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Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault - Unicamp

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Priscila Piazentini Vieira<br />

<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> “A <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Loucura</strong>” <strong>de</strong> <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong><br />

I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média havia inventado a segregação dos leprosos. Assim, aquele<br />

vazio <strong>de</strong>ixado pelos leprosos foi ocupado pelos “internos”. Esse<br />

aprisionamento inventado pelo classicismo é complexo e possui<br />

significações políticas, sociais, religiosas, econômicas e morais.<br />

Foi necessária a formação <strong>de</strong> uma nova sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> social para<br />

isolar a categoria <strong>da</strong> loucura e <strong>de</strong>stiná-la ao internamento. Essa<br />

segregação <strong>da</strong> loucura relaciona-se com as seguintes questões: uma<br />

nova sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> à miséria e aos <strong>de</strong>veres <strong>da</strong> assistência, uma nova<br />

forma <strong>de</strong> reagir diante dos problemas econômicos do <strong>de</strong>semprego e <strong>da</strong><br />

ociosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma nova ética do trabalho e o sonho <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> a<br />

obrigação moral se uniria à lei civil, sob as formas autoritárias <strong>da</strong><br />

coação.(<strong>Foucault</strong>, 1997: 565). Serão, assim, esses temas que <strong>da</strong>rão o<br />

sentido do modo pelo qual a loucura é percebi<strong>da</strong> pela era clássica.<br />

A relação entre o internamento e o aparecimento <strong>de</strong> uma nova<br />

reação à miséria produz, no <strong>de</strong>correr do século XVI, uma nova figura do<br />

pobre, bem estranha à I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média. A miséria não possui mais a<br />

positivi<strong>da</strong><strong>de</strong> mística que estava presente na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média, mas é<br />

encerra<strong>da</strong> em uma culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Agora, num mundo no qual os Estados<br />

substituem a Igreja nas tarefas <strong>de</strong> assistência, a miséria se tornará um<br />

obstáculo contra a boa marcha do Estado, passando <strong>de</strong> uma experiência<br />

religiosa que a santifica para uma concepção moral que a con<strong>de</strong>na.<br />

Dessa forma, se o louco era, na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média, consi<strong>de</strong>rado uma<br />

personagem sagra<strong>da</strong> era porque, para a cari<strong>da</strong><strong>de</strong> medieval, ele<br />

participava dos obscuros po<strong>de</strong>res <strong>da</strong> miséria. A partir do século XVII, a<br />

miséria é encara<strong>da</strong> apenas em seu horizonte moral e, assim, se antes o<br />

louco era acolhido pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, agora ele será excluído, pois ele<br />

perturba a or<strong>de</strong>m do espaço social.<br />

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