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Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault - Unicamp

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Priscila Piazentini Vieira<br />

<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> “A <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Loucura</strong>” <strong>de</strong> <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong><br />

A loucura, porém, não está somente liga<strong>da</strong> às assombrações e aos<br />

mistérios do mundo, mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às<br />

suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento<br />

que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura não<br />

diz respeito à ver<strong>da</strong><strong>de</strong> do mundo, mas ao homem e à ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

ele distingue <strong>de</strong> si mesmo.<br />

Há, assim, duas experiências <strong>da</strong> loucura na Renascença: <strong>de</strong> um<br />

lado, uma experiência cósmica, composta pela Nau dos loucos; <strong>de</strong><br />

outro, uma experiência crítica, relaciona<strong>da</strong> a to<strong>da</strong> essa ligação que o<br />

homem mantém consigo mesmo. É o confronto entre essas duas<br />

experiências que expressa a formulação que o começo <strong>da</strong> Renascença<br />

faz <strong>da</strong> loucura. Não há, <strong>de</strong>sse modo, uma única experiência formula<strong>da</strong><br />

pela Renascença <strong>sobre</strong> a loucura, esperando para se <strong>de</strong>senvolver,<br />

evoluir e finalmente atingir uma forma mais acaba<strong>da</strong> e mais complexa,<br />

mas seguindo a concepção <strong>de</strong> história genealógica utiliza<strong>da</strong> por<br />

<strong>Foucault</strong>, uma luta entre duas experiências que não param <strong>de</strong> brigar<br />

entre si, pois: “As forças que se encontram em jogo na história não<br />

obe<strong>de</strong>cem nem a uma <strong>de</strong>stinação, nem a uma mecânica, mas ao acaso<br />

<strong>da</strong> luta”.(<strong>Foucault</strong>, 1978: 28).<br />

Será no começo do século XVI que a experiência crítica, que fazia<br />

<strong>da</strong> loucura uma experiência na qual o homem era confrontado com sua<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, vence essa luta, oculta o sentido <strong>da</strong> experiência cósmica e<br />

ganha um privilégio ca<strong>da</strong> vez mais acentuado. As noções <strong>de</strong> luta e <strong>de</strong><br />

fragmentação <strong>da</strong> experiência <strong>da</strong> loucura, e a crítica a uma visão<br />

progressista, contínua e total <strong>da</strong> história po<strong>de</strong>m ser percebi<strong>da</strong>s no<br />

seguinte trecho:<br />

A experiência trágica e cósmica <strong>da</strong> loucura viu-se mascara<strong>da</strong> pelos<br />

privilégios exclusivos <strong>de</strong> uma consciência crítica. É por isso que a<br />

experiência clássica, e através <strong>de</strong>la a experiência mo<strong>de</strong>rna <strong>da</strong><br />

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