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Ester Judite Bendjouya Gutierrez - SBHC

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Conclusão<br />

De 1856 a 1859, as anotações dos sepultamentos mostraram: quanto à condição, 44% de<br />

cativos e 56% de livres; quanto à cor, 44% de negros e de brancos, intercalados por 12% de<br />

“pardos”; quanto à origem, 40% de brasileiros, 30% de africanos e de europeus. Setenta por<br />

cento dos obreiros trabalhavam com a madeira. Quase 20% eram oleiros, dos quais todos<br />

eram africanos. Todos os africanos e negros eram escravos. Nenhum cativo contraiu<br />

matrimônio. Metade dos homens livres casou. O que mais matou negros, “pardos” e brancos<br />

foi a tuberculose. Para os brancos, esse mal vinha com o nome de ética. Comprovou-se a<br />

vinculação entre as olarias e a mão de obra cativa africana. Ser proveniente da África, ou não<br />

ter ascendência branca, significava, inexoravelmente, ser enterrado prisioneiro;<br />

inevitavelmente, não ter companheira.<br />

Entre os anos de 1848 e 1888, sobretudo, a Santa Casa atendeu obreiros de origem europeia.<br />

Nesse período, foram hospitalizados 811 construtores. Destes, praticamente 76% eram<br />

brancos, 13% negros e 10% “pardos”. Nesta ordem, estiveram aos cuidados da Santa Casa<br />

portugueses, brasileiros, alemães, franceses, italianos, africanos, ingleses, espanhóis,<br />

estadunidenses, uruguaios e prussianos. Índios, cabras e caboclos praticamente não foram<br />

registrados na Misericórdia. Fabricar elementos cerâmicos foi um trabalho de escravos; a<br />

seguir, de africanos e, em terceiro lugar, de negros. O inverso aconteceu com o trabalho de<br />

pedreiro. Assim, mais do que trabalhar com a argila, primeiramente os negros levantavam as<br />

paredes; em segundo lugar, os africanos; e, em terceiro, os cativos. Enfim, moldar a matéria-<br />

prima essencial e erguer a cidade foram trabalhos especialmente de escravos, africanos e<br />

negros. Os portugueses preferiram ser carpinteiros; os alemães e os franceses, ferreiros; os<br />

italianos dividiram-se entre pintores e pedreiros. Construir o Novo Mundo, para os africanos,<br />

escravos e seus descendentes brasileiros, consistiu em uma determinação; para os imigrantes<br />

europeus e seus descendentes brasileiros, uma ilusão. Não há como negar que, sobretudo, ao<br />

destinar aos escravos, africanos e negros as ocupações mais desqualificadas e pesadas – de<br />

oleiros e pedreiros –, estabeleceu-se uma divisão étnico-social no canteiro de obras. A origem,<br />

a cor e a condição de ser livre ou escravo foram determinantes na preservação da vida dos<br />

trabalhadores. As dificuldades chegavam a ser fatais para os africanos que conseguiam a<br />

liberdade. Quanto mais negro, mais africano e mais velho, mais desamparado. Para esses,<br />

praticamente não existia a vida em liberdade. Os óbitos no hospital foram reveladores do<br />

drama e do padecimento dos construtores. O maior percentual de mortes na Misericórdia foi<br />

de africanos livres. Liberdade seguida de morte era praticamente o que restava para os<br />

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