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Ester Judite Bendjouya Gutierrez - SBHC

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Enterramentos. 1856-1859<br />

Em 8 de novembro de 1855, a cólera entrou em Pelotas. Após 15 dias, às pressas, houve a<br />

abertura e a obrigatoriedade dos enterramentos no cemitério da Santa Casa. Nos dois<br />

primeiros meses, a doença matou uma média de 40 pessoas por dia. Em 24 de abril de 1856,<br />

enterraram o último colérico. A obrigatoriedade dos enterramentos no cemitério da<br />

Misericórdia mostrou um quadro único da população pelotense. No período compreendido<br />

entre 24 de abril de 1856 e 21 de fevereiro de 1859, dia em que os apontamentos dos<br />

sepultamentos terminaram de registrar a “ocupação” dos defuntos, foram anotados 25<br />

obreiros. Apesar do espaço de tempo ser reduzido e do consequente pequeno número de<br />

mortos, representou o quadro mais próximo da realidade e serviu de denominador para as<br />

relações entre os sepultamentos e hospitalizações. Ao relacionar enterramentos e<br />

internamentos, as diferenças aprofundaram as desigualdades sofridas entre cativos, livres e<br />

libertos; negros, pardos e brancos; africanos, brasileiros e europeus.<br />

Entre os anos de 1856 e 1859, 56% dos falecidos eram livres; 44%, cativos. Dividiam-se em<br />

44% de negros; 44% de brancos e 12% de “pardos”. Literalmente 62% tinham “um pé na<br />

África”. Os africanos e seus descendentes constituíam a maioria. Todos os africanos e negros<br />

morreram escravizados; todos os “pardos” e, obviamente, os brancos, livres. Do total, 30%<br />

eram africanos; 20%, gaúchos; 20%, brasileiros de outras províncias. Os 30% restantes<br />

repartiam-se, em ordem decrescente, entre franceses e alemães, mais um italiano e um<br />

português. Os nascidos em Pelotas representavam 16,7%. Entre os brasileiros, apareceram<br />

catarinenses e baianos. A perspectiva de vida ficava em 45 anos de idade. A moda era morrer<br />

aos 36. O mais moço faleceu aos 12 anos, e o mais velho, aos 70. Feneceram solteiros 72%.<br />

Metade dos homens livres casou. Nenhum escravo contratou casamento.<br />

Metade eram marceneiros e 20%, carpinteiros. O trabalho com a madeira ocuparia em torno<br />

de 70%. O número significativo de trabalhadores da madeira deu indícios de que esses, além<br />

do canteiro de obras, trabalhassem nas marcenarias, carpintarias, fábricas de carros e carroças<br />

e estaleiros. Quatorze por cento estavam representados por dois funileiros, um ferreiro e um<br />

pedreiro. Os oleiros, todos africanos e cativos, eram 16%. Portanto, reforça-se a hipótese de<br />

que, em especial, o trabalho de oleiro era destinado aos escravizados nascidos na África.<br />

Ética e tuberculose<br />

O que mais matou foi a tuberculose, apesar de, para os brancos, denominarem a tuberculose<br />

de ética. Entre os anos de 1856 e 1859, dos 25 obreiros sepultados, seis morreram por causa<br />

da tuberculose. Desses, quatro eram negros e dois, brancos. O que quer dizer que a<br />

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