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Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault - Unicamp

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Priscila Piazentini Vieira<br />

<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> “A <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Loucura</strong>” <strong>de</strong> <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong><br />

<strong>de</strong>lírio por uma teoria geral <strong>da</strong> paixão. Essa natureza hierarquiza<strong>da</strong> feita<br />

pelos classificadores <strong>sobre</strong> a loucura, assim, não abalou as suas<br />

significações mágicas e extramédicas. No entanto, esse pensamento<br />

médico produz uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> extrema importância, pois pela<br />

primeira vez aparece um diálogo <strong>de</strong> cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> entre o médico e o<br />

doente. E a partir do <strong>de</strong>senvolvimento, ao longo do século XVIII, <strong>de</strong>sse<br />

conjunto médico-doente, ele passará a apresentar-se como o elemento<br />

constituinte do mundo <strong>da</strong> loucura.<br />

Será somente com o tratamento e o estudo <strong>da</strong> cura <strong>da</strong>s doenças<br />

nervosas que a medicina se tornará em uma técnica privilegia<strong>da</strong> e que,<br />

enfim, estabelecerá uma ligação com a loucura, tão recusa<strong>da</strong> pelo<br />

domínio do internamento. Serão com essas curas que nascerá a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma psiquiatria <strong>da</strong> observação, <strong>de</strong> um internamento <strong>de</strong><br />

aspecto hospitalar e do diálogo do louco com o médico.<br />

Compromete-se, assim, tudo o que havia <strong>de</strong> essencial na<br />

experiência clássica do <strong>de</strong>satino. Com a emergência <strong>de</strong>ssas novas<br />

práticas médicas, uma distinção, completamente estranha à era<br />

clássica, começa a se constituir: doenças físicas e doenças psicológicas<br />

ou morais. Essa distinção se tornou possível somente quando, no século<br />

XIX, a loucura e a sua cura foram introduzi<strong>da</strong>s no jogo <strong>da</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Essa diferenciação entre o físico e o moral apareceu somente quando a<br />

problemática <strong>da</strong> loucura se <strong>de</strong>slocou para uma interrogação do sujeito<br />

responsável.<br />

A psicologia, assim, é inteiramente organiza<strong>da</strong> ao redor <strong>da</strong> punição.<br />

Será <strong>de</strong>vido a essa mediação moral estabeleci<strong>da</strong> pela psicologia em<br />

relação à loucura que a última não po<strong>de</strong>rá mais falar a linguagem do<br />

<strong>de</strong>satino, já que estará inteiramente inseri<strong>da</strong> numa patologia. Se muitos<br />

percebem essa mu<strong>da</strong>nça como uma aquisição positiva, como o advento<br />

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