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o monólogo interior em uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira

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DA VOZ ENQUANTO MIMESE: O MONÓLOGO INTERIOR<br />

EM UMA ABELHA NA CHUVA DE CARLOS DE LIVEIRA<br />

<strong>de</strong> agora, concedida por interesse, por instinto <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Naquela aflitiva situação, o oleiro<br />

toma consciência <strong>de</strong> quão precioso lhe é o calor <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro e a última centelha <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um<br />

rival com qu<strong>em</strong> só por ambição e cegueira – segundo o que é lícito conjecturar do código<br />

i<strong>de</strong>ológico do <strong>na</strong>rrador – recusa aliar-se <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po útil para <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> ambos.<br />

4. Leituras<br />

Do que fica exposto ressalta a leitura que faço dos fragmentos <strong>na</strong>rrativos <strong>em</strong><br />

questão e se apresenta divergente das que até agora foram feitas. Entre estas, há <strong>uma</strong>s que são<br />

inteiramente laterais <strong>em</strong> relação ao espírito e objectivos dos trabalhos <strong>em</strong> que se inser<strong>em</strong> , e<br />

outras que o não são. Às primeiras pertence a interpretação já referida do Prof. Aguiar e Silva,<br />

mas é ape<strong>na</strong>s relativa à ce<strong>na</strong> da <strong>de</strong>struição dos retratos por Álvaro Silvestre e apresentada,<br />

como foi dito, <strong>em</strong> simples nota <strong>de</strong> roda-pé, <strong>na</strong> sua Teoria da Literatura ( 31973:337). A esta,<br />

que consi<strong>de</strong>ro a matriz <strong>de</strong> todas as outras, há que juntar a <strong>de</strong> outro investigador ilustre, o<br />

saudoso Prof. Jacinto do Prado Coelho, que atribuiu ao <strong>na</strong>rrador o enunciado relativo ao<br />

mestre António, num interessante estudo sobre “variantes e variações” (Coelho, 1976:33). Em<br />

ambos estes casos, não se tratava <strong>de</strong> estudar o romance <strong>de</strong> <strong>Carlos</strong> <strong>de</strong> <strong>Oliveira</strong>, mas ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong><br />

citar um ex<strong>em</strong>plo para fundamentar <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da afirmação teórica. E, não tendo que<br />

estabelecer <strong>uma</strong> relação com os outros enunciados da mesma <strong>na</strong>tureza, não se viram<br />

enredados, como outros autores, <strong>na</strong> teia <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s e explicações prolixas que tal<br />

interpretação levanta.<br />

A outro grupo distinto <strong>de</strong> leituras pertenc<strong>em</strong> aqueles estudos cujos autores se<br />

<strong>de</strong>bruçam expressamente sobre Uma <strong>Abelha</strong> <strong>na</strong> <strong>Chuva</strong>. Num trabalho redigido <strong>em</strong> Março <strong>de</strong><br />

1974, mas publicado <strong>em</strong> 1976, ao a<strong>na</strong>lisar os enunciados acima transcritos, relativos ao<br />

assassínio do cocheiro Jacinto, a mando do oleiro, João Camilo começa por hesitar entre <strong>uma</strong><br />

“primeira impressão” que o levaria a atribuir a voz ao “<strong>na</strong>rrador dirigindo-se directamente ao<br />

perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>”, e <strong>uma</strong> interpretação <strong>de</strong>finitiva que atribui a voz a <strong>uma</strong> entida<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte.<br />

No primeiro caso, tratar-se-ia <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “aparição” do <strong>na</strong>rrador, que, apesar <strong>de</strong> “surpreen<strong>de</strong>nte e<br />

<strong>na</strong>da lógica”, (Camilo, 1976:652), se explicaria como um “artíficio” livr<strong>em</strong>ente assumido pelo<br />

autor para ir <strong>em</strong> socorro da perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> n<strong>uma</strong> situação particularmente crítica. Assim,<br />

“perante a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atribuir a alguém essas palavras, ser-se-ia tentado a dizer que o<br />

autor infringiu aqui as regras que ele mesmo se impusera antes e que se dirige directamente<br />

ao perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>, <strong>em</strong>bora se revele por aí a sua existência <strong>de</strong> <strong>na</strong>rrador” (ibid.: 653; itálico meu).<br />

No segundo caso, tratar-se-ia da “voz do diabo” (ibid.653), pois, <strong>em</strong>bora admitindo que o<br />

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