18.04.2013 Views

o monólogo interior em uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira

o monólogo interior em uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira

o monólogo interior em uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DA VOZ ENQUANTO MIMESE: O MONÓLOGO INTERIOR<br />

EM UMA ABELHA NA CHUVA DE CARLOS DE LIVEIRA<br />

Seixo viu-se obrigada a <strong>de</strong>nunciar <strong>de</strong>feitos no romance <strong>de</strong> <strong>Carlos</strong> <strong>de</strong> <strong>Oliveira</strong>, o que<br />

representa, segundo me parece, um atentado contra o elevado nível da consciência artística <strong>de</strong><br />

um escritor que, ao contrário <strong>de</strong> certos críticos e guardiões da doxa neo-realista, se <strong>em</strong>penhava<br />

seriamente <strong>em</strong> conciliar o compromisso i<strong>de</strong>ológico com o compromisso estético (cf. Silvestre,<br />

2003: 45).<br />

O Prof. <strong>Carlos</strong> Reis, a qu<strong>em</strong> os estudos literários <strong>em</strong> geral e queirosianos <strong>em</strong><br />

particular muito <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, foi o primeiro – e ainda antes <strong>de</strong> João Camilo dos Santos (1987: 27-<br />

29) -, a associar ao enunciado referido pelo Prof. Aguiar e Silva, os outros dois que, sendo da<br />

mesma <strong>na</strong>tureza, não po<strong>de</strong>riam logicamente ficar <strong>de</strong> fora. Mas seguiu a interpretação do<br />

Mestre: “... o código i<strong>de</strong>ológico manifesta-se <strong>de</strong> modo explícito através <strong>de</strong> certas intrusões<br />

explícitas do <strong>na</strong>rrador” (Reis, 1976:348; itálico meu). Mantém essa mesma interpretação <strong>na</strong>s<br />

edições posteriores da obra referida, b<strong>em</strong> como n<strong>uma</strong> útil obra <strong>de</strong> carácter didáctico,<br />

riquíssima <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> análises percucientes, publicada alguns anos mais tar<strong>de</strong>. Nela<br />

se refere expressamente a “passagens do romance <strong>em</strong> que a voz do <strong>na</strong>rrador se faz ouvir <strong>de</strong><br />

modo particularmente incisivo” (Reis, 1981:58; itálico meu) e “àqueles fragmentos da<br />

sintagmática <strong>em</strong> que o <strong>na</strong>rrador intervém <strong>de</strong> forma visível e abrupta” (Reis, 1981:90; itálico<br />

meu). Contudo, os argumentos aduzidos <strong>em</strong> favor da sua posição não parec<strong>em</strong> convincentes.<br />

Antes <strong>de</strong> mais, <strong>em</strong>bora admita – o que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser sintomático - “perplexida<strong>de</strong>” e<br />

“estranheza” perante as intrusões referidas, segue a opinião <strong>de</strong> João Camilo ao admiti-las<br />

"como infracções a <strong>uma</strong> ord<strong>em</strong> estabelecida no <strong>interior</strong> do texto", mas acrescenta a explicação<br />

seguinte:<br />

... há que consi<strong>de</strong>rar que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> neutralida<strong>de</strong> não é um absoluto; ele só é verificável <strong>em</strong> confronto com o seu<br />

oposto, isto é, com as intromissões <strong>em</strong> questão, que, não sendo quantitativamente suficientes para por<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

causa a neutralida<strong>de</strong> referida, a confirmam por contraste. E isto parece-nos tanto mais certo quanto é visível, da<br />

parte do <strong>na</strong>rrador, o intuito <strong>de</strong>, apesar da feição interventora assumida pelo discurso, não perfilhar juízos<br />

<strong>de</strong>finitivos e irrecusáveis (Reis, 1981:91).<br />

O mínimo que se po<strong>de</strong> dizer <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> argumentação é que ela é especiosa e<br />

parece apontar para <strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong>sesperada e <strong>na</strong>da convincente <strong>de</strong> sair da aporia resultante<br />

da atribuição da voz ao <strong>na</strong>rrador e não à perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>. Neste aspecto, será curioso verificar<br />

que, ao retomar, no Dicionário <strong>de</strong> Narratologia (1987), a questão das intrusões do <strong>na</strong>rrador,<br />

<strong>em</strong>bora se refira ao romance <strong>de</strong> <strong>Carlos</strong> <strong>de</strong> <strong>Oliveira</strong>, e contra o que seria <strong>de</strong> esperar, não r<strong>em</strong>ete<br />

para nenhum dos enunciados <strong>em</strong> questão apontados como ex<strong>em</strong>plos <strong>em</strong> obras anteriores<br />

(Reis-Melo, 1987:201). Quanto ao <strong>na</strong>rrador, “por não se eximir à expressão <strong>de</strong> juízos <strong>de</strong> valor,<br />

protagoniza <strong>uma</strong> mais ou menos patente relação dialógica com as perso<strong>na</strong>gens” (ibid.:323).<br />

Não menos curioso é verificar que <strong>na</strong> bibliografia já aparec<strong>em</strong> os nomes <strong>de</strong> três gran<strong>de</strong>s<br />

29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!