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Reflexões sobre A História da Loucura de Michel Foucault - Unicamp

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Priscila Piazentini Vieira<br />

<strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> “A <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Loucura</strong>” <strong>de</strong> <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong><br />

mais apenas o leprosário afastado <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas representam a<br />

própria lepra diante <strong>de</strong>las. Um mal que é agora <strong>de</strong>scrito a partir <strong>da</strong>s<br />

expressões <strong>da</strong> química do século XVIII. Nos espaços fechados do<br />

internamento, assim, o mal estava em plena fermentação, pronto para<br />

entrar em ebulição e soltar os seus vapores nocivos e os seus líquidos<br />

corrosivos que se espalham por todo o ar e acabam por atingir as<br />

vizinhanças, impregnando os seus corpos e contaminando as suas<br />

almas. É, então, através <strong>de</strong> todo um saber fantástico, e não no rigor do<br />

pensamento médico, que o <strong>de</strong>satino enfrenta a doença.<br />

Foram esses temas fantásticos, no entanto, os primeiros agentes<br />

que possibilitaram a síntese entre o mundo do <strong>de</strong>satino e o universo<br />

médico. O médico, nesse contexto, não foi solicitado pelo internamento<br />

para fazer a divisão entre o mal e a doença, agindo como um árbitro,<br />

mas para proteger as pessoas, para ser o guardião <strong>de</strong>sse perigo que os<br />

muros do internamento transpiravam. O interesse dos médicos pelo<br />

internamento não se <strong>de</strong>u <strong>de</strong>vido a uma generosi<strong>da</strong><strong>de</strong> por um local on<strong>de</strong><br />

se castigavam indiferentemente as culpas. A origem <strong>da</strong> associação feita<br />

entre a medicina e o internamento não expressa uma neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

benevolente, lembrando que “O começo histórico é baixo”.(<strong>Foucault</strong>,<br />

1978: 18). Essa ligação não ocorreu <strong>de</strong>vido ao progresso alcançado pelo<br />

estatuto médico em direção à aquisição do conhecimento <strong>da</strong> loucura,<br />

mas foi possível somente através <strong>de</strong> um medo, <strong>de</strong> todo um simbolismo<br />

do Impuro, que animavam os contágios morais e físicos. É por essa<br />

concepção do Impuro e não por um aperfeiçoamento do conhecimento,<br />

que o <strong>de</strong>satino foi confrontado com o pensamento médico e isolado <strong>da</strong><br />

loucura.<br />

Esse novo medo do século XVIII faz emergir, portanto, uma nova<br />

loucura, questionando to<strong>da</strong> a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> que o internamento possuía<br />

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