Aspectos da História Trágico-Marítima. O reverso da medalha ou ...
Aspectos da História Trágico-Marítima. O reverso da medalha ou ...
Aspectos da História Trágico-Marítima. O reverso da medalha ou ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Carlos Jaca<br />
que impedia a existência de boas condições de manobra e implicava uma<br />
maior vulnerabili<strong>da</strong>de aos efeitos de qualquer temporal <strong>ou</strong> <strong>ou</strong>tro imprevisto;<br />
De facto, a ambição e a cobiça dos mercadores (gente fi<strong>da</strong>lga),<br />
carregando desmedi<strong>da</strong>mente os navios, numa ânsia de lucro e de rápido<br />
enriquecimento de qualquer maneira, mesmo pondo em risco a sua vi<strong>da</strong> e a<br />
dos demais passageiros e tripulantes, é aponta<strong>da</strong> por todos os autores como<br />
causa suprema dos desastres marítimos.<br />
Carregar as naus, aj<strong>ou</strong>jando-as ao peso <strong>da</strong>s mercadorias e riquezas<br />
pessoais, quando do regresso à metrópole, foi uma <strong>da</strong>s maiores e mais<br />
desastrosas preocupações de todos aqueles que eram dominados pela ânsia de<br />
se locupletarem a curto prazo; “os cofres flutuantes não resistiam à fúria dos<br />
elementos e abriam-se em pleno mar para os afun<strong>da</strong>r nos abismos, com as<br />
riquezas, os possuidores, e com os culpados, os inocentes”.<br />
Um bom exemplo, significativo <strong>da</strong> sobrecarga dos navios, é bem<br />
patente na per<strong>da</strong> do galeão “Santiago”, apresado pelos Holandeses em 1602.<br />
Atente-se. Após terem alijado inúmeras mercadorias suficientes para<br />
carregarem uma grande nau, os corsários estavam espantados de o verem<br />
ain<strong>da</strong> tão cheio de fazen<strong>da</strong>, não deixando de exclamar increpando: “Dizei,<br />
gente portuguesa, que nação haverá no mundo tão bárbara e cobiçosa, que<br />
cometa passar o Cabo <strong>da</strong> Boa Esperança na forma que todos passais, metidos<br />
no profundo do mar com carga, pondo as vi<strong>da</strong>s a tão provável risco de as<br />
perder, só por cobiça; e por isso não é maravilha que percais tantas naus e<br />
tantas vi<strong>da</strong>s”.<br />
Os estivadores carregavam conforme mais lhes convinha, ao sabor <strong>da</strong>s<br />
espórtulas de ca<strong>da</strong> interessado, “atulhando o galeão de far<strong>da</strong>ria em bar<strong>da</strong>, que<br />
subia no convés até à altura dos castelos, que transpunha o costado,” autêntica<br />
feira flutuante.<br />
14