Aspectos da História Trágico-Marítima. O reverso da medalha ou ...
Aspectos da História Trágico-Marítima. O reverso da medalha ou ...
Aspectos da História Trágico-Marítima. O reverso da medalha ou ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Carlos Jaca<br />
5º As per<strong>da</strong>s na sequência do mau estado de conservação <strong>da</strong>s<br />
embarcações que, em algumas situações, tornava necessário o seu abandono<br />
em alguma escala intermédia do percurso <strong>ou</strong> conduzia ao seu próprio<br />
naufrágio em pleno oceano;<br />
O mau estado de conservação <strong>da</strong>s naus agravava-se, sobretudo, devido<br />
ao processo de reparação por empreita<strong>da</strong>. A fim de p<strong>ou</strong>parem tempo, o<br />
trabalho fazia-se negligentemente e as naus ficavam com muitas deficiências.<br />
Expressivamente, refere João Batista Lavanha: “enfeitam o <strong>da</strong>no de maneira<br />
que pareça bem consertado, e debaixo dele fica a perdição escondi<strong>da</strong> e certa.<br />
Cortam-se também as madeiras fora do seu tempo e sazão, pelo que são<br />
pesa<strong>da</strong>s verdes e dessazona<strong>da</strong>s; e como tais encolhem, e fendem, e<br />
desencaixam-se do seu lugar; e com a humi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água de fora e grande<br />
quentura <strong>da</strong> pimenta, e drogas de dentro, logo se apodrecem e corrompem na<br />
primeira viagem”. Tal deveria ser o caso do naufrágio <strong>da</strong> nau “Santo<br />
Alberto”: a madeira <strong>da</strong> quilha estava tão podre que, quando deu à costa, Nuno<br />
Velho Pereira a desfez em pe<strong>da</strong>ços com uma cana.<br />
6º Finalmente, temos ain<strong>da</strong> uma situação, que não corresponde propriamente<br />
a uma causa de naufrágio, mas antes ao desconhecimento sobre o seu destino,<br />
testemunhado pela globali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s fontes documentais consulta<strong>da</strong>s. Este é o<br />
caso <strong>da</strong>s naus que desapareceram em determina<strong>da</strong> fase <strong>da</strong> viagem sem<br />
que tenham restado quaisquer testemunhas <strong>ou</strong> sobreviventes conhecidos<br />
para relatar o ocorrido, e <strong>da</strong>s quais nem sequer foi encontrado qualquer tipo<br />
de vestígio material que ajude a eluci<strong>da</strong>r--nos, <strong>ou</strong> aos contemporâneos, sobre<br />
o que então se pass<strong>ou</strong>.<br />
O maior número de naufrágios não deix<strong>ou</strong> rasto que pudesse assinalar o<br />
lugar e a causa do desastre. O mar “comia as naus” na expressão do tempo.<br />
Não deve, contudo, esquecer-se que em várias situações os naufrágios<br />
podiam ser motivados, não por uma causa eficaz isola<strong>da</strong>, mas antes por uma<br />
15