

Recebei, ó meu Deus, a oblação que vos faço juntamente com o sacerdote, do<br />

pão que deve ser transformado no corpo sagrado de Jesus Cristo. Abençoai-o, eu vos<br />

peço. Recebei também a oferta que vos faço de meu corpo e de meus sentidos. Santificai-os,<br />

eu vos peço, e fazei-me a graça de fazer deles um uso santo. Dai a meu corpo a<br />

pureza tão cara a vosso Filho e não permitais que eu me sirva de meus sentidos para um<br />

fim mau, mas regulai-os de tal sorte que, ao ver, ao ouvir, ao tocar alguma coisa, ao<br />

beber, ao comer, ao falar, seja por necessidade, por submissão a vossa santa vontade e<br />

sempre sem vos ofender.<br />

Oblação do vinho, de nossa alma, nossos pensamentos e nossos<br />

afetos<br />

Eu vos ofereço, ó meu Deus, em união com toda a Igreja, o vinho que deve sem<br />

tardar se tornar o Sangue precioso de vosso Filho. Ofereço também toda a minha alma,<br />

meus pensamentos, meus sentimentos e meus afetos. Fazei que minha alma se ocupe<br />

somente com o que respeita minha salvação; que meus pensamentos sejam só conhecervos<br />

a vós; que meus sentimentos sejam conformes ao que nos é ensinado no santo Evangelho<br />

e que toda a minha afeição seja vos amar e vos ser agradável em tudo.<br />

Ao lavar os dedos<br />

Oração para pedir a pureza de coração<br />

Purificai-me, ó meu Deus, dos menores pecados que ainda pudessem macular<br />

minha consciência. Por isso, lavai-me no sangue do Cordeiro, para que eu me encontre<br />

em tal pureza de coração, que nada me impeça de participar do santo Sacrifício que se<br />

vai oferecer-vos e que eu receba vossas graças e vossas bênçãos com abundância.<br />

Na oblação do pão e do vinho<br />

Ó santíssima e adorável Trindade, uno-me ao sacerdote que vos oferece tudo o<br />

que foi preparado para o Sacrifício. Ao me unir assim a ele, eu vos apresento tudo o que<br />

há em mim de bom e de ruim; o que há de ruim, para que vós o destruais pela eficácia<br />

dos sofrimentos e da morte de Jesus Cristo; o que há de bom, para que o torneis isento<br />

de toda imperfeição em virtude da ressurreição e que, pela graça de sua ascensão gloriosa<br />

ao céu vós o leveis à perfeição.<br />

Ao Orate, fratres<br />

Eu vos peço, ó meu Deus, que aceiteis com agrado o que o sacerdote vos apresentou<br />

para servir de sacrifício e a oferta que vos fiz de mim mesmo e de tudo o que<br />

está em mim. Dignai-vos fazer disto um só sacrifício e consumar o meu pelo de Jesus<br />

Cristo.<br />

34


Na oração secreta<br />

O que o sacerdote e os fiéis acabam de vos oferecer não são mais algo profano,<br />

nem para uso comum. Santificai-o, ó meu Deus, separai-o do resto das criaturas e considerai-o<br />

como coisa vossa. Concedei-me também, ó meu Deus a mesma graça. Fazeime<br />

santo pela santidade de minhas ações; fazei que eu não concorde em nada com o<br />

mundo, com os que cometem o pecado e consagrai-me inteiramente a vós e a vosso serviço.<br />

Ao prefácio<br />

Meu Deus, basta ser cristão (que deve ser animado por vosso espírito), para<br />

sempre ter o coração levantado para vós. Mas a minha fraqueza é tão grande que é preciso<br />

que muitas vezes eu seja advertido a pensar em vós, mesmo durante os santos Mistérios.<br />

É bem justo, ó meu Deus, que eu esteja ocupado em vós e que eu vos louve. Contudo,<br />

por mim mesmo, não vos posso dar os louvores que vos convêm, nem vos dar as<br />

devidas ações de graça. É em Jesus Cristo e por Jesus Cristo somente que o posso fazer.<br />

Os anjos, por mais elevados que estejam na glória, só por ele vos louvam, só com ele<br />

vos respeitam, só nele vos adoram. Portanto, é por Jesus Cristo, em união com esses<br />

bem-aventurados espíritos que vos peço que aceiteis que eu vos diga com profundo respeito:<br />

Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos Exércitos. O céu e a terra estão cheios<br />

de sua glória e majestade.<br />

Ao Te igitur<br />

Eterno Pai, por Jesus Cristo, mediador entre vós e nós, especialmente neste Sacrifício,<br />

eu vos peço que aceiteis com agrado o que o sacerdote continua a vos oferecer<br />

e as orações que faço por mim para que me concedais a graça de uma piedade verdadeiramente<br />

cristã; pela vossa santa Igreja, que a conduzais e governeis sempre por vosso<br />

espírito; por nosso santo Padre o Papa, por nosso Bispo, pelo Rei e por todos os que têm<br />

fé e que vivem na comunhão com a Igreja, que lhes concedais a graça de seu estado e de<br />

os cumular de vossas bençãos.<br />

Ao Memento<br />

Meu Deus, vós concedeis a todos os vossos fiéis a graça de serem membros de<br />

um mesmo corpo e de receber a vida e as influências do espírito de Jesus Cristo, sua<br />

cabeça. Até quereis que tenhamos uma grande união de coração e que peçamos uns pelos<br />

outros. Para obedecer ao mandamento que nos prescrevestes é que, sem olhar para<br />

meus pecados, eu rezo por meu pai e minha mãe, por meus irmãos e irmãs, por meus<br />

professores e professoras, pelos que procuram ou procuraram minha salvação, seja qual<br />

for a maneira e dos quais recebi algum bem, e também por todos os que estão presentes<br />

a este Sacrifício e vos peço por eles todas as graças que precisam.<br />

Ao Communicantes<br />

É justo, ó meu Deus, que os santos que estão no céu se unam a nós para rezar,<br />

sobretudo neste Sacrifício. Já que formam conosco uma só e mesma Igreja, devem interessar-se<br />

por nossa santificação, por nos alcançar os meios para tanto, e para vos pedir<br />

35


por nós e devem entrar na participação das ações santas que se realizam por todos os<br />

fiéis, a fim de que elas vos sejam mais agradáveis, para vos louvar, adorar e vos oferecer<br />

este Sacrifício com eles. Peço, portanto, à santíssima Virgem mãe de Jesus Cristo<br />

vosso Filho, a são João Batista, aos santos apóstolos Pedro e Paulo, a São João, aos santos<br />

papas, aos santos mártires e a todos os santos, para que atraiam sobre mim e sobre<br />

toda a Igreja vossas graças e vossas bênçãos.<br />

Ao Hanc igitur<br />

Ó meu Salvador Jesus, que pelas palavras do sacerdote ides mudar o pão em<br />

vosso Corpo e o vinho em vosso Sangue, transformai-me também a mim inteiramente<br />

por vossa graça; destruí minhas paixões, fazei que abandone minhas inclinações e que<br />

não tenha outros afetos a não ser o de vos amar e de fazer o que mandais. É esta a mudança<br />

que vos peço que opereis em mim pela virtude deste santo Sacrifício.<br />

Ato de adoração na elevação da Hóstia<br />

Ó meu Salvador Jesus, adoro vosso Corpo sagrado que acaba de aparecer sobre<br />

o altar. É por um efeito de vossa onipotência e de vossa bondade que possuímos tão<br />

grande tesouro. Vós os sacrificais para procurar a nossa salvação e nos dar vosso santo<br />

amor. Quero receber com gratidão esta graça e vô-la agradeço; fazei que, por toda a<br />

minha vida eu corresponda a vossos desígnios sobre mim e me torne digno do presente<br />

que me ofereceis de vós mesmo neste Sacrifício.<br />

Ato de adoração na elevação do cálice<br />

Ó meu Salvador Jesus, que na Cruz derramastes vosso Sangue precioso por nossos<br />

pecados, adoro este mesmo Sangue, que agora está sobre o santo altar; e vos peço,<br />

pelos méritos que nos adquiristes e pelas intenções puríssimas que tivestes ao derramálo,<br />

que me concedais uma verdadeira contrição e o perdão de meus pecados.<br />

Ao unde et memores<br />

Meu Salvador Jesus Cristo, que só realizastes os três mistérios de vossos sofrimentos<br />

e de vossa morte, de vossa ressurreição e de vossa ascensão ao céu para que<br />

produzissem em nós as graças que lhes são próprias, fazei, pelos méritos de vossos sofrimentos<br />

e de vossa morte, que eu morra inteiramente ao pecado e a tudo o que vos<br />

desagrada; em virtude de vossa ressurreição, que eu só procure e me delicie nas coisas<br />

do céu e se referem ao bem de minha alma; que pelo favor de vossa ascensão gloriosa<br />

eu suba sempre de virtude em virtude e permaneça em repouso, e que goze plenamente<br />

de vosso santo amor.<br />

Ao supra quæ<br />

Espero, ó meu Salvador, que me concedereis esta graça, por meio deste Sacrifício,<br />

que vós mesmo ofereceis pelas mãos do sacerdote, pois ele é infinitamente mais<br />

santo do que o de Abel, é infinitamente mais perfeito do que o do Patriarca Abraão, e é<br />

36


infinitamente mais agradável a Deus do que o que apresentou o sumo sacerdote Melquisedec.<br />

Ao supplices te rogamos<br />

Já que sois vós quem nos resgata para Deus, por vosso sangue e o único achado<br />

digno de abrir o livro e de romper os sete selos que o fecham, apresentai vós mesmo<br />

este sacrifício ao Pai eterno, porque também sois o único digno de o fazer, pedi-lhe que<br />

ele o consuma e então produzirá em nós uma abundância de graças e atrairá sobre nós<br />

todas as bênçãos do céu.<br />

Ao memento etiam<br />

Toda Igreja, ó meu Deus, deve ter parte neste Sacrifício. Assim, depois que os<br />

santos que estão no céu se juntaram a nós para vo-lo oferecer, devemos pedir-vos pelas<br />

almas que sofrem no purgatório. Peço-vos, portanto, pelas almas de meus pais, de meus<br />

amigos e de meus benfeitores, por aqueles que se recomendaram a mim, e pelas mais<br />

abandonadas, dai-lhes, ó meu Deus, um repouso santo e eterno.<br />

Ao nobis quoque peccatoribus<br />

Mas eu, ó meu Deus, que muito vos ofendi, não ouso pedir nada para mim indigníssimo<br />

de vossas graças. Tenho, contudo, uma grande confiança em vossa misericórdia.<br />

Fazei que todos os vossos santos vô-la peçam para mim. Visto que vosso prazer<br />

está fazê-lo, concedei-me pela intercessão deles que eu possa depois de minha morte<br />

entrar em participação da glória deles. Sem dúvida, será uma grande alegria para eles<br />

ver aumentar o número de vossos adoradores no céu.<br />

Ao per ipsum<br />

Somente por Jesus Cristo posso esperar esta felicidade; só ele a mereceu para<br />

mim por sua morte; também é só ele a quem não podeis recusar o que ele vos pede. Por<br />

isso também por ele e nele toda a glória que vos é devida vos é dada por todos os santos<br />

que estão no céu e na terra e no purgatório, por todos os séculos. Amém.<br />

Ao Pater noster<br />

Eu não ousaria, ó meu Deus chamar-vos de meu Pai, depois de tão grande número<br />

de pecados que cometi, se Jesus Cristo, vosso Filho, não o tivesse mandado. Portanto<br />

, para obedecer a ele, e pela confiança que tenho em vossa bondade, é que tomo a liberdade<br />

de vos dizer:<br />

Pai nosso que estais nos céus; santificado seja vosso Nome; venha a nós o vosso<br />

Reino; seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia<br />

nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem<br />

ofendido; e não nos deixeis cair em tentação; mas livrai-nos do mal. Amém.<br />

37


Ao libera nos quæsumus<br />

Como se é feliz, quando se possui uma verdadeira paz. É na união do espírito e<br />

do coração convosco, ó meu Deus, na isenção do pecado e no repouso de consciência<br />

que ela se encontra. Dai-me esta paz, afastai de mim o pecado, e fazei que meu coração<br />

sempre esteja na calma, e que eu fique tão compenetrado de que vossa vontade seja feita<br />

em todas as coisas, que nada seja capaz de me perturbar, nem de inquietar, porque só<br />

vou querer o que vos agrada. Esta é a graça que vos peço por intercessão da santíssima<br />

Virgem e dos santos Apóstolos Pedro e Paulo e André.<br />

Ao Agnus Dei e ao Domine qui dixisti<br />

Meu Deus, depois de vos ter pedido a paz convosco, deixai que vô-la peça também<br />

com o próximo, pois não estarei bem convosco se não estiver bem unido de afeição<br />

com os homens. Contudo, não posso ter essa união, a não ser pela bondade e a paciência.<br />

Dai-me, eu vos suplico, essas duas virtudes, e fazei que eu somente fale e proceda<br />

de maneira muito afável com todas as pessoas, que eu sofra com paciência e por vosso<br />

amor os erros, as injúrias e afrontas que me puderem ser feitos, que eu não me penalize<br />

de nada, que eu não fique chocado por nada, e que eu esteja contente com tudo o que me<br />

acontecer da parte dos outros.<br />

Ato de desejo da santa comunhão<br />

Tenho um grande desejo, ó meu Salvador, de vos receber: é o que me ocupa o<br />

coração dia e noite; nisso é que penso muitas vezes; a isso é que eu aspiro como a um<br />

grandíssimo tesouro, pois a Comunhão é o que me consola em meus sofrimentos, que<br />

me fortifica em minhas fraquezas, e que me sustenta em minhas tentações. Tenho a impressão<br />

de que, quando tenho dentro de mim vosso Corpo sagrado, recebo ao mesmo<br />

tempo uma vida nova. Vós bem sabeis, divino Jesus, que sois a vida de minha alma e<br />

que ela desfalece assim que ela se afastar um pouco de vós, privando-se da santa Comunhão.<br />

Vós também sois a minha alegria, pois não posso encontrar verdadeiro prazer se<br />

não em vos possuir. Só vós sois em quem ponho toda a minha felicidade, porque não<br />

existe nada mais sólido do que gozar de vós, e este é o fruto que se tira da santíssima<br />

Comunhão.<br />

Ato de adoração antes da S. Comunhão<br />

Eu vos adoro, Jesus Cristo, meu Salvador, que vos aniquilais e escondeis vossa<br />

glória neste admirável Sacramento, para vos dar inteiramente a nós e permanecer sempre<br />

conosco, sem dúvida é para que nós nos entreguemos inteiramente a vós. Mas o que<br />

é que vos darei, ó meu Salvador? Sou uma criatura cheia de pecados e vós me dais um<br />

Deus que é a própria santidade. Transformai-me, por favor, em vós, e assim serei santo,<br />

porque vós sois santo, e o pecado não terá entrada para dentro de mim.<br />

Enquanto se comunga<br />

Eu não sou digno, ó Senhor, que entreis em mim, mas dizei somente uma palavra<br />

e minha alma será salva.<br />

38


Que o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo conserve minha alma para a vida<br />

eterna.<br />

Que felicidade para mim, ó meu Deus, a de vos ter recebido e de vos possuir, a<br />

vós que tendes em vós todos os tesouros de ciência e de sabedoria de Deus, em quem<br />

reside a plenitude da divindade. É vosso Corpo sagrado que acabo de receber, vós somente<br />

me o destes para me encher de graças, e me incitar a viver de maneira digna de<br />

vós. Eu vos peço que eu não contrarie vossas intenções, ao abandonar-me como os animais<br />

aos prazeres dos sentidos, mas que todo o meu espírito esteja ocupado por vós, e<br />

que todo o meu prazer seja encher meu coração com vosso santo amor.<br />

Ato de agradecimento<br />

Eu vos agradeço, ó meu Salvador, por me terdes dado a comer hoje vosso Corpo.<br />

É um pão celeste que dá forças para resistir às tentações e para não cair no pecado. É<br />

uma carne que é substância da própria Divindade e que produz um sabor para a pessoa<br />

se aplicar no serviço de Deus acima de todas as coisas. É um remédio capaz de curar<br />

todas as enfermidades de nossas almas. Fazei, ó Senhor, que este Pão sagrado repare em<br />

mim as forças que o pecado nele destruiu; fazei que esta carne mantenha a vida de minha<br />

alma, ao me conservar vossa santa graça, e o desejo de vos servir, e que este remédio<br />

me seja salutar, e não deixe em mim pecado algum, nem afeição por aquilo que vos<br />

desagrada.<br />

Atos de Comunhão espiritual quando não se comunga realmente<br />

Eu não sou digno, ó meu Senhor, de que entreis dentro de mim. Mas dizei somente<br />

uma palavra e minha alma será salva.<br />

Ó meu Salvador Jesus, já que não estou em condições de receber vosso Corpo<br />

sagrado sempre que assisto à santa Missa, dai-me o efeito deste Sacramento e concedeime<br />

a graça de participar de vosso espírito. Enchei-me com ele, eu vos peço, para que eu<br />

só viva por ele e só me deixe dirigir por seus movimentos. Renuncio a meu espírito próprio<br />

e a minhas próprias luzes. Não quero segui-las em nada e submeter-me inteiramente<br />

às vossas.<br />

União de coração a todos os que comungam<br />

Uno-me, ó meu Deus, a vossos servos e servas que comungam hoje e levam uma<br />

vida bastante pura para comungarem muitas vezes, até diariamente. Somos membros de<br />

um mesmo corpo, vós sois quem nos anima a todos e nos faz viver de vossa vida. Tornai-nos,<br />

eu vos peço, participantes de suas graças, de suas virtudes e de suas freqüentes<br />

comunhões e fazei que como eles vos honram continuamente por sua vida santa, eu vos<br />

honre também sempre enquanto os imito, porque eles vos possuem e são possuídos por<br />

vosso espírito.<br />

Ao Dominus vobiscum. Senhor, que vosso espírito esteja sempre conosco.<br />

39


Pós-comunhão<br />

Meu Deus, tive a felicidade hoje de estar presente e de participar do Sacrifício de<br />

vosso Filho, por isso dai-me como fruto do santo Mistério, a graça de continuar a vos<br />

sacrificar durante este dia, quer ao me privar de algum prazer, quer ao sofrer alguma dor<br />

por vosso amor, a fim de que, tenho procurado oferecer-vos um sacrifício perpétuo durante<br />

esta vida, eu possa oferecer um sacrifício eterno na outra. Esta é a graça que vos<br />

peço por Jesus Cristo Nosso Senhor, que convosco vive e reina na unidade com o Espírito<br />

Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.<br />

Ao Dominus vobiscum. Senhor, que vosso espírito esteja sempre conosco.<br />

Ao placeat tibi Sancta Trinitas<br />

Recebei com agrado, ó meu Deus, o Sacrifício que o sacerdote acaba de vos oferecer<br />

e que eu vos ofereci de mim mesmo. Fazei que um e outro me sejam úteis e aceitai<br />

também o serviço que vos presto e que quero continuar a vos prestar durante toda a minha<br />

vida.<br />

Em seguida cada um se prepara, por um sentimento de profunda humildade, a<br />

receber a bênção do sacerdote.<br />

Ao Evangelho de São João<br />

Verbo divino, que estais em Deus e Deus mesmo desde toda a eternidade, por<br />

meio de vós todas as coisas foram feitas e vós lhes destes o ser e a vida. Quanta bondade<br />

tivestes de vir a este mundo para iluminar todos os homens, que estavam na ignorância,<br />

e no pecado! A maioria, contudo, foram tão miseráveis e cegos que não quiseram<br />

receber a luz e permaneceram nas trevas. Nem sequer compreenderam, nem quiseram<br />

escutar as verdades santas que vós lhes anunciastes. E embora tenhais sempre permanecido<br />

entre eles, não vos conheceram. Felizes os que não escutaram a carne e o sangue,<br />

nem as palavras dos homens, mas a voz de Deus, vos receberam e acreditaram em vós,<br />

pois se tornaram filhos de Deus. não permitais, ó Verbo Encarnado, que eu siga o exemplo<br />

desses judeus incrédulos e endurecidos que não quiseram vos reconhecer; iluminai-me<br />

com vossa luz, tornai-me dócil a vossa palavra, e fazei que eu confesse de<br />

coração e de boca, com todos os que creram em vós, que vós sois o Verbo que se fez<br />

carne e habitou entre nós, para nos dar a graça e nos ensinar a verdade.<br />

Depois da Missa<br />

Meu Salvador Jesus Cristo, agradeço-vos a graça que me concedestes hoje de<br />

assistir a santa Missa e todas as que recebi de vós. Eu vos peço perdão das faltas que<br />

nela cometi, e vos peço que me concedais, em virtude deste santo Sacrifício, todos os<br />

socorros necessários para não vos ofender durante este dia e de vos servir com fidelidade<br />

no resto de minha vida.<br />

40


I N S T R U Ç Ã O<br />

METÓDICA<br />

<strong>PARA</strong> APRENDER<br />

A SE<br />

CONFESSAR BEM<br />

Por Perguntas e Respostas<br />

41


PREFÁCIO<br />

A prática do Sacramento da penitência, que ordinariamente é chamado Confissão,<br />

é a ação mais importante da religião porque é dela que depende de maneira particular<br />

a salvação dos que foram infelizes a ponto de cair nos pecados mortais. Por isso é de<br />

máxima conseqüência, não somente expor todas as preparações requeridas, mas também<br />

para não faltar nada do que é necessário para purificar a consciência e libertá-la de todos<br />

os pecados de que está carregada.<br />

Uma das maiores desordens que podem acontecer entre os cristãos é que a maioria<br />

se persuade que somente a confissão seja necessária para obter o perdão dos pecados<br />

no Sacramento da Penitência e que basta confessá-los de qualquer maneira para merecer<br />

receber a absolvição. Não entendem como é difícil ao homem voltar a Deus depois que<br />

se afastou dele por seus desvios em vista da grande inclinação ao pecado que teve, e<br />

quanta disposição a penitência exige para ser verdadeira e segura. Ela nem sequer pode<br />

ser feita devidamente sem muito sofrimento e esforço. Isto faz que o Concílio de Trento<br />

a chame de acordo com os santos Padres de ”Batismo penoso e laborioso”. Este sofrimento<br />

que é preciso impor-se para fazer bem este exercício de religião consiste especialmente<br />

em tomar todo cuidado possível para se preparar bem, para confessar simples,<br />

clara e inteiramente todos os pecados cometidos, dando-se a conhecer ao confessor tais<br />

quais somos. Enfim em satisfazer plenamente quer para com Deus, quer para com o<br />

próximo.<br />

É prática ordinária para os cristãos confessar de tempos em temos seus pecados<br />

ao sacerdote. Alguns o fazem uma vez todos os anos, para observar o Mandamento da<br />

Igreja, talvez, porque seriam considerados como excomungados, se não cumprissem<br />

esse dever. Muitos outros o fazem mais freqüentemente e há mesmo os que se aproximam<br />

muito assiduamente deste Sacramento por princípio de piedade, para adquirir e<br />

conservar a pureza de coração. Mas entre todos os que o recebem há poucos que se preocupam<br />

com se confessar bem e pouquíssimos que o sabem fazer devidamente e a muito<br />

custo se encontram alguns que se confessam de maneira completamente correta. Alguns<br />

vão se confessar sem terem examinado sua consciência ou só depois o terem feito<br />

superficialmente. Outros, por crerem que basta ter procurado bastante escrupulosamente<br />

seus pecados vão contá-los a um confessor como uma aventura que lhes tivesse acontecido,<br />

sem pensar em sentir uma verdadeira contrição. E mesmo que a expressem por<br />

algum ato, somente o fazem de boca sem dar sinal algum de que é suficiente e interior.<br />

Acontece mesmo com freqüência que não mostram ter o mínimo pensamento de mudar<br />

de conduta. Há também pessos que confessam seus pecados como por rotina, quando<br />

declaram quase sempre os mesmos pecados. Não poucos, depois de terem passado um<br />

ano inteiro sem se confessar, o fazem em dois ou três minutos e dizem somente em geral<br />

sete ou oito pecados grandes, que são os que mais impressionaram sua imaginação,<br />

persuadidos com isso de acalmar a sua consciência. Alguns, pelo contrário, ao se confessarem,<br />

dizem tantas palavras que, para declarar cinco ou seis pecados, precisam quartos<br />

de hora e por vezes meias horas inteiras, o que atrapalha muito um confessor que<br />

muitas vezes não pode discernir em tudo o que essas pessoas disseram o que é pecado.<br />

Também isso lhe faz perder muito tempo e é motivo de ele se ver obrigado a despedir<br />

várias pessoas sem se terem confessado. Encontram-se ainda pessoas que pensam que<br />

não é permitido a um confessor diferir ou recusar-lhes a absolvição, quando não estão<br />

em estado de a receber. E outros que parecem querer tomá-lo à parte, se ele mostrar,<br />

mesmo só um pouquinho, que não a pode dar. Vereis também gente que se persuade que<br />

42


cabe a eles receber penitência tal que lhes agrada e que eles são livres de limitar o poder<br />

do confessor neste ponto ou até acham que, se a penitência não lhes agrada, podem não<br />

cumpri-la.<br />

Numa palavra, encontram-se tantas dificuldades e tantas desordens na prática da<br />

confissão, que se achou que seria útil dá-las a conhecer aos fiéis e propor-lhes os meios<br />

necessários para remediar a isso, para que, instruídos em todos os pormenores da preparação<br />

que se deve ter para o Sacramento da Penitência, sobre a maneira de se confessar<br />

bem, e os defeitos que se devem evitar ao declarar seus pecados, sobre a docilidade com<br />

que se deve escutar e seguir os conselhos do confessor e aceitar a penitência que ele<br />

impõe, sobre a necessidade e os meios de satisfazer, estejam nas condições devidas ao<br />

se aproximarem deste sacramento para nele receberem a graça que perderam pelo pecado,<br />

e depois conservá-la inviolavelmente. É o que se propõe fazer nas Instruções seguintes.<br />

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I N S T R U Ç Ã O<br />

METÓDICA<br />

<strong>PARA</strong> SE CONFESSAR BEM<br />

P – Quando alguém quer se confessar, que é que deve fazer para estar em condições de<br />

fazer uma boa Confissão?<br />

R – Deve preparar-se bem para isso. Depois deve confessar-se com as boas disposições<br />

e aplicar-se acima de tudo a bem declarar seus pecados. Depois de ter-se confessado,<br />

deve agradecer a Deus a graça recebida no Sacramento da Penitência, tomar alguns<br />

meios para conservá-la e cumprir a penitência que lhe tiver sido imposta pelo<br />

confessor.<br />

P - Antes de se confessar que é preciso fazer para se preparar bem?<br />

R - É preciso fazer duas coisas. 1º Examinar sua consciência. 2º Arrepender-se de todos<br />

os seus pecados.<br />

Da primeira coisa que se deve fazer antes de se confessar<br />

P – Qual é a primeira coisa que se deve fazer antes de se confessar, para se preparar<br />

bem?<br />

R - É tomar todo cuidado possível, com a graça de Deus para se lembrar de todos os<br />

seus pecados; e isto é que se chama examinar sua consciência.<br />

P - O que é examinar sua consciência?<br />

R - É pensar com atenção nos pecados que se cometeu desde sua última confissão e<br />

procurá-los com cuidado para não omitir nenhum voluntariamente ou por negligência.<br />

P - Não se pode alguém confessar sem ter examinado sua consciência?<br />

R - Isto seria alguma coisa muito má, porque aquele que esquecesse um pecado na<br />

Confissão por falta de se ter examinado suficientemente cometeria um sacrilégio.<br />

P - Será que não basta examinar-se enquanto alguém se confessa?<br />

R - Não; é preciso absolutamente fazê-lo antes de se confessar e nunca no momento de<br />

se confessar; então deve-se pensar somente em declarar bem seus pecados.<br />

P - Que cuidado e que exatidão é preciso ter para examinar bem sua consciência?<br />

R - É preciso ter o mesmo cuidado e a mesma exatidão que se teria num negócio em<br />

que se tratasse de perder não somente todos os seus bens, mas até sua própria vida.<br />

P - Que é que se deve fazer para se colocar em situação de examinar bem sua consciência,<br />

antes de se confessar?<br />

R - É preciso retirar-se a algum lugar da igreja, onde se possa estar em calma e ali pedir<br />

a Deus a graça de se lembrar de todos os seus pecados.<br />

P - Sobre o que é que se deve examinar sua consciência antes de se confessar?<br />

R - Sobre os Mandamentos de Deus e da Igreja, sobre os sete pecados capitais e sobre<br />

os pecados particulares de seu estado e de sua profissão.<br />

P - Para bem examinar sua consciência, basta examinar seus pecados em geral, por<br />

exemplo, se blasfemou, se roubou, se mentiu, etc?<br />

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R - Isto não basta; é preciso além disso, examinar-se acerca do número e das circunstâncias<br />

necessárias de cada pecado que se cometeu, por exemplo, qual foi a blasfêmia,<br />

quantas vezes se cometeu, etc.<br />

P - Em que é que se deve pensar para se examinar melhor e mais exatamente sua<br />

consciência?<br />

R - Será bom pensar que pecados se cometeu na igreja, na casa, nos outros lugares que<br />

se freqüentou, e na companhia das pessoas com quem se conversou.<br />

P - Quais são os pecados mais ordinários que se podem cometer na igreja ou que se<br />

referem à igreja?<br />

R - São os seguintes: 1º Faltar à assistência à santa Missa ou chegar tarde demais, ou<br />

sair dela antes do fim da Missa, especialmente nos domingos e festas. 2º Estar nela<br />

sem rezar. 3º Conversar e olhar para todos os lados, rir e manter atitude indecente,<br />

ou cometer alguma outra imodéstia.<br />

P - Quais são os pecados mais ordinários que se podem cometer na casa?<br />

R - São os seguintes: 1º Ser preguiçoso para se levantar. 2º Não rezar de joelhos de<br />

manhã ou de tarde ou não o fazer com atenção e piedade. 3º Mandar fazer coisas<br />

que a Lei de Deus proíbe ou dar ordens com paixão. 4º Não obedecer aos que têm<br />

poder de mandar ou faltar de respeito para com eles. 5º Encolerizar-se, impacientar-se<br />

ou ficar amuado. 6º Comer ou beber por sensualidade ou com excesso. 7º Ficar<br />

gozando com pensamentos desonestos ou fazer ações contrárias à pureza.<br />

P - Quais são os pecados mais ordinários que se podem cometer na companhia das<br />

pessoas com quem se conversa?<br />

R - São os seguintes: 1º Blasfemar. 2º Mentir. 3º Dizer palavras ou cometer atos desonestos<br />

e contrários à pureza. 4º Falar mal do próximo. 5º Bater, brigar, ofender<br />

com palavras alguém. 6º Desejar, tomar, ou reter o que pertence a nosso próximo.<br />

7º Perder muito tempo ou dinheiro no jogo ou na diversão. 8º Dar escândalo ou<br />

mau exemplo.<br />

Da segunda coisa que se deve fazer antes de se confessar<br />

P - Qual é a segunda coisa que se deve fazer, antes de se confessar para se bem preparar<br />

a isso?<br />

R - É mostrar a Deus um grande pesar de tê-lo ofendido e prometer-lhe nunca mais<br />

recair em seus pecados. É o que se chama fazer um Ato de Contrição.<br />

P - Os que ao se confessarem não têm pesar de terem ofendido a Deus, fazem boa<br />

Confissão?<br />

R - Pelo contrário, cometem um sacrilégio, porque o pesar de ter ofendido a Deus é<br />

uma parte essencial do Sacramento da Penitência ou da Confissão; por isso ninguém<br />

se pode dispensar de o sentir no coração quando se recebe este Sacramento.<br />

P - Por que se diz que a Contrição é uma parte essencial do Sacramento da Penitência?<br />

R - É porque sem ela não se recebe o Sacramento, e a Confissão é nula.<br />

P - Será que, antes de se confessar, é necessário sentir uma grande dor de todos os<br />

pecados cometidos, e fazer de todos um Ato de Contrição?<br />

R - Sim; antes de se confessar é preciso fazê-lo, caso não se queira fazer uma Confis-<br />

são sacrílega.<br />

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P - Será que não bastaria arrepender-se de seus pecados e fazer um ato de Contrição<br />

deles depois de se ter confessado e ter recebido a absolvição?<br />

R - Não, não seria bastante de nenhuma forma; e se alguém esperasse para se arrepender<br />

de seus pecados para depois de ter recebido a absolvição, esta absolvição seria<br />

inútil e não receberia por ela o perdão de seus pecados.<br />

P - Que é a Contrição?<br />

R - É uma dor, ou um pesar de ter ofendido a Deus, unida a um firme propósito de<br />

nunca mais ofendê-lo.<br />

P - Quais são as condições que deve ter a Contrição, para ser suficiente no Sacramento<br />

da Penitência?<br />

R - É preciso que tenha seis condições. A primeira é que seja sobrenatural, isto é, que<br />

venha de Deus. 2ª Que seja interior, isto é, no fundo do coração. A 3ª é que seja<br />

suma, isto é, que tenhamos mais dor de ter ofendido a Deus do que todas as outras<br />

coisas que possam causar-nos alguma dor. A 4ª é que seja universal, isto é, de todos<br />

os pecados, pelo menos os mortais, que tenhamos cometido, sem excetuar um<br />

só. A 5ª é que seja eficaz, isto é, unida a uma forte resolução de não recair no pecado.<br />

A 6ª é que seja acompanhada do amor de Deus e de uma grande confiança<br />

em sua bondade e nos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

P - Quem tivesse dor de seus pecados por medo somente de perder sua honra ou seus<br />

bens ou qualquer coisa temporal, teria uma verdadeira Contrição e faria uma boa<br />

Confissão?<br />

R - De maneira alguma; porque esse medo é totalmente natural e não vem de Deus, e<br />

não exclui todo apego ao pecado.<br />

P - Quem, ao se confessar, tivesse a dor de todos os seus pecados exceto de um só,<br />

teria uma verdadeira Contrição e faria uma boa Confissão?<br />

R - Não. E se recebesse a absolvição nesse estado, cometeria um sacrilégio, caso o<br />

pecado do qual não tem arrependimento ou tivesse dúvida disso, fosse mortal.<br />

P - Como é que se deve fazer um Ato de Contrição?<br />

R - Um Ato de Contrição se faz assim:<br />

Meu Deus, eu vos peço humildemente perdão de todos os pecados que cometi<br />

em toda minha vida, e especialmente desde minha última Confissão. Sinto uma<br />

profunda dor de os ter cometido; eu os detesto pro amor a vós porque eles vos desagradam.<br />

Estou resolvido, com o socorro de vossa santa graça, de não mais recair<br />

neles.<br />

P - Para ter verdadeiro arrependimento de seus pecados será bastante fazer de boca<br />

um ato de Contrição, ao dizer, por exemplo: Meu Deus, tenho grande arrependimento<br />

de vos ter ofendido, porque vós sois infinitamente bom?<br />

R - Isto não basta; é preciso ter mais sentimento no coração.<br />

P - Todas as vezes que, ao se confessar, se faz um Ato de Contrição, é necessário ao<br />

mesmo tempo ter um firme propósito e uma forte resolução de não mais ofender a<br />

Deus?<br />

R - Sim; isto é absolutamente necessário. E se não se tivesse essa resolução, não se<br />

receberia o perdão de seus pecados, e se cometeria uma Confissão sacrílega.<br />

P - Por que é que os que confessam seus pecados sem terem um firme propósito e uma<br />

forte resolução de não mais recair neles, não recebem o perdão?<br />

R - É porque o firme propósito faz parte da Contrição e é, por conseguinte, uma parte<br />

essencial do Sacramento da Penitência ou da Confissão.<br />

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P - O que é um firme propósito ou forte resolução de nunca mais ofender a Deus?<br />

R - É uma vontade firme e determinada de antes sofrer todos os piores tormentos, a<br />

perda de todos os bens e de tudo o que se tem, até mesmo a morte, do que cometer<br />

um só pecado.<br />

P - Como é que se toma um firme propósito de nunca mais ofender a Deus?<br />

R - Toma-se assim:<br />

Meu Deus, com o auxílio de vossa graça estou resolvido a morrer antes do que<br />

vos ofender.<br />

P - Para tomar um firme propósito de nunca mais ofender a Deus, será que basta dizê-lo<br />

de boca e dizer: MEU Deus, eu gostaria mais de morrer do que vos ofender?<br />

R - Isto não basta; é preciso estar de fato nessa disposição.<br />

P - Quem recai sempre nos mesmos pecados parece ter uma verdadeira contrição e<br />

pesar de seus pecados?<br />

R - Não; porque não toma uma resolução bastante forte de não os cometer mais, sem o<br />

que, porém, não se pode ter uma verdadeira Contrição.<br />

P - Os que não querem abandonar as ocasiões próximas do pecado, têm firme propósito<br />

de não mais ofender a Deus?<br />

R - Não; porque não querer abandonar essas ocasiões seria não querer deixar de pecar.<br />

P - Quais são as ocasiões próximas do pecado?<br />

R - São aquelas coisas que ordinariamente são a causa de se cair no pecado, tais como<br />

as pessoas com quem, e os lugares em que se costuma ofender a Deus.<br />

P - Há quantas espécies de ocasiões próximas de pecado?<br />

R - Há duas espécies de ocasiões próximas de pecado. 1ª As que levam a ele por si<br />

mesmas, como a leitura de livros indecentes, a conversa freqüente e familiar de duas<br />

pessoas solteiras de sexo diferente. 2ª As que fazem cair no pecado não por si<br />

mesmas, mas em razão somente da má disposição da pessoa, quer por sua fraqueza,<br />

quer por seus maus hábitos. Tais são, para um comerciante, seu negócio que não o<br />

impede de enganar. A profissão de taverneiro que não pode ou não quer recusar a<br />

bebida ou a comida às pessoas que sabe terem tomado bastante ou estarem a gastar<br />

sua fortuna na taverna em prejuízo da família. O jogo para quem perde seus bens<br />

no jogo, ou tem o costume de blasfemar ou imprecar. A taverna, para quem costuma<br />

se embriagar ou beber em excesso.<br />

P - É-se obrigado a abandonar as ocasiões próximas de pecado que o são tais somente,<br />

por causa da má disposição da pessoa, da mesma forma como se é obrigado a<br />

se afastar das que o são por si mesmas?<br />

R - Sim, quando ordinariamente nelas se ofende a Deus e quando se continuaria a ofendê-lo<br />

caso se permanecesse nelas.<br />

P - Podemos por nós mesmos fazer um ato de Contrição e ter um verdadeiro arrependimento<br />

de nossos pecados?<br />

R - Não; somente Deus pode no-lo dar.<br />

P - Podemos excitar-nos a ter a contrição e o arrependimento de nossos pecados?<br />

R - Sim; podemo-lo com a graça de Deus.<br />

P - Que é preciso fazer para se excitar a ter uma verdadeira contrição e arrependimento<br />

de seus pecados e um firme propósito de nunca mais recair?<br />

R - Para isso podemos utilizar seis meios diferentes. O 1º é pedi-la a Deus. O 2º é considerar<br />

a bondade de Deus e os benefícios que dele recebemos. O 3º é ver a enormidade<br />

e o grande número de nossos pecados. O 4º é pensar no que Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo sofreu para satisfazer a Deus por nossos pecados. O 5º é refletir que o<br />

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pecado nos fez perder a graça de Deus, priva-nos do Paraíso e nos faz merecer o<br />

inferno. O 6º é fazer freqüentes atos de Contrição.<br />

P - Que benefício recebe nossa alma quando temos verdadeiro arrependimento de<br />

nossos pecados?<br />

R - O grande benefício que recebemos então é a graça de Deus e o perdão de nossos<br />

pecados.<br />

§ 3. Do que se deve fazer na Confissão antes de declarar seus<br />

pecados e das quatro primeiras coisas a observar ao declarar<br />

seus pecados<br />

P - Que é que se deve fazer ao confessar-se, para o fazer com boas disposições?<br />

R - É preciso fazer dez coisas.<br />

P - Qual é a primeira coisa que se deve fazer no momento de se confessar?<br />

R - É fazer o sinal da cruz, dizendo In nomine Patris, etc... ou Em nome do Pai,<br />

etc…depois pedir ao confessor sua bênção, dizendo: “Padre, dai-me a vossa bênção<br />

porque eu pequei”.<br />

P - Por que, ao confessar, se pede a bênção do confessor, antes de declarar seus pecados?<br />

R - É porque na pessoa do confessor se presta honra ao poder e à autoridade de Jesus<br />

Cristo ao qual se pede a bênção e a graça necessária para confessar bem todos os<br />

seus pecados.<br />

P - Qual é a segunda coisa que se deve fazer no momento de se confessar?<br />

R - É dizer o Confiteor quer em latim, quer em francês, até mea culpa.<br />

P - Por que, antes de declarar seus pecados, se diz o Confiteor na confissão?<br />

R - É para fazer um ato de humildade manifestar ao confessor, em presença de Deus,<br />

dos anjos e dos santos, de que se é pecador, para atrair sobre si por este ato a misericórdia<br />

de Deus que sempre está disposto a dar sua graça aos humildes.<br />

P - Qual é a terceira coisa que se deve fazer na confissão para se confessar bem?<br />

R - É, antes da declaração dos pecados, dizer há quanto tempo não se confessou.<br />

P - Como é que se deve dar a conhecer ao confessor desde quanto tempo não se confessou?<br />

R - Deve-se dizer faz quinze dias, ou três semanas, ou um mês que não me confessei.<br />

Ou então: minha última confissão foi há quinze dias, ou três semanas, ou um mês<br />

ou dois meses, ou mais ou menos, conforme o tempo que passou desde que se confessou.<br />

P - Se não é o mesmo confessor da última vez e se não se é conhecido dele, será que<br />

basta, antes de declarar seus pecados, dizer há quanto tempo não se confessou?<br />

R - Para dar a conhecer melhor o estado de sua consciência e a disposição com que se<br />

confessa, também é conveniente dizer-lhe ao mesmo tempo: 1º Se se tem um confessor<br />

determinado e fixo e por que não se confessa com ele desta vez. Ou se não<br />

se tem confessor ordinário, por que não se escolhe um e por que não se confessa<br />

sempre com o mesmo. 2º Se se confessa com freqüência, ou raramente e quantas<br />

vezes mais ou menos cada ano. 3º Se se abraçou um estado de vida, se por exemplo,<br />

se é ou foi casado ou não. 4º Qual é a profissão que se tem, juiz ou advogado,<br />

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de quê, ou estudante e de que ciência, etc. 5º Se não se tem emprego, ou se o emprego<br />

em que se está não é suficiente para ocupar todo o tempo; em que se emprega<br />

ordinariamente o dia todo ou o tempo livre. 6º Se ainda não se cumpriu a penitência<br />

imposta na última confissão e por que motivo. 7º Se estiver obrigado a alguma<br />

restituição ou reparação, quer da honra, quer de prejuízo, não se fez ainda.<br />

Ou se tiver tido ódio contra alguém, não se reconciliou com ele e qual poderia ser a<br />

causa.<br />

P - Qual é a quarta coisa que se deve fazer na confissão para se confessar bem?<br />

R - É declarar bem seus pecados.<br />

P - Que é que se deve observar ao declarar seus pecados?<br />

R - Para declarar bem seus pecados é preciso observar dez coisas.<br />

P - Qual é a primeira coisa que se deve observar na confissão, ao declarar seus pecados?<br />

R - É dizê-los pessoalmente.<br />

P - Quando alguém se confessa, não deve pois, esperar que o confessor pergunte, para<br />

começar a declarar seus pecados?<br />

R - Não; é preciso dizê-los pessoalmente e dizer também pessoalmente tudo o que pode<br />

servir para dar-se a conhecer tais quais são, sem obrigar o confessor a perguntar<br />

sobre isso.<br />

P - Portanto está errado dizer ao confessor: Padre, confesse-me?<br />

R - Sim; porque nós é que devemos confessar e declarar nossos pecados e não o confessor<br />

pois ele não os conhece.<br />

P - Qual é a segunda coisa que se deve observar na confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - É dize-los como coisa passada.<br />

P - Não se deve, portanto, dizer ao confessar seus pecados no tempo presente, por<br />

exemplo, Eu blasfemo, eu minto, eu digo palavras indecentes, eu me encolerizo assim<br />

que alguém me diz alguma coisa que me fere, etc?<br />

R - Não; não é assim que se deve falar na confissão, para declarar bem seus pecados.<br />

Sempre se deve dizer no tempo passado, assim: Eu blasfemei, eu menti, etc.<br />

P - Qual é a terceira coisa que se deve observar na confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - É dizê-los em forma de acusação.<br />

P - Como nos devemos expressar para dizer nossos pecados em forma de acusação?<br />

R - É preciso dizê-los com humildade e com simplicidade, como o deve fazer um criminoso<br />

que declara seus crimes a seu juiz. Se, por exemplo, se mentiu para se escusar,<br />

é assim que se deve fazer: Eu menti, ou eu me acuso de ter mentido para me<br />

escusar.<br />

P - Portanto, está correto dizer na confissão: se menti, peço perdão a Deus, ou dizer:<br />

às vezes a gente blasfema, às vezes se mente, às vezes se fica brabo, etc?<br />

R - Não; pois isto não é declarar seus pecados em forma de acusação.<br />

P - Qual é a quarta coisa que se deve observar na confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - É não se escusar, nem jogar a culpa nos outros.<br />

P - Que é que se pode pensar daquele que, para se confessar, dissesse: “Eu menti,<br />

mas não pude agir de outra maneira; pois, se tivesse dito a verdade, teria perdido<br />

muito dinheiro” ou “Cheguei tarde à Missa no domingo; mas não foi minha culpa,<br />

encontrei no caminho um de meus parentes que me saudou e falou comigo algum<br />

tempo o que me impediu estar no começo da Missa” ou “Eu não rezei durante a<br />

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Missa porque um pessoa que conheço chegou-se a mim e conversamos durante a<br />

maior parte da Missa”?<br />

R - O que se pode pensar e dizer desta maneira de declarar seus pecados é que isto não<br />

é se confessar, mas se escusar. Deve-se dizer simplesmente: “Eu menti sem fazer<br />

prejudicar a ninguém”, uma, duas, três ou quatro vezes tantas as vezes que se fez.<br />

“Cheguei tarde à missa um domingo quando se rezava ou cantava o Evangelho”.<br />

“Deixei uma vez de rezar durante a maior parte da santa Missa”, sem dizer mais<br />

nada para escusar seus pecados ou jogar a culpa sobre os outros.<br />

§ 4. Da 5ª, 6ª e 7ª coisa que se deve observar ao declarar seus<br />

pecados, i.e., declarar a espécie, o número e as circunstâncias.<br />

P - Qual é a quinta coisa que se deve observar na confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - É dizer a espécie, o número e as circunstâncias necessárias de cada um dos pecados<br />

que se cometeu.<br />

P - O que é declarar na confissão a espécie de um pecado?<br />

R - É dizer em particular que pecado se cometeu, por exemplo, se alguém blasfemou,<br />

qual foi a blasfêmia; se alguém injuriou alguém, qual foi a injúria que se lhe fez.<br />

P - Não bastaria dizer seus pecados somente em geral, por exemplo: fui orgulhoso,<br />

indecente, guloso, preguiçoso, avarento, etc?<br />

R - Não; é preciso necessariamente dizer cada um de seus pecados em pormenores e<br />

em particular.<br />

P - Como é então que se deve acusar os pecados quando se caiu em algum pecado,<br />

como por exemplo, quando se cometeu um ato de soberba, para declarar corretamente<br />

a espécie deste pecado?<br />

R - Se foi por pensamento, deve-se dizer: tive pensamentos de orgulho em que consenti;<br />

se foi por palavras, deve-se dizer, por exemplo: eu me vangloriei ou falei bem<br />

de mim mesmo para sentir vaidade; se foi por obras, deve-se dizer, por exemplo:<br />

fui muito modesto ou muito devoto na igreja, ou, dei a esmola a um pobre porque<br />

havia outras pessoas que me estavam olhando, para que estas tivessem estima para<br />

mim. Quando se blasfema, deve-se dizer qual foi a blasfêmia, por exemplo, falei<br />

mal de Deus, falei “o diabo te carregue”. Quando alguém injuriou, deve-se dizer<br />

qual foi a injúria feita, a quem, por exemplo, injuriei meu irmão, eu o chamei de<br />

canalha; ou injuriei um sacerdote, eu o chamei de diabo, assim é que se deve dizer<br />

em particular os pecados que se cometeu.<br />

P - Quando se cometeu um pecado de impureza, para bem declarar a espécie deste<br />

pecado basta dizer na confissão: cometi um pecado de impureza?<br />

R - Isto não basta; pois há muitas sortes e espécies deste pecado, visto que se pode<br />

cometê-lo quer por pensamentos, ou por desejos, ou por olhares, ou por palavras,<br />

ou por canções, ou por beijos, ou por toques, ou outras ações indecentes.<br />

P - O que significa declarar o número de seus pecados?<br />

R - É dizer quantas vezes se cometeu cada pecado que se confessa.<br />

P - Isto é necessário?<br />

R - Sim; é preciso declará-lo necessariamente, pois não o fazendo se faria um confissão<br />

má. Pois quantas vezes que se cometeu voluntariamente uma ação pecaminosa,<br />

se cometeu, tantos pecados diferentes se cometeu, por exemplo, se blasfemei doze<br />

vezes, isto são doze pecados; se blasfemei cem vezes, são cem pecados que cometi.<br />

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P - Na confissão de um pecado não basta dizer que foi cometido várias vezes; por exemplo,<br />

blasfemei várias vezes?<br />

R - Não basta; porque o confessor não pode julgar por esta acusação quantas vezes se<br />

cometeu esse pecado, pois ter cometido um pecado só duas vezes é o mesmo do<br />

que tê-lo cometido várias vezes e tê-lo cometido dez, vinte, cem e mesmo mil vezes.<br />

P - Na confissão é permitido diminuir ou aumentar o número de seus pecados, ao dizer,<br />

por exemplo: Eu menti talvez umas trinta vezes, quando só se mentiu umas<br />

cinco ou dez vezes, porque se acha melhor dizer a mais do que a menos?<br />

R - Isto nunca é permitido e quem o fizesse voluntariamente faria uma confissão má.<br />

P - Se alguém não se lembra do número de pecados cometidos, que é que deve fazer?<br />

R - Como os pecados de cujo número alguém não se lembra são geralmente pecados<br />

de hábito, então deve-se dizer ao confessor quantas vezes mais ou menos por dia,<br />

ou por semana, ou por mês que foram cometidos.<br />

P - Não seria melhor declarar mais do que menos?<br />

R - Não se deve declarar nem mais nem menos, mas o número exato de seus pecados<br />

na medida em que se lembra.<br />

P - Que significa declarar ao confessor as circunstâncias necessárias de cada pecado<br />

cometido?<br />

R - Quando se diz na confissão, de que maneira, por que motivos, com que espécie de<br />

pessoas, em que lugar se pensou, se fez, ou se disse alguma coisa, quando isto é<br />

necessário para dar a conhecer qual a espécie de pecado que se cometeu; isto é dizer<br />

as circunstâncias necessárias de um pecado na confissão.<br />

P - Como é que na confissão dos pecados se deve declarar as circunstâncias?<br />

R - Assim é que se deve expressar ao confessor: se, por exemplo, se mentiu, deve-se<br />

dizer se foi para prejudicar alguém; no caso de injuria, se foi ao pai ou à mãe, ou a<br />

um sacerdote, ou a alguma pessoa constituída em dignidade, e que injúria se disse;<br />

no caso de bater em alguém, que espécie de pessoa foi, se foi por ódio, se foi com<br />

violência e com excesso; no caso de causar algum dano, qual foi esse dano.<br />

P - Quando se fala mal de alguém, basta para se confessar bem dizer: Falei mal de<br />

meu próximo, duas, quatro ou seis vezes, tantas quantas se fez?<br />

R - Não basta; é preciso também dar a conhecer, se o que foi dito era verdade ou falso,<br />

se era muito importante ou não, diante de quantas pessoas se falou, se causou dano<br />

à pessoa da qual se falou, desde quando e qual foi o dano. Explicar-se assim, é o<br />

que se chama dizer as circunstâncias de um pecado.<br />

P - Quando se roubou alguma coisa, basta dizer: Eu me acuso de ter roubado?<br />

R - Não basta; para se confessar bem é preciso também declarar as circunstâncias desse<br />

pecado: dizer qual foi a quantia, ou o que é que se roubou, e qual poderia ser o<br />

valor de tudo, se não se possui mais e se o roubado pertencia à Igreja, ou a um rico,<br />

ou a um pobre, ou a alguém que tivesse muita necessidade do que foi roubado,<br />

quanto tempo se guardou, e que quantia se guardou, e qual o prejuízo que isto causou<br />

à pessoa da qual se roubou.<br />

P - Qual é a sexta coisa que se deve observar na confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - é declarar os próprios pecados e nunca os dos outros, nunca dar o nome de alguém<br />

na confissão.<br />

P - Contudo muitas vezes acontece que algumas pessoas acreditam fazer bem, na confissão,<br />

contar os pecados dos outros: Padre, dirá alguém, tenho um filho, ou uma<br />

filha, ou um empregado, ou empregada que me causam muito sofrimento; preciso<br />

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dizer três ou quatro vezes uma coisa, antes que ele ou ela o faça. Isto algumas vezes<br />

não me posso impedir de batê-lo(a)?<br />

R - Agir assim seria confessar-se muito mal e, em vez de dizer todas essas coisas devese<br />

contentar com dizer: Padre, eu bati em meu filho, ou minha filha, meu empregado<br />

ou minha empregada, duas, três ou quatro vezes, tantas quantas foram as vezes..<br />

P - Qual é a sétima coisa que se deve observar na confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - É dizer em poucas palavras e nada dizer do que não é pecado.<br />

P - Não é pois permitido, ao declarar seus pecados na confissão, contar uma história<br />

ou toda uma aventura?<br />

R - Não; nunca se deve fazer o que faria alguém se dissesse: “Outro dia, ao visitar um<br />

de meus amigos, durante a conversa ele me contou que uma pessoa que conheço<br />

falou muito mal de mim numa roda de amigos. Isto me causou uma violenta cólera<br />

contra esse homem. Falei umas fortes injúrias, chamando-o de canalha, insolente,<br />

etc. Acrescentei mesmo que eu saberia muito bem como vingar-me disso e que encontraria<br />

uma ocasião.” Em vez de fazer toda esta narração, deveria dizer somente<br />

em poucas palavras o que era pecado nesta aventura, mais ou menos assim: “Fiquei<br />

raivoso um dia contra uma pessoa que tinha falado mal de mim, proferi pesadas injúrias<br />

contra ela e disse que me vingaria dela.” É preciso, ao declarar seus pecados,<br />

só dizer o que é pecado em tudo o que se fez ou se disse.<br />

P - É permitido na confissão dizer pecados que não se cometeu?<br />

R - Não; porque uma pessoa somente se confessa para declarar os pecados de que ela é<br />

culpada.<br />

§ 5. Da oitava coisa que se deve observar ao declarar seus pecados.<br />

P - Qual é q oitava coisa que se deve observar ao declarar seus pecados na confissão?<br />

R - É dar a conhecer inteiramente seus pecados.<br />

P - Que significa dar a conhecer inteiramente seus pecados?<br />

R - Significa dizer clara e simplesmente tudo o que servir a torna-los conhecidos tais<br />

quais são, sem nada omitir nem ocultar.<br />

P - Que é que deve pensar aquele que na Confissão deixasse de dizer alguma coisa<br />

que deveria declarar para dar a conhecer seu pecado tal qual é?<br />

R - Ele certamente faria uma Confissão má. Assim seria a de quem roubou um tostão a<br />

um pobre que só tem isto para comprar pão, e declarasse apenas: “Eu roubei um<br />

tostão”, porque não daria a conhecer inteiramente seu pecado tal qual é.<br />

P - Está correto, quando alguém se confessa, exagerar seus pecados, fazê-los parecer<br />

mais graves do que são?<br />

R - Isto nunca é permitido, porque, quem dissesse na Confissão: “Eu blasfemei contra<br />

o nome de Deus”, quando apenas blasfemou contra a fé, ou “Blasfemei”, quando<br />

apenas disse o nome do demônio, esse tal se confessaria muito mal. É preciso apenas<br />

dizer seus pecados tais quais são, sem nada acrescentar nem tirar.<br />

P - Em caso de dúvida de ter cometido algum pecado, como é que se deve acusar?<br />

R - Deve-se dizer assim: “Duvido, ou não sei, ou não estou bem certo de ter cometido<br />

um tal pecado: por exemplo, se menti".<br />

52


P - Quando sem reflexão ou sem muita atenção se cometeu um ato que, por si, é pecado,<br />

como é que se deve declarar isto na Confissão?<br />

R - Neste caso deve-se declarar a pouca ou nenhuma atenção que se teve, se foi uma<br />

mentira que se cometeu, deve-se dizer: “Menti sem refletir no que eu estava dizendo”<br />

ou se houve um pouco de atenção: “Menti sem prestar muita atenção ao que eu<br />

estava dizendo”. É assim que se deve fazer a acusação em casos semelhantes.<br />

P - Se ao cometer um pecado ou mesmo sem o cometer se incitou alguém ou aconselhou<br />

a cometê-lo, ou se ele o cometeu porque se lhe deu exemplo, como é que se<br />

deve acusar disso?<br />

R - É preciso declarar ao Confessor que se incitou, se foi assim, ou que se aconselhou,<br />

se foi o caso, a cometer este pecado, e dizer depois quantas pessoas foram incitadas<br />

a comete-lo, ou quantas pessoas foram aconselhadas, e que prejuízo se causou aos<br />

outros por este pecado; porque também se é culpado pelos pecados que os outros<br />

cometeram, quando foram incitados ou aconselhados como se os tivéssemos cometido<br />

nós mesmos. Por conseguinte estamos obrigados a reparar todo prejuízo que<br />

esses pecados pudessem ter causado a outras pessoas; mas se foi somente por nosso<br />

mau exemplo que outra pessoa tivesse cometido um pecado, e não o tivéssemos<br />

incitado ou aconselhado, então basta dizer ao Confessor que uma ou várias pessoas<br />

cometeram tal pecado porque lhes demos o exemplo para tanto, sem dizer qual foi<br />

o dano causado, porque quem deu mau exemplo não está obrigado a reparar o dano<br />

causado pelo pecado cometido por outra pessoa por este mau exemplo.<br />

P - Quando já passou algum tempo depois que se cometeu um pecado e a pessoa não<br />

se lembra se o confessou, é preciso acusá-lo junto com os outros sem dar a conhecer<br />

ao Confessor que há muito tempo que se cometeu esse pecado?<br />

R - Não; ao se confessar nunca se deve declarar junto com os outros e sem discernimento<br />

um pecado que se cometeu antes de sua última Confissão e que não se está<br />

seguro de o ter confessado, mas deve-se acusá-lo em primeiro lugar por medo de<br />

esquece-lo e dizer ao Confessor desde quanto tempo ele foi cometido e que não se<br />

lembra se o confessou.<br />

P - Quando alguém ocultou algum pecado na Confissão, basta declará-lo com os outros<br />

que acusa na Confissão seguinte, sem dizer nada ao Confessor que desse a<br />

conhecer que se trata de um pecado ocultado?<br />

R - Não, não basta; mas é preciso confessar esse pecado separadamente e dizer ao<br />

Confessor que se trata de um pecado que não ousou declarar e, se ele se confessou<br />

uma ou várias vezes desde então, está obrigado a dizer quantas vezes se confessou<br />

e comungou desde que ocultou esse pecado.<br />

P - Quando se teve vontade de cometer um pecado e que não se executou, de que modo<br />

deve-se acusá-lo, para dar a conhecer seu pecado inteiramente tal qual é?<br />

R - É preciso dizer ao Confessor quanto tempo durou essa má vontade, se ela foi interrompida,<br />

e quantas vezes se renovou depois de interrompida: por exemplo, quando<br />

alguém teve a vontade de roubar, é preciso acusá-lo da seguinte maneira: Tive vontade<br />

de roubar o que pude encontrar ou tomar, dinheiro ou outra coisa, e tive esse<br />

pensamento ou vontade durante três horas ou durante um dia, ou dois dias e durante<br />

esses dois dias interrompi e renovei essa má vontade cerca de vinte vezes (se foi<br />

verdade) e cada vez essa vontade durou cerca de meia hora (se foi assim) ou se essa<br />

vontade não foi interrompida, deve-se declarar assim: “Tive uma vontade má<br />

durante dois dias sem interrupção”, ou mais ou menos, conforme o tempo que se<br />

manteve esse pensamento, se foi certa quantia ou um objeto determinado que se teve<br />

vontade de roubar, é preciso declarar que quantia ou que objeto se queria pegar.<br />

53


P - Quando alguém teve o pensamento ou a vontade de cometer um pecado, por que<br />

está obrigado a declarar ao Confessor quanto tempo durou esse mau pensamento<br />

ou má vontade, se foi interrompido, quantas vezes o renovou depois de o interromper?<br />

R - A razão pela qual ele está obrigado a declarar todas essas coisas ao Confessor é<br />

porque um pensamento ou uma vontade que durou duas horas ou mesmo um dia<br />

inteiro constitui um pecado bem diferente daquele que se comete por um pensamento<br />

ou uma vontade que apenas passou e que só durou um momento e porque<br />

todas as vezes que um pensamento ou uma vontade foi interrompida e renovada se<br />

comete outros tantos pecados diferentes e distintos um do outro; por exemplo, se a<br />

pessoa interrompeu e renovou um mau pensamento ou má vontade doze vezes,<br />

comete doze pecados, se a interrompeu trinta vezes e renova, comete trinta pecados.<br />

P - Quando alguém tem algum pensamento ou desejo de impureza, como é que deve<br />

acusar isso na Confissão para dar a conhecer seu pecado tal qual é?<br />

R - Deve dizer se esse pensamento ou esse desejo foi simples e sem relação com alguém,<br />

ou se contudo ele o teve pensando em alguma pessoa, se foi um rapaz ou<br />

uma garota, uma viúva, um religioso ou uma religiosa, uma pessoa casada, se era<br />

um parente, e em que grau; o que é que se pensou ou desejou com essa pessoa,<br />

quanto tempo durou esse pensamento ou desejo, e se esse pensamento e desejo foi<br />

interrompido e renovado e quantas vezes e quanto tempo esse pensamento ou esse<br />

desejo durou cada vez. Deve-se dizer, por exemplo: “Tive alguns pensamentos de<br />

impureza que não se referiam a nenhuma pessoa, ou, se referiam a uma garota, ou a<br />

uma pessoa casada, ou a uma religiosa, que é minha parente em segundo grau, ou,<br />

se não se sabe o que é ser parente em segundo grau, que é minha sobrinha ou minha<br />

prima irmã, sem intenção de desejo, ou com intenção de desejo de cometer o<br />

pecado com ela, este pensamento durou um momento ou um quarto de hora, ou<br />

uma ou duas horas, ou mais ou menos, conforme o tempo que ele durou; eu o interrompi<br />

e renovei uma ou duas vezes, ou dez vezes ou vinte vezes, ou trinta vezes,<br />

conforme o número de vezes que se interrompeu e renovou; eu o rejeitei uma, duas,<br />

ou quatro ou seis vezes, ou sempre tantas vezes que se renunciou a ele; ou, fui<br />

negligente em rejeitá-lo uma, ou duas ou seis ou oito vezes, tantas vezes que se teve<br />

essa negligência; ou, consenti nele e tive prazer nele duas, quatro, seis, dez vezes<br />

ou sempre, conforme o número de vezes que ficou com prazer nele; ou, não tenho<br />

certeza se consenti, em caso de dúvida. Deve-se dizer também se esses pensamentos<br />

incentivaram em nós alguns movimentos desregrados, se depois se caiu em<br />

alguma impureza. É assim que se deve acusar na Confissão os pensamentos e desejos<br />

contrários à pureza.<br />

P - Quando alguém deu um beijo ou lançou um olhar ou cantou alguma canção desonesta,<br />

ou se pronunciou algumas palavras ou fez alguma ação de impureza, de que<br />

modo ele deve se acusar disso na Confissão, para declarar seu pecado inteiramente<br />

tal como é?<br />

R - Quando este pecado foi cometido por um beijo, deve-se dizer se foi por um simples<br />

prazer que se beijou, ou se o beijo foi acompanhado de desejo de cometer o pecado<br />

de impureza com essa pessoa, e de que tipo de pessoa se trata, garota, religiosa, casada,<br />

parente, em que grau; se depois desse beijo sentiu em si algum movimento<br />

desregrado, se causou depois algum pecado de impureza. Deve-se acusar os olhares,<br />

as canções e as palavras da mesma forma que os beijos. Se a pessoa cometeu<br />

um ato de impureza, deve dizer em particular qual foi esse ato, e foi consigo mes-<br />

54


mo somente, e se que efeito produziu, ou se o ato foi com outra pessoa, que tipo de<br />

pessoa era, se tinha de fato o desejo ou a intenção de cometer o pecado com essa<br />

pessoa, se caíram ao mesmo tempo, ou depois em algum ato de impureza; se essa<br />

ação foi interrompida e retomada várias vezes, e quantas vezes. Enfim, se foi um<br />

ato de impureza consumada, com alguma pessoa, se foi um rapaz ou uma garota,<br />

com uma pessoa casada, se era parente em que grau, etc.<br />

P - Quando alguém cometeu algum pecado em que recai habitualmente, como é que<br />

deve se acusar dele para dá-lo a conhecer inteiramente tal qual é?<br />

R - Deve dizer quanto tempo há que caiu nesse pecado, e quantas vezes o cometeu<br />

desde sua última Confissão; se trabalhou para se corrigir ou ficou negligente, se<br />

gosta desse pecado e se não está decidido a não recair nele; e se disse que está decidido,<br />

não pode contentar-se com palavras, mas dar sinais que sejam provavelmente<br />

seguros: deve dizer, por exemplo, Eu blasfemei vinte vezes “Que o diabo<br />

me carregue” e tenho este hábito de pecado há cerca de três anos, ou mais ou menos<br />

conforme o tempo que esse hábito durou efetivamente; não me esforcei muito<br />

para me corrigir, recaí nele cerca de quatro vezes por semana, ou mais ou menos,<br />

de acordo com as vezes que recaiu.<br />

P - Quando alguém cometeu um pecado porque está e sempre permanece numa ocasião<br />

próxima desse pecado, como é que ele deve se acusar dele para dá-lo a conhecer<br />

inteiramente e tal como é?<br />

R - Ele deve declarar ao Confessor qual é essa ocasião próxima. Se, por exemplo, está<br />

casado e freqüenta uma pessoa solteira de outro sexo, ou se ele permanece junto<br />

dela numa mesma casa, ele está numa ocasião próxima de pecado de impureza; então,<br />

para declarar corretamente esse pecado e dá-lo a conhecer tal qual é, deve dizer<br />

ao Confessor: “Padre, há seis meses (se é este o tempo) que freqüento uma moça,<br />

muitas vezes entro na casa dela e quando não vou para lá, procuro a ocasião de<br />

lhe falar em outro lugar; eu me encontro com ela cerca de três vezes por semana.<br />

Todas as vezes que a visito tenho pensamentos ou desejos de cometer o pecado<br />

com ela; quando não a encontro, penso muitas vezes nela, o que me causa pensamentos<br />

ou desejos de impureza, isto me aconteceu três vezes, ou seis ou dez, ou<br />

quinze ou vinte vezes desde minha última Confissão. Contudo posso evitar o encontro<br />

com essa moça ou meu pai e minha mãe me proíbem visitá-la. Da mesma<br />

forma, quando alguém se deixa levar à blasfêmia ou à raiva cada vez, ou quase cada<br />

vez que blasfema, ou quase cada vez que joga, o jogo se torna uma ocasião próxima<br />

desses pecados de blasfêmia e de raiva. Por isso, para dar a conhecer esses<br />

pecados inteiramente e tais quais são, a pessoa está obrigada a declarar isso ao<br />

Confessor assim: “Padre, eu blasfemei contra Deus ou falei ‘Que o diabo me carregue’,<br />

cerca de trinta vezes no jogo e joguei doze vezes desde minha última Confissão;<br />

todas as vezes ou quase todas as vezes que jogo, caio em tais excesso de blasfêmia<br />

e de raiva. Gosto muito de jogar e me seria difícil não jogar mais; contudo<br />

acredito que me será muito difícil não recair nessas blasfêmias, a não ser que eu<br />

deixe completamente o jogo.<br />

§ 6. Da 9ª e da 10ª coisa que se deve observar ao declarar seus<br />

pecados.<br />

P - Qual é a nona coisa que se deve observar na Confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - É dizê-los todos sem omitir nenhum sequer.<br />

55


P - Se alguém omitisse algum pecado na Confissão, receberia ele a absolvição e o<br />

perdão dos outros que tivesse acusado?<br />

R - Não; mas estaria obrigado a confessá-los outra vez com aquele que ocultou, para<br />

obter o perdão e receber a Absolvição.<br />

P - Quando alguém não declarou um pecado na Confissão porque não sabia que era<br />

pecado, deve recomeçar sua Confissão, isto é, declarar outra vez ao Confessor todos<br />

os pecados que tinha declarado naquela Confissão e lhe dizer ao mesmo tempo<br />

o pecado que deixou de acusar?<br />

R - Se o motivo pelo qual não confessou um pecado foi porque a pessoa não sabia que<br />

era pecado e que não estava obrigada a sabê-lo, não deve recomeçar sua Confissão;<br />

mas ninguém se pode dispensar disso, caso estivesse obrigado a saber que isso era<br />

pecado e caso a pessoa não o sabe por não se ter aplicado e não se ter informado,<br />

pois por isso mesmo se cometeu a mesma falta como se a pessoa tivesse omitido<br />

esse pecado por vergonha ou por malícia.<br />

P - Quais são os pecados que muitas vezes não se sabe, e que se está obrigado a saber<br />

que são pecados?<br />

R - Cada um está obrigado a saber os pecados que se podem cometer em seu estado de<br />

vida, em sua profissão, em seu emprego, mas que ordinariamente se desconhecem.<br />

Uma pessoa casada, por exemplo, está obrigada a conhecer os pecados que se podem<br />

cometer no matrimônio, como os que se referem à educação dos filhos, cuidado<br />

com os empregados; os que se podem cometer contra a pureza no matrimônio,<br />

que quase todos deixam de confessar, e não de cometer. As pessoas que tratam da<br />

Justiça, os negociantes, os operários, etc, estão obrigados a saber quais são os pecados<br />

que se podem cometer em sua profissão, para os evitar.<br />

P - Que é que se deve fazer para não ignorar os pecados de seu estado, de sua profissão<br />

e de seu emprego?<br />

R - Quando se entra numa profissão ou se assume um emprego, é preciso informar-se<br />

com o pároco ou o confessor, ou algum sacerdote sábio e prudente, quais são os<br />

pecados que se podem cometer nesse estado ou nesse emprego, por exemplo: Assim<br />

que uma pessoa casou ou mesmo alguns dias antes de se casar, deve informarse<br />

acerca dos pecados que pode cometer no estado matrimonial. Quando alguém<br />

entra no cargo de Juiz ou se torna negociante, deve instruir-se acerca de todos os<br />

pecados que se podem cometer em sua profissão e em seu emprego. Se eles não o<br />

fizerem, tornam-se culpados de todos os pecados que cometem em seu estado, seu<br />

emprego por falta de o saberem.<br />

P - Quando se esqueceu algum pecado na Confissão, há obrigação de recomeçar essa<br />

Confissão?<br />

R - Não; até não se deve fazê-lo, a menos que se tenha esquecido esse pecado porque<br />

não se examinou suficientemente, porque então se age como se se tivesse omitido<br />

esse pecado voluntariamente.<br />

P - Se alguém duvida de que alguma coisa é pecado e a fez assim mesmo sem se informar<br />

a respeito e se confessou, deve recomeçar sua Confissão?<br />

R - Sim, porque se ofendeu a Deus todas as vezes que se duvidou de que alguma coisa<br />

é pecado, e sem se informar não deixou de a fazer. Por isso, ao omitir voluntariamente<br />

na Confissão um pecado dessa natureza, cometeu uma Confissão sacrílega.<br />

P - Em que ocasiões se faz uma Confissão nula e sacrílega?<br />

R - É especialmente em quatro ocasiões: 1º Quando se esquece um pecado na Confissão<br />

por falta de exame insuficiente. 2º Quando se omite um pecado por vergonha<br />

ou por malícia. 3º Quando não se ousa dizer seus pecados tais quais são e quando<br />

56


os faz aparecer menores e como pecados veniais os que são mortais, ou como um<br />

só pecado quando houve vários. 4º Quando não se tem arrependimento de seus pecados,<br />

ou bom propósito e firme decisão de não recair, ou não há vontade de fazer<br />

penitência e satisfação de seus pecados.<br />

P - Que males e que prejuízo se causam a si mesmos os que omitem algum pecado na<br />

Confissão, ou que por qualquer outro motivo fazem uma Confissão má?<br />

R - Eles se prejudicam de cinco maneiras: 1º Não recebem o perdão de seus pecados.<br />

2º Cometem um horrível sacrilégio. 3º Além de poderem ser completamente abandonados<br />

e reprovados por Deus, são continuamente atormentados por remorsos de<br />

consciência. 4º Sofrerão uma confusão insuportável no dia do Juízo, quando Deus<br />

dará a conhecer a todo o mundo seus pecados mesmo os mais ocultos. 5º Se não fizerem<br />

uma Confissão geral de todos os pecados que cometeram desde essa Confissão<br />

nula, e de todas as más Confissões e Comunhões que cometeram desde então,<br />

serão condenados eternamente.<br />

P - Quando se omite algum pecado na Confissão ou quando se esqueceu algum por<br />

sua própria falta, ou quando de qualquer outra maneira se fez uma Confissão má,<br />

por que é que se está obrigado a confessar mais uma vez todos os pecados de que<br />

se acusou nessa Confissão má e nas outras seguintes e declarar o número das<br />

Confissões e Comunhões más que se cometeu desde então?<br />

R - É porque nessa Confissão não se recebeu o perdão de seus pecados e por conseguinte<br />

a Confissão que se fez foi inútil, bem como a absolvição que nela se recebeu.<br />

P - Se quem fez uma Confissão má não se lembra de todos os pecados dos quais se<br />

acusou naquela Confissão e de todos os que cometeu depois, e de todas as Confissões<br />

e Comunhões más que cometeu, que é que deve fazer?<br />

R - É bom que faça uma Confissão geral de toda a sua vida.<br />

P - Quem é que está obrigado a uma Confissão geral?<br />

R - Há sete classes de pessoas que são obrigados a fazer uma Confissão geral quer de<br />

toda a vida quer ao menos desde sua primeira confissão nula e insuficiente. 1º Os<br />

que se confessaram não sabendo os principais Mistérios de nossa Religião. 2º Os<br />

que se confessaram por costume sem ter tido uma verdadeira contrição de seus pecados.<br />

3º Os que omitiram algum pecado na Confissão quer por não se terem examinado<br />

suficientemente, quer por qualquer outra razão. 4º Os que não evitaram as<br />

ocasiões próximas do pecado. 5º Os que não se reconciliaram ou que não restituíram<br />

a honra ou o bem alheio. 6º Os que, depois de sua Confissão não mudaram de<br />

vida e sempre recaíram nos mesmos pecados. 7º Os que duvidam de terem feito alguma<br />

Confissão nula.<br />

P - Qual é a décima coisa que se deve observar na Confissão ao declarar seus pecados?<br />

R - É acusá-los todos em seguida e em ordem.<br />

P - Nas Confissões ordinárias, qual é a ordem que se deve observar na acusação dos<br />

pecados?<br />

R - A ordem é a seguinte: 1º Deve-se dizer que não se cumpriu a penitência imposta<br />

pelo Confessor na Confissão precedente e qual foi ela e se foi por esquecimento,<br />

por negligência ou por desprezo que se deixou de cumpri-la. 2º Deve-se dizer os<br />

pecados que se esqueceu de acusar na última Confissão, se houve esquecimento de<br />

algum. 3º Os pecados mais graves que se cometeu e se tem mais dificuldade de acusar,<br />

especialmente os pecados de impureza. 4º Os pecados habituais. 5º Os pecados<br />

particulares dos deveres de seu estado, da profissão, e de seu emprego. 6º Os<br />

57


outros pecados que se podem ter cometido contra os Mandamentos de Deus e da<br />

Igreja.<br />

P - Quando se faz uma Confissão geral, que ordem se deve observar na acusação de<br />

seus pecados?<br />

R - A ordem é a seguinte: 1º Deve-se dizer os pecados que se cometeu desde a última<br />

Confissão. 2º Deve se acusar todas as Confissões e Comunhões más que se cometeu,<br />

se houve alguma e dizer qual foi sua causa, se foi por não se ter examinado suficientemente,<br />

por não ter tido bastante contrição de seus pecados, ou por não ter<br />

querido abandonar as ocasiões próximas, ou por não se ter corrigido de seus maus<br />

hábitos, ou por não ter querido se reconciliar com algum inimigo, ou por não ter<br />

querido reparar a honra ou restituir o bem alheio, ou por qualquer outro motivo que<br />

seja. 3º Deve-se acusar os pecados que se ocultou em uma ou várias Confissões, se<br />

por isso houve alguma Confissão nula. 4º Deve-se acusar todos os pecados que se<br />

cometeu desde o uso da razão, até a última Confissão. 5º Deve-se dizer a quantos<br />

pecados se está habituado e quanto tempo durou cada um dos maus hábitos, se se<br />

deixou algum deles, há quanto tempo, se ainda há alguns aos quais ainda se está<br />

acostumado e quais são; se a pessoa procurou se corrigir deles, se houve negligência<br />

nisso, se gosta deles, se gostaria de ficar com eles, ou se gostaria de ficar livre<br />

deles; enfim, se esteve numa ocasião próxima de pecado, há quanto tempo e se ainda<br />

se está nela, se houve vontade de se afastar dela, e quanto tempo durou essa<br />

vontade, ou se não houve vontade de evitá-la e quanto tempo se esteve nesta má<br />

disposição.<br />

P - Quando numa Confissão geral se acusam os pecados cometidos desde a última<br />

Confissão, que é que se deve dizer antes e depois ao Confessor?<br />

R - Antes de começar a acusação deve-se dizer ao Confessor: “Padre, eu me acuso dos<br />

pecados que cometi desde minha última Confissão”; e depois de acusá-los todos<br />

deve-se acrescentar “Estes são todos os pecados dos quais me lembro desde minha<br />

última Confissão. Agora vou me acusar dos pecados que cometi durante toda a minha<br />

vida, desde o uso da razão até minha última Confissão”.<br />

§ 7. Da maneira de concluir sua Confissão e da obrigação de<br />

manifestar ao Confessor os sinais de contrição que se tem de<br />

ter ofendido a Deus.<br />

P - Qual é a quinta coisa que se deve fazer no tempo em que se confessa, para se confessar<br />

bem?<br />

R - É dizer: “Padre, estes são todos os pecados que reconheço ter cometido; eu me<br />

acuso também de todos os que não conheço e de todos aqueles dos quais não me<br />

lembro”.<br />

P - Qual é a sexta coisa que se deve fazer no tempo em que se confessa para se confessar<br />

bem?<br />

R - É demonstrar e dar ao Confessor sinais de que se tem muita contrição de ter ofendido<br />

a Deus, dizendo, por exemplo: “Peço humildemente perdão a Deus de todos<br />

os pecados que acabo de confessar, eu preferia morrer a recair neles no futuro. Eu<br />

lhe peço, Padre, que me imponha uma penitência tal como crê que me seja necessária<br />

para satisfazer por eles e me dar a absolvição, se me julga que eu esteja em<br />

condições de a receber”.<br />

58


P - É necessário, no momento da Confissão, demonstrar ao Confessor que se tem muita<br />

contrição de ter ofendido a Deus?<br />

R - Sim; isto é absolutamente necessário sem o quê o Confessor não pode nem deve<br />

dar a absolvição.<br />

P - Basta demonstrar ao Confessor de boca que se tem verdadeira contrição de seus<br />

pecados?<br />

R - Embora isto se deva fazer, não basta; é preciso também demonstrar ao Confessor<br />

sinais que dêem a conhecer que a contrição que se tem de seus pecados é verdadeira.<br />

P - Por que é que se deve dar a conhecer ao Confessor os sinais de contrição dos pecados?<br />

R - Porque ao não o fazer, corre-se o perigo de uma Confissão sacrílega, pensando que<br />

se tem arrependimento dos pecados quando não se tem, ou que é suficiente quando<br />

não é.<br />

P - Quais são os sinais pelos quais o Confessor pode conhecer que se tem verdadeira<br />

contrição de seus pecados?<br />

R - São os seguintes: 1º Quando se demonstra estar verdadeiramente em tal disposição,<br />

de modo que por todos os bens do mundo e mesmo a morte não se quer cometer<br />

um só pecado. 2º Quando se evitaram todas as ocasiões que levam ao pecado, principalmente<br />

as ocasiões próximas. 3º Quando por muito tempo não se recaiu nos<br />

pecados aos quais se estava acostumado. 4º Quando se escuta de boa mente e se<br />

decide pôr em prática os conselhos do Confessor. 5º Quando de seu lado se procura<br />

e propõe ao Confessor remédios para seus pecados e meios de não recair neles. 6º<br />

Quando já se faz alguma penitência para satisfazer a Deus por seus pecados. 7º<br />

Quando se aceita de boa vontade a penitência que o Confessor impõe e se mostra<br />

ter vontade de a cumprir.<br />

P - Quando se confessa apenas pecados veniais, é necessário ter e demonstrar tanta<br />

contrição ao Confessor quanta se deve ter e mostrar dos pecados mortais?<br />

R - Sim; isto é necessário.<br />

P - Que mal faria quem só confessasse pecados veniais sem ter uma contrição suficiente<br />

de nenhum deles que confessou?<br />

R - Ele cometeria um pecado mortal e uma confissão sacrílega, se nesse estado recebesse<br />

a absolvição, pois a contrição e a dor dos pecados são parte essencial do sacramento<br />

da Penitência, isto é, são tão necessárias no sacramento da Penitência de<br />

modo que sem elas não existe Sacramento, e não se pode receber este Sacramento.<br />

E com efeito não se o recebe a não ser que se tenha grande pesar dos pecados mortais<br />

que se confessam ou pelo menos de algum dos veniais que se confessam. É<br />

especialmente nesta espécie de Confissões que ordinariamente são de pecados habituais,<br />

que o Confessor deve prestar atenção para não dar a absolvição se moralmente<br />

não está seguro de que o penitente tem verdadeira contrição de seus pecados,<br />

ou de pelo menos de algum dos pecados de que se acusou.<br />

P - Quando alguém só confessa pecados veniais, está obrigado a ter de todos os que<br />

confessa, contrição suficiente para receber a Absolvição?<br />

R - Embora seja muito conveniente ter contrição de todos, basta ter contrição suficiente<br />

de algum dos que confessa, ainda que seja de apenas um. Ao passo que, ao confessar<br />

somente pecados mortais, é necessário ter contrição suficiente de todos eles.<br />

P - Quando alguém não manifesta ao Confessor sinais suficientes de contrição de ter<br />

ofendido a Deus, que é que o Confessor deve fazer?<br />

R - O Confessor deve então diferir ou recusar a Absolvição.<br />

59


P - Quem se confessou será que pode ficar tranqüilo se o Confessor lhe deu a Absolvição,<br />

embora não lhe tenha manifestado sinais suficientes de contrição e dor de<br />

seus pecados?<br />

R - Não: não pode. Porque há o perigo de que tenha feito uma Confissão nula e sacrílega.<br />

Por isso, deve se informar o mais breve possível junto de um Confessor prudente<br />

e esclarecido sobre o que está obrigado a fazer em tal situação.<br />

P - Quais são as ocasiões em que um Confessor deve diferir ou recusar a Absolvição?<br />

R - Há ocasiões em que o Confessor pode diferir a Absolvição; e há outras em que<br />

deve fazê-lo, e há outras ainda em que está obrigado a recusá-la.<br />

P - A quem é que o Confessor pode diferir a Absolvição?<br />

R - São os seguintes: 1º Os que somente cometeram pecados veniais e que têm apego a<br />

algum deles, para obrigá-los a abandonar completamente o hábito deles, quando<br />

não são bastante generosos para os abandonar por si. 2º Os que cometeram somente<br />

pecados veniais, os declaram como quem conta uma história, e não manifestam<br />

ter bastante arrependimento dos mesmos. 3º Os que, por uma grave negligência,<br />

não cumpriram a Penitência que lhes foi imposta na Confissão precedente.<br />

P - A quem um Confessor, de acordo com São Carlos 2 , deve diferir a Absolvição?<br />

R - São os seguintes: 1º Os que ele julga que provavelmente recairão em seus pecados,<br />

embora prometam nunca mais cometê-los. 2º Os que têm o costume ou estão em<br />

alguma ocasião próxima de pecado, até que a tenham afastado.3º Os que se encontram<br />

numa ocasião de pecado mortal não totalmente próxima e prometeram afastála<br />

e não o fizeram. 4º Os que têm uma ocupação ou algum emprego que para eles é<br />

ocasião de pecado ou no qual há perigo de caírem facilmente no pecado, tais como<br />

os que vão à guerra, os traficantes, a profissão de advogado, de procurador, de policial,<br />

os taverneiros e outros semelhantes caso fossem ocasião de ofender a Deus<br />

até que tenham renunciado a todas as práticas más que muitos têm nesses empregos,<br />

e estejam dispostos a se abster efetivamente deles. 5º Os que têm algum contrato<br />

ou promessa que não é permitido, até que os tenham revogado e feito reparação<br />

e satisfação necessária. 6º Os que foram interpelados por Autoridade pública<br />

para denunciar alguma coisa de seu conhecimento e não o revelaram. 7º Os que estão<br />

obrigados a uma restituição ou satisfação até que o tenham feito. 8º Os que<br />

desprezaram a obrigação de fazer a Penitência que lhe foi imposta pelo Confessor,<br />

até que a tenham cumprido. 9º Os que ignoram as coisas necessárias à salvação e<br />

os principais Mistérios de nossa santa Religião, até que os tenham aprendido.<br />

P - A quem é que um Confessor está obrigado, segundo São Carlos, a recusar a Absolvição?<br />

R - São os seguintes: 1º Os que não querem receber e pôr em prática os conselhos e os<br />

meios que o Confessor lhes dá, sem os quais este julga que recairão no pecado. 2º<br />

Os que não querem abandonar o hábito ou uma ocasião próxima de pecado, em que<br />

se encontram. 3º Os que não querem restituir o que roubaram ou reparar o dano<br />

que causaram ao próximo, ou não querem satisfazer a quem causaram mal ou contribuíram<br />

a isso. 4º Os que mantêm ódio contra alguém ou que não querem se reconciliar<br />

com aqueles com quem contraíram alguma inimizade ou que não querem<br />

lhes falar, nem se aproximar deles, ou saudá-los quando os encontram. 5º O pai ou<br />

a mãe que não cuidam e não se preocupam com fazer aprender, se não o sabem, o<br />

que é necessário para a salvação dos que estão a seu encargo, como seus filhos,<br />

seus empregados e empregadas, ou fazê-los observar os Mandamentos de Deus e<br />

da Igreja, ou o que é muito pior ainda, pais e mães que os impedem de os observar,<br />

2 São Carlos , Instruct. aux Confesseurs.<br />

60


como os que obrigam a trabalhar nos domingos e festas ou que não lhes deixam o<br />

tempo para assistir a santa Missa ou que não sabem ou não se informam se têm algum<br />

impedimento legítimo de jejuar nos dias obrigatórios pela Igreja, lhes dão alimentação<br />

ou não os previnem ou corrigem quando transgridem esses Mandamentos<br />

ou que não os expulsam de casa, se fizerem algo de escandaloso e incorrigível.<br />

P - Por que é que um Confessor está obrigado a diferir ou a recusar a Absolvição a<br />

qualquer pessoa?<br />

R - Porque nem todas elas dão sinais de terem um verdadeiro arrependimento de seus<br />

pecados, nem vontade determinada para os abandonar ou para fazer satisfação por<br />

eles, condições sem as quais a Confissão não pode ser boa. Um Confessor cometeria<br />

um sacrilégio se desse a Absolvição.<br />

P - Pode-se fazer pressão ou querer obrigar o Confessor a dar a Absolvição, quando<br />

ele a quer diferir ou recusar?<br />

R - Quem se confessa deve sempre deixar o Confessor em completa liberdade de lhe<br />

dar, diferir ou recusar a Absolvição e nunca pressioná-lo a lho conceder; pois o<br />

Confessor tem o poder de reter os pecados ou de os perdoar; deve retê-los quando<br />

julga que a pessoa que se confessa não está bem disposta para receber a Absolvição.<br />

Muito menos é permitido querer obrigar o Confessor a dar a Absolvição, pois<br />

isto é querer obrigá-lo a cometer um pecado mortal e um sacrilégio, no caso em<br />

que, em consciência, não pode absolver sem trair seu ministério.<br />

P - Mas, se o Confessor não dá a Absolvição, não há perigo que, ao morrer nesse estado,<br />

a pessoa seja condenada, e assim não seria preferível que o Confessor lhe<br />

desse a Absolvição?<br />

R - Com efeito há perigo que ao morrer nesse estado a pessoa seja condenada; mas<br />

seria um perigo maior ainda, se o Confessor desse a Absolvição, porque essa Absolvição<br />

seria nula e mesmo sacrílega, e assim aumentaria para essa pessoa o número<br />

de seus pecados e se tornaria ainda mais culpada do que antes.<br />

P - Que é que deve fazer quem se confessa quando o Confessor quer lhe diferir e lhe<br />

difere de fato a Absolvição?<br />

R - Neste caso é preciso: 1º Que aquele que se confessou se submeta completamente à<br />

ação do Confessor a seu respeito. 2º Que peça ao Confessor lhe dê os conselhos e a<br />

maneira que crê sejam necessários para que o penitente se coloque na disposição<br />

verdadeira e sincera de receber a Absolvição e tome com ele as medidas para colocar<br />

essas medidas e esses meios em prática. 3º Deve pedir ao Confessor quando<br />

deve voltar e o que vai fazer até então para se dispor à Confissão.<br />

P - Quando um Confessor diferiu a Absolvição, que é que se deve fazer para assegurar<br />

a consciência e a salvação?<br />

R - Quem se confessou deve então procurar, em obediência ao Confessor, 1º tirar o<br />

máximo fruto possível da Confissão que acaba de fazer. 2º Será extremamente bom<br />

para ele fazer muitos atos de Contrição. 3º Que assista todos os dias a santa Missa<br />

e faça alguns exercícios de piedade em vista de atrair sobre si a misericórdia de<br />

Deus. 4º Tomará cuidado todo especial para não cair em nenhum dos pecados que<br />

tiver confessado. 5º Ele se deve impor alguma penitência para começar a estar em<br />

condições e para não mais pecar, e assim pelo pesar muito sincero e profundo do<br />

coração de todos os seus pecados, pela penitência que começa a fazer e pelo afastamento<br />

das ocasiões, se colocará em estado de não temer de ser condenado.<br />

P - Quando alguém se confessou e o Confessor diferiu ou recusou a Absolvição, pode<br />

ele confessar-se a outro que seja menos rigoroso, para receber a Absolvição de<br />

seus pecados?<br />

61


R - Não se pode agir assim, sem se colocar em perigo de fazer uma Confissão sacrílega;<br />

pois, os que o fazem mostram ordinariamente que não têm verdadeira vontade<br />

de deixar seus pecados e que pensam que é bastante confessá-los e receber a Absolvição<br />

para conseguirem verdadeiramente o perdão. Isto, porém é um erro muito<br />

grosseiro, uma vez que a contrição dos pecados cometidos e a obrigação de os deixar,<br />

isto é, querer absoluta e eficazmente nunca mais recair neles são incomparavelmente<br />

mais necessárias do que a obrigação de os confessar, o que aparece claro<br />

no fato de que se pode receber o perdão de seus pecados sem os ter confessado<br />

quando se está impossibilitado de o fazer; do fato de que nunca se pode obter a remissão<br />

dos pecados sem a sincera dor de os ter cometido e sem estar efetivamente<br />

decidido e determinado a não mais recair neles; e disto ninguém pode estar dispensado<br />

seja qual for o motivo.<br />

P - Quando alguém não recebeu a Absolvição na última Confissão, e na Confissão<br />

seguinte está obrigado a se confessar com outro Confessor, que é que deve fazer?<br />

R - Neste caso deve-se dizer primeiro ao Confessor, que não se recebeu a Absolvição<br />

na última vez que se confessou e o motivo pelo qual o Confessor não a concedeu,<br />

se foi o caso, por exemplo, porque se estava em alguma ocasião próxima ou com<br />

algum costume de pecado, e qual foi essa ocasião ou esse costume, que conselhos<br />

ou que meios o Confessor deu para o levar a abandonar o pecado ou a pôr em prática<br />

os avisos, se abandonou completamente essa ocasião ou esse costume, ou se<br />

ainda recaiu nos mesmos pecados, quantas vezes, e o que é que ocasionou esses<br />

pecados, se algumas vezes se absteve, ou se não se esforçou ; se o Confessor diferiu<br />

a Absolvição porque não se fez alguma restituição ou alguma reconciliação imposta;<br />

deve-se dizer se foram feitas e de que maneira. Deve-se também, antes de<br />

acusar os pecados, expor clara e simplesmente todos os outros motivos que o Confessor<br />

possa ter tido nas Confissões anteriores, para diferir ou recusar a Absolvição.<br />

§ 8. Das quatro últimas coisas que se devem fazer<br />

na Confissão<br />

P - Qual é a sétima coisa que se deve fazer no momento da Confissão para se confessar<br />

bem?<br />

R - É perguntar ao Confessor quais são os meios que crê necessários ou úteis para não<br />

recair nos pecados que acaba de confessar.<br />

P - É conveniente dizer ao Confessor os meios que sabe que são próprios para evitar<br />

os pecados e as ocasiões próximas nas quais a pessoa se encontra de os cometer,<br />

quando o Confessor não conhece esses meios, ou não lhes presta atenção?<br />

R - Neste caso é importante propor esses meios ao Confessor para que ele possa ajudar<br />

ao penitente a evitar seus pecados. Por exemplo, um rapaz, está gostando de uma<br />

garota e acha que só poderá evitá-la não a freqüentando de todo. Então deve dizer<br />

ao Confessor: "Padre, estou gostando muito de uma garota", e depois de lhe ter<br />

contado todas as circunstâncias dos pecados que comete para com ela, deve acrescentar:<br />

"Um meio próprio para evitar essa garota seria obrigar-me a nunca ir à casa<br />

dela, nem encontrá-la em qualquer outro lugar, nem sequer na santa Missa na igreja<br />

a que essa garota vai ordinariamente. Peço-lhe, Padre, que me imponha uma penitência".<br />

Um outro está acostumado a blasfemar e a se exaltar no jogo, mas gosta<br />

62


desse jogo e em geral perde; e o pesar que sente de perder lhe oferece ocasião dessas<br />

blasfêmias e exaltações; mas parece-lhe que não poderá impedir de recaída nelas,<br />

a não ser que o Confessor lhe imponha como penitência não jogar mais, deve<br />

então declarar ao Confessor suas blasfêmias e irritações, e que o jogo e a perda nele<br />

é a causa delas e acrescentar depois: "Padre, creio que dificilmente me poderei<br />

abster de recair nessas blasfêmias e irritações, a não ser que me imponha como penitência<br />

não mais jogar, até a próxima Confissão". Assim é que se deve expor ao<br />

Confessor os meios que se sabe ou acredita serem próprios para não recair em seus<br />

pecados.<br />

P - Quando um Confessor impôs a alguém uma penitência que ajude a não recair em<br />

algum dos pecados que confessou, será que convém dizê-lo ao Confessor na Confissão<br />

seguinte?<br />

R - Sim, é muito conveniente que o diga em primeiro lugar na Confissão seguinte e<br />

que declare ao mesmo tempo ao Confessor se cumpriu essa penitência e como esta<br />

lhe fez bem.<br />

P - Que é que se deve fazer quando o Confessor dá alguns conselhos e propõe alguns<br />

meios para não recair nos pecados que a pessoa acaba de confessar?<br />

R - É preciso escutá-los com atenção e depois pô-los em prática com exatidão e gratidão.<br />

P - Poderia alguém se dispensar de aceitar os meios propostos pelo Confessor para<br />

não recair nos pecados, quando são apenas úteis e não absolutamente necessários?<br />

R - Seria falta de respeito ao Sacramento e ao Confessor não aceitar todos os meios<br />

que o Confessor julga convenientes para impedir a recaída nos pecados que se acaba<br />

de confessar; seria também pôr-se em perigo de cometer, sem demora, os mesmos<br />

pecados ou outros mais graves.<br />

P - Se alguém julga não poder praticar os meios que o Confessor quer dar para não<br />

recair nos pecados, que é que deve fazer?<br />

R - É bom que o diga ao Confessor e lhe exponha as razões pelas quais julga não poder<br />

utilizar os meios que lhe são propostos; contudo, depois deve seguir a opinião e<br />

os conselhos dele sobre o assunto e fazer tudo o que ele mandar; pois no Sacramento<br />

da Penitência o Confessor foi feito juiz de Deus e é preciso submeter-se a<br />

sua sentença.<br />

P - Os que não querem pôr em prática os meios que o Confessor propõe para evitar o<br />

pecado, estariam bem dispostos para receber a graça da Absolvição?<br />

R - Estão muito mal dispostos e o Confessor fará muito bem não dar-lhes a Absolvição.<br />

P - Se os meios propostos pelo Confessor para evitar os pecados que a pessoa acaba<br />

de confessar são tais que ela não possa evitar absoluta ou provavelmente a recaída<br />

no pecado sem usar esses meios, que deve fazer o Confessor, quando o penitente<br />

não quer aceitá-los nem pôr em prática?<br />

R - O Confessor não pode deixar de lhe recusar a Absolvição, porque não querer utilizar<br />

os meios necessários para não voltar a cometer seus pecados é sinal de que não<br />

os quer evitar.<br />

P - Quando alguém se confessa, está obrigado a usar os meios necessários e mais<br />

próprios para não recair nos pecados que acaba de confessar e para evitar as ocasiões?<br />

R - Sim; e os que não têm esta disposição se expõem ao perigo de fazer uma confissão<br />

sacrílega, pois manifestam que não têm verdadeira contrição de seus pecados, nem<br />

63


firme propósito e vontade determinada de não recair neles. Por isso, algum tempo<br />

antes de ir se confessar, deve-se pensar seriamente nos meios que se podem tomar<br />

para evitar seus pecados e fazer tudo para os pôr em prática para sentir em si mesmo<br />

se está verdadeiramente decidido a não mais recair em seus pecados.<br />

P - Há quantos meios que se podem usar para não recair nos pecados que foram confessados?<br />

R - Há duas espécies: meios gerais e meios particulares.<br />

P - Quais são os meios particulares que se podem usar para não recair em seus pecados<br />

R - São os remédios que são propostos e que devem ser aplicados a cada pecado em<br />

particular. Um meio, por exemplo, para não estar conversando com alguém durante<br />

a santa Missa, é retirar-se a um outro lugar da igreja, permanecer ali de joelhos e<br />

segurar um livro de orações durante a santa Missa.<br />

P - Quais são os meios gerais que podem ajudar a não recair nos pecados, depois da<br />

Confissão?<br />

R - São aqueles que servem de remédio para todos os pecados em geral.<br />

P - Quais são os meios gerais mais importantes e mais ordinários para evitar o pecado?<br />

R - São oito: O 1º é pedir a Deus todos os dias a graça de antes morrer do que o ofender,<br />

e não passar nenhum dia sem fazer vários atos de contrição. O 2º é fazer muitas<br />

vezes atos de horror ao pecado, não só ao mortal, mas mesmo ao venial. O 3º é<br />

recorrer muitas vezes à oração e fazê-lo especialmente logo depois de se encontrar<br />

em alguma tentação, ou em perigo imprevisto de ofender a Deus. O 4º é afastar-se<br />

mais das companhias e evitar absolutamente as más companhias que se freqüentou<br />

ou que se poderia ter ocasião de freqüentar. O 5º é não se importar das zombarias<br />

que o mundo pudesse manifestar pelo fato de ter mudado de comportamento e de<br />

modo de vida. O 6º é ter um Confessor ordinário, pedi-lo com insistência a Deus, e<br />

escolher um que seja correto de vida, siga exatamente as regras da moral cristã na<br />

Confissão e que conduza a uma piedade verdadeira e interior. O 7º é confessar-se e<br />

comungar muitas vezes e ao menos uma vez todos os meses. O 8º é ter uma devoção<br />

muito particular para com a Santíssima Virgem, São José e a seu Anjo da<br />

Guarda, e fazer todos os dias alguma oração em sua honra nessa intenção.<br />

P - Qual é a oitava coisa que se deve fazer no momento da Confissão para se confessar<br />

bem?<br />

R - E terminar o Confiteor com muito sentimento de contrição e dor de seus pecados.<br />

P - Qual é a nona coisa que se deve fazer no momento da Confissão para se confessar<br />

bem?<br />

R - É escutar as penitências que o Confessor impõe e aceitá-las com a promessa de as<br />

cumprir.<br />

P - Se, ao se confessar, alguém acha ser impossível cumprir a penitência que o Confessor<br />

quer impor-lhe, que é que deve fazer?<br />

R - Ele então deve dá-lo a conhecer ao Confessor e lhe dizer o motivo pelo qual está<br />

persuadido de que não poderá cumprir essa penitência. Contudo, se depois disso, o<br />

Confessor persiste em querer impô-la, deve aceitá-la com submissão e a executar<br />

com fidelidade.<br />

P - Se, ao se confessar, alguém não quer aceitar a penitência que o Confessor quer<br />

lhe impor com alguma certeza de que a poderá cumprir, que é que deve fazer o<br />

Confessor?<br />

64


R - Ele pode recusar-lhe a Absolvição e fará bem ao não a conceder, porque quem se<br />

confessa e não quer aceitar uma penitência que pode cumprir provavelmente não<br />

tem verdadeira contrição de seus pecados.<br />

P - Qual é a décima coisa que se deve fazer no momento da Confissão para se confessar<br />

bem?<br />

R - É inclinar-se para receber a Absolvição e ao mesmo tempo fazer um ato de Contrição,<br />

e depois retirar-se modestamente.<br />

§ 9. Das quatro coisas que se deve fazer depois de se ter<br />

confessado<br />

P - Que é que se deve fazer depois da Confissão para se dispor a conservar a graça<br />

recebida no Sacramento da Penitência?<br />

R - Deve-se fazer quatro coisas.<br />

P - Qual é a primeira coisa que se deve fazer depois da Confissão?<br />

R - É agradecer a Deus a graça recebida no Sacramento da Penitência, pois seria ser<br />

muito ingrato não agradecer a Deus um favor tão grande.<br />

P - Qual é a segunda coisa que se deve fazer depois da Confissão?<br />

R - É renovar a promessa feita a Deus de nunca mais recair em seus pecados.<br />

P - Qual é a terceira coisa que se deve fazer depois da Confissão?<br />

R - É tomar os meios para conservar a graça recebida no Sacramento da Penitência.<br />

P - Quais são os meios de conservar a graça recebida no Sacramento da Penitência?<br />

R - São os mesmos que se devem usar para evitar o pecado; porque somente se conserva<br />

a graça recebida no Sacramento da Penitência na medida em que a pessoa se<br />

abstém de recair no pecado.<br />

P - Qual é a quarta coisa que se deve fazer depois da Confissão?<br />

R - É cumprir prontamente e com devoção a penitência imposta pelo Confessor.<br />

P - Por que é que se deve fazer a penitência imposta pelo Confessor?<br />

R - É porque ao não a cumprir se comete um pecado e se ao recebê-la não se tem a<br />

vontade de a cumprir não se recebe o perdão de seus pecados.<br />

P - Por que é que se deve cumprir prontamente a penitência imposta pelo Confessor?<br />

R - É por medo de esquecer ou de negligenciar o cumprimento dela quando se demora.<br />

Por isso, se consiste apenas em orações que se podem fazer imediatamente, é bom<br />

fazê-las antes de sair da igreja.<br />

P - Por que é que se deve cumprir com devoção a penitência imposta pelo Confessor?<br />

R - É porque ela somente será útil e atrairá graças na medida em que for cumprida com<br />

piedade.<br />

P - Será que o cumprimento da penitência imposta pelo Confessor é bastante para<br />

satisfazer a Deus pelos pecados cometidos?<br />

R - É muito útil e muitas vezes necessário fazer outras penitências além das impostas<br />

pelo Confessor, porque ordinariamente as penitências que os Confessores impõem<br />

não são suficientes para quem ofendeu muito a Deus, para satisfazer a Deus pelos<br />

pecados cometidos.<br />

P - Quando alguém se confessa de ter tomado ou roubado alguma coisa ou retém injustamente<br />

o que pertence a outra pessoa, ou quem causou algum dano ao próximo,<br />

está essa pessoa obrigada a restituir o que tomou e reparar o dano feito, se o<br />

Confessor lhe impõe isto como penitência?<br />

65


R - Sim, porque não se pode ser salvo quando não se restituiu, quando possível, o que<br />

se tomou ou quando não se tem vontade de o fazer se é possível, ou quando não se<br />

reparou o dano ou a injustiça feita ao próximo.<br />

P - Os que não satisfizeram inteiramente por seus pecados na hora da morte que lhes<br />

acontece depois da morte?<br />

R - Eles vão completar sua satisfação no Purgatório.<br />

P - Será que é melhor satisfazer pelos pecados nesta vida ou no Purgatório?<br />

R - Sem dúvida é mais vantajoso, porque Deus prefere que façamos penitência nesta<br />

vida, e porque todos os sofrimentos desta vida são muito pequenos em comparação<br />

com o que se sofre no Purgatório.<br />

P - De quantas maneiras pode-se satisfazer a Deus pelos pecados neste mundo?<br />

R - Pode-se fazê-lo de quatro maneiras. 1ª Cumprindo a penitência imposta pelo Confessor.<br />

2ª Fazendo penitências voluntárias por orações, esmolas,ou jejuns ou outras<br />

mortificações. 3ª Recebendo com submissão os sofrimentos, doenças e outras dores<br />

que Deus nos envia. 4ª Sofrendo com paciência todas as dores que nos acontecem<br />

da parte de nosso próximo, como as calúnias, desprezo e injúrias, etc.<br />

P - Que vantagens têm os que satisfazem nesta vida por seus pecados?<br />

R - Eles recebem quatro vantagens enormes: 1º Alcançam a paz da consciência. 2º<br />

Participam dos méritos de Jesus Cristo. 3º Adquirem novos méritos e novas graças.<br />

4º Eles se tornam capazes de entrar no Céu sem passar pelo Purgatório.<br />

§ 10. Maneira de se confessar bem<br />

Enquanto se aguarda para se confessar não se deve chegar perto demais do confessionário<br />

para não ouvir alguma coisa da Confissão de quem está se confessando. Se<br />

acontecer que não se possa evitar de ouvir alguma coisa, é preciso ir mais para trás ou se<br />

é impossível, pedir ao Confessor que mande falar mais baixo. Não é permitido dizer a<br />

alguém o que se ouviu da Confissão de outra pessoa, e há obrigação de guardar segredo<br />

sob pena de pecado.<br />

Durante todo tempo em que se aguarda para se confessar, é preciso estar modesto<br />

e em atitude respeitosa, examinar a própria consciência e fazer toda a preparação possível<br />

para fazer uma boa Confissão.<br />

Assim que se entrou no confessionário, deve-se permanecer em grande modéstia<br />

e recolhimento. Deve-se repassar mentalmente todos os pecados próprios para se lembrar<br />

mais facilmente, fazer atos de contrição do mais profundo de seu coração, e tomar<br />

os meios para não mais recair nos pecados, a fim de estar melhor disposto a receber a<br />

graça no Sacramento da Penitência.<br />

Ao fazer a acusação é preciso primeiro fazer o sinal da santa Cruz e dizer: "Padre,<br />

dai-me vossa bênção porque pequei", em seguida dizer Confiteor até mea culpa. A<br />

seguir declarar simples, distinta e exatamente e em poucas palavras todos os seus pecados.Durante<br />

todo o tempo em que alguém se confessa deve-se ter cuidado de não encarar<br />

fixamente o Confessor, não declarar seus pecados como quem conta uma história,<br />

mas dizê-los com humildade e com sinais de contração de os ter cometido.<br />

Terminada a acusação, deve-se dizer o resto do Confiteor desde mea culpa até o<br />

final do Confiteor, em seguida escutar atentamente os conselhos do Confessor e principalmente<br />

a penitência que vai impor, para se preparar a cumpri-la fiel e inteiramente,<br />

por se tem obrigação disto sob pena de pecado.<br />

66


Enquanto o Confessor dá a Absolvição, é preciso inclinar-se e humilhar-se profundamente<br />

diante de Deus, fazer atos de Contrição e manifestar a Deus a dor e o arrependimento<br />

de o ter ofendido. Depois deve-se retirar modestamente e cumprir sua penitência<br />

antes de sair da igreja, por temor de não o fazer se demorasse em cumpri-la.<br />

ORAÇÃO<br />

Para pedir a Deus um bom Confessor<br />

Ó meu Deus, vós sabeis que qualidades deve ter um Confessor para ser bom;<br />

elas são a ciência e o zelo, a prudência e a firmeza. Sabeis que é perigoso dirigir-se na<br />

Confissão, a alguém que não tenha essas qualidades. Vós conheceis também perfeitamente<br />

todos aqueles que encarregastes deste ministério e qual é a sua capacidade para<br />

desempenhar bem este emprego. Escolhei para mim, eu vos peço, um Confessor capaz<br />

de me conduzir à salvação, que tenha zelo para me ensinar os meios de a garantir; que<br />

tenha sabedoria e firmeza para que eu os utilize; que seja para mim um bom Pai, que se<br />

interesse por tudo o que se refere a minha salvação e meu progresso na virtude, e que<br />

me considere como problema pessoal seu e seu próprio bem; que exerça comigo o papel<br />

de um médico caridoso que emprega toda sua aplicação em curar as chagas e doenças<br />

de minha alma e a me conservar em vossa santa graça; que seja para mim um guia seguro<br />

para me manter no caminho reto que me leva ao Céu. Iluminai-o com vossas luzes<br />

para que ele sempre me dê conselhos bons para minha vida, e ponde em mim a docilidade<br />

para me submeter a eles, coragem para os colocar em prática. Fazei que ele não<br />

tolere em mim as recaídas no pecado; que ele me retire de todas as ocasiões que eu possa<br />

ter de vos ofender; que ele me faça discernir as tentações que me pudessem atacar e<br />

que ele me impeça de sucumbir nelas. Fazei que eu lhe seja submisso quando julgar<br />

bom diferir-me a Absolvição, e que eu nunca o obrigue a recusá-la por minhas más disposições;<br />

que eu aceito de bom grado todas as penitências que me impuser e que eu as<br />

cumpra com submissão e fidelidade, a pesar do que isto me custar. Só vós, ó meu Deus,<br />

podeis conceder-me esta graça. Eu vo-la suplico com insistência e a espero de vossa<br />

bondade. Assim seja.<br />

67


<strong>INSTRUÇÕES</strong> E <strong>ORAÇÕES</strong><br />

<strong>PARA</strong> A CONFISSÃO E <strong>PARA</strong> A COMUNHÃO<br />

68


ADVERTÊNCIA<br />

Julgou-se conveniente acrescentar as orações seguintes às Instruções precedentes<br />

porque têm íntima ligação com elas e seria pouco útil recitar essas orações, principalmente<br />

as que se referem à Confissão, se a pessoa não fosse instruída acerca do que<br />

é preciso saber e fazer para torná-la boa.<br />

Organizaram-se as Orações para a Confissão de tal maneira que elas são também<br />

Instruçoes das coisas mais necessárias a saber e a praticar com referência ao Sacramento<br />

da Penitência, a fim de que os que são instruídos nas verdades importantes<br />

contidas nestas Orações, possam, ao recitá-las, renovar a lembrança deste Sacramento<br />

e os que não conhecem essas verdades, não tivessem outra coisa a fazer do que recitar<br />

freqüentemente estas orações para as aprender facilmente.<br />

69


<strong>ORAÇÕES</strong> <strong>PARA</strong> ANTES<br />

DA CONFISSÃO<br />

VOLTA DE UM PECADOR A DEUS<br />

ATRAVÉS DA CONSIDERAÇÃO DO PECADO,<br />

DE SUA NATUREZA E DE SEUS EFEITOS<br />

Ó meu Deus, será que fica bem eu aparecer diante de vós, carregado de pecados,<br />

depois do que vos fiz ao pecar? Preferi meu corpo a minha alma; até sacrifiquei minha<br />

alma e a deixei entregue ao demônio para contentar meu corpo, embora ele esteja destinado<br />

por vós para ser a vítima do sacrifício que eu deveria vos oferecer todos os dias,<br />

por uma mortificação contínua dos prazeres dos sentidos; por meus pecados, me tornei<br />

semelhante aos animais; por assim dizer, me reduzi até ao nada diante de vossos olhos.<br />

Mas o que me torna ainda mais infeliz é que voluntariamente me privei de vossa graça,<br />

me separei e me desliguei de vós e, por um atentado inominável, pelo pecado criei em<br />

meu coração uma aversão contra vós e disse a mim mesmo que não queria mais que<br />

fôsseis meu Deus. Que deplorável estado de uma alma que criastes só para vos amar!<br />

Quero, pois, ó meu Deus, libertar-me da escravidão do pecado com o auxílio de vossa<br />

santa graça. Eu vô-la peço com insistência e do fundo do meu coração.<br />

Reflexão em forma de orações sobre a enormidade do pecado<br />

Entregar sua alma ao demônio, que blasfêmia para um cristão, filho de Deus,<br />

que tem direito à herança do céu! Porém ainda maior e mais horrível do que expressá-la<br />

de boca, é a blasfêmia de a cometer de fato. Ora, meu Deus, compreendo que devo manter<br />

uma terrível distância diante destas palavras, e me entreguei realmente ao demônio<br />

por meus pecados, todas as vezes que vos ofendi. Submeti-me ao poder dele e lhe prestei<br />

a homenagem que vos é devida a vós e somente a vós. Eu vos peço, concedei-me a<br />

graça de reparar uma falta tamanha, de cantar no futuro o cântico dos Anjos, e ao evitar<br />

completamente o pecado, dizer com eles: Toda honra e toda a glória é devida somente a<br />

Deus que reina nos céus, que me concede, se lhe agradar, a paz do coração que somente<br />

é concedida aos que têm extremo horror ao pecado. Esta é a disposição, ó meu Deus, a<br />

que eu aspiro e espero de vossa bondade.<br />

Oração para atrair sobre si a misericórdia de Deus<br />

e pedir a libertação dos próprios pecados<br />

Ó meu Deus, deixar-me-eis perecer oprimido como estou pelo peso de meus<br />

pecados? Que todos os vossos santos Anjos se afastem de mim como de vosso inimigo e<br />

aquele (Anjo) que encarregastes de me conduzir não saiba se deve ter compaixão para<br />

comigo ? Vossos santos que só aspiravam a ver-me unido com eles e que vos apresentavam<br />

suas orações por mim, só me olhem com horror? Os próprios demônios que me<br />

seduziram me reprovam continuamente minha ingratidão para convosco e me lançam na<br />

confusão apresentando-me somente vossa indignação. Tende pena de mim, ó meu Deus,<br />

70


em vossa imensa misericórdia, e já que Jesus Cristo, vosso Filo, se interessa por mim, e<br />

que a Santa Virgem, sua mãe, vos pede em meu favor, não considereis a gravidade de<br />

meus pecados, mas em consideração da morte que Jesus Cristo vosso Filho sofreu por<br />

mim, e de vossa bondade sem limites, aceitai-me ainda uma vez no número de vossos<br />

filhos; fazei que minhas orações, unidas às deles vos sejam agradáveis e que eu possa<br />

dizer incessantemente com vossos eleitos: Bendito seja o Deus de minha alma, bendito<br />

seja aquele que me tirou da miséria do pecado e da escravidão do demônio.<br />

Oração para manifestar a Deus o horror que se tem ao pecado<br />

Como eu seria feliz, ó meu Deus, se pudesse libertar-me completamente do pecado<br />

que é o inimigo mais terrível e temível do homem, pois é o único que me faz inimigo<br />

de Deus. Pecado cruel! que causaste a morte de meu Divino Mestre, que reduziste<br />

todos os homens à escravidão do demônio e lhes tiraste o direito que tinham à herança<br />

de Deus. Pecado vergonhoso! que torna o homem semelhante aos animais, que desfigura<br />

em nós a imagem de Deus e que dá a morte a nossa alma pela destruição da graça que<br />

está nela. Nunca mais tréguas ao pecado, nunca mais adiamento, é preciso evitá-lo. Nenhuma<br />

tardança, nem sequer até amanhã. O Espírito de Deus que quer me possuir e que<br />

quer prontamente vir a mim não tolera nenhuma tardança. Não permitais, ó meu Deus,<br />

que eu seja por mais tempo privado de vosso divino Espírito; dai-me de novo a alegria<br />

que sentem todos os que gozam de vossa santa graça e que Jesus Cristo produz nas almas<br />

dos justos. Não me abandoneis mais a mim mesmo, e não tolereis que no futuro eu<br />

fique um só momento sem o vosso santo amor.<br />

Oração para pedir a Deus a graça de uma verdadeira Penitência<br />

Meu Deus, que sois o único que pode verdadeiramente tocar e converter um coração,<br />

derramai no meu esse espírito de penitência que vos agrada nas almas justas, mas<br />

que não seja somente para me assustar como ao Faraó a quem endurecestes no pecado.<br />

Não me toqueis como um Judas para me deixar cair no desespero; não amoleçais meu<br />

coração como amoleceste o de Antíoco, para me deixar morrer como ele no meu pecado.<br />

Inspirai-me, ó meu Deus, horror a essas espécies de penitências que são apenas exteriores<br />

e que não impedem de ir para o inferno. Concedei-me a graça de imitar a Davi na<br />

penitência, de chorar meus pecados com São Pedro na amargura do meu coração. E ao<br />

voltar a vós como o filho pródigo a seu pai, permiti que eu vos diga e repita muitas vezes<br />

com a humildade de verdadeiro penitente e com a simplicidade de filho: Meu Deus,<br />

pequei contra o Céu e contra vós; não sou digno de ser contado entre vossos filhos, mas<br />

ficarei feliz contanto me trateis como um de vossos empregados e mercenários e me<br />

queirais conceder o que vossa bondade não vos permite recusar-lhes quando vo-lo pedem.<br />

Oração para pedir a Deus o conhecimento e a contrição dos próprios pecados<br />

Vós sabeis, ó meu Deus que a característica própria do pecado é cegar o espírito<br />

das pessoas e endurecer-lhes o coração. O resultado é que, ao estar prestes a evitar meus<br />

pecados e a me confessar diante de vós a vosso Ministro, eu seja invadido por sentimentos<br />

do Rei Profeta, o qual depois de ter sido um grande pecador como eu, foi o príncipe<br />

mais penitente. Assim vos peço com ele que renoveis em mim vosso Espírito Santo<br />

a fim de que, esclarecido pelas luzes dele, e meditando sobre os meus anos passado, eu<br />

71


possa conhecer e discernir todos os meus pecados, sem que escape um só deles a meu<br />

conhecimento. Peço-vos também como ele, que crieis em mim um coração puro, que<br />

compenetrado da enormidade de seus pecados, vos manifeste por seus gemidos contínuos,<br />

por sua aflição sensível e por sua profunda humilhação, que todo seu desejo é<br />

mudar inteiramente de vida e voltar para vós. Espero, ó meu Deus, que me concedereis<br />

esta graça porque pronto estou, a suportar qualquer sofrimento que vos aprouver imporme<br />

para vos prestar satisfação.<br />

Oração para antes do exame de consciência<br />

Estaria eu com vontade de me expor ao perigo de fazer uma Confissão sacrílega<br />

por falta de me examinar bem a consciência? Estaria eu pensando que, para me confessar<br />

bem basta que dê um olhar superficial sobre meus pecados? Não, meu Deus; seria<br />

me enganar se eu tivesse semelhante atitude. Sei que, para se examinar bem, é preciso<br />

repassar em seu espírito um pensamento momentâneo, uma palavra não só de maledicência<br />

mas inútil, e toda ação que não é boa. Vós, ó meu Deus, sois quem me ensina que<br />

darei conta de todas essas coisas. Fazei, pois, por favor, que a minha consciência me<br />

revele e me censure todas elas para confessá-las. E assim, que todos os pensamentos<br />

maus que passaram por meu espírito me voltem à memória, que todos os desejos, todas<br />

as inclinações e todos os apegos de meu coração me fiquem tão presentes como se os<br />

tivesse ainda, embora tenha renunciado completamente a eles. Tolerai que todas as palavras<br />

que vos desagradaram em mim encham minha imaginação para poder confessálas<br />

e detestá-las, e que eu renove em mim a lembrança de todas as ações que pratiquei e<br />

que vós condenais, que também eu as condene. Eu vos peço esta graça, ó meu Deus,<br />

para que na Confissão que vou fazer, não esqueça um só dos pecados que cometi contra<br />

vós e que, depois de ter acusado todos, vós os destruais pela eficácia de vossa graça.<br />

Isto é o que espero de vossa bondade, pelos méritos de Jesus Cristo, Nosso Senhor, bem<br />

como por sua autoridade, uma vez que ele é o Sumo Pontífice neste Sacramento.<br />

Oração para depois do exame de consciência<br />

Ó meu Deus, estou começando a conhecer meus pecados e eles estão presentes<br />

diante de mim. Fico corado de vergonha, não para me esconder diante de vós, como<br />

Adão depois de seu pecado, nem para me esconder diante dos outros, como Caim, nem<br />

como o fariseu no templo, pois quero conservar a lembrança deles para me humilhar por<br />

eles. Mas a confusão que sinto por causa deles ó meu Deus, só provém porque vos ofendi<br />

muito. No fundo do meu coração ouvi a vossa voz que me censurava meus pecados<br />

e minha ingratidão, depois de tantos benefícios que recebi de vós, e me cobri de<br />

confusão, não ousando aparecer diante de vós numa situação tão miserável. Renovai, eu<br />

vos peço, no fundo de minha alma o espírito de justiça para que, animado e compenetrado<br />

desse espírito, e recobrada a inocência perdida, eu possa me apresentar de novo<br />

diante de vós, publicar em alta voz a vossa eqüidade, mas muito mais a vossa misericórdia,<br />

cuja extensão é infinita em meu favor.<br />

Outra oração para depois do exame de consciência<br />

Pecar é próprio do homem; não querer sair do pecado é o caráter do demônio.<br />

Afastar-se do pecado e de todas as ocasiões que levam a ele e fazer todos os esforços<br />

para não recair neles é dever de bom cristão e de verdadeiro penitente. Esta, ó meu<br />

72


Deus, é a disposição com que agora me apresento diante de vós. Não somente eu não<br />

quereria vos ofender ainda que se tratasse de ganhar o mundo inteiro; também odeio<br />

tanto o pecado que estou pronto a fazer e a sofrer tudo o que for de vosso agrado, para<br />

não mais recair em um só pecado dos que acabo de me examinar, e que reconheci em<br />

mim. Mas como só estou nesta disposição pelo auxílio de vossa graça, não o posso executar<br />

sem vós. Ó meu Deus, vós sabeis que me seria inútil ter este pensamento e este<br />

desejo, se não o pusesse em prática. Já que me destes a vontade de não mais pecar, espero<br />

também vosso auxílio para o cumprimento desta boa resolução.<br />

Oração para pedir a Deus uma verdadeira contrição de seus pecados<br />

Se é verdade, ó meu Deus, que não posso fazer nenhum ato sem vosso auxílio e<br />

que até não posso querer o bem se não me o inspirais e não me dais a vontade de o fazer,<br />

como é que poderei ter um verdadeira contrição de meus pecados, se me não a concedeis?<br />

Sois vós, ó meu Deus, que infundis em meu coração a dor de meus pecados e<br />

como somente vós conheceis a enormidade deles, também só vós sabeis qual a contrição<br />

que devo ter deles. Dai-me, eu vos peço, uma contrição semelhante à do publicano do<br />

Evangelho que permanecia atrás da porta do templo e não ousava levantar os olhos nem<br />

se aproximar dos santos altares, e somente ficava a gemer no fundo de seu coração e a<br />

bater no peito dizendo: "Meu Deus, por favor, tende misericórdia deste pecador". Retirai-me<br />

de minha desordem e de meus pecados com tanta bondade quanta tivestes ao<br />

retirar a Zaqueu, chefe dos publicanos, e animai meu coração com os mesmos sentimentos<br />

de dor que ele tinha, para que por mais que me custe, agora eu tome uma resolução<br />

tão forte que nada me impeça de a executar.<br />

Outra oração para pedir a Deus verdadeira contrição e dor dos pecados<br />

Vós, meu Deus, que sois o autor de todo bem, e produzis nos corações o horror e<br />

a contrição dos pecados. Acaso não sois vós que destes aos ninivitas tal contrição e arrependimento<br />

de seus pecados, a ponto de, embora vos tivessem ofendido muito, e tivessem<br />

atraído sobre si vossa cólera e vossa indignação, terem merecido por suas orações,<br />

seus jejuns, suas lágrimas e seus gemidos, obter o perdão de seus pecados? Acaso<br />

não sois também vós que pelo charme e os atrativos de vossa graça tocastes tão fortemente<br />

o coração de Maria Madalena, que, prostrada aos pés de Jesus Cristo, vosso Filho,<br />

sentiu uma dor tão total e tão eficaz de seus crimes, de modo que ela abandonou<br />

todas as ocasiões e nunca mais recaiu nelas? Eu vos peço, ó meu Deus, a mesma graça e<br />

a espero de vossa bondade.<br />

Oração para pedir a Deus uma contrição dos pecados,<br />

contrição que tenha todas as condições<br />

<strong>La</strong>nçai sobre mim, ó meu Deus, vosso olhar de misericórdia que lançastes sobre<br />

São Pedro depois de seu pecado e dai-me uma contrição e um arrependimento de meus<br />

pecados tão grande como os que destes a ele. Eles não me serão suficientes, se vós não<br />

me os derdes, pois só posso odiar o pecado com vosso auxílio. Fazei que o pesar de<br />

meus pecados penetre tão profundamente em meu coração, para que não saia nunca<br />

mais; pois, se fosse apenas superficial e somente nos lábios, de que me serviria, uma vez<br />

que não duraria e vós não teríeis nenhuma consideração por ele? Imprimi também no<br />

fundo de minha alma um tal horror a ele, que nada me cause tanta pena do que o peca-<br />

73


do, e que eu o odeie mais do que a perda de todos os bens, e mais do que a morte. Concedei-me<br />

a graça que eu deplore todos os meus pecados sem excetuar nenhum; porque<br />

sabeis que não posso odiar verdadeiramente um sem o outro, e que, se eu gostasse ainda<br />

de algum, não poderia receber a remissão de nenhum, mesmo que os confessasse<br />

todos, e que ficasse sofrendo por toda a minha vida para satisfazer por eles. Socorrei-me<br />

com a força de vossa graça, para que eu não queira mais recair em meus pecados, porque,<br />

se eu não estivesse efetivamente com vontade de nunca mais cometê-los, a contrição<br />

que penso ter deles seria apenas imaginária. Ó meu Deus, é somente vosso santo<br />

amor que me possa dar esta disposição. Fazei, pois, que seja por amor a vós que eu<br />

odeie o pecado. Mas para que minha resolução não seja temerária, fazei que eu a tome<br />

somente na confiança em vossa bondade e nos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />

que quis me conceder esta vantagem por seus sofrimentos e por sua morte.<br />

Oração para pedir a Deus e enfraquecimento da concupiscência<br />

Vós sabeis, ó meu Deus, que o pecado original deixou em nós tal inclinação ao<br />

pecado, que parece que não há nada a que sejamos mais levados do que a vos ofender, e<br />

somente vossa graça é que pode enfraquecer em nós esta infeliz concupiscência. Concedei-me,<br />

pois, ó meu Deus, esta graça e fazei que ela seja tão eficaz que eu já não sinta<br />

mais em mim esses movimentos que levam insensivelmente ao crime, se não se é pronto<br />

e fiel em resistir a eles, ou pelo menos, não permitais que eu seja tão miserável para<br />

consentir nos mesmos.<br />

Oração para pedir a Deus a libertação das tentações<br />

e dos vícios a que estamos sujeitos<br />

Meu Deus, que sois o único que pode nos impedir de cair no pecado, dai-me a<br />

força de repelir as tentações que se apresentam a meu espírito e quereriam seduzir meu<br />

coração, para me levar a vos ofender. Fazei que nem a impureza, nem o excesso na bebida<br />

e na comida, nem a covardia e a negligência em vosso serviço tenham algum poder<br />

sobre mim; que eu me deixe jamais ir não só à cólera, mas até à impaciência, à murmuração<br />

ou a qualquer coisa que seja capaz de alterar, mesmo só um pouco, a caridade que<br />

deve ter para com o próximo. Fazei que eu tenha horror à mentira e à maledicência, e<br />

que nada do que pertence ao próximo seja capaz de me tentar. E se eu tiver algum desejo<br />

ou alguma inclinação, que seja de vos amar e vos obedecer, uma vez que estas duas<br />

coisas são toda a felicidade de um cristão nesta vida.<br />

Oração para pedir a Deus o horror dos bens, das honras e dos prazeres da Terra<br />

Deus de bondade, que deveis ser todo o prazer do homem, poderei eu gostar ainda<br />

dos prazeres da Terra, já que me criastes só para vós? Onde é que estão os prazeres<br />

passados que gozei tão desgraçadamente? Que é que me resta agora, a não ser a triste<br />

lembrança de ter ofendido um Deus que sempre teve apenas bondade para comigo? Que<br />

me resta senão um triste pesar de ter manchado minha consciência cuja pureza é o encanto<br />

de Deus? Que me resta a não ser uma vergonhosa humilhação de ter entregado<br />

minha alma à escravidão do demônio, embora antes tenha sido imagem de Deus e seu<br />

lugar de delícias? Bens da Terra, vós estais apenas na imaginação dos homens! Prazeres<br />

do Mundo, nada tendes de sólido! Honras cujo esplendor deslumbra os olhos dos<br />

grandes e dos pequenos, sois nada mais que vazio! Contudo estivestes dentro de mim<br />

74


como fontes funestas do pecado. Odeio-vos mais do que a peste, mais do que a morte e<br />

mais do que tudo o que há de mais infeliz e mais terrível no Mundo. Fazei, eu vos suplico,<br />

ó meu Deus, que eu tenha só horror a todos os bens, honras, e prazeres na Terra,<br />

para que não me apegue a outra coisa fora de vós e que eu coloque toda minha esperança<br />

em vós.<br />

Oração para pedir a Deus a graça de não procurar<br />

honras, bens e prazeres da Terra<br />

Por demais experimentei, ó meu Deus, e ainda o sinto bastante todos os dias, que<br />

meu coração não pode estar satisfeito com tudo o que faz a felicidade dos homens neste<br />

mundo. Com efeito, ainda que eu possua todos os bens da terra, ainda que eu gozasse<br />

todas as honras, ainda que eu fosse louvado e estimado pelos homens, ainda que eu gozasse<br />

todos os prazeres que se podem gozar no mundo e contentasse meus olhos com a<br />

visão de tudo o que há de mais agradável, ainda que eu bebesse os vinhos mais deliciosos<br />

e me saciasse com os pratos mais apetitosos, que vantagem tiraria eu disso, e o que<br />

me restaria disso na hora da morte, a não ser um grande número de pecados que eu tenha<br />

cometido pelo uso de todos esses bens? Fazei, pois, ó meu Deus, que no futuro eu<br />

não procure todas essas coisas, e dai-me a ocasião de dizer com o Profeta, com coração<br />

amargurado por meus pecados, e abrasado por vosso santo amor: "Que é que posso procurar<br />

no céu, e o que é que há na terra que eu possa desejar, senão a vós, ó meu Deus,<br />

que sois o Deus de meu coração, e quereis ser minha herança durante toda a eternidade!<br />

Oração para pedir a Deus a graça<br />

de se afastar das ocasiões de pecado<br />

Estar voluntária e propositalmente na ocasião de pecado é estar em pecado. Não<br />

é este um estado digno de compaixão, já que nesse estado a pessoa é objeto de ódio de<br />

Deus? Não se está, com efeito, em contínuo perigo de cair no pecado? Vós dizeis, ó<br />

meu Deus, que aquele que ama o perigo, nele perecerá. Portanto, querer permanecer na<br />

ocasião de pecado é gostar do pecado, que é inimigo de Deus; gostar do pecado que nos<br />

causa tanto prejuízo; que nos priva da graça e nos faz merecer o inferno; viver no pecado<br />

que dá morte a nossa alma. Pode-se encontrar um estado mais infeliz e mais miserável?<br />

Dai-me, ó meu Deus, um afastamento terrível de tudo o que pode me levar ao pecado<br />

e me colocar em perigo de cair nele. Iluminai-me com vossa luz para conhecer e<br />

discernir as ocasiões e os incentivos que eu possa ter ao pecado e dai-me bastante coragem<br />

e generosidade para o evitar no futuro, já que somente o afastamento das ocasiões é<br />

que nos deixa alguma segurança de nossa salvação. Quero me salvar, também vós quereis<br />

que eu me salve. dai-me, pois, ó meu Deus, a graça e a vigilância sobre mim mesmo,<br />

necessária para não me meter em nenhuma ocasião de vos ofender. Nisto espero de<br />

vós, ó meu Deus, aquilo que vós vos dignais de me impor.<br />

Oração para pedir a Deus a graça de ficar livre<br />

do hábito de pecado, quer mortal, quer venial<br />

Ó meu Deus, como é miserável quem permanece no hábito de pecado! A pessoa<br />

quer abandoná-lo e ele fica: algumas vezes ela quer se levantar e depois de um momento,<br />

recai . Ela sente em si, de tempos em tempos, os remorsos de consciência, e acontece<br />

muitíssimas vezes que ela os abafa. Ela diz: "Eu quero", mas não quer, porque não quer<br />

efetivamente, quando não o faz de fato. Como é triste este estado, como é dura a servi-<br />

75


dão desta escravatura! Mas é muito mais terrível ainda estar de tal modo enterrado no<br />

crime a ponto de cair e recair até tão baixo! É isto, ó meu Deus, que acontece aos que<br />

não são amparados por vossa graça! Cair duas vezes num pecado, não é isto demais para<br />

um cristão que traz impresso em sua alma e em sua fronte o caráter da divindade? Um<br />

só pecado fez cair imediatamente os anjos no inferno, expulsar Adão do Paraíso terrestre,<br />

e excluir dele toda a sua posteridade, e a todos fechar a entrada ao céu, que só lhes<br />

foi reaberta pela morte de um Deus. E eu cometi vinte e trinta pecados sem sentir coisa<br />

nenhuma. Se eu tivesse morrido então, que teria sido de mim? O objeto de vossa cólera,<br />

ó meu Deus! Um vaso de perdição, o opróbrio dos demônios, a chacota dos condenados.<br />

Livrai-me, eu vos suplico de meus maus hábitos, fazei que nunca me acostume a algum,<br />

para que eu esteja no número de vossos servos amados, que são os únicos que terão parte<br />

em vosso Reino. Amém!<br />

Oração para pedir perdão a Deus pela facilidade<br />

que se teve de cometer o pecado<br />

e pela negligência que se teve de se corrigir dele<br />

Vós sabeis, ó meu Deus com que facilidade cometi o pecado, com que precipitação<br />

segui a inclinação que tive para tanto. Eu me deixei levar a ele com tanta covardia<br />

como uma pedrinha se deixa arrastar pela torrente impetuosa. Que infeliz facilidade de<br />

minha alma para gozar dos prazeres dos sentidos, para entregar-se a suas paixões! Ela,<br />

sem dúvida, proveio somente de uma grande negligência que tive para me corrigir de<br />

meus defeitos; ela me levou insensivelmente de pecado em pecado, de desordem em<br />

desordem e no fim me enterrou na iniqüidade. Perdoai-me, ó meu Deus, essa vergonhosa<br />

covardia e insensibilidade que, por assim dizer, me familiarizaram com o crime.<br />

Transformai em mim, eu vos peço, esta miserável disposição; retende meu capricho e<br />

impedi que ele se manifeste. Suspendei a violência de minhas paixões; afastai-me das<br />

ocasiões que eu poderia encontrar para sucumbir nelas; não me abandoneis mais a mim<br />

mesmo; mas em vez dessa inclinação infeliz que tive de pecar, colocai em meu coração<br />

um terno amor ao verdadeiro bem e um grande desejo para a prática da virtude, que é a<br />

única coisa que devo amar na terra; porque só ela é capaz de me pôr em estado de vos<br />

amar durante esta vida e de vos possuir eternamente no céu.<br />

Oração para pedir a Deus o conhecimento<br />

e os meios necessários e úteis para evitar todos os pecados<br />

Só vós, ó meu Deus, conheceis todos os meios que me são necessários e úteis<br />

para evitar inteiramente o pecado, e os conheceis perfeitamente. Eu vos peço, portanto,<br />

que os deis a conhecer a meu Confessor e também a mim, pois todo o meu desejo é afastar<br />

o pecado de meu coração e não mais o cometer, nada me vai impedir, com o auxílio<br />

de vossa graça de colocá-lo em prática, contanto que eu saiba o que devo fazer para<br />

isso e o que desejais de mim. Com certeza um dos meios mais úteis é confessar-se muitas<br />

vezes e é importante ter um Confessor bom; também que não se deve freqüentar<br />

más companhias. Concedei-me a graça, ó meu Deus, de ser fiel em praticar todas essas<br />

coisas. Mas como estes são meios gerais que se referem a todos os pecados, dai-me também<br />

os que respeitam os particulares para me libertar dos que me examinei e estou<br />

pronto para confessar, para que, lembrando-me deles no futuro, me seja fácil de não<br />

mais recair em minhas faltas. Cada pecado é uma doença que tem seus remédios. Tende<br />

a bondade de aplicar os mais apropriados aos pecados que tenho agora, e que eu vos<br />

76


apresento para me curardes. Inspirai-me os meios que desejais que eu empregue pelo<br />

conselho de meu Confessor, para estar completamente livre deste fardo pesado que estou<br />

a carregar.<br />

Ato de confusão ao considerar a bondade de Deus<br />

e a enormidade dos pecados<br />

Ó meu Deus, quer me parecer que quereis me salvar, já que pelos atrativos de<br />

vossa graça e pelo remorso de minha consciência me impelis continuamente a me entregar<br />

inteiramente a vós, depois de vos ter abandonado covardemente ao vos ofender. Não<br />

parece por acaso que tendes muito cuidado de mim, embora vos basteis a vós mesmo e<br />

toda a vossa felicidade esteja em vos amar? Vós sois infinitamente bom, pois nada vos<br />

falta do que é um verdadeiro bem e reunis em vós todas as perfeições imagináveis. E<br />

contudo, eu tive a ousadia de vos ultrajar e vos ofender. Quanto mais reflito dentro de<br />

mim, tanto mais fico envergonhado por me ver manchado de crimes e tão horroroso<br />

diante de vossos olhos. Será que por muito tempo ainda ficarei oprimido sob o peso de<br />

tantos pecados? Oh! Quanto sei agora que quem comete o pecado se torna escravo do<br />

pecado! Eu vos peço humildemente perdão, ó meu Deus, de me haver reduzido a tamanha<br />

miséria. Sinto horror de mim mesmo neste infeliz estado e não posso mais ver-me<br />

em pecado. Quero, pois, sair desta escravidão abandonando inteiramente todos os que<br />

cometi, e nunca mais recaindo neles. Eu vos peço, ó meu Deus, vossa santa graça para<br />

ser fiel a esta boa resolução, pois sem vós não a poderei executar.<br />

Ato de Contrição produzido pela consideração de vários motivos<br />

capazes de a excitar em nós<br />

Como lamento, ó meu Deus, de vos ter ofendido tanto, a vós que sois um Deus<br />

de bondade, que nunca ficastes irado contra mim e que só me fizestes bem! Eu vos devo<br />

tudo o que sou, pois sois o Deus de todas as Criaturas. Eu me servi, pois, de vossos<br />

bens, do que vos pertence, de tudo o que me destes para vos ofender. E vós me destes, ó<br />

meu Deus, tudo o que tenho e tudo o que sou, somente para o empregar em vosso serviço.<br />

Mesmo que eu tivesse cometido um só pecado, eu me teria tornado inimigo vosso,<br />

teria perdido vossa santa graça e merecido o inferno. Que será de mim, uma vez que<br />

cometi tão grande número? Seja qual for a boa obra que eu faça e que eu tenha feito,<br />

desde que existo, será absolutamente inútil para minha salvação, se eu permanecer voluntariamente<br />

em pecado. Mesmo que eu distribuísse todos os meus bens aos pobres,<br />

mesmo que eu expusesse meu corpo no fogo, se eu não recuperar a caridade e o amor de<br />

Deus de que me privei com o pecado, tudo isso de nada me serviria para minha salvação.<br />

Ó meu Deus, será que deverei permanecer neste estado miserável? Não posso mais<br />

continuar a sofrer nele e vos peço insistentemente vossa santa graça para me tirar completamente<br />

dele.<br />

ATO DE CONTRIÇÃO<br />

É bastante para mim que o pecado vos desagrade, ó meu Deus, para não mais<br />

cometê-lo; porque deveis ser e sois efetivamente o único objeto de meu amor e nada<br />

quero fazer no futuro a não ser vos agradar. Eu vos peço muito humildemente perdão de<br />

todos os pecados em que, no passado, cai infelizmente, e em especial desde que pela<br />

77


última vez me confessei. Vós sois bom e sois a própria bondade; por isso tenho toda a<br />

confiança possível de que me os perdoareis. Vós sois amável, ó meu Deus, e tudo o que<br />

há em vós como o que está fora de vós, e que foi produzido por vós, nos leva a vos amar.<br />

Assim, é pelo amor que odeio o pecado e quero tomar os meios necessários para o<br />

destruir em mim e expulsá-lo completamente de meu coração, para que nada mais reste<br />

nele do que vos desagrada.<br />

Outro Ato de Contrição e propósito de não mais ofender a Deus<br />

Se vós, ó meu Deus, quereis que minha consciência seja pura e sem mancha, não<br />

é possível que me recuseis as graças necessárias para não mais a emporcalhar com meus<br />

pecados. Eu vô-las peço com todo o meu amor e do fundo do meu coração na certeza de<br />

vosso auxílio, e ao mesmo tempo tomo uma firme resolução de nunca mais vos ofender,<br />

enquanto me proponho de a pôr em prática com tanta exatidão e fidelidade, quanto horror<br />

tendes de meu pecado e quanta bondade tendes para mim. É sobre vossa bondade, ó<br />

meu Deus, que apóio toda a força e firmeza do propósito que faço, porque só desta mesma<br />

bondade é que posso esperar a coragem da capacidade para executar o que vos prometo.<br />

Oração para pedir a Deus o perdão de todos os pecados<br />

por intercessão dos Anjos e dos Santos<br />

Ó meu Deus, não tomaríeis vós em consideração as orações dos Santos que gemem<br />

diante de vós pela salvação de um pobre pecador como eu, e vos oferecem tudo o<br />

que eles sofreram para destruir o pecado, em se unindo aos méritos de Jesus Cristo, vosso<br />

Filho? Não atenderíeis vossos santos Anjos, principalmente meu Anjo da Guarda,<br />

que se aniquila diante de vós por um sentimento de humilhação, gritando em alta voz:<br />

"Santo, Santo, Santo", a fim de vos decidir a me tornar participante de vossa Santidade,<br />

depois de ter apagado em mim o pecado? Aplacai-vos, ó meu Deus, por orações tão<br />

prementes. É verdade e o sei que não mereço este favor; mas é vossa bondade que me o<br />

quer conceder sem que eu o mereça. É isto que me persuade de que, como não podeis<br />

impedir-vos de fazer o bem, também lançareis um olhar favorável sobre mim; não vos<br />

importareis mais de meus pecados e os apagareis todos diante de vós. A nosso Deus,<br />

que está sentado em seu trono, é devida toda a glória por nos ter salvo e libertado completamente<br />

do pecado.<br />

Ato de confiança de que Deus terá a bondade<br />

de nos perdoar nossos pecados, por várias considerações<br />

Vossa bondade, ó meu Deus, é tão grande e vossa misericórdia tão extensa que<br />

tenho certeza que não podereis vos defender das prementes solicitações de uma e de<br />

outra para me perdoar meus pecados. Uma vos dirá que criastes minha alma só para ser,<br />

na terra, um vaso de eleição e objeto de vossa complacência e de vossas delícias, para<br />

depois gozar eternamente no céu; ela dirá que me destes o Ser só para vos amar, louvar<br />

e publicar vosso louvor; dirá que cabe à vossa benignidade para comigo devolver-me o<br />

que demônio e minha malícia me roubaram. Uma vez vossa bondade sem igual vos apresentará<br />

todas as graças que me concedestes e o amor que sempre tivestes para comigo,<br />

para vos dar a conhecer que cabe à vossa sabedoria não os tornar inúteis em mim.<br />

Do outro lado, vossa misericórdia, engenhosa para procurar a salvação dos homens, vos<br />

78


fará lembrar que enviastes vosso Filho único à terra, só para morrer como homem e para<br />

assim livrar todos os homens do pecado em que vergonhosamente caíram, e para merecerem<br />

todas as graças necessárias para se preservarem dele no futuro. Ela também não<br />

cessará de vos repetir que quereis salvar todos os homens e que essa vontade, que também<br />

tendes tão presente é tanto de vosso agrado, de modo que vossa felicidade e vossa<br />

glória não devem ser estéreis em vós. Tornai-vos flexível, ó meu Deus, tanto a um como<br />

à outra; concedei-lhes e também a mim o que vos pedem. Devolvei-me o direito que eu<br />

tinha a essa glória que me concedestes com tanto cuidado e que Jesus Cristo, vosso Filho,<br />

mereceu para mim por meio de tantas dores e sofrimentos. Amém.<br />

Ato de reconhecimento de que Deus só nos perdoará nossos pecados<br />

se tivermos uma vontade determinada de não mais o ofender<br />

A pesar de o apego que tenho ao pecado se ter tornado natural para mim, parece,<br />

ó meu Deus, que vós tendes mais amor e mais desejo de me perdoar do que eu tenho de<br />

vos ofender. Sois tão cheio de bondade e eu tão repleto de malícia. Mas por mais facilidade<br />

que possais ter para esquecer meus crimes, não me os perdoareis, ó meu Deus, se<br />

eu não tiver uma vontade constante e determinada de nunca mais recair. Pois, com efeito,<br />

sem essa vontade, toda penitência é falsa, a contrição se torna nula e a Confissão,<br />

sacrílega. Mas como é que vou ter essa vontade, se vós mesmo não me a derdes? E particularmente<br />

a respeito da penitência só vós podeis dar-lhe cumprimento, mas também a<br />

vontade de a fazer. Acaso não me aconteceu várias vezes imaginar que tenho contrição<br />

de meus pecados e de fato não a tinha? Eu me dizia e pensava que odiava o pecado e<br />

ainda o amava; pois ainda eu queria ofender a meu Deus ou, pelo menos, porque o prazer,<br />

objeto de meu pecado, ainda não se me tornara desagradável. Imprimi, pois, ó meu<br />

Deus, em meu coração o horror ao pecado, ao que é o objeto dele e a tudo o que leva a<br />

ele, e dai-me uma vontade firme e decidida a não mais pecar, porque sem isso só odiarei<br />

o pecado em aparência. E para consolidar minha vontade no bem, purificai meu coração<br />

de todas as manchas contraídas pelo pecado e renovai em mim o espírito de justiça que<br />

recebi de vós no Batismo.<br />

Oração para pedir a Deus a graça de confessar todos os seus pecados<br />

e vencer a vergonha má<br />

Divino Jesus que não tivestes vergonha de passar por pecador e de vos considerar<br />

como tal embora não o fôsseis na realidade, só porque tivestes a bondade de carregar<br />

sobre vós todos os nossos pecados para satisfazer por eles, livrai-me, eu vos peço, dessa<br />

vergonha má que por vezes impede a acusação dos pecados na Confissão e não permitais<br />

que eu me deixe levar por ela, quando confessar os meus. Ó meu Deus, eu sei que<br />

na pessoa do sacerdote estou falando convosco ao me confessar. Ousaria eu então não<br />

vos dizer o que já conheceis e conheceis melhor do que eu mesmo, de vez que penetrais<br />

ao fundo dos corações e nada vos está oculto do que se passa no meu? Quereria eu me<br />

expor a fazer uma Confissão má ao ocultar um pecado? E não seria muito melhor que eu<br />

não me confesse, do que aumentar meus pecados com um sacrilégio ao me confessar,<br />

em vez de receber o perdão? Dai-me, ó meu Deus, uma abertura de coração para descobrir<br />

minhas chagas a vosso ministro, para que ele possa trazer remédio e curar. Dai-me<br />

bastante simplicidade para expor clara e simplesmente a meu confessor o número e a<br />

qualidade de meus pecados e todas as circunstâncias capazes de a dar a conhecer tais<br />

quais são, sem a escamotear nem diminuir, e dai-me a graça de aproveitar bem dos con-<br />

79


selhos que tiver a bondade de me dar. Pois só por esses dois meios juntos com a contrição<br />

de vos ter ofendido é que merecerei receber a graça da Absolvição e o perdão de<br />

meus pecados.<br />

Oração para pedir a Deus a graça de, neste mundo,<br />

fazer penitência de seus pecados<br />

Ó meu Deus, se exerceis vossa misericórdia para com os pecadores, é justo que<br />

exerçais também sobre eles vossa justiça; pois, como eles vos ofenderam, se tendes a<br />

bondade de lhes perdoar, devem, por seu lado, sofrer alguma coisa para satisfazer por<br />

seus pecados. Sem dúvida que foi para este fim que expulsastes Adão do paraíso terrestre,<br />

o obrigastes a fazer penitência por toda sua vida. Também muitas vezes punistes os<br />

judeus em vista de suas murmurações, de seus desvios e de sua infidelidade. Até Moisés,<br />

a quem escolhestes para ser o condutor de vosso Povo, carregou neste mundo a pena<br />

de alguns pecados que havia cometido. Por menores que tenham sido os pecados de<br />

Jó, vosso servo fiel, vós o fizestes sofrer para além do que se pode imaginar para os<br />

reparar. Exercei sobre mim, ó meu Deus, vossa justiça como sobre tantos predestinados,<br />

e purificai meus pecados neste mundo. Basta-me que reserveis vossa misericórdia para a<br />

outra vida, seja qual for o rigor que mostrais na penitência que vos aprouver impor-me,<br />

ela sempre me será doce, contanto que me concedais o perdão de meus pecados e vossa<br />

santa graça. Isto, ó meu Deus, é tudo o que desejo.<br />

Oração para pedir a Deus a graça de fazer uma penitência proporcional<br />

ao número e à enormidade de seus pecados<br />

Meu Deus, que somente perdoais os pecados daqueles que querem<br />

fazer reparação por eles, concedei-me uma parte desse espírito de penitência<br />

com o qual estava animado Jesus Cristo durante toda sua vida e com o qual<br />

São Pedro ficou tão penetrado depois de seu pecado. E como conheceis a enormidade<br />

dos meus, e por conseguinte qual é a penitência que devo fazer<br />

para obter deles uma perfeita e completa remissão, concedei-me, eu vos suplico,<br />

a graça de reparar todos os pecados de que sou culpado, por meio de<br />

uma penitência suficiente e proporcional. Inspirai a meu Confessor que me<br />

imponha uma penitência tal como a que destinastes para mim e que seja<br />

medicinal, isto é, que seja capaz de me retirar inteiramente do pecado, e me<br />

dar meios para não mais recair nele. Dai-me também a docilidade necessária<br />

para receber seus conselhos e a penitência que me impuser com humilde<br />

disposição e uma firme resolução de dar satisfação. Confio, ó meu Deus, que<br />

não me recusareis nisso o vosso auxílio, e como, por minha malícia, fui um<br />

miserável pecador, serei também por vossa bondade, um verdadeiro penitente.<br />

Assim seja.<br />

80


<strong>ORAÇÕES</strong> <strong>PARA</strong> DEPOIS DA CONFISSÃO<br />

Ato de confiança de que se recebeu o perdão<br />

de seus pecados na Confissão feita<br />

Creio, ó meu Deus, e tenho esta confiança de que agora voltei ao estado de graça<br />

convosco. Que momento feliz para mim, quando recebi a Absolvição e ao mesmo tempo,<br />

o perdão de todos os meus pecados! Senhor, naquele momento precioso, vós dissestes<br />

a mim o que outrora dissestes àquele pobre paralítico: "Vai em paz, teus pecados são<br />

perdoados!" Recebi então essas palavras de verdade como um oráculo, imprimi-as em<br />

meu coração como um selo sagrado que, ao cerrar a entrada ao pecado, me pudesse colocar<br />

em situação de conservar a graça que me devolvestes por uma bondade toda particular,<br />

a pesar de minha ingratidão e do grande número de meus pecados. Portanto eu<br />

vos pertenço agora, ó meu Jesus! Já não sou mais vosso inimigo e o demônio não tem<br />

mais nenhum direito sobre mim. Não permitais, eu vos suplico, que eu volte a me colocar<br />

sob o domínio dele; colocai ao alcance de meu coração vosso Anjo Tutelar para me<br />

guardar e impedir o espírito maligno de tomar posse de mim, para que só amando a vós<br />

na terra, eu tenha a esperança de gozar de vós durante toda a eternidade.<br />

Ato de horror ao pecado ou Oração para pedir a Deus<br />

a confirmação de sua santa Graça<br />

Agora, tu, pecado infeliz, já não tens mais parte em mim e, pela misericórdia de<br />

Deus, me sinto livre do teu pesado fardo que me oprimia e me tornava um completo<br />

miserável. Fazei, ó meu Deus, que no futuro eu sempre goze com prazer da liberdade<br />

dos Filhos de Deus, cuja felicidade e alegria consiste em vos amar, e só pensar em vós.<br />

Vós me concedestes esta vossa graça somente para me colocar na situação de possuir<br />

esse bem; mas me seria pouca coisa ter recebido vossa santa graça, se eu não a conservasse.<br />

Não o posso fazer senão com vosso auxílio. Espero, ó meu Deus, que não me a<br />

recusareis.<br />

Ato para manifestar a Deus o pesar<br />

de ter permanecido tanto tempo em estado de pecado<br />

e para pedir a conservação de sua santa graça<br />

Ó meu Deus, não sei o que mais devo admirar a bondade que tivestes de me retirar<br />

do pecado ou a minha negligência para eu me retirar deste miserável estado. Como é<br />

que pude permanecer só um dia no pecado? Como é que pudestes agüentar-me nele um<br />

momento sequer? Eu pus à prova a vossa paciência pela dureza e a insensibilidade de<br />

meu coração. Muitas vezes me pressionastes para me converter e deixar uma vez por<br />

todas o pecado e fui mais dócil aos meus prazeres do que à voz interior que me solicitava<br />

no fundo de meu coração. Mas enfim chegou o tempo em que tocastes e abrandastes<br />

meu coração, pusestes fim a meu sofrimento e meus pecados. Feliz seria eu, se eu puder<br />

conservar o tesouro de vossa graça! Vós sabeis, ó meu Deus, onde o colocastes: num<br />

81


arco frágil, sujeito a se deixar corromper e a toda sorte de acidentes fatais. Sede vós<br />

mesmo meu protetor e não me deixeis desperdiçar o sagrado depósito que me confiastes.<br />

Ato de agradecimento ao Eterno Pai por nos ter revestido<br />

como o Filho Pródigo com a roupa da inocência<br />

Eterno Pai, cujo amor e bondade para com os pecadores é incomparável, eu vos<br />

agradeço a bondade que tivestes em me reconciliar convosco depois de eu me ter tornado<br />

indigno disso por meus pecados. Vós vos colocastes diante de mim como o pai do<br />

Filho Pródigo e me revestistes de novo com a roupa da inocência, com a qual me havíeis<br />

coberto e honrado no santo Batismo, embora eu dele me tivesse despojado. Vós me<br />

devolvestes meu direito a vossa herança e vos dispusestes a me admitir a vosso festim e<br />

às núpcias de vosso Filho. Admiro, ó meu Deus, as graças que me concedestes e a felicidade<br />

que gozo depois de minhas desordens. Teria sido muita honra para mim o ser<br />

tratado como um de vossos empregados e vós me olhastes como vosso filho assim que<br />

voltei a vós. Honrastes-me com vossa presença e me cumulastes de vossos benefícios ao<br />

me dizer que tudo o que é vosso é meu, e que, se eu perseverar em vossa santa graça,<br />

gozarei a mesma felicidade de que gozais. Não permitais, ó meu Deus, que, depois de<br />

tão grande favor, eu vos abandone, e que manifeste a menor infidelidade para convosco<br />

e submissão a vossa vontade.<br />

Ato de agradecimento ao Filho de Deus por nos ter aplicado<br />

o fruto e o mérito de sua Paixão e de sua Morte<br />

Verbo divino, Sabedoria incriada, que vos fizestes Homem por amor de nós,<br />

para nos salvar e retirar de nossos pecados, eu estava perdido sem vós, e teria sido infalivelmente<br />

condenado aos infernos, se por vossos sofrimentos e por vossa morte não me<br />

tivésseis libertado disso. Esta graça que acabo de receber ao recobrar por vossos méritos<br />

a graça de que infelizmente me tinha privado por meus pecados, este tão grande favor é<br />

que não vos posso agradecer convenientemente. Eu vos devo, ó meu Salvador, toda a<br />

gratidão possível e vossa infinita misericórdia me obriga a publicar alta e bom som que<br />

hoje sois verdadeiramente o meu Salvador. Vós me pusestes novamente no seio da Igreja<br />

da qual eu apenas era um membro morto, e ao mesmo tempo me fizestes participante<br />

de todos os seus bens e de vosso divino Espírito Santo. Devolvestes-me todos os direitos<br />

perdidos e me destes a compreender que viestes para os pecadores e não para os justos,<br />

de vez que estais tão interessado em me devolver a graça e a liberdade dos Filhos de<br />

Deus.<br />

Ato de agradecimento ao Espírito Santo<br />

por nos devolver a pureza de coração<br />

Espírito Santo, que animastes a Jesus Cristo penitente por nossos pecados, que<br />

continuamente incitais os pecadores a se converterem e que mantendes os justos e Santos<br />

no amor da penitência, eu vos agradeço a bondade que tivestes em devolver a meu<br />

coração a pureza interior que faz as vossas delícias e que é o objeto de vossas divinas<br />

complacências e me afastes hoje de meus pecados, depois de eu vos ter expulso por minha<br />

malícia e de maneira inteiramente ultrajante , e de eu vos ter contristado em mim<br />

grande número de vezes por minha desordem interior. Cabe a vós destruir em mim tudo<br />

82


o que resta daquilo que o demônio e todas as inclinações da natureza corrompida ali<br />

colocaram. E como me desviei do caminho certo ao me deixar conduzir por meu espírito<br />

próprio, eu me entrego e submeto a vossa orientação para me manter na graça e me<br />

levar a fazer penitência que meus pecados mereceram e que lhes convém. Não me abandoneis,<br />

eu vos peço. Permiti que eu, de agora em diante, estabeleço este pacto convosco<br />

de que não vos afastareis nunca mais de mim, pois enquanto permanecerdes comigo,<br />

não temo nem os ataques de minhas paixões, nem os esforços da tentação, nem a<br />

tirania do pecado, nem a escravidão do demônio. E assim me asseguro o gozo constante<br />

de uma verdadeira paz e tranqüilidade de coração.<br />

Ato de regozijo com os Anjos e os Santos por ter recobrado a graça<br />

Vós dizeis, ó meu Deus, que todo o céu se rejubila de alegria pela conversão de<br />

um pecador, porque todos os Anjos e Santos que ali moram, alimentam a esperança de<br />

ver aumentar por esse meio o número de vossos Eleitos e seus associados na glória.<br />

Permiti, eu vos peço, que me una a eles para participar de sua alegria como tive parte<br />

em suas orações e que eles contribuíram para me retirar do estado de pecado. É com<br />

muita razão que eu lhes agradeça por isso, e como se interessaram por minha conversão,<br />

a alegria deles comigo seja comum. Com eles adoro vossa divina benignidade para com<br />

os pecadores e a extrema tolerância que tivestes com meus pecados e pela contínua atenção<br />

procurarei ter em todas as minhas ações só a vós em vista e me esforçar para<br />

dissipar as trevas e as nuvens com que meus pecados cobriram e obscureceram meu<br />

coração, para que ele possa aparecer diante de vós numa pureza um pouco semelhante à<br />

deles. O prazer e a alegria que eles sentem aumentam tanto mais quanto maior é o desejo<br />

que têm de minha salvação e o progresso de minha felicidade. Com eles louvo o esquecimento<br />

vosso dos crimes mais enormes, quando um pecador recorre a vós e se relembra<br />

daquilo que vós sois e do que fizestes por ele. Como eles, entro no desígnio de<br />

vossa Divindade, para ali descobrir os sentimentos de ternura que tendes por aqueles<br />

que voltam à graça convosco e para assim gozar dos presentes que lhes fazeis, já que<br />

vós possuís os mais santos e mais eminentes. E como a alegria deles é só um transbordamento<br />

da que vós mesmo sentis, ao abraçar vossa infinita misericórdia, também eu<br />

participo dela na medida em que quiserdes e, como me convidais a isso, tomo a liberdade<br />

de entrar na alegria de meu Senhor e a exemplo de São João Batista, quando foi libertado<br />

do pecado por ocasião da visita de Jesus no seio de sua Mãe, sinto uma consolação<br />

tão grande de vos pertencer e de estar unido a vós por vossa santa graça, de modo<br />

que não posso me impedir de a manifestar por fora. Quero, pois, em união com vossos<br />

Santos, cantar como eles e com eles: "Agora o leão da tribo de Judá venceu o demônio e<br />

triunfou em mim sobre o pecado; rendamos-lhe glória e honra durante toda a eternidade".<br />

Ato de união a Jesus Cristo penitente,<br />

para fazer penitência com e como ele<br />

Divino Jesus que viestes à terra somente para fazer penitência por nossos pecados,<br />

permiti que me una a vós para fazer penitência convosco e em vós. Tenho necessidade<br />

de vosso Divino Espírito para o conseguir, pois, se eu não o possuir, minha penitência<br />

não será sincera, nem verdadeira, nem interior. Ela será eficaz somente na medida<br />

em que me derdes a força para tanto, porque só de vós ela será um transbordamento da<br />

vossa. Dai-lhe, pois, amável Jesus, essas qualidades e todas que lhe convém, para a tor-<br />

83


nar agradável ao Eterno Pai. Fazei que a vossa a cubra com sua sombra, ou, melhor,<br />

que a penetre e anime, porque todo seu mérito só pode provir dos que adquiristes por<br />

vossos sofrimentos e vossa morte. Renuncio, pois, a meu espírito, para me entregar e<br />

abandonar inteiramente à direção de vosso Espírito e a vossa própria, para que, agindo<br />

somente em vós e por vós, a penitência que fizer se torne vossa e que sejais vós que a<br />

façais em mim.<br />

Ato para pedir a Deus a graça de fazer penitência toda nossa vida,<br />

a fim de reparar a Deus por nossos pecados<br />

Visto que ninguém pode firmar-se no bem a não ser na medida em que gostar da<br />

penitência e a praticar, eu vos peço a graça,. ó meu Deus, de não passar um dia sem fazer<br />

alguma penitência por meus pecados. Por mais inocente que tenha sido Jesus Cristo,<br />

vosso Filho único, ele passou nenhum momento sequer em toda sua vida mortal sem<br />

sofrer e sem praticar a penitência. São João, seu precursor, embora livre completamente<br />

e isento de pecado antes de nascer, também só quis aparecer na terra como penitente.<br />

Sabeis, ó meu Deus, que meus pecados são enormes e que não posso, em rigorosa justiça,<br />

satisfazer por um só deles, mesmo se eu sofresse toda minha vida. Dai-me ao menos<br />

o amor aos sofrimentos; fazei que me una às de vosso querido Filho sacrificado por<br />

mim no Calvário. Dai-me uma parte de seu Espírito penitente e fazei que me conforme a<br />

ele na prática da penitência. E, como foi na Cruz que ele se tornou nisto nosso modelo e<br />

foi um perfeito penitente, permiti que eu me o represente muitas vezes nesse estado,<br />

para que, não esquecendo jamais o que ele sofreu por mim, seu exemplo me pressione e<br />

me leve a não parar de fazer penitência até eu deixar de viver. Como vós sois, ó meu<br />

Deus, quem me concede esse desejo, dai-me também a força e a coragem de o executar.<br />

Ato para pedir a Deus a perseverança no bem<br />

Ó meu Deus, será que, depois de ter querido voltar a vós em estado de graça e o<br />

ter recobrado efetivamente, eu poderia conservá-lo apenas por meio-dia, por um dia ou<br />

por pouco tempo? Conheceis minha fraqueza e minha inclinação ao pecado, e que não<br />

posso assegurar, por um só momento, minha estabilidade na piedade. Só vós podeis darme<br />

a perseverança no bem e ninguém a pode conseguir fora da oração e da prática constante<br />

das boas obras. Sei, ó meu Deus, que posso tudo com vosso auxílio; portanto, para<br />

que não me falte a vontade, tornai-a, eu vos peço, eficaz, dando-me a graça de fazer<br />

continuamente e sem negligência tudo o que mandais. Fazei que me apegue tão bem aos<br />

deveres de meu estado e de meu emprego, que nunca me exima deles seja por que for.<br />

Que eu me torne sempre fiel em praticar o bem que tiverdes a bondade de me inspirar;<br />

que caminhe com tanta presteza e decisão no caminho de todos os vossos santos Mandamentos<br />

que eu não encontre nada difícil para mim. Somente vós, ó meu Deus podeis<br />

produzir em meu coração esta disposição; dai-me, pois, para isso uma graça tão abundante<br />

que nada do que desejardes dele se lhe oponha, e fazei-o completamente dócil a<br />

vossa vontade.<br />

84


EXAME DE CONSCIÊNCIA<br />

QUE SE DEVE FAZER ANTES DA CONFISSÃO<br />

Sobre cada pecado, é preciso examinar-se, quantas vezes foi cometido,<br />

porque há a obrigação de o declarar ao Confessor.<br />

Sobre o primeiro Mandamento de Deus<br />

Pecados menos ordinários<br />

Se não quis acreditar em tudo o que a Igreja nos manda crer.<br />

Se leu livros heréticos.<br />

Se, por negligência, ignorou os principais mistérios da Fé.<br />

Se consultou adivinhos.<br />

Se procurou curar doenças de homens, ou animais por meio de sinais, bilhetes, palavras,<br />

atos de superstição.<br />

Se cometeu pecados mais livremente, confiando demais na misericórdia de Deus, ou se<br />

desesperou de obter o perdão dos pecados.<br />

Se acusou Deus de ser a causa de seus pecados, dizendo que não lhe deu a graça necessária<br />

para não cair neles.<br />

Se permaneceu muito tempo em pecado mortal sem se preocupar com recuperar a graça<br />

de Deus.<br />

Se desviou outras pessoas do serviço de Deus, ou as levou a cometer algum pecado,<br />

qual, e quantas pessoas.<br />

Se riu ou zombou dos sacerdotes ou religiosos, ou dos que praticam a devoção.<br />

Se fez alguma Confissão má: se foi por não se ter examinado bastante, ou por não ter<br />

dito todos os seus pecados, ou por ter permanecido em algum mau hábito ou alguma<br />

ocasião de ofender a Deus.<br />

Se recebeu algum outro Sacramento em pecado mortal, qual?<br />

Se não confessou e não comungou pela Páscoa.<br />

Pecados mais ordinários<br />

Se negligenciou de fazer atos de fé, esperança e caridade para com Deus.<br />

Se no dever e na possibilidade de impedir alguma pessoa de praticar o mal, não fez nada.<br />

Se faltou de modéstia na igreja, se nela andou passeando, se conversou nela sem necessidade,<br />

se nela teve uma atitude indecente.<br />

Se não cumpriu a penitência imposta pelo Confessor.<br />

Se procurou um Confessor condescendente em dar a Absolvição, ou que não o conhece.<br />

Se deixou de rezar de manhã ou de tarde, de joelhos e com piedade, se esta falta foi ordinária.<br />

Sobre o segundo mandamento de Deus<br />

Pecados menos comuns.<br />

Sempre se deve declarar que juramento se fez.<br />

85


Se jurou para afirmar alguma coisa falsa ou sem saber que era verdadeira ou falsa.<br />

Se usou de equívoco ao responder a um juiz.<br />

Se jurou fazer alguma coisa, sem intenção de o fazer.<br />

Se prometeu com juramento alguma coisa e não o executou.<br />

Se proferiu palavras injuriosas ou de desprezo ou de despeito contra Deus ou contra<br />

algum Santo ou Santa.<br />

Se depois de ter feito um voto ou alguma promessa a Deus, não a cumpriu.<br />

Pecados mais comuns<br />

Se jurou desejando o mal a si mesmo ou a outros, qual foi o mal desejado.<br />

Se jurou com ameaças.<br />

Se jurou sem necessidade.<br />

Se lançou alguma maldição, a quem?<br />

Sobre o terceiro mandamento de Deus<br />

Pecados menos ordinários<br />

Se, nos domingos e festas realizou alguma ação proibida, por exemplo, se vendeu, comprou<br />

ou veiculou alguma coisa, se fez o mercado, se participou da feira, ou da Campanha<br />

de negócios, ou se procurou trabalho, etc.<br />

Se fez trabalhar seus empregados ou outras pessoas sem necessidade, por quanto tempo.<br />

Se profanou os domingos ou as festas por meio de jogos, danças, indecências ou outras<br />

desordens, que tipo de desordens.<br />

Se não impediu essas profanações quando podia ou devia fazê-lo.<br />

Se não participou da santa Missa, quer inteira, quer em parte, ou se expôs ao perigo de<br />

não poder participar dela.<br />

Se assistiu a Missa ou o culto divino com má intenção.<br />

Se ao assistir a santa Missa pensou voluntariamente coisas más ou inúteis.<br />

Se durante esse tempo leu livros de Oração.<br />

Se então conversou, a quantas pessoas; se ficou olhando para todos os lados.<br />

Se negligenciou a assistência à Missa paroquial, às Vésperas, e às instruções que então<br />

se transmitem<br />

Sobre o quarto mandamento de Deus<br />

<strong>PARA</strong> OS PAIS E AS MÃES<br />

Pecados menos comuns<br />

Se os pais e as mães mandaram ou aconselharam a seus filhos fazerem alguma ação má,<br />

ou se a aprovaram ou louvaram depois de a terem feito.<br />

Se lhes deram mau exemplo: como se blasfemaram ou amaldiçoaram, ou dito palavras<br />

desonestas na presença deles, etc.<br />

Se não tiveram cuidado em ganhar a vida para seus filhos e em tudo o que respeita sua<br />

subsistência e sua manutenção.<br />

86


Se os fizeram dormir na cama consigo.<br />

Se procuraram para eles alguma renda para os enriquecer somente.<br />

Pecados mais ordinários<br />

Se os pais e as mães não tiveram cuidado em educar seus filos no temor de Deus, de os<br />

fazer rezar de joelhos pela manhã e à tarde, de lhes fazer aprender o Catecismo, de os<br />

corrigir quando cometeram alguma falta.<br />

Se preferiram algum de seus filhos aos outros.<br />

Se os educaram na vaidade e conforme o espírito mundano.<br />

Se os fizeram dormir juntos ou permitiram que dormissem juntos, principalmente os<br />

meninos com as meninas, e em que idade.<br />

Se os amaldiçoaram e bateram com cólera.<br />

<strong>PARA</strong> OS FILHOS<br />

Pecados menos ordinários<br />

Se ergueram ou quiseram erguer a mão contra seus pais.<br />

Se pegaram algum dinheiro ou outra coisa deles.<br />

Se deixaram de assistir seus pais na necessidade.<br />

Se falaram deles com desprezo.<br />

Se os desprezaram no seu íntimo.<br />

Se lhes disseram injúrias ou zombaram deles.<br />

Se desejaram a morte deles.<br />

Se não rezaram por eles depois de falecidos.<br />

Se não executaram fielmente suas últimas vontades.<br />

Pecados mais comuns<br />

Se faltaram de respeito diante de seu pai ou de sua mãe, em quê.<br />

Se falaram com eles ou deles falaram sem respeito.<br />

Se lhes desobedeceram, em quê.<br />

Se lhes deram motivo de terem raiva.<br />

<strong>PARA</strong> PESSOAS CASADAS<br />

Pecados menos ordinários<br />

Se observaram a castidade e honestidade própria das pessoas casadas.<br />

Se falaram injúrias ou amaldiçoaram.<br />

Se o marido malbaratou seus bens, ou os de sua mulher, ou os dos filhos.<br />

Pecados mais comuns<br />

Se perturbaram a paz de sua família por sua impaciência ou seu mau humor.<br />

Se se amaram tanto quanto o devem.<br />

<strong>PARA</strong> PATRÕES E PATROAS<br />

87


Pecados menos ordinários<br />

Se mandaram seus empregados trabalhar, quer em excesso, quer nos domingos e festas.<br />

Se deixaram de lhes pagar seus salários.<br />

Pecados mais comuns<br />

Se negligenciaram a salvação de seus empregados.<br />

Se entraram em cólera contra eles.<br />

Se os bateram.<br />

<strong>PARA</strong> OS EMPREGADOS E EMPREGADAS<br />

Pecados menos ordinários<br />

Se causaram prejuízo a seu patrão ou sua patroa, ou permitiram que alguém lhes causasse.<br />

Se os odiaram ou desprezaram<br />

Se os amaldiçoaram.<br />

Se desejaram a morte deles ou alguma desgraça.<br />

Se cooperaram com seu patrão em alguma ação má.<br />

Pecados mais comuns<br />

Se murmuraram contra seu patrão ou sua patroa.<br />

Se lhes deram ocasião de ficarem magoados.<br />

Se não obedeceram de boa vontade ou lhes desobedeceram.<br />

Se falaram mal de seu patrão ou de sua patroa.<br />

Sobre o quinto mandamento de Deus.<br />

Pecados menos ordinários<br />

Se bateu, feriu ou matou, ou se teve vontade de fazer uma e outra coisa.<br />

Se desejou a morte ou a perda de algum bem.<br />

Se teve ódio ou alguma inimizade, quanto tempo durou.<br />

Se por ódio não quis olhar ou saudar ou falar a alguém.<br />

Se não quis se reconciliar.<br />

Se se alegrou com o mal de seu próximo.<br />

Pecados mais comuns<br />

Se deixou de dar sinais de amizade a alguém, como a seus parentes<br />

Se praticou atos desonestos.<br />

Se desejou praticar algum.<br />

Sobre o sexto e nono mandamento de Deus<br />

88


Se teve prazer em se representar coisas ou ações desonestas.<br />

Se olhou com prazer coisas desonestas.<br />

Se beijou com sensualidade.<br />

Se tocou em si ou em outros com prazer desonesto, em que espécie de pessoas.<br />

Se pronunciou palavras sujas, ou se deliciou em escutá-las.<br />

Se cantou canções desonestas e se foi na presença de outras pessoas.<br />

Se guarda em casa imagens desonestas e se elas foram ocasião de pensamentos desonestos.<br />

Se leu maus livros.<br />

Se ajudou a outros, por conselho ou de outro modo, a cometer pecados desonestos.<br />

Se usou roupas contrárias ao pudor e à honestidade.<br />

Se guarda ou guardou algumas cartas ou ouros sinais de amizade criminosa.<br />

Sobre o sétimo e o décimo mandamento de Deus<br />

Se tomou ou roubou alguma coisa, e o quê.<br />

Se restituiu o que tinha tomado ou o que tinha, mas pertencia ao próximo.<br />

Se permaneceu por algum tempo com vontade de não o devolver e por quanto tempo.<br />

Se causou prejuízo a alguém, se fez reparação, mesmo se não tivesse tido vantagem.<br />

Se mandou ou aconselhou provocar mal ou prejuízo ao próximo e que mal.<br />

Se trapaceou no jogo.<br />

Se encontrou alguma coisa e a reteve sem querer devolvê-la ou sem se dar ao trabalho<br />

de saber a quem pertence.<br />

Se desejou ter um bem de outro de maneira injusta.<br />

Se desejou a morte ou algum mal para esse fim.<br />

Se cobrou a mais ou pagou a menos do que a coisa valia.<br />

Se vendeu mais caro do que vale um objeto por causa do crédito.<br />

Se comprou alguma coisa na dúvida de que podia ser objeto roubado.<br />

Se comprou alguma coisa dos que não têm direito de vender, como das crianças da família,<br />

dos empregados, etc.<br />

Se o vendedor enganou ao vender uma mercadoria em vez de outra, falsificando ou misturando<br />

e escondendo seus defeitos.<br />

Se numa compra foi enganado e procura enganar também os outros.<br />

Se usaram pesos e medidas falsos.<br />

Se procuraram impedir o lucro dos outros falando mal da mercadoria deles.<br />

Se os artífices não trabalharam fielmente, se fizeram mal o trabalho, se o venderam mais<br />

caro do que valia.<br />

Se empregaram os materiais conforme a qualidade e a quantidade combinada.<br />

Se não retiveram coisas que lhes foram confiadas sob pretexto de não ganharem bastante.<br />

Se os operários diaristas empregaram o tempo devido.<br />

Sobre o oitavo mandamento de Deus<br />

Se mentiu, causando prejuízo a alguém, quer para lhe agradar, quer para rir.<br />

Se repreendeu os defeitos de alguém, se eram verdadeiros ou falsos, conhecidos ou secretos,<br />

se foi em particular.<br />

Se falou mal de alguém com desprezo.<br />

Se causou divisão entre pessoas por meio de mexericos.<br />

89


Se revelou segredos, se abriu ou leu cartas dos outros.<br />

Se ralhou com alguém e por que motivo.<br />

Se escutou falar mal dos outros, se foi com prazer ou por respeito humano.<br />

Se julgou temerariamente alguém e em quê.<br />

Se revelou aos outros o que se pensava deles.<br />

Sobre os sete vícios capitais<br />

Sobre o orgulho<br />

Se teve estima demasiada de si mesmo; por que motivo, se enalteceu a si mesmo, se<br />

desprezou os outros.<br />

Se quis elevar-se acima dos outros.<br />

Se desejou ser estimado pelos homens e se praticou boas obras para esse fim.<br />

Se desejou algum emprego ou alguma dignidade para ser mais considerado.<br />

Se quis parecer melhor do que é.<br />

Se preferiu as idéias pessoais às dos outros.<br />

Sobre a avareza<br />

Se tem apego aos bens do mundo.<br />

Se pensou na maior parte do tempo somente em ganhar ou amontoar bens.<br />

Se foi duro para com os pobres.<br />

Se lhes recusou a esmola quando estavam em necessidade e podia fazê-lo.<br />

Aqui não se coloca nenhum artigo sobre o que respeita a impureza, porque o<br />

que a isto se refere já ficou exposto acima, ao se tratar desse pecado que se podem cometer<br />

contra o 6º e o 9º mandamento de Deus.<br />

Sobre a inveja<br />

Se sentiu satisfação pelo mal que aconteceu a alguém.<br />

Se sentiu pena porque o outro teve bom êxito em seus negócios, ou porque era estimado<br />

pelos homens, ou que porque tinha mais virtude e mais inteligência do que ele mesmo.<br />

Sobre a gula<br />

Se comeu sem necessidade e em excesso, se o fez em se interessando pela saúde, ou<br />

perdendo a razão, se foi com escândalo.<br />

Se em estado de embriaguez cometeu algum pecado, qual.<br />

Se quis embriagar os outros ou se foi causa de se tenham embriagado, quer por incitamento,<br />

quer pela venda de vinho, quando já tinham bebido bastante.<br />

Se bebeu ou comeu somente por prazer, quer ao procurar pratos finos ou ao prepará-los<br />

com demasiado cuidado.<br />

Se comeu comidas proibidas em dia de sexta-feira ou sábado, ou nos dias de jejum.<br />

Se não jejuou nos dias de obrigação, o que foi que o impediu.<br />

Se comeu além da medida ou outras coisas não permitidas nas colações.<br />

Se foi causa por que os outros não jejuaram.<br />

90


Se foi levado à raiva ou à impaciência ou ao mau humor.<br />

Se em algum momento de raiva disse algumas palavras chocantes ou injuriosas ou se<br />

repreendeu com azedume, discutiu ou bateu.<br />

Se se vingou de alguém por irritação ou por processo.<br />

Sobre a preguiça<br />

Se empregou o tempo em fazer mal, ou não fazer nada, ou em fazer coisas inúteis.<br />

Se está enjoado do serviço de Deus e se isto impediu que praticasse boas obras, e quais.<br />

Se, por negligência ou preguiça deixou de fazer ações obrigatórias.<br />

91


<strong>INSTRUÇÕES</strong> E <strong>ORAÇÕES</strong><br />

<strong>PARA</strong> A COMUNHÃO<br />

______________________________________________________________________<br />

E X P O S I Ç Ã O<br />

Da doutrina da Igreja acerca do Sacramento da Eucaristia<br />

Para alguém se pôr em estado de receber bem o Sacramento da Eucaristia, a<br />

primeira coisa a que se deve aplicar é saber qual é a doutrina da Igreja a respeito deste<br />

Sacramento. Pois é preciso estar perfeitamente instruído nela se quiser tirar proveito. E<br />

esta é a primeira preparação que deve ter para se chegar a este Sacramento<br />

Este Sacramento se chama Eucaristia, que significa Graça, ou ação de graças, é<br />

um Sacramento que contém o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus Cristo<br />

Nosso Senhor, tudo sob as aparências de Pão e de Vinho.<br />

Por aparências de Pão e de Vinho entende-se o que faz que o Corpo e o sangue<br />

de Jesus Cristo na Eucaristia pareçam pão e vinho a nossos olhos e a nossos sentidos,<br />

tais como o sabor, a cor, a forma redonda, etc.<br />

Embora a matéria que serve para fazer este Sacramento seja pão e vinho, a Igreja<br />

nos obriga a crer que, depois que o sacerdote (o ministro deste Sacramento) pronunciou<br />

as palavras da Consagração, tanto sobre o pão como sobre o vinho, não há mais nem<br />

pão nem vinho, mas que o pão foi mudado no Corpo e o vinho no Sangue de Jesus Cristo.<br />

E que o que parece a nossos olhos ser pão é o verdadeiro Corpo e o verdadeiro Sangue<br />

de Jesus Cristo, que estão escondidos sob as aparência do pão e do vinho.<br />

A transformação do pão no Corpo e do vinho no Sangue de Jesus Cristo acontece<br />

na santa Missa, quando o sacerdote pronunciou sobre o pão estas palavras: Isto é meu<br />

Corpo e sobre o vinho estas outras: Isto é o cálice de meu Sangue. Esta transformação<br />

chama-se Transubstanciação, palavra que significa a mudança de uma substância em<br />

outra substância.<br />

O Sangue de Jesus Cristo está contido sob as aparências do Pão bem como seu<br />

Corpo; e o Corpo de Jesus Cristo, da mesma forma, está contido sob as aparências do<br />

vinho, porque Jesus Cristo está vivo e assim seu Corpo e seu Sangue não podem estar<br />

separados um do outro.<br />

Muito mais, quando se comunga sob as aparências do pão e do vinho, como o<br />

sacerdote na Missa, não se recebe mais do que quando se comunga somente sob as aparências<br />

do pão, como fazem os leigos; porque não há sob as duas espécies mais do que<br />

sob uma só, nem sequer em todas as Hóstias consagradas do que em uma só. Por isso<br />

por menor que seja a partícula de uma Hóstia que se recebe, recebe-se o Corpo de Jesus<br />

Cristo inteiro, porque o Corpo de Jesus Cristo, embora maior do que a Hóstia, está contudo<br />

inteiro na Hóstia e em cada pedacinho da Hóstia, por menor que seja. Por este<br />

mesmo motivo é que, ao romper uma Hóstia, o Corpo de Jesus Cristo permanece tão<br />

inteiro em cada uma das partículas rompidas ou caídas desta Hóstia, como estava em<br />

toda a Hóstia antes de ser dividida.<br />

Tudo isto acontece pelo poder de Deus que se manifesta de maneira surpreendente<br />

neste Sacramento.<br />

92


Não se pode ver o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo na Eucaristia. O que se vê,<br />

o que se toca e o que se saboreia são apenas as aparências do pão e do vinho. Contudo<br />

come-se verdadeiramente o Corpo de Jesus Cristo e assim que as aparências do pão se<br />

corrompem no estômago, Jesus Cristo cessa de estar presente em nós de corpo, ainda<br />

que permaneça por sua graça tanto tempo que nos abstemos de ofender a Deus mortalmente.<br />

Dos fins da Instrução sobre o Sacramento da Eucaristia<br />

e da obrigação de o receber<br />

Quando Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Eucaristia teve somente em vista<br />

procurar o bem espiritual de nossas almas. A primeira intenção que teve foi dar-nos e<br />

deixar-nos para todo sempre, como ele mesmo afirmou, alguns sinais sensíveis de seu<br />

grande amor para conosco. com efeito, podia ele mostrar-nos melhor isso, do que dando<br />

seu Corpo para comer e seu Sangue a beber? Ficamos-lhe devendo muito por nos ter<br />

dado tão grande honra.<br />

Outra intenção que Jesus Cristo teve ao instituir este Sacramento foi dar-nos um<br />

meio fácil para nos lembrar de sua paixão e morte, para que, tendo muitas vezes em<br />

nosso espírito a recordação de seus benefícios, fôssemos fortemente excitados a não cair<br />

no pecado e fazer penitência pelos que cometemos.<br />

Como ele colocou seu Corpo neste Sacramento sob as espécies de pão e seu<br />

Sangue sob as espécies de vinho, ele no-lo deu particularmente para servir de alimento<br />

para nossas almas. É por isso que não nos podemos dispensar de o receber, porque nossas<br />

almas como nossos corpos têm necessidade de se alimentar para viver bem. É o que<br />

faz que na Igreja sempre se considerou a recepção do Corpo de Jesus Cristo na Eucaristia<br />

como um exercício de religião e uma ação obrigatória; e porque se chama esta ação<br />

com o nome de comunhão, termo de que São Lucas se serve nos Atos dos Apóstolos.<br />

Porque nesta ação os cristãos manifestam a união que têm juntos ao comerem o mesmo<br />

pão e que se unem também intimamente a Jesus Cristo ao receberem seu sagrado Corpo<br />

sob as espécies ou aparências do pão.<br />

Na Igreja primitiva, os cristãos comungavam muitas vezes. Nos Atos dos Apóstolos<br />

até se diz que os primeiros discípulos o faziam todos os dias. E foi o costume universal<br />

durante vários séculos que todos os fiéis comungassem em todas as Missas a que<br />

assistiam, como consta de um Decreto atribuído ao papa S. Anacleto, que todos comungavam<br />

depois da Consagração, se não queriam ser expulsos da Igreja, porque assim o<br />

prescreveram e tal é a prática da Igreja romana. Contudo nisto não há um mandamento<br />

positivo da Igreja que obrigasse a comungar; aliás o fervor dos fiéis era tão grande que<br />

não tinham necessidade que se lhes mandasse cumprirem esse dever.<br />

As coisas não ficaram assim no correr do tempo, pois os cristãos se relaxaram<br />

muito, por isso vários Concílios foram obrigados a ordenar que se comungasse ao menos<br />

três vezes por ano, pela Páscoa, por Pentecostes e no Natal. E como estes mandamentos<br />

não foram cumpridos exatamente, o Concílio do <strong>La</strong>trão celebrado em 1215 se<br />

contentou com obrigar os fiéis a comungar ao menos uma vez por ano no tempo pascal,<br />

sob pena de pecado mortal, e este mandamento foi posteriormente renovado e confirmado<br />

pelo Concílio de Trento.<br />

Para satisfazer essa obrigação, imposta aos fiéis pela Igreja, é preciso que todos<br />

comunguem em sua Paróquia e estejam em estado de graça. Pois não se cumpre o dever<br />

da Comunhão pascal por uma Comunhão indigna, que a Igreja e Jesus Cristo mesmo só<br />

podem considerar com horror.<br />

93


Das vantagens que há em receber muitas vezes<br />

o Corpo de Jesus Cristo na Eucaristia, e dos efeitos<br />

que este Sacramento produz em nós<br />

Embora a Igreja obrigue os fiéis a comungarem somente uma vez por ano, sua<br />

intenção não é que comunguem tão raramente. O Concílio de Trento nos assegura que<br />

todo seu desejo é que tenham tão grande respeito e tal devoção para com este adorável<br />

Sacramento, que estejam em estado de o receber muitas vezes para que ele seja a vida e<br />

o sustento de sua alma e que, sustentados por seu vigor e por sua força, possam passar<br />

desta miserável vida para a Pátria celeste, para ali comer o mesmo pão dos anjos. Daí se<br />

deve concluir que a Igreja quer que os cristãos, para comungarem muitas vezes, tenham<br />

uma piedade que não seja comum, e que o principal fruto que se tira de uma Comunhão<br />

freqüente está em que ela é o sustento de nossa alma e que, pelo vigor que lhe comunica,<br />

ajuda de tal maneira a conservar a graça, que a coloque numa espécie de segurança<br />

da vida eterna.<br />

Ao querer expor quantas vezes cada um deve comungar, São Francisco de Sales<br />

expõe as diferentes disposições que alguém deve ter para comungar mais ou menos freqüentemente.<br />

Ele diz, conforme S. Agostinho, que não louva nem censura os que comungam<br />

todos os dias; mas aconselha que comunguem todos os domingos e que ninguém<br />

deve passar um mês sem comungar. E acrescenta que, para comungar todos os<br />

meses, é preciso estar livre do costume de pecado mortal; para comungar todos os domingos,<br />

deve-se não ter nem pecado mortal nem apego ao pecado venial e que, para<br />

comungar todos os dias, é preciso além disso ter vencido a maior parte de suas más inclinações<br />

e só o fazer a conselho de um Confessor prudente e esclarecido.<br />

As principais vantagens que uma alma tem por uma Comunhão freqüente nos<br />

são citadas pelo Concílio de Trento, quando diz que Jesus Cristo, ao instituir este Sacramento<br />

para alimento espiritual de nossas almas, é bom para as entreter e fortificar<br />

fazendo-as viver da própria vida de Jesus Cristo que disse: Quem me come, viverá por<br />

mim. E como a inclinação que nossa alma tem para o pecado é tão forte que continuamente<br />

precisa ser sustentada e procurar novas forças para não sucumbir nas tentações<br />

que todos os dias a atacam, é de suma importância comer freqüentemente este pão de<br />

vida.<br />

O Concílio de Trento diz ainda que, ao participar deste Mistério sagrado, temos<br />

a vantagem de encontrar nele um antídoto pelo qual ficamos livres de nossas faltas diárias<br />

e preservados dos pecados mortais.<br />

Esta Comunhão do Corpo de Jesus Cristo, conforme o mesmo Concílio, também<br />

é um penhor da glória futura e da felicidade eterna, porque a posse de Jesus Cristo e a<br />

união que temos com ele na Eucaristia é uma disposição para a felicidade que gozaremos<br />

no céu, onde possuiremos a Deus em si mesmo visível e eternamente.<br />

Ela também é o símbolo da unidade do Corpo da Igreja cuja cabeça é Jesus Cristo,<br />

à qual ele quis que estivéssemos unidos como membros estreitamente juntos e reunidos.<br />

Ela nos une mesmo tão intimamente com Jesus Cristo que, depois de ter comido<br />

seu Corpo sagrado, estamos nele e ele em nós como ele o diz no santo Evangelho, e nos<br />

tornamos, por assim dizer, uma só coisa com ele.<br />

Portanto, é de grande importância comungar muitas vezes para tirar proveito de<br />

todas essas vantagens.<br />

94


Das disposições que se deve ter<br />

para receber bem o Sacramento da Eucaristia<br />

Para comungar bem deve-se ter duas espécies de disposições: umas são de necessidade;<br />

outras são de conveniência.<br />

As disposições de necessidade são aquelas sem as quais nunca se deve comungar<br />

e não é permitido fazê-lo sem sacrilégio.<br />

Há duas disposições desta natureza que são: não ter nenhum pecado mortal e estar<br />

em jejum.<br />

Os que comungam em pecado mortal cometem um sacrilégio que é um pecado<br />

dos mais enormes que se possam cometer e que os Santos Padres comparam ao crime de<br />

Judas e dos judeus que crucificara Nosso Senhor. Por isso, os que querem comungar e<br />

que cometeram algum pecado mortal devem antes se confessar.<br />

Para poder comungar deve-se também não ter comido nem bebido nada por menos<br />

que seja, desde a meia noite do dia em que se quer comungar. Na falta disso se cometeria<br />

um pecado menor do que se comungasse em pecado mortal. Os doentes, contudo,<br />

podem receber o Sacramento da Eucaristia, contanto que seja como viático, sem<br />

estar em jejum.<br />

As disposições de conveniência para comungar bem são as que não são tão necessárias<br />

a ponto de cometer um sacrilégio quando não existem, mas são muito desejáveis<br />

que existam para receber as graças com abundância neste Sacramento e sem as<br />

quais se aconselha que não se lhe aproximem.<br />

A primeira dessas disposições é não ter pecado venial, pois seria contristar Jesus<br />

Cristo recebê-lo com um coração que não estivesse totalmente livre do pecado.<br />

A segunda é ter uma intenção muito pura, não se aproximando da mesa sagrada<br />

por respeito humano, nem por qualquer desejo secreto de ser estimado, nem sequer para<br />

conseguir mais consolações espirituais. Todas essas intenções são indignas de um ato<br />

tão santo.<br />

A terceira é ter uma grande fé. Porque este Sacramento é um mistério de fé. Jesus<br />

Cristo somente derrama com abundância suas graças naqueles que o recebem com<br />

plenitude de fé.<br />

A quarta é um temor respeitoso que vem da compenetração que temos de nossa<br />

indignidade em vista da grandeza e da majestade infinita de um Deus que vamos receber<br />

e de nosso nada e de nossos pecados, que devem dar-nos ocasião de nos humilhar e confundir.<br />

A quinta é um amor ardente a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo que nos deve<br />

fazer desejar unir-nos com ele neste Sacramento.<br />

A sexta é um grande fervor que nos coloque no estado de comungar com a maior<br />

devoção possível.<br />

Mas uma disposição que parece mais do que conveniente é preparar bem seu coração<br />

antes de receber a Jesus Cristo na Eucaristia e agradecer-lhe durante um tempo<br />

bastante longo, como mais ou menos meia hora depois de ter comungado; pois é uma<br />

vergonha e sinal de pouco amor a Deus e fé no Sacramento da Eucaristia, apresentar-se<br />

à mesa sagrada sem preparação alguma e sair da igreja logo depois ou quase logo depois<br />

de ter comungado. Seria muito melhor não comungar do que agir assim.<br />

Esta preparação e ação de graças que se devem fazer para a santa Comunhão deve<br />

especialmente consistir em fazer vários atos fervorosos acerca da felicidade e da graça<br />

que se vai receber ou que se acaba de receber na comunhão.<br />

95


Como muitas pessoas não têm a facilidade de fazer por si mesmas essa espécie<br />

de atos, organizou-se um número suficiente deles para poderem ocupar o espírito e animar<br />

o coração durante um espaço bastante longo de tempo. São os que se encontram a<br />

seguir.<br />

__________________________________________________________<br />

<strong>ORAÇÕES</strong> <strong>PARA</strong> ANTES DA COMUNHÃO<br />

Ato pelo qual se reconhece que a santíssima Comunhão<br />

é um sumo remédio para todas as misérias<br />

e todas nossas fraquezas<br />

Vós me conheceis, ó meu Deus, sabeis que sou a mais frágil de vossas criaturas,<br />

a mais fácil a cair no pecado, a mais insensível quando se encontra nesse estado, e a<br />

mais fraca para sair dele. Eu vos exponho minhas fraquezas que conheceis melhor do<br />

que eu mesmo, para que me concedais o vigor necessário para me levantar de minhas<br />

quedas, para me manter no bem e para não mais cair em minhas desordens. Vosso amor,<br />

ó meu Deus, vos fez encontrar um remédio infalível para todos os meus males; e este<br />

remédio foi enviar vosso amado e único Filho a este mundo para sofrer e morrer por<br />

nós, e por um sinal inconcebível de vossa Sabedoria quisestes deixá-lo sempre conosco<br />

no Sacramento da Eucaristia, para renovar a lembrança de sua paixão e morte e para se<br />

entregar todo a nós na santíssima Comunhão. Divino Jesus, é nisso que, ao tomardes<br />

posse de toda minha alma, me dais uma força que não posso esperar senão de vós. É<br />

nisso que me devolveis uma vida nova que me torna capaz de fazer ações dignas de vós<br />

e agradáveis a Deus. É isso que faz que eu considere este bem como a maior vantagem<br />

que eu possa possuir na terra. É também o que faz que eu não possa tardar mais tempo<br />

sem vos receber e recorrer a um remédio tão poderoso. Vós sabeis quais são as disposições<br />

que devo ter para tirar proveito de tudo isso. Colocai-me nessas disposições e fazei<br />

que elas sejam tais como vós as desejais.<br />

Ato pelo qual se reconhece quais são<br />

as disposições necessárias para comungar<br />

Se é verdade, ó meu Salvador Jesus, que as principais disposições que precisam<br />

estar em meu coração para vos receber na santa Comunhão são uma grande pureza interior,<br />

um amor ardente para convosco, uma devoção terna para vos apresentar meus deveres<br />

e uma afeição toda particular pela virtude, quem é que me dará todas essas graças<br />

senão vós, Divino Jesus, ao vos receber? E se é necessário possuí-las antes de vos receber,<br />

é porque sem dúvida cabe a vós produzi-las em meu coração, visto que sabeis que<br />

não posso tê-las por mim mesmo. Vós o podeis num instante pois até esse ponto sois o<br />

dono dos corações. A mim cabe dispor meu coração para vo-lo oferecer contrito e humilhado.<br />

Contudo, não é a vós que cabe dar-me essa contrição? Tudo o que posso, ó meu<br />

Deus, é vo-la pedir; mas como é que poderei vo-la pedir, se vós não me derdes esse Espírito<br />

de Oração que é vosso divino Espírito, que quer rezar em mim e por mim? Vedes,<br />

ó meu Deus, o que posso, e que não posso mais do que sou, nada diante de vós e em<br />

vossa presença. E assim, toda a preparação que posso ter para vos receber neste adorá-<br />

96


vel Sacramento é dizer-vos: "Meu coração, Senhor, está preparado para receber vossas<br />

graças; purificai-o vós mesmo, e tornai-o digno de ser o lugar em que ides morar.<br />

Ato pela qual se pede a Deus a pureza de coração,<br />

que é a primeira disposição que se deve ter para comungar bem<br />

É muito correto, ó meu Deus, que quem pretende receber a própria Santidade<br />

deve ter a Santidade dentro de si, e que vós, a Santidade por essência, somente morais<br />

num coração santo. pois é preciso que haja proporção entre quem recebe e quem é recebido.<br />

Libertastes-me do pecado pela Confissão que fiz de todos os que cometi, libertaime<br />

também de tudo o que resta em mim de pecado; fazei que em mim não reste mais<br />

nem hábito, nem inclinação ao pecado, e que, desde agora, eu sinta tanto horror ao pecado,<br />

que nada seja capaz de me levar a cometê-lo no futuro. Fazei que só haja em meu<br />

espírito pensamentos santos e em meu coração só afeições santas. Que de minha boca<br />

somente saiam palavras santas, e que eu consiga colocar-me em situação de nunca fazer<br />

ações que vos desagradem. E como quereis que meu coração vos receba e que ele deve<br />

ser santo para vos receber, dai-lhe, ó meu Salvador, o que desejais dele.<br />

Ato pelo qual se pede a Deus um ardente amor a ele,<br />

que é a segunda disposição para comungar bem<br />

É por amor, Divino Jesus, que no adorável Sacramento do Altar, vos dais a nós.<br />

Também a instituição deste Sacramento é efeito de vosso grande amor para conosco.<br />

Que disposições santas posso eu ter para vos receber nele, a não ser amar-vos de todo o<br />

meu coração e vos dar amor por amor? Esta também é a disposição em que quero procurar<br />

me colocar agora com o socorro de vossa santa graça. Sim, meu Deus, quero vos<br />

amar e não quero viver senão para vos amar, porque me criastes para vós. Será que poderia<br />

haver alguma coisa que eu possa amar neste mundo? As criaturas não são capazes<br />

de me contentar e somente vós podeis encher e saciar meu coração. Enchei-o, pois, hoje<br />

e desde este momento com a abundância de vosso santo amor, para que, ao entrar em<br />

mim como um Deus de amor, encontreis um coração cheio de amor, que seja capaz de<br />

se unir totalmente a vós, e permanecer sempre unido convosco.<br />

Ato pelo qual se pede a Deus uma devoção terna<br />

para com Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />

terceira disposição para comungar bem<br />

Eis me aqui, ó meu Salvador Jesus, para vos apresentar meus respeitos, para me<br />

dispor a vos receber. Já que quereis honrar-me com vossa presença, quereis também que<br />

eu vos honre por meus respeitos e minha mais humilde adoração. É verdade que a honra<br />

que vos dou é bem pouca coisa, mas supri, eu vos peço, por vossa bondade e por vosso<br />

amor para comigo, e colocai-me na disposição de vo-lo apresentar tal como vós o desejais.<br />

Que outra homenagem poderei apresentar-vos do que aniquilar-me diante de vós e<br />

publicar em alta voz a vossa excelência neste adorável Sacramento? Todas as criaturas<br />

dobram o joelho na presença deste incompreensível Mistério: os Anjos se prosternam<br />

profundamente para vos apresentar seus deveres, cobrem suas faces deslumbrados por<br />

vossa glória resplendente que possuís. E eu, miserável pecador que sou, que atitude em<br />

que estado poderei apresentar-me diante a vossa presença. Vou esconder-me no mais<br />

profundo abismo para não mais aparecer, para destruir tudo o que há de mim mesmo, e<br />

97


dispor-me a receber com abundância na Sagrada Comunhão a comunicação de vossas<br />

graças.<br />

Ato pelo qual se pede a Deus um grande afeto para a virtude,<br />

quarta disposição para comungar bem<br />

Divino Jesus, que sentis prazer em fazer subir de virtude em virtude os que gostam<br />

de comungar e comungam muitas vezes. Concedei-me a graça de comungar hoje<br />

somente na intenção de obter dela e possuir alguma. Estas são as riquezas e os tesoures<br />

de que devo me enriquecer nesta vida, porque são os únicos que me restarão na outra e<br />

me servirão para vos possuir. Será que há alguma coisa mais capaz de me os procurar<br />

fora de me unir a vós na santa Comunhão? Será também que há alguma coisa que vós<br />

quereis dar com mais gosto? Disponde, eu vos peço, meu coração e fazei que não haja<br />

nada nele capaz de pôr obstáculo a isso, para que eu possa receber hoje na Comunhão,<br />

aquela que vos aprouver preparar para mim em toda sua extensão e toda sua pureza. Vós<br />

sabeis qual é a que me convém mais e da qual agora tenho mais necessidade. Esta é que<br />

vos peço que ponhais em mim e à qual vou me preparar. Vós sois tão bondoso que tendes<br />

prazer em vir a uma alma sem lhe dar um presente. Se vosso prazer, ó meu Jesus, é<br />

dar-me, também o meu prazer é receber de vós. Por isso preciso que, ao retirardes vosso<br />

sagrado Corpo, deixeis em mim, algum sinal de vossa bondade. Como gostais de ver as<br />

virtudes em nossas almas, devo também desejar com ardor, que me enchais com elas.<br />

Espero de vós esse favor, eu o desejo de todo coração, e vos peço que este desejo me<br />

sirva de preparação para vos receber.<br />

Ato pelo qual se pede a Deus a pureza que sirva de preparação<br />

do corpo para comungar bem<br />

Se é verdade que a pureza interior é necessária para colocar um coração em estado<br />

de vos receber, então a obrigação que temos de preparar nosso corpo para vos servir<br />

de moradia, ao virdes a nós na santa Comunhão, exige também de mim, ó meu Jesus,<br />

torná-lo perfeitamente puro, não só em atos, mas também em pensamentos e de tudo o<br />

que pudesse embaciar em mim, por mínimo que seja, o que há de mais esplendente nessa<br />

virtude de pureza. Vós, que sois a pureza em pessoa, colocai em mim o que há de<br />

mais resplendente nesta virtude. Enviai vossos santos Anjos, os mais puros das vossas<br />

criaturas, para purificar não só meus lábios, mas até todo meu corpo, a fim de que não<br />

haja nada nele que não os agrada e que não convém à santidade que vos é própria. Pois<br />

já que quisestes que Davi e seus soldados comessem os pães de proposição somente<br />

depois de terem dado a certeza de sua pureza, que graça terei ao vos receber, e que fruto<br />

poderei tirar da santa Comunhão, se me aproximar dela sem estar atualmente tão puro<br />

como se pode sê-lo? Só vós, ó meu Deus, é que podeis colocar em mim esta disposição,<br />

já que não se pode possuir esta virtude se vós mesmo não a derdes.<br />

Ato de fé sobre a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia<br />

Jesus amável, que vos escondeis a nossos olhos sob frágeis acidentes no adorável<br />

Sacramento de vosso Corpo, para permanecer mais facilmente conosco. Vós o afirmais<br />

e isto acontece e vosso Corpo se torna presente por três ou quatro palavras. Este é<br />

um efeito dos mais surpreendentes de vosso Poder que todos os dias resplandece em<br />

prodígios na natureza e na graça, e é o efeito mais engenhoso de vosso amor, para nos<br />

98


torna participantes na medida do possível da Divindade. Eu o creio e não duvido que<br />

vós mesmo viestes a este mundo para nos salvar e embora eu não vos possa enxergar,<br />

que não vos possa tocar e que nada de tudo o que está sob o véu grosseiro me seja sensível,<br />

direi com confiança com São Tomé que vós sois meu Senhor e meu Deus.<br />

Ato de fé que expressa a maneira em que Jesus Cristo está na Eucaristia<br />

Somente a fé, ó meu Salvador Jesus, é meu guia no sagrado Mistério da santíssima<br />

Eucaristia e é só ela que, ao cegar o meu espírito e ao conduzi-lo em simples submissão<br />

à palavra de Deus, dá a conhecer e a confessar simplesmente diante de todos os<br />

anjos e de todos os santos, que sob estas aparências enganosas está o Deus de meu coração<br />

e toda a minha esperança. Diga quem quiser que é a figura e representação de vosso<br />

Corpo, a fé de que meu espírito está animado, me obriga a dizer que sois vós mesmo. É<br />

verdade que estais no céu e vos reproduzis num momento sobre nossos altares. Não o<br />

compreendo, mas o creio. Estais aqui vivo sem movimento; estais aqui agindo em nós e<br />

por nós, sem ação exterior e aparente alguma, mas nos dais sinais sensíveis de vosso<br />

amor e encontramos neste Sacramento o resumo e abreviação de todas as vossas maravilhas.<br />

Confesso e creio simplesmente e sem exame, e isto, ó meu Salvador, é tudo o<br />

que vos posso dizer.<br />

Ato de adoração num simples olhar de fé<br />

Se não vejo o que há de grande neste Sacramento é porque vós, ó meu Salvador,<br />

vos escondeis a meus olhos e quereis provar minha fé. Mas por mais aniquilado que vos<br />

mostreis, nada me impedirá de vos apresentar nele meus deveres com profundíssimo<br />

respeito e de vos dizer, com inteligência cega e completamente submissa, que não conheço<br />

outro Deus fora de vós e que, seja qual for o estado em que estejais, toda honra e<br />

toda glória vos são devidas da parte de todas as criaturas. E não podendo vos render<br />

tudo o que vos devo, peço que permitais que vos ofereça com todo o amor de meu coração<br />

tudo o que sou e tudo o pode vos ser agradável em mim.<br />

Ato de adoração e de união aos santos Anjos,<br />

para adorar a Jesus Cristo neste sagrado Mistério<br />

Vós sois, ó meu Salvador Jesus, tão adorável neste Sacramento como o sois no<br />

céu; sois tão amável como o éreis quando estáveis na terra. Aqui não vos conheço, não<br />

vos vejo, contudo sei que estais aqui e eu vos adoro. Os anjos imersos na glória que<br />

possuis aqui, descem do céu para se prostrar diante de vós que residis sob este mistério<br />

incompreensível. Por maior pecador que eu seja, permiti-me que me una a eles e reconheça<br />

com eles na simplicidade da fé, que tudo em vós é adorável neste sagrado mistério.<br />

É nele que unis num instante e em poucas palavras a grandeza com a vileza, a elevação<br />

com a humilhação, o esplendor de vossa glória com o que há de mais vil, o Deus<br />

com a criatura, tantas coisas numa palavra tão pouco proporcionadas, de modo que tudo<br />

o que posso fazer é dizer com humildade e submissão de espírito: Eu o creio e o adoro.<br />

Ato de desejo de receber a Jesus Cristo na Eucaristia,<br />

porque ele é toda a consolação dos homens na terra<br />

99


Haverá acaso alguma coisa que eu possa desejar no céu, se sois vós, o meu<br />

Deus, que sois a felicidade dos santos, como vós mesmo sois para vós o único objeto de<br />

vossa felicidade? O que é que eu poderia desejar na terra, senão vos possuir e me unir a<br />

vós, ó meu Salvador Jesus, na santa Comunhão, já que, por este Sacramento, é que se<br />

alcançam todas os tesouros de graças e a pessoa se torna um só convosco de modo inefável?<br />

Portanto é a Deus mesmo e a Jesus Cristo na Eucaristia que constituem toda a<br />

consolação dos santos tanto no céu como na terra. Ó meu Deus, estabelecestes vosso<br />

trono no céu para ali subsistir eternamente e fazer ali vossa morada e tornar vossos santos<br />

anjos e todos os vossos santos participantes de vossa glória. Estabelecestes também<br />

um trono para Jesus Cristo, vosso Filho no Santíssimo Sacramento do altar aonde ele<br />

desce em sua glória e majestade, embora velado e escondido a nossos olhos, para ser<br />

adorado pelos fiéis na terra e para se comunicar com eles e fazê-los participantes de<br />

suas graças com abundância. Fazei, pois, ó meu Deus, que hoje ao comungar, por maior<br />

pecador que eu seja, eu tenha parte na profusão de vosso divino Filho neste Sacramento.<br />

Ato de desejo de receber a Jesus Cristo<br />

e seu divino Espírito na Santa Comunhão<br />

Não sei, ó meu Salvador, como ouso desejar vossa vinda em mim, visto que estou<br />

tão cheio de defeitos e imperfeições que vos seria penoso suportar-me nesse estado.<br />

Mas quando penso que meu coração vos foi consagrado, e vosso Espírito divino se apoderou<br />

de minha alma no santo Batismo; quando penso na obrigação que tenho de viver e<br />

de me deixar conduzir por este divino Espírito; quando reflito que não posso ser confirmado<br />

várias vezes para o recobrar depois de o ter perdido, então posso comungar muitas<br />

vezes e mesmo todos os dias para que o derrameis sobre mim. É isto, ó divino Jesus, o<br />

que me impede de ficar abatido à vista de quanta desordem há em mim. Vinde, pois,<br />

tomar novamente posse de meu coração e deixai nele vosso Espírito Santo para garantia<br />

de vosso amor, para que ele ordene todos os meus movimentos, modere todas as minhas<br />

paixões e não deixe dentro dele qualquer inclinação que não seja para o bem. Espero<br />

este precioso momento; espero que me dareis esta consolação. É isto que me obriga a<br />

vos dizer: Vinde, vinde e não tardeis, pois tenho necessidade de vosso socorro.<br />

Ato de desejo que manifeste o ardor de receber Jesus Cristo<br />

e no qual se pede algumas graças particulares<br />

Como me julgo feliz, ó divino Jesus, ao vos receber hoje neste adorável Sacramento!<br />

Como tenho muitos motivos para suspirar continuamente depois de tão enorme<br />

vantagem! Vinde, pois, a mim, ó meu Salvador e tirai de minha alma tudo o que pudesse<br />

ser obstáculo a vossa morada nela. Não me censureis minha pouca fé, se vos peço,<br />

como aquele senhor do Evangelho, que entreis depressa em mim, já que vós mesmo<br />

estais mais apressado do que eu para me conceder esse favor; e já que não desejais nada<br />

mais do que cumular minha alma, com vossa vinda, com toda sorte de graças. É verdade<br />

que peço sinais e milagres, mas estes somente são os da conversão de meu coração, o<br />

toque freqüente de vossa graça, uma vontade que me leve a vos agradar e uma firmeza<br />

inabalável no bem. Estes são, ó meu Jesus, os milagres que desejo e que quereis fazer<br />

em mim; estes são os prodígios da graça que servem para vos dar glória e a manifestar a<br />

vossas criaturas. Creio em vossa palavra de que sois vós mesmo que ides entrar em<br />

mim. Ao produzirdes em mim as graças que vos peço, dai-me também ocasião de me<br />

fazer proclamar publicamente que viestes a mim como meu Salvador, já que estarei no<br />

100


número dos daqueles para os quais vossa morte e a recepção de vosso divino Sacramento<br />

não foram inúteis.<br />

Ato de humildade e confiança que é bom fazer<br />

quando se está a ponto de comungar<br />

Divino Jesus que me urgis fortemente a vos receber, será que deverei dizer-vos<br />

como o centurião? Senhor, eu não sou digno de que vos despojeis de vossa glória, que<br />

vos torneis miserável, e que vos apresenteis a mim sob a aparência de uma vil criatura,<br />

não sou digno que, seja qual for o estado e a maneira, entreis em mim. Será que vos<br />

direi como são Pedro: retira-te de mim, pois sou um pecador? Será que vou recusar o<br />

favor que quereis me conceder, porque não encontrareis nada em mim que seja digno de<br />

vós? Eu sei, ó meu Salvador, que eu deveria fazê-lo, se considerasse unicamente o que<br />

sou; mas olhando para vossa bondade infinita e para a ternura que tendes por mim, prefiro<br />

ir perante vós como Marta e Maria Madalena e dizer-vos com elas: dai-lhe nova<br />

vida porque, como vós mesmo dissestes, sois a Ressurreição e a Vida. E se é verdade<br />

que vindes a nós só para nos dar a vida da graça com abundância, dai-me tal plenitude<br />

de graças que torne minha alma impenetrável aos dardos do pecado; e que seja qual for<br />

a inclinação que eu tenha a ele, no futuro seja afastado de mim pela firmeza de meu<br />

coração para não o cometer jamais.<br />

101


<strong>ORAÇÕES</strong> <strong>PARA</strong> DEPOIS DA COMUNHÃO<br />

Ato de admiração da bondade de Jesus Cristo por ter vindo a nós<br />

e se pede que purifique nosso coração<br />

De onde me vem esta felicidade de meu Salvador e meu Deus vir a mim? É um<br />

Deus que desce para se fazer pequeno em sua criatura; é a inocência em pessoa que se<br />

une a um pecador. Ora essa! Divino Jesus, não tivestes dificuldade de colocar vosso<br />

Corpo sagrado dentro de meu estômago? Não tivestes horror de fazer vossa casa num<br />

coração que foi tantas vezes emporcalhado por pecados? Dentro de mim abaixais vossa<br />

grandeza, aniquilais o resplendor de vossa glória e ali estabeleceis vosso poder sem<br />

qualquer aparência de ostentação. Já que tivestes a bondade de vir a mim, Divino Jesus,<br />

não deixeis ali vosso poder completamente inútil. Fazei em mim os mesmos prodígios<br />

que operastes na casa de Zacarias quando fostes visitar a são João. Fizestes que ele exultasse<br />

de alegria no seio de sua Mãe; destes-lhe a inocência que não tinha e enchestes sua<br />

Mãe com vosso Espírito. Concedei-me uma abundância de alegria que seja o ante-gosto<br />

do Paraíso e que faça que meu espírito sempre se alegre no amor de Deus seu Salvador,<br />

embora eu ainda esteja no seio da Igreja, minha boa mãe. Colocai em mim uma perfeita<br />

posse da inocência que tantas vezes perdi e tornai meu coração tão puro como deve ser.<br />

Enchei-o, por fim, de vosso divino Espírito afim de que me conduza em todas as minhas<br />

ações. E depois de me haver purificado o coração, purificai também meu corpo,<br />

minha boca e meus lábios, pelo toque de vosso Corpo sagrado, para que nada mais havendo<br />

em mim que não seja puro, possais me cumular com vossas bênçãos e vossas<br />

graças.<br />

Ato de fé e de admiração diante do aniquilamento<br />

de Jesus Cristo na Eucaristia<br />

Verbo encarnado, nós admiramos que tenhais, por assim dizer, encerrado vossa<br />

Divindade num corpo pequenino no seio de uma Virgem; mas muito mais surpreendente<br />

é que, ao querer dar-vos a mim, colocastes tudo o que sois, vossa grandeza, vossa sabedoria,<br />

vossa divindade debaixo de uma Hóstia minúscula e sob a aparência de um pedaço<br />

de pão! É ali que não sois reconhecível e somente a fé pode vos dar a conhecer por<br />

aquilo que sois. Ela, ao iluminar meu espírito e ao conduzi-lo a vós pelo caminho que<br />

traçastes a vossa Igreja e que nos deve servir de guia, é que me garante que o que acabo<br />

de ver e de provar, nada é do que sois e contudo sois vós mesmo que acabo de comer e<br />

que permaneceis dentro de mim. Ali eu vos reconheço por meu Deus e por aquele de<br />

quem eu recebi e a quem devo tudo o que sou.<br />

Ato de adoração em que se pede a Jesus Cristo que una conosco<br />

todas as criaturas para lhe render em nós as devidas homenagens<br />

Eu vos adoro residindo em mim, ó Salvador de minha alma! E vos apresento ali<br />

todos os profundos respeitos devidos a vossa divina Majestade. Não posso sequer me<br />

impedir de confessar que, por mais adorável que seja o esplendor de vossa Divindade<br />

vos renda no céu, vosso rebaixamento dentro de mim deve obrigar todas as criaturas a<br />

vos render suas homenagens. Uni-as, pois, todas comigo, para vos louvar e bendizer<br />

habitando dentro de mim. Dai a todas elas uma mesma voz que, unida com a de meu<br />

102


coração, suba até vós e que faça ouvir por toda a imensidão do céu e da terra proclamando:<br />

toda honra, toda ação de graças são devidas a aquele que, sendo Deus, sabedoria<br />

e poder, quis aniquilar-se na criatura.<br />

Ato pelo qual se reconhece a felicidade de possuir em si Jesus Cristo,<br />

e convidam-se todas as criaturas para o louvar dentro de nós<br />

Se a alegria daquela mulher do Evangelho era tão grande por ter encontrado a<br />

dracma perdida, que alegria não terei eu por ter em mim o Deus de meu coração e aquele<br />

que deve ser minha herança e minha posse durante toda a eternidade? E, se essa mulher<br />

não pode conter em si sua alegria, se ela foi prontamente chamar suas vizinhas para<br />

a comunicar a elas, a quem é que vou contar a consolação de que minha alma está penetrada<br />

hoje por possuir seu Deus e seu Salvador dentro de si? Não o contaria eu a todas<br />

as criaturas, convidando-as a louvar a Deus comigo, por tão grande favor? Anjos do<br />

céu, deixaríeis vossa morada e o Deus, a quem honrais com profundo respeito, para vir<br />

unir-vos a mim e gozar de que o Divino Jesus repousa em meu coração e em meu estômago?<br />

Vinde, vinde sem temor de perder o respeito diante de Deus, já que quem está<br />

em mim é o próprio Deus que adorais. Santos, que gozais de Deus, acompanhados por<br />

esses espíritos bem-aventurados, vinde tomar parte na alegria de meu coração e para<br />

louvar este Deus que nele reside, já que é vosso Salvador tanto como o meu. Céus, que<br />

publicais por toda parte a glória de Deus e sois obra de suas mãos, vinde também a mim<br />

para louvar o Deus que vos criou e esta divina Palavra que vos produziu. Terra que, ao<br />

me sustentares sustentas aquele que transporta um Deus vivo, rendei em mim a vosso<br />

modo, honra a esse Verbo encarnado, que vos honrou por suas pisadas durante sua vida<br />

mortal. Sol, lua, estrelas e tudo o que ilumina os homens, vinde em mim para protestar<br />

a aquele que ali reside, que vossa luz só é trevas diante dele, já que ele é a Luz eterna<br />

que aclara todo homem que vem a este mundo, e que iluminará eternamente o lugar em<br />

que Deus faz sua morada, e onde vossa luz não terá acesso. Atraí convosco todas as<br />

outras criaturas que contribuís a produzir, e que precisam de vossa influência para se<br />

conservarem, e anunciai-lhes que o Deus que fez tudo e que governa tudo depois de se<br />

ter revestido do corpo do homem, agora se escondeu diante de sua criatura. Ensinai-lhes<br />

que, para o adorar e louvar como o merece, é preciso que elas se aniquilem abaixo dele<br />

e lhe digam que todas as coisas são como nada diante dele, e que toda beleza e toda a<br />

glória que está nelas, só vem dele, que ela murchará num instante para nunca mais aparecer,<br />

mas que a dele permanecerá para sempre a mesma e subsistirá eternamente.<br />

Ato de agradecimento a Jesus Cristo<br />

pela bondade que teve de vir até nós<br />

Jesus benfeitor, que não pudestes suportar a ingratidão dos nove leprosos que<br />

havíeis curado, não ficaria eu envergonhado e não mereceria eu vossa indignação, se<br />

não apresentasse minhas humildes ações de graças, depois de ter recebido de vós o maior<br />

benefício com que alguém pudesse ser honrado na terra, ao comer vosso Corpo sagrado,<br />

e ao vos receber em mim. Sois o Deus de minha alma, aquele que deu o ser a<br />

todas as criaturas, que tirou os pecados do mundo, o reparador da inocência perdida,<br />

autor das graças, distribuidor dos méritos, e aquele em quem estão contidos todos os<br />

tesouros de bondade e misericórdia de Deus. Eu vos agradeço, Divino Jesus, por haverdes<br />

depositado em mim um tesouro tão precioso, e pelo favor que me prestais ao me<br />

convidar a haurir em vós todas as graças e todas as virtudes de que preciso para servir<br />

103


meu Deus. Mas, por mais gratidão que eu vos manifeste, sabeis que ela não pode ser<br />

digna de vós, porque nada tem de bom de mim mesmo, e não é capaz de reconhecer um<br />

benefício tão extraordinário. Tomai, pois posse de meu coração para agradecer nele vossa<br />

bondade tanto quanto possível, e que ela mereça que seja reconhecida. Como membro<br />

de vosso corpo e vosso discípulo, toda gratidão que vós mostrardes dentro de mim,<br />

será considerada por mim como santificada por vosso mérito e vossa excelência, e assim,<br />

sem dúvida, tereis como agradável tudo o que eu vos oferecer, que aliás somente é<br />

produzido por vós e sempre me olhareis com bons olhos, porque vos reconheci como<br />

meu benfeitor, tanto quanto é possível neste mundo e estareis sempre disposto a me<br />

honrar com vossos benefícios e vossas graças.<br />

Ato pelo qual se reconhece a humilhação<br />

de Jesus Cristo na Eucaristia<br />

Verbo divino, Salvador do mundo, que, embora todas as criaturas estejam contidas<br />

em vós, quisestes não obstante vos encerrar em meu estômago e vos comprimir em<br />

meu coração, é agora e com muito mais razão do que na Encarnação, que vos devemos<br />

chamar Verbo abreviado. Para não vos impor limites tão estreitos, dilatai meu coração,<br />

para que ele possa ser para vós um lugar de delícias; que ele, capaz de vos reter, tenha<br />

maneira de receber e conservar todas as virtudes e todas as graças que quereis colocar<br />

nele. Ele é um vaso vazio, enchei-o Senhor, de modo que não haja nada nele que vos<br />

desagrade. Como sois aquele que sonda os corações e penetra até o mais íntimo escondido,<br />

visitai o meu, e já que nada pode permanecer escondido a vossos olhos, olhai até o<br />

fundo o que é defeituoso, para que vosso poder e vossa bondade unidos o purifiquem<br />

completamente e que depois eu possa apresentá-lo a vós dizendo com toda humildade e<br />

confiança possível: Pronto está meu coração: Senhor, pronto está para receber vossa<br />

profusão de dons e todos os benefícios que quereis fazer-lhe. Como ele é o lugar de vosso<br />

repouso, é muito justo que vós mesmo o adorneis e o torneis digno de vos possuir, ou<br />

pelo menos, para que nada haja nele que seja capaz de vos desgostar, para que, se vosso<br />

Corpo sagrado não permanecer sempre em mim, meu coração sempre esteja ocupado e<br />

compenetrado de vós e animado de vosso Divino Espírito.<br />

Ato pelo qual se reconhece a bondade de Jesus Cristo<br />

por ele ter encontrado um jeito de tornar o homem<br />

semelhante a Deus pela santa Comunhão<br />

Verbo encarnado, cuja bondade não tem igual, vistes que o primeiro ser humano<br />

se tinha perdido por querer tornar-se semelhante a Deus e se tornou, por seu orgulho,<br />

semelhante aos demônios. É o que vos levou a vir a este mundo para salvar os homens,<br />

seus descendentes, e retirá-los da corrupção do pecado. Vosso amor e vossa ternura para<br />

com eles fez-vos até encontrar um meio de os tornar semelhantes a Deus, sem os elevar<br />

acima do que são e este meio foi entregar-lhes vossa carne a comer e torná-los, por este<br />

meio, participantes da Divindade que está em vós, ao vos unir inteiramente a nós e ao<br />

partilhar conosco tudo o que há em vós. Se, pois, tenho a felicidade de comer hoje esta<br />

carne sagrada e se tenho dentro mim a Deus que quis tornar-se homem por amor de nós,<br />

tornai-me participante de vossos sentimentos, de vossas divinas máximas e de vossas<br />

celestes afeições, para que, por serdes homem como eu, eu também seja o que vós sois<br />

pela união íntima que terei convosco.<br />

104


Ato pelo qual se reconhece possuir a Jesus Cristo<br />

e ser possuído por ele na santa Comunhão<br />

Tenho a felicidade de vos possuir, amável Jesus, e vós me possuís também. Mas<br />

o que é que possuís vós em mim? Um corpo sujeito a toda sorte de misérias, um espírito<br />

repleto de trevas e um coração que naturalmente só tem afeição às coisas da terra. E,<br />

pelo contrário, que coisas agradáveis, excelentes e santas não possuiria eu, visto que em<br />

vós se encontra tudo o que existe de amável? Com efeito, o Profeta-rei diz que sois o<br />

mais belo dos filhos dos homens, que sois bom para com os de coração reto, e encerrais<br />

dentro de vós, para falar com São Paulo, todos os tesouros da ciência e da sabedoria de<br />

Deus. Fazei-me, divino Jesus, que eu saboreie como sois doce para uma alma que vos<br />

possui e que vós possuís ao me fazerdes participante de tudo o que há em vós e do que<br />

vós sois, de maneira que eu possa dizer que tudo o que é vosso, é meu. Mas para que eu<br />

seja capaz de aproveitar desta vantagem, fazei que por vossa presença em mim, eu me<br />

torne agora completamente outro do que sou. Santificai meu corpo que se tornou vosso<br />

templo vivo por vossa estada nele; fazei que meu espírito só tenha pensamentos santos e<br />

meu coração afetos para o céu e que sinta sua única satisfação só em vós, para que, como<br />

vos destes todo a mim, também eu seja todo entregue a vós e assim que eu seja um<br />

só convosco.<br />

Ato pelo qual se pede a Jesus Cristo presente dentro de nós,<br />

que nos faça viver não mais a vida natural, mas a vida da graça<br />

Já que agora estais dentro de mim, ó Jesus, Esposo de minha alma, permiti que<br />

vos peça com a Esposa sagrada dos Cantares, que me deis um beijo de vossa boca, isto<br />

é, sinais interiores de vossa ternura. E, como a graça se derramou em vossos lábios, e<br />

como é ela, como diz o profeta-rei, que atrai para si as bênção eternas, embebei com ela<br />

de tal modo minha alma, que ela não viva mais senão pela graça, que só trabalhe pelos<br />

impulsos da graça e que se guie somente pelos movimentos da graça. Portanto, Divino<br />

Jesus, transformai em mim esta vida natural que só procura as comodidades, esta vida<br />

sensual que sempre procura contentar os sentidos e fazê-los gozar os prazeres que lhes<br />

são próprios, esta vida mole que só tende a afastar com cuidado tudo o que pode dar<br />

ocasião de sofrer e este comportamento covarde que produz o desgosto dos exercícios<br />

de piedade, para que, vivendo só da vida que me comunicardes, eu possa dizer efetiva e<br />

verdadeiramente que não vivo mais minha vida própria, mas vós sois quem vive em<br />

mim.<br />

Ato em que se presta atenção sobre a felicidade que se tem<br />

de possuir a Jesus Cristo em si<br />

anjos e com os santos: Meu Amado é todo meu e eu sou todo dele. Como, ao<br />

Meu coração está tão consolado porque viestes a mim, Divino Jesus, a ponto que ele<br />

reúne e une todos os seus desejos, toda sua afeição e toda sua ternura para vos encerrar<br />

estreitamente nele e para vos dizer que todo seu prazer consiste em vos possuir e que se<br />

sente muito feliz em vos reter em si. Vós que sondais o fundo dos corações e vedes que<br />

ardor sente o meu de vos amar e gozar de vós, permiti que eu vos diga como Jacó, que<br />

não vos deixarei sair de meu corpo antes me terdes abençoado, e com a Esposa, que não<br />

deixarei sair vosso Espírito de mim, já que é preciso que ele é quem me introduza na<br />

Casa da eternidade. Pois, como sou vosso bem-amado, quero também que sejais o meu<br />

105


e que eu possa cantar continuamente este cântico de alegria em união com os santos<br />

anjos e com os santos: Meu Amado é todo meu e eu sou todo dele. Como, ao contemplar<br />

a ternura dele para comigo, parece que eu sou o único para vos possuir, ele será o<br />

único a quem quero possuir, e a quem quero me dar inteiramente no tempo e na eternidade.<br />

Ato pelo qual se reconhece a felicidade que se teve<br />

de nutrir sua alma com a santa Eucaristia<br />

Eu vim até o vosso festim, Jesus, Filho único de Deus, porque me convidastes, e<br />

me nutri com esta carne sagrada que serve de alimento ao próprio Deus e com que ele<br />

satisfaz a fome de todos os bem-aventurados. Com efeito, conforme a linguagem do<br />

Evangelho, hoje comi o pão dos anjos, este pão que, como vós mesmo dissestes, está<br />

acima de toda substância porque encerra a própria Divindade. Este é o pão vivo que faz<br />

viver eternamente os que o comem. Não me admiro, ó meu Salvador, se tantos santos<br />

viveram durante muito tempo só com este único alimento, já que ao nutrir a alma de<br />

maneira sólida, é capaz de sustentar o corpo pelo vigor que dá ao espírito. Este foi, sem<br />

dúvida, o motivo porque S. Nicolau de Tolentino dizia: que quem come todos os dias<br />

seu Deus não precisa de outro alimento. Não se fale, pois, mais daquele pão que Elias<br />

comeu e o tornou tão forte que depois de ter comido caminhou durante quarenta dias<br />

sem tomar outro alimento. O Corpo de Jesus Cristo que acabo de receber transmite outra<br />

força muito diferente à alma e ao corpo, pois fortifica a alma contra os ataques do<br />

demônio e serve para dar ao corpo uma pureza fora do comum. Fazei, ó meu Jesus, que<br />

eu sinta em mim todos esses bons efeitos e que ao vos ter dentro de meu corpo e em<br />

minha alma, nem o mundo, nem a carne, nem o demônio tenham mais poder sobre mim,<br />

por mais violentos sejam contra mim.<br />

Ato pelo qual se ressalta a felicidade que se tem<br />

em possuir a Deus em seu corpo pela santa Comunhão<br />

Que imensa felicidade a de o homem poder falar familiarmente com seu Deus,<br />

seu Senhor e seu Soberano, como fazia muitas vezes Moisés, fiel condutor do Povo de<br />

Deus, e como podemos fazer todos os dias na oração! Mas outra vantagem e outra felicidade<br />

inefável é possuir na fé este mesmo Deus e poder conversar com ele sobre os<br />

negócios da própria salvação, de coração a coração, como com um amigo que, ao comunicar<br />

os segredos a seu amigo íntimo, lhe pede as graças que pode obter dele! Esta é<br />

a vantagem que tenho na santa Comunhão, pela qual, tendo a Jesus Cristo dentro de<br />

mim, encontro nele um Deus que me trata como seu amigo, que entra em meus interesses<br />

e que só procura o bem de minha alma. Uma vez me comunica suas disposições<br />

interiores, outra vez me conta suas intenções e maneiras de ver puríssimas que teve em<br />

suas ações, que realizou só para a glória de seu Pai; outra vez me incita a fazer muitas<br />

vezes alguma coisa por Deus; outra vez ainda me anima para eu me entregar todo inteiro<br />

a seu serviço; algumas vezes me faz lembrar o que ele mesmo fez e sofreu para me<br />

salvar; outras vezes ele me mostra a assiduidade e a continuação de suas orações junto<br />

de seu Pai e o zelo que tem por minha completa conversão. Fazei-me a graça, ó meu<br />

Jesus, que todas estas impressões que me dais, fiquem de tal maneira gravadas em meu<br />

coração, de maneira que nunca mais se apaguem e que produzam em mim todo o efeito<br />

que desejais.<br />

106


Ato pelo qual se pede a Jesus Cristo residindo em nós<br />

que fale a nosso coração e lhe manifeste o grande bem<br />

que há em possuí-lo pela santa Comunhão<br />

Falai ao meu coração, amável Jesus, que estais morando em mim, pois ele está<br />

pronto a vos escutar. Fazei-lhe ouvir a vossa voz, ela lhe será doce e muito agradável, e<br />

dizei-lhe que sois o seu Deus, seu asilo e seu redentor; que tudo fizestes para ele, que<br />

vos deve tudo o que ele é. E como vos destes todo a ele, é preciso também que meu coração<br />

se entregue todo a vós. Ensinai-lhe que estais nele e como vós ali estais. Mas o<br />

que é que lhe ensinais, Senhor? Ele não duvida que estais nele, ele o sente e o goza com<br />

prazer e sabe que, como sois o amante dos corações, vossa bondade vos leva a procurálo,<br />

por mais vil e desprezível que seja, para nele fazer vossa morada. Dizei-lhe, pelo<br />

menos, que viestes como benfeitor que só deseja comunicar-lhe seus benefícios, como<br />

mestre que quer ensinar sua doutrina santa, e como amigo que vem torná-lo participante<br />

de seus segredos e dar-lhe a compreender o que deve fazer para vos agradar. Fazei-lhe<br />

entender que em vós ele vai possuir a sabedoria eterna e que por meio de vós é que ele<br />

aprenderá a ciência da salvação e os meios de se salvar. Dizei-lhe que sois a verdade de<br />

Deus e que podeis fazer emanar do seio da Divindade que reside em vós, todas as virtudes;<br />

que sois o sustento do fracos e ele só precisa recorrer a vós quando residis nele,<br />

como a quem é sei refúgio e sua força em todas as suas fraquezas. Ó Jesus, fundi e liquidificai<br />

meu coração para se dissolver em vós, a fim de que, estando completamente<br />

em vós, retire de vós tudo o que precisa para ir a Deus e para se firmar em seu santo<br />

amor.<br />

Ato de agradecimento por ter comido<br />

à mesa de Jesus Cristo<br />

Hoje comi à vossa mesa, ó meu doce Jesus, porque me tínheis convidado como<br />

vosso amigo. Mas será que antes considerastes bem se eu era digno de ser recebido e<br />

será que eu mesmo tive bastante atenção para ver se eu tinha a veste nupcial, isto é, essa<br />

veste de inocência com a qual me honrastes no santo Batismo, ou se a recobrei pela penitência?<br />

Pois ninguém deve se apresentar para ser admitido a vossa mesa, se não tiver<br />

tomado todo cuidado possível para aniquilar em si o pecado. Dai-me, pois, um tal afastamento<br />

do pecado para que ele não apareça em mim, e como para conservar o sabor<br />

desta carne com que me nutristes, a alma precisa ter o espírito desocupado e o coração<br />

inteiramente desprendido de tudo o que ocupa ordinariamente a atenção e o prazer dos<br />

homens, fazei, ó meu Jesus, que durante todo este dia meu coração esteja de tal modo<br />

penetrado e ocupado convosco que se possa dizer verdadeiramente que vos saboreei e o<br />

sabor desta carne divina que comi permaneceu em mim e se faz sentir tão bem em mim<br />

que não tenho mais outro gosto do que Deus e o que leva a Deus.<br />

Ato pelo qual se reconhece que nosso corpo<br />

se tornou o tabernáculo de Jesus Cristo<br />

e nosso coração seu santuário por sua presença<br />

Agora meu corpo é vosso tabernáculo, ó Deus meu Salvador! E meu coração se<br />

tornou um santuário desde que viestes a mim na santa Comunhão. Posso dizer, pois, na<br />

verdade que sou um templo portátil de Deus no qual Jesus Cristo veio estabelecer sua<br />

107


morada, para, como diz um profeta, nele destruir e arrancar tudo o que há que vos desagrada<br />

e para construir para o Deus vivo e eterno uma casa que possa subsistir eternamente.<br />

Já que quisestes estabelecer todos os ornamentos do tabernáculo da Antiga Lei,<br />

adornai vós mesmo este que escolhestes para vós e no qual residis em pessoa, e não de<br />

maneira aparente, como naquele cuja forma prescrevestes a Moisés. E como ninguém,<br />

fora o Sumo Pontífice podia entrar no Santo dos Santos, fazei que nada de profano entre<br />

em meu coração e que sua pureza seja tão grande que esteja em estado de vos conter a<br />

vós que sois a santidade por essência. E que não recebendo em si nada mais do que não<br />

venha de vós, e não tenda a vós, ele possa com razão ser chamado o Santo dos Santos da<br />

nova Lei, e o Santuário da Divindade que nele está encerrado como em seu cenro na<br />

terra e seu lugar de delícias.<br />

Ato pelo qual se reconhece o profundo respeito que devemos ter<br />

diante de Jesus Cristo que reside em nós<br />

Vós exigistes, ó meu Deus, tão grande veneração diante da Arca da Aliança e tão<br />

grande respeito para com ela, que Osa caiu fulminado por ter tocado nela. Que respeito<br />

não devo ter diante de vosso sagrado Corpo, Divino Jesus, que acabo de receber, do<br />

qual essa Arca era apenas uma figura! Pois, o que era essa Arca se não um cofre de madeira<br />

revestido de ouro e vosso Divino Corpo é o Corpo de um Deus que dele se revestiu<br />

para destruir em nós o pecado. Essa Arca era, com efeito, o que havia de mais precioso<br />

na Antiga Lei; mas vosso corpo divino é a veste do grande Deus vivo, objeto da<br />

veneração dos anjos e o tesouro da Lei da Graça. a Arca era o oráculo dos israelitas porque<br />

era o órgão do qual Deus se serviu para lhes dar suas ordens e para mim basta que<br />

eu entre em mim para vos consultar morando em mim, ó Jesus meu Salvador! Ao mesmo<br />

tempo me dareis a conhecer as ordens de Deus e vossas Divinas vontades. Já que<br />

aqueles em cuja casa Deus fez repousar essa Arca foram cumulados de bênçãos com sua<br />

família, vós não me recusareis a mesma graça quando tiver em mim vosso sagrado<br />

Corpo, arca santa da Divindade. Pois é perfeitamente razoável que deixeis em mim<br />

marcas de vossa vinda: deixai ali, ó Jesus, o tesouro da graça, o ouro da caridade, e alguma<br />

coisa do madeiro de vossa Cruz, que pelo enfraquecimento de minhas paixões e<br />

as impressões da mortificação, torne minha alma incorruptível. Este é o fruto que espero<br />

de vossa vida em mim.<br />

F I M<br />

108


Í N D I C E<br />

Das Instruções e Orações para a Santa Missa<br />

Instruções do Sacrifício da Santa Missa e da maneira de assistir a ela<br />

Do sacrifício da santa Missa, e de seus efeitos p.……<br />

Da obrigação de assistir à santa Missa p.……<br />

Das disposições para bem ouvir a santa Missa p.……<br />

Da maneira de se aplicar durante a santa Missa p……<br />

Explicação das cerimônias da santa Missa p.……<br />

Orações durante a santa Missa, tiradas do Ordinário da Missa p.……<br />

Outras orações durante a santa Missa que se referem a todas as<br />

Ações e orações que o sacerdote faz p.……<br />

Í N D I C E<br />

Das Instruções metódicas para aprender a se confessar bem<br />

§ 1. Da primeira coisa que se deve fazer antes de se confessar p.……<br />

§ 2. Da segunda coisa que se deve fazer antes de se confessar p.……<br />

§ 3. Do que se deve fazer ao se confessar, antes de declarar seus<br />

pecados, e as quatro primeiras coisas que se devem observar<br />

ao declarar seus pecados p.……<br />

§ 4. Da quinta, sexta e sétima coisa que se deve observar ao declarar<br />

seus pecados, a saber: declarar a espécie, o número e as<br />

circunstâncias p.……<br />

§ 5. Da oitava coisa que se deve observar ao declarar seus pecados p.……<br />

§ 6. Da nona e da décima coisa que se deve observar ao declarar<br />

seus pecados p.……<br />

§ 7. Da maneira de concluir a Confissão e da obrigação de dar<br />

ao Confessor sinais de arrependimento de ter ofendido a Deus p.……<br />

§ 8. Das quatro últimas coisas que se deve fazer ao se confessar p.……<br />

§ 9. Das quatro coisas que se devem fazer depois de se confessar p.……<br />

§ 10. Maneira de se confessar bem p.……<br />

Orações para pedir a Deus um bom Confessor p.……<br />

Í N D I C E<br />

Das instruções e orações para a Confissão e a Comunhão<br />

Orações antes da Confissão p.……<br />

Orações depois da Confissão p.……<br />

Exame de Consciência que se deve fazer antes de se confessar p.……<br />

Instruções para a Comunhão p.……<br />

Orações antes da Comunhão p.……<br />

Orações depois da Comunhão p.……<br />

Fim do Índice<br />

109


A P R O V A Ç ÃO<br />

Li, a pedido de Monsenhor, o Conselheiro, este Manuscrito que tem por título Instruções e<br />

Orações para a santa Missa. Na Sorbonne, a 16 de janeiro de 1703.<br />

C. DE PERCELLE<br />

A P R O V A Ç Ã O<br />

Li, por ordem de Monsenhor, o Conselheiro, este livro que tem por titulo Instruções e Orações<br />

para a Confissão e a Comunhão, para uso das Escolas Cristãs, que julguei muito apropriadas<br />

para edificar os fiéis. 04 de dezembro de 1702<br />

P R I V I L É G I O D O R E I<br />

Luís, por Graça de Deus, Rei de França e de Navarra: A nossos amados e leais Conselheiros,<br />

as pessoas que ocupam nossas Cortes de Parlamento, Mestres de Requisições ordinárias de nosso<br />

Hotel, Conselheiros, Prebostes de Paris, Bailios, Senescais, seus Lugar-tenentes civis e outros<br />

Justiceiros a quem pertence: SAÚDE! Nosso querido Superior do Instituto dois Irmãos das Escolas<br />

Cristãs, havendo nos pedido conceder-lhe nossas Cartas de Autorização para imprimir<br />

vários Livros para o uso de suas Escolas, e que têm por título Exercícios de Piedade para uso<br />

das Escolas Cristãs, Um Silabário Francês, Instruções e Orações para a Santa Missa, Instrução<br />

metódica para aprender a se confessar bem, Catecismo por Perguntas e Respostas, os Deveres<br />

de um Cristão para com Deus por texto corrido, Instruções e Orações para a Confissão e<br />

a Comunhão, as Regras de Cortesia e Civilidade Cristã, Cânticos Espirituais, e Ofício da Santíssima<br />

Virgem, com o saltério de Davi, oferecendo-nos para esse objetivo de os fazer imprimir<br />

em bom papel e bons tipos, de acordo com a folha impressa e anexada ao modelo na contra-capa<br />

das Presentes. Havemos permitido e permitimos pelas Presentes que se imprimam os citados<br />

Livros, em um só ou em vários Volumes, conjunta ou separadamente, e tantas vezes quantas<br />

bom lhes parecer e de os vender, fazer vender e debitar em toda a parte de nosso Reino pelo<br />

prazo de três anos consecutivos, a contar do dia da data das citadas Presentes. Proibimos a todos<br />

os Bibliotecários e Impressores e outras pessoas, de qualquer qualidade e condição que sejam,<br />

introduzir textos estranhos e nenhum lugar de nossa obediência, sob pena de estas Presentes<br />

serão registradas por inteiro nos Registros da Comunidade dos Impressores e Bibliotecários de<br />

Paris em três meses a partir desta data; que a impressão destes Livros será feita em nosso Reino<br />

e não em outro lugar, e que o impetrante se conformará em tudo com os Regulamentos da Livraria,<br />

e especialmente com os de 10 de abril de 1715 e que, antes de os expor à venda, os Manuscritos<br />

ou impressos que tiverem servido de cópia para a impressão dos citados Livros, serão<br />

entregues no mesmo estado onde as Aprovações tiverem sido dadas, pela mão de nosso caríssimo<br />

e leal Cavalheiro Guardião dos Selos da França, o Senhor Chauvelin, e que por fim serão<br />

entregues dois Exemplares de cada um para nossa Biblioteca Pública, um para nosso Castelo do<br />

Louvre, e um para a de nosso caríssimo e leal Cavalheiro, Guardião dos Selos da França, o Senhor<br />

Chauvelin, o tudo sob pena de nulidade das Presentes; do conteúdo das quais mandamos e<br />

conjuramos que se faça gozar o Expositor ou os Advogados, plena e pacificamente, sem permitir<br />

que se lhe cause perturbação ou impedimento: Queremos que a cópia das Presentes que será<br />

impressa por inteiro teor quer no começo quer no fim dos citados Livros, autentica como o original.<br />

Mandamos que o primeiro Porteiro ou Sargento que mande executar a todos os Atos<br />

110


equeridos e necessários, sem pedir outra autorização, não obstante o Clamor de Haro, Chartre<br />

Normande, e cartas contrárias. Porque tal é nosso prazer. Dado em Fontainebleau a 27 de outubro,<br />

no ano da Graça de 1715. e de nosso Reinado o 18º. Pelo Rei em seu Conselho.<br />

Assinado: G. M A R T I N, Síndico<br />

O……superior do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs cedeu seu privilégio a J. B. Machel,<br />

Impressor - Bibliotecário de Ruão, conforme acordo entre eles.<br />

111


Í N D I C E D A S M A T É R I A S<br />

Advertência sobre as Instruções e Orações para a Santa Missa ……<br />

Instruções sobre o Sacrifício da Santa Missa, e de que modo<br />

se deve assisti-la ……<br />

Do Sacrifício da Santa Missa e de seus efeitos ……<br />

Da obrigação de assistir à Santa Missa ……<br />

Das disposições para bem ouvir a Santa Missa ……<br />

Da maneira de se ocupar durante a Santa Missa ……<br />

Explicação das cerimônias da Santa Missa ……<br />

Da primeira parte da Santa Missa, antigamente chamada<br />

Missa dos Catecúmenos ……<br />

Da segunda parte da Santa Missa, antigamente chamada<br />

Missa dos Fiéis ……<br />

Orações durante a Santa Missa, tiradas do ordinário da Missa ……<br />

Outras orações durante a Santa Missa, relacionadas com as ações<br />

E orações do sacerdote ……<br />

Instrução Metódica para aprender a se confessar bem, por<br />

Perguntas e respostas ……<br />

Prefácio ……<br />

[1] Da primeira coisa que se deve fazer antes de se confessar:<br />

examinar a consciência ……<br />

[2] Da segunda coisa que se deve fazer antes de se confessar:<br />

fazer o ato de contrição ……<br />

3. Do que se deve fazer na confissão antes de declarar os pecados:<br />

pedir a bênção do confessor ……<br />

recitar o Confiteor ……<br />

dizer há quanto tempo não se confessou ……<br />

e das quatro primeiras coisas a observar ao declarar os pecados:<br />

declará-los pessoalmente ……<br />

dizê-los como coisa passada ……<br />

dizê-lo em forma de acusação ……<br />

não os escusar, nem jogar a culpa nos outros ……<br />

4. Da quinta, sexta e sétima coisa a observar ao confessar os pecados:<br />

declara a espécie ……<br />

o número ……<br />

as circunstâncias ……<br />

dizer os pecados próprios e nunca os dos outros ……<br />

dizê-los em poucas palavras ……<br />

5. Da oitava coisa que se deve observar ao declarar os pecados:<br />

dá-los a conhecer inteiramente, tais quais são ……<br />

[6] Da nona e décima coisa a observar na declaração dos pecados:<br />

dizê-los todos, sem omitir um só ……<br />

dizê-los todos em seguida e em ordem ……<br />

7. Da maneira de concluir a confissão:<br />

acusar-se dos pecados desconhecidos ou esquecidos<br />

……<br />

112


e da obrigação de manifestar ao confessor sinais de<br />

arrependimento de ter ofendido a Deus<br />

113<br />

……<br />

8. Das quatro últimas coisas a fazer na confissão:<br />

pedir ao confessor os meios de não recair<br />

terminar o Confiteor<br />

……<br />

……<br />

aceitar a penitência com promessa de a cumprir ……<br />

inclinar-se para receber a absolvição<br />

9. Das quatro coisas que se devem fazer depois da confissão:<br />

……<br />

agradecer a Deus ……<br />

renovar a promessa de não recair no pecado ……<br />

tomar os meios para conservar a graça recebida ……<br />

cumprir a penitência ……<br />

10. Modo de se confessar bem ……<br />

Oração para pedir a Deus um bom confessor ……<br />

Instruções e Orações para a Confissão e para a Comunhão<br />

Advertência ……<br />

Orações para antes da Confissão ……<br />

Volta do pecador a Deus, pela consideração do pecado, sua<br />

Natureza e seus efeitos<br />

Reflexão sobre a enormidade do pecado, em forma de oração ……<br />

Oração para atrair a misericórdia de Deus ……<br />

Oração para mostrar horror ao pecado ……<br />

Oração para pedir a graça de verdadeira penitência ……<br />

Oração para pedir o conhecimento e a contrição ……<br />

Oração antes do exame de consciência ……<br />

Oração para depois do exame de consciência ……<br />

Outra oração para depois do exame de consciência ……<br />

Oração para pedir verdadeira contrição ……<br />

Outra oração para pedir verdadeira contrição ……<br />

Oração para pedir a contrição com todas as condições ……<br />

Oração para pedir o enfraquecimento da concupiscência ……<br />

Oração para pedir a Deus a libertação das tentações e dos vícios ……<br />

Oração para pedir horror dos bens, honras e prazeres ……<br />

Oração para pedir a Deus para não procurar honras, riquezas e prazer ……<br />

Oração para pedir a Deus a graça de se afastar das ocasiões de pecar ……<br />

Oração para pedir a Deus para ser livre do hábito de pecado ……<br />

Oração para pedir perdão a Deus pela facilidade de pecar ……<br />

Oração para pedir a Deus o conhecimento e os meios para evitar o<br />

pecado ..................................................................................................................<br />

Ato de confusão ao considerar a bondade de Deus ……<br />

Ato de contrição pela consideração de vários motivos<br />

Ato de contrição<br />

Outro ato de contrição e promessa<br />

Oração para pedir a Deus o perdão pela intercessão dos Anjos<br />

Ato de confiança que Deus terá a bondade de nos perdoar<br />

Ato de agradecimento pelo perdão


Oração para pedir a Deus a graça de confessar todos os pecados<br />

Oração para pedir a Deus a graça de fazer penitência<br />

Oração para pedir a Deus a graça de uma penitência proporcional<br />

Orações para depois da Confissão<br />

Ato de confiança de ter obtido o perdão<br />

Ato de horror do pecado<br />

Ato para manifestar a Deus o pesar de ter ficado muito tempo no pecado<br />

Ato de agradecimento ao eterno Pai<br />

Ato de agradecimento ao Filho de Deus<br />

Ato de agradecimento ao Espírito Santo<br />

Ato de alegria com os anjos e os santos por voltar à graça<br />

Ato de união a Jesus Cristo penitente<br />

Ato para pedir a Deus a graça de fazer penitência<br />

Ato para pedir a Deus a perseverança no bem<br />

Exame de consciência que se deve fazer antes da confissão<br />

Sobre o primeiro mandamento<br />

Sobre o segundo mandamento<br />

Sobre o terceiro mandamento<br />

Sobre o quarto mandamento<br />

Sobre o quinto mandamento<br />

Sobre o sexto e o nono mandamento<br />

Sobre o sétimo e o décimo mandamento<br />

Sobre os sete vícios capitais<br />

Instruções e Orações para a Comunhão<br />

Exposição da doutrina da Igreja sobre o Sacramento da Eucaristia<br />

Dos fins da instituição da Eucaristia e da obrigação de a receber<br />

Das vantagens de receber o Corpo de Jesus Cristo na Eucaristia<br />

Das disposições para bem receber a Eucaristia<br />

Orações para antes da Comunhão<br />

Ato de reconhecer a Comunhão como remédio<br />

Ato de reconhecer as disposições para comungar<br />

Ato de pedir a Deus a pureza, primeira disposição para comungar<br />

Ato de pedir a Deus um amor ardente, segunda disposição<br />

Ato de pedir a Deus uma terna devoção a Jesus Cristo, 3ª disposição<br />

Ato de pedir a Deus grande afeição à virtude, 4ª disposição<br />

Ato de pedir a Deus a pureza em preparação do corpo para a comunhão<br />

Ato de fé sobre a presença real de Jesus na Eucaristia<br />

Outro ato de fé sobre a presença real de Jesus na Eucaristia<br />

Ato de adoração e de união aos santos anjos para adorar a Jesus<br />

Ato de desejo de receber a Jesus na Eucaristia<br />

Outro ato de desejo de receber a Jesus e seu divino Espírito<br />

Ato de desejo que manifesta a ânsia de receber a Jesus Cristo<br />

Ato de humildade e de confiança antes da comunhão<br />

Orações para depois da Comunhão<br />

Ato de admiração da bondade de Jesus Cristo que veio a nós<br />

Ato de fé e de admiração diante do aniquilamento de Jesus na Eucaristia<br />

114


Ato de adoração em que se pede a Jesus que una conosco as criaturas para lhe<br />

apresentar nossos deveres<br />

Ato de reconhecer a felicidade de possuir a Jesus<br />

Ato de agradecimento a Jesus por vir a nós<br />

Ato de reconhecimento da humilhação de Jesus na Eucaristia<br />

Ato de reconhecer a bondade de Jesus na Comunhão<br />

Ato de reconhecer que possuímos a Jesus e que ele nos possui<br />

Ato de pedir a Jesus em nós para não mais viver da vida da natureza, mas da<br />

graça<br />

Ato de prestar atenção sobre a felicidade de possuir a Jesus em si<br />

Ato de reconhecer a felicidade que se teve de nutrir a alma com a Eucaristia<br />

Ato em que se ressalta a felicidade de possuir a Deus em si na Eucaristia<br />

Ato pelo qual se pede a Jesus em nós para que fale a nosso coração<br />

Ato de agradecimento por ter comido a Jesus<br />

Ato de reconhecer nosso corpo como tabernáculo de Jesus<br />

Ato pelo qual se reconhece o profundo respeito que devemos ter para Jesus que<br />

mora em nos<br />

Índice das Instruções e Orações para a Santa Missa<br />

Índice das Instruções metódicas para aprender a se confessar bem<br />

Índice das Instruções e Orações para a Confissão e a Comunhão<br />

Aprovação<br />

Instruções e Orações para a Santa Missa<br />

Instruções e Orações para a Confissão e a Comunhão<br />

Privilégio do Rei<br />

115


116

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