18.04.2013 Views

TCC Marcia Nasciimento ok - PROEJA - RS

TCC Marcia Nasciimento ok - PROEJA - RS

TCC Marcia Nasciimento ok - PROEJA - RS

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

UNIVE<strong>RS</strong>IDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO<br />

CU<strong>RS</strong>O DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL<br />

INTEGRADA À EDUCAÇÃO BÁSICA, NA MODALIDADE DE EJA<br />

ẼG VĨ KI KÃMÉN SĨNVĨ HAN<br />

AS ARTES DA PALAVRA NO KAINGANG<br />

MÁRCIA GOJTẼN NASCIMENTO<br />

Orientador: Prof. Dra. Maria Aparecida Bergamaschi<br />

Co-Orientador: Prof. Rodrigo Allegretti Venzon<br />

Porto Alegre<br />

2009


FICHA CATALOGRÁFICA<br />

___________________________________________________________________________<br />

N244e Nascimento, Márcia Gojten<br />

E vi ki kâmén sinui han = As artes das palavras no kaingang / Márcia Gojten<br />

Nascimento ; orientadora Maria Aparecida Bergamaschi ; co-orientador Rodrigo<br />

Allegretti Venzon. – Porto Alegre, 2009.<br />

38 f.<br />

Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em<br />

Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à<br />

Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto<br />

Alegre, BR-<strong>RS</strong>.<br />

1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. EJA. 4. Educação<br />

indígena. 5. Língua kaingang - Tradição oral. 6. Língua kaingang – Oralidade. 7.<br />

Língua kaingang – Narrativas – Rituais – Cantos – Escrita. I. Bergamaschi,<br />

Maria Aparecida. II. Venzon, Rodrigo Allegretti. III. Título. IV. Título<br />

equivalente.<br />

CDU 374.7<br />

_____________________________________________________________________________<br />

CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.<br />

(Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979)


Sumário<br />

Agradecimentos<br />

Resumo<br />

Abstract<br />

Introdução<br />

Capítulo I - Um breve histórico da escrita da língua kaingang<br />

Capítulo II - Relato de uma experiência produtiva<br />

Capítulo III - Gĩr jyvãn – Aconselhamento para crianças<br />

Capítulo IV -Jyvãn - Aconselhamento em cerimônias de<br />

casamento<br />

Capítulo V - Tipos de Narrativa – Gufã<br />

Capítulo VI - Ti si kãme<br />

Capítulo VII - Jé (Cantos de animais)<br />

Capítulo VIII - Rituais fúnebres<br />

Considerações finais


Agradecimentos<br />

Primeiramente aos meus colegas professores Emir, Volmar e<br />

Marta, pela grande parceria nos trabalhos de pesquisa da nossa<br />

cultura e língua.<br />

Ao meu jóg Jorge Garcia, por sempre atender nossas<br />

solicitações com carinho importância.<br />

À minha orientadora profª Maria Aparecida Bergamaschi e co-<br />

orientador Rodrigo Allegretti Venzon, pelo grande apoio e pelo “olhar<br />

especial” à educação escolar indígena.


Resumo<br />

A presente monografia é uma introdução ao estudo e<br />

documentação da língua kaingang, mais especificamente as Artes da<br />

Palavra, dentro da tradição oral. Analisa os diferentes gêneros de<br />

discurso dentro da língua kaingang como, por exemplo, os diferentes<br />

tipos de narrativas, cantos, rezas, etc; e busca mostrar as<br />

especificidades do uso elaborado da língua, as complexidades da<br />

oralidade que estão por trás do aparente uso comum da língua.


Abstract<br />

The present monograph is an introduction to kaingang language study and<br />

documentation more specifically on The Art of the Word within oral tradition. It<br />

analyses the different sorts of discussion in kaingang language as, for<br />

instance,the different kinds of narratives, chants, prayers, etc. and intends to<br />

show the specificities of the elaborated use of the language and the<br />

complexities of speech which is behind the apparent common use of language.<br />

Key-words: kaingang, language, oral tradition.


A Arte da Palavra no kaingang<br />

Introdução<br />

A língua kaingang pertence à família linguística Jê e apresenta<br />

cinco dialetos já detectados e descritos por alguns lingüistas¹ 1 . Esses<br />

dialetos são distribuídos por uma população de quase 30 mil<br />

kaingang que habitam a região sul do país e parte do estado de São<br />

Paulo. Os kaingang sozinhos representam cerca de 45% de toda a<br />

população dos povos de língua jê, e estão entre os 5 povos indígenas<br />

mais populosos do Brasil.(D’Angelis 2002).<br />

A língua kaingang é considerada umas das línguas indígenas<br />

com maior número de falantes no Brasil. Um dado que é um tanto<br />

tranqüilizador para os kaingang, que já viram sua língua num estágio<br />

de crise muito preocupante, inclusive num passado não tão distante.<br />

Porém, segundo os mais recentes estudos e discussões sobre a<br />

sobrevivência das línguas minoritárias, em cenário global, quase a<br />

totalidade das línguas indígenas faladas no Brasil são consideradas<br />

“línguas em perigo de extinção”. Segundo Franchetto (2004), na<br />

verdade, qualquer língua minoritária em uma situação de dominação<br />

colonial deveria ser considerada “em perigo (de extinção)” ou<br />

“comprometida”. Mesmo as línguas ainda aparentemente seguras<br />

podem mostrar sinais de crise, que podem, com o tempo, resultar em<br />

extinção lingüística (e cultural).<br />

Essas previsões, citadas anteriormente, se tornam mais<br />

preocupantes quando nos deparamos com um histórico bastante<br />

devastador desde os primeiros contatos com a sociedade envolvente,<br />

de políticas educacionais de enfraquecimento das línguas e culturas<br />

1 A lingüista Ursula Wiesemann (1967; 1978) foi responsável pelo estudo da gramática kaingang e pela<br />

implantação da escrita dessa língua, classificando-a em cinco dialetos: (1) de São Paulo (SP), entre os rios<br />

Tietê e Paranapanema; (2) do Paraná (PR), entre os rios Paranapanema e Iguaçu; (3) Dialeto Central (C),<br />

entre os rios Iguaçu e Uruguai, Estado de Santa Catarina; (4) Dialeto Sudoeste (SO), ao sul do rio<br />

Uruguai e a oeste do rio Passo Fundo, Estado do Rio Grande do Sul; e (5) o Dialeto Sudeste (SE), ao sul<br />

do rio Uruguai e leste do rio Passo Fundo. (disponível em www.socioambiental.org)


indígenas. A partir da década de 1970, o movimento indígena tem<br />

conseguido mudar conceitos e os direcionamentos dessas políticas.<br />

Mas, na prática e em muitos estados, as antigas políticas de transição<br />

lingüística ainda estão em pleno vigor, sobrepondo-se aos direitos<br />

conquistados na legislação.<br />

Nesse sentido, o intuito é de poder estar contribuindo de<br />

alguma forma para a revitalização dessas línguas. Com este trabalho<br />

pretendemos, a princípio, socializar algumas experiências que<br />

julgamos muito válidas; em especial aos professores indígenas, tanto<br />

nas aulas com seus alunos como em sua tarefa de pesquisadores.<br />

Consideramos que em um “construir educação”, como é o caso da<br />

educação escolar kaingang, a mesma deveria estar alicerçada no<br />

estudo de sua cultura, sua história e língua, em interface aos<br />

conhecimentos da sociedade envolvente, tendo então como base o<br />

estudo e pesquisa. Todavia, não temos percebido grandes avanços<br />

nas políticas educacionais/linguísticas com essa perspectiva (a salvo<br />

as iniciativas isoladas de organizações independentes). Sentimos,<br />

então, a necessidade de despertar uma reflexão mais crítica em torno<br />

da importância da pesquisa e documentação de línguas e culturas<br />

indígenas.<br />

Posteriormente, entraremos então no tema propriamente dito,<br />

que é uma introdução “As Artes da Palavra”, fazendo uma relação<br />

com a literatura. Esse termo é utilizado, no presente estudo,<br />

parafraseando Franchetto (2003).<br />

Nos capítulos que seguem, será feita uma exemplificação das<br />

construções textuais elaborados na oralidade da língua kaingang,<br />

como, por exemplo, os diferentes tipos de narrativas, cantos, rezas,<br />

etc. Vamos também fazer um breve estudo e análise das construções<br />

gramaticais que venham a caracterizar os diferentes tipos de textos,<br />

como termos específicos da língua kaingang que por ventura<br />

possamos detectar estarem classificando esses textos.


Do material de pesquisa aqui analisado, a maior parte foi coletada em<br />

campo e o restante constitui de material publicado (como cd de<br />

áudio).


Capitulo I<br />

Um Breve histórico da Escrita da Língua Kaingang<br />

No final da década de 1950, a línguísta Ursula Wiessemann deu<br />

inicio ao estudo da ortografia e gramática da língua kaingang, sendo<br />

a responsável pela implantação da escrita dessa língua e,<br />

posteriormente pela implantação do Ensino Bilíngüe em todas as<br />

escolas Kaingang a partir da década de 1970.<br />

O Ensino Bilíngüe, inicialmente, não tinha outra finalidade a não<br />

ser o de facilitar e acelerar o processo de aprendizagem da língua<br />

portuguesa, pelas crianças indígenas; introduzindo primeiro a língua<br />

kaingang nas primeiras duas séries e, logo que se dessem por<br />

alfabetizados, era substituída pela língua portuguesa.<br />

Essa política de educação caracterizou-se como uma estratégia<br />

de políticas para o abandono da língua materna. Como é claramente<br />

colocado por D’Angelis:<br />

As pressões sobre a sociedade kaingang não foram, porém, apenas<br />

aquelas da discriminação, mas também configuram-se em políticas<br />

sistemáticas para que os índios deixassem de falar a língua materna.<br />

Curiosamente, a escola primária, presentes em diversas comunidades<br />

kaingang pelo menos desde a década de 30, e amplamente<br />

generalizada nas décadas de 50 e 60, tornou-se efetivamente<br />

eficiente como instrumento de pressão contra a manutenção da<br />

língua indígena quando passou a ser bilíngüe, nos anos 70. (D’Angelis<br />

2002).<br />

Para garantir o sucesso do ensino bilíngüe, em 1970 deu-se<br />

início a formação dos primeiros monitores bilingues² 2 em nível de 1º<br />

grau. Os próprios indígenas estavam sendo qualificados para<br />

2 Iniciativa do SIL (Summer Institute of Linguistics) através da concretização do projeto denominado<br />

Centro de Treinamento Profissional Clara Camarão, Terra Indígena Guarita, no município de Tenente<br />

Portela –<strong>RS</strong>.


servirem de instrumento direto no processo de integração e<br />

abandono da língua³ 3 .<br />

A realidade do ensino, enfim, da Educação Escolar indígena, é<br />

bem diferente na atualidade. São bem presentes as iniciativas e o<br />

anseio para tornar o ensino especifico e diferenciado bem concreto<br />

nas escolas das comunidades, e reverter a função devastadora que a<br />

princípio o ensino bilíngüe exercia. Sem dúvida, são muito relevantes<br />

as iniciativas de professores indígenas que buscam por si próprios,<br />

condições para efetivar projetos de fortalecimento e revitalização<br />

lingüística e cultural, ultrapassando dessa maneira as “limitações” e<br />

deficiências que o sistema educacional ainda carrega. Da mesma<br />

forma, ressaltamos a importância das iniciativas bem sucedidas de<br />

instituições e organizações independentes, que inclusive são bem<br />

raras aqui na região Sul.<br />

Contudo, o que temos de concreto hoje, se torna muito<br />

pequeno diante da gravidade da situação que se apresenta. As<br />

seqüelas e conseqüências são muitas. É preciso que se dê de fato o<br />

devido respeito à diversidade cultural e lingüística do país. Tratar<br />

com a devida importância de patrimônios da humanidade que se<br />

perdem sem possibilidade de resgate.<br />

A avaliação dos lingüistas em relação à sobrevivência das<br />

línguas minoritárias é muito preocupante. De acordo com Franchetto<br />

(2004), mesmo em casos de extrema urgência, onde há um sério<br />

risco de perda ou até mesmo já houve extinção, não há ações<br />

direcionadas. Em um nível geral, no Brasil, não há nenhum programa<br />

consistente e monitorado para a revitalização linguística, onde ela<br />

ainda é possível; nem qualquer tipo de acompanhamento e análise<br />

das experiências espontâneas que podem estar ocorrendo.<br />

3<br />

Sobre essa experiência, o ensino bilíngüe, Andila Inácio Belfort., aluna da primeira turma de formação<br />

de professores bilíngües diz:<br />

Entendemos hoje que a criação do projeto de formação de professores indígenas tinha o objetivo de<br />

abreviar a alfabetização bem como o período de transição da língua kaingang para o português das<br />

crianças indígenas, com isso a FUNAI apressaria a integração e a IECLB, a evangelização do povo<br />

kaingang. (BELFORT 2005)


No caso da língua kaingang, os “sinais de perigo” estão bem<br />

visíveis em vários aspectos. Apesar de ter um bom número de<br />

falantes, a língua kaingang vem perdendo espaços importantes para<br />

a língua portuguesa. As gerações mais jovens, filhos de casamentos<br />

com fóg tendem a falar somente o português. O cotidiano tradicional<br />

familiar, pode se dizer assim, também vem se transformando. Como<br />

por exemplo, as visitas noturnas entre as famílias que propiciavam às<br />

crianças ouvirem as narrativas, já ocorrem de maneira raríssima.<br />

Escolas têm optado por ministrar a alfabetização (de crianças que<br />

têm o kaingang como língua materna) na língua portuguesa, por falta<br />

de recursos eficientes para o ensino da língua kaingang. E ainda<br />

temos nas escolas uma clientela que chega cada vez mais “exigente”,<br />

por serem de uma geração que convive e se utiliza das praticidades<br />

que a tecnologia proporciona, e que a escola não consegue<br />

acompanhar.<br />

Da mesma forma, encontramos muitas dificuldades no<br />

desenvolvimento da literatura escrita da língua e no estudo de sua<br />

gramática. Por mais que os professores kaingang, que ministram o<br />

ensino bilíngüe, tenham formação superior, eles não possuem<br />

formação específica sobre a gramática da língua; trazendo somente o<br />

conhecimento lingüístico obtido no ensino fundamental. A salvo<br />

aqueles professores que se formaram em curso de magistério<br />

específico (e alguns em curso superior), e que tiveram uma formação<br />

mais direcionada.<br />

Diante disso, abrem-se lacunas nesse amplo território da<br />

tradição oral das línguas indígenas. Alguns gêneros continuam em<br />

evidência, e outros vão ficando guardados nas memórias dos mais<br />

velhos, como as narrativas sagradas, mitos e lendas. É preciso então<br />

que se pense em estratégias para trazê-las de volta aos ouvidos dos<br />

mais jovens, para que se encantem com este mundo onde o real e a<br />

magia seguem entrelaçados.


Capitulo II<br />

Relato de uma experiência produtiva<br />

Em 2007, preparamos na Escola Estadual Indígena Pẽró Ga (na<br />

comunidade da Aldeia Bananeiras – Terra Indígena Nonoai, município<br />

de Gramado dos Loureiros – <strong>RS</strong>), uma programação para os alunos<br />

da 4ª série, já que os mesmos estavam se despedindo da escola e<br />

indo para outra escola não indígena fora da aldeia. Achamos que<br />

deveríamos fazer alguma coisa diferente e ao mesmo tempo algo que<br />

soasse importante para essa nova fase da vida deles, uma vez que<br />

sair da aldeia para estudar ainda é uma dificuldade bem presente<br />

para os adolescentes dessa comunidade. Preparamos então uma<br />

“Noite Cultural”. Convidamos o senhor Jorge Garcia para passar a<br />

noite com a gente na escola e conversar com as crianças.<br />

O senhor Jorge Garcia é uns dos últimos kujá (pajé) que temos<br />

na região, é da metade kamẽ (rá téj) e é descendente de Kaingang<br />

com Guarani. É fluente nas duas línguas indígenas e também no<br />

português. A sua trajetória de vida e de sua família é marcada pela<br />

participação ativa na história de luta na região onde cresceu. Dedica-<br />

se, atualmente, em repassar os conhecimentos adquiridos em sua<br />

experiência de vida às gerações mais jovens. Apesar de existirem<br />

ainda alguns kujás, dificilmente se vê a realização de um ritual devido<br />

a vários motivos, como influência religiosa, a preferência da<br />

população pela medicina convencional, e assim por diante.<br />

Para a programação da noite, pedimos que ele, após sua fala,<br />

cozinhasse algumas ervas para que as crianças pudessem ver e<br />

experimentar, já que nunca haviam visto um kujá realizando um<br />

ritual. Ficamos um pouco apreensivos sobre qual seria a reação dos<br />

alunos diante do ritual do cozimento das ervas e purificação, pois a


Capitulo III<br />

Gĩr jyvãn – Aconselhamento para crianças<br />

A seguir, temos transcritos trechos da fala do seu Jorge Garcia,<br />

no qual, conforme a análise detecta ser, esse discurso, uma variante<br />

da Narrativa Kaingang, ao que chamamos de “Jyvãn”<br />

(aconselhamento).<br />

Com essas palavras deu início à sua palestra:<br />

Havé!<br />

Ũri sỹ ãjag vej kãtĩg ha. Kófa ti. Tỹ ija jag vovo nĩ ham. Tỹ ija<br />

ajag gufã si nĩ.<br />

Havé, inh kófa vera ha! Sỹ jag jẽ’ỹn kãããn mỹr ser ham, inh<br />

kanhkã krã hã tỹ tỹ jag nỹtĩ ha. Kỹ tỹ inh mỹ ha tỹ’ĩ tĩ isỹ jag kãkã<br />

jãn kỹ ha, sanh há hara.<br />

Sa jag mỹ vãmén jé, kỹ jẽmẽm nĩ, keja! Inh pi ajag mỹ ón! Sa<br />

kejãn nén ũ tón kỹ, ki hã sỹ vãmén. Inh pi kejẽn ũ mỹ un-ón ge nĩ.<br />

Hãra jag tỹ tỹ inh krẽ kãsir nỹtĩ, kỹ tỹ inh mỹ ha tỹvĩ tĩ.<br />

Kỹ ajag jykre ki vin nĩ, inh vãmer tỹ. Mỹ ke!? Keja’! kỹ tỹ sĩnvĩ<br />

tĩj. Ajag tỹ inh rikén vẽjẽ’ỹn gen vẽ.<br />

Vera ha! Tỹ ẽg tỹ kanhgág nỹtĩ. Ẽg pi tỹ ũ nỹtĩ ham, tỹ jag<br />

kanhkã kar ẽg tỹ nỹtĩ. Ẽg jamré ag, ẽg kanhkã ag, kamẽ, kanhrukrẽ<br />

ke jé ẽg ne tóg ham. Kỹ tỹ sĩnvĩ tĩ, ẽg tỹ tag ki kanhrãn kỹ. Kỹ ajag<br />

jykre ki vin nĩ.


Ajag nỹ, ajag jóg ki jãmãm nĩ. “Vovo tỹ ki há mỹ’” kem nĩ fag<br />

mỹ. Kỹ fag tỹ ajag mỹ tój. Vỹsỹ ẽg tũ vẽ hamã, kanhgág ag tỹ jag<br />

jã’ỹn fã vã. Hã ki ja tĩ nĩ ver. Hã ki ja sanh há nĩ. Ke ja’! Kỹ inh<br />

jãmãm nĩ. Inh pi fagnĩnh mỹ inh pi ajag, ajag mỹ vãmén ge nĩ ham.<br />

Inh mỹ sĩ hã ve kỹ ija ser ãjag kãkã jã kỹ, inh sanh há hãra ver ãjag<br />

mỹ vãmén jãn ha.<br />

(...) Ũn tỹ tỹ kanhgág tỹ, nãn mré ẽg tỹ sa nĩ ham. Nãn ga, ke jé ẽg<br />

ne tóg ham. Ti kikaró kaaar jag tỹ nỹ tĩ, jẽsĩ ag mré hẽ: fẽr, grun, ỹ...<br />

nén ũ kar’ kikaró ãg tỹ nỹ tĩ ham. Kar tỹ ẽg kikaró nĩ gé. Tin hãnrike<br />

ãn kikaró ãg tỹ nỹtĩ, jo fóg ag pi kikaró nỹ tĩ ham. Ti ne ẽg to fỹ ke nẽ<br />

ham. Ẽg to mryg jé tóg mũ gé. Hara ẽg tỹ kikarón ti tỹ ẽg mỹ nén ũ<br />

vãnhmỹ, ẽg mré vĩ rike tỹ nĩ gé.<br />

Havé tỹ ija kujá nĩ kỹ ja kikaró nĩ nén ũ tỹ hãnrikej ke ãn ti, hara ũ pi<br />

inh (kri) fig tĩ gé ham. (...)<br />

(...) ajag tỹ ajag jẽ’ỹn kej ke vã ser ham. Ke ja’! Inh rikén. Mỹr,<br />

kãnhmar végtũ kej mỹ’. Ãjag hã nỹ mĩ mũj mỹ’. Kỹ inh vĩ jẽmẽm nĩ!<br />

“Kófa nĩ vé ge ja nĩg”, ke ja’! Kỹ han sór nĩ, ajag! Kỹ tỹ sĩnvĩ tĩj.<br />

Kanhgág vãfor kamãg nĩ. Ẽg pi hã ki fóg ag rikej ke ve nĩ ham.<br />

Tugnỹm kãn sỹ tĩ, tãmĩ.<br />

Hỹ! Kỹ inh vĩ tag jãmã há han nĩ ham. Ajag eskora ra mũ kỹ jag<br />

professora fag vĩ jẽmẽm nĩ gé, ajag nỹ riken vã gé. Kar estuda ke há<br />

han nĩ. (...)<br />

Jo inh pi kikaró nĩ ham, vé inh nĩ ajag... ihã kikaró nĩ, tag, ẽg ga kãmĩ<br />

ẽg kanhgág, ẽg tỹ jagnã to há, ẽg tỹ jagnã mré há, ẽg tỹ ẽg jamré,<br />

ẽg kanhkã, ẽg ve fag, ẽg má fag, ẽg nỹ... Tag hã kikaró inh nĩ ham.<br />

Haran pi mág nĩ gé ham, inh vẽnhrán kórég nĩn, ke mỹr inh(...).Kỹ<br />

vỹsãnsãn nĩ ãjag, tag nón. Tỹ ũ nĩ’, tỹ ũ nĩ’ ke tỹ mũ hamã. Hara tỹ<br />

kejãn há kej mũ, ajag mỹ, ajag tỹ inh vĩ jẽmẽn kỹ. Jo jag tỹ jẽmẽg


tũn kỹ, hãrej? Jo ija kãnhmar vén kej mỹ’, inh pi ajag mré ge tĩj, mỹr<br />

isĩg gen hỹnỹ’, ajag... ãmã ũ ra kegé. Kỹ inh pi vej ke mũ ham.<br />

Kỹ tỹ, vãsãnsãn nĩ. Jag tỹ tỹ gĩr tag tỹ inh mỹ sĩnvĩĩĩ tỹ’ĩ nỹtĩ<br />

ham. Ne pi inh mỹ tag rike nĩ ha. Isỹ tãmĩ tĩg han, hara ja tag vég<br />

tũn ver, ajag tỹ kanhgág tỹ’ĩ tỹ ki nĩn ha. Ke ja’! Kỹ tỹ inh mỹ sĩ tĩ, ẽg<br />

tỹ kanhgág tag ver.<br />

Tradução<br />

Hoje vim visitar vocês.<br />

Sou avô de vocês, sou a geração velha do tempo de vocês.<br />

Olhem! Olhem para a minha velhice. Eu presenciei o<br />

crescimento de todos vocês. Vocês são filhos da minha gente. Estou<br />

muito feliz por poder estar aqui hoje com vocês, com essa idade bem<br />

avançada que tenho hoje.<br />

Vou falar pra vocês, então me escutem. Não vou mentir para<br />

vocês. Sempre falo o que é correto. Não tenho motivos pra falar<br />

mentiras. Vocês são os meus filhinhos e por isso estou muito feliz.<br />

Então guardem em suas mentes o que contarei a vocês. Porque<br />

assim será bonito, belo... De agora em diante, assim como eu fiz,<br />

vocês cuidarão um do outro.<br />

Reparem, nós somos todos kaingang. Não somos diferentes um<br />

do outro. Lembrem, somos todos irmãos, parentes. Somos cunhados,<br />

irmãos. Devemos nos lembrar de kamẽ e kanhru. É bonito quando<br />

aprendemos isso (tudo está em seu devido lugar quando aprendemos<br />

isso). Portanto guardem em suas mentes. Perguntem a seus pais<br />

sobre o que o vovô está dizendo e eles contarão a vocês. Isso são<br />

coisas nossas. Cuidar um do outro são coisas dos kaingang desde<br />

antigamente. E ainda vivo seguindo isso, até estar velho agora. (...)<br />

Todo o kaingang sabe que tem algo em comum com a mata, o<br />

ser espiritual da mata. Todos vocês o conhecem. Até os pássaros o


conhecem. E ele também sabe de nós. Sabemos quando acontece<br />

algo, e os fóg já não percebem isso. Ele chora, se manifesta pra nós.<br />

E entendemos o que quer dizer. É como se falasse com a gente. Sou<br />

kujá e sei prever o que está para acontecer. Mas já não acreditam<br />

mais no que eu falo.<br />

Chegou o momento de vocês cuidarem uns aos outros, como eu<br />

fiz. Pois logo não me verão por aqui. Vocês é que ficarão por aqui.<br />

Então escutem e guardem o que estou dizendo a vocês. “Assim dizia<br />

o velho!” digam isso (e tentem seguir o que eu vos ensinei). E será<br />

bonito. Não permitam que o kaingang se perca. Nunca devemos<br />

tentar ser como os fóg, não há razão alguma para isso. Já observei<br />

em toda parte.<br />

Sim! Então ouçam bem o que estou dizendo a vocês. E, quando<br />

forem à escola, ouçam bem seus professores também, eles são como<br />

os seus pais e, estudem bem. Ao contrário de vocês, eu não tenho<br />

esse conhecimento. Às vezes, os fóg me chamam, mas não sei sobre<br />

a escrita. Eu só sei sobre ser kaingang em nossas terras, que é viver<br />

em harmonia um com o outro, cuidando dos irmãos, dos pais, dos<br />

cunhados, das sogras... . Só entendo sobre isto. Mas isto, às vezes<br />

não é suficiente (não é grande coisa), pois não sei escrever. Então se<br />

esforcem em busca dos estudos. Às vezes é complicado, mas tudo se<br />

ajeitará se vocês guardarem em suas mentes tudo que eu lhes disse.<br />

E, eu tombarei em breve. Não ficarei aqui com vocês pra sempre,<br />

pois já é tempo de eu ir, e não verei o que está para acontecer.<br />

Então sejam persistentes. Vocês, crianças, são muito lindas pra<br />

mim, não há nada igual pra mim. Andei muito e não encontrei nada<br />

igual a isto: um lugar cheio só de kaingang. Por isso estou muito feliz<br />

por ainda sermos kaingang.<br />

Essa “fala” é um tipo de discurso específico dos<br />

chefes/lideranças, kujá, anciãos. É um gênero de discurso<br />

denominado jyvãn, traduzido por aconselhamento. A realização


desse discurso, público, é restrita aos homens. É cultural a mulher<br />

kaingang ser mais preservada quanto à exposição pública, garantindo<br />

sua participação de maneira mais discreta.<br />

Quem realiza esse discurso são pessoas que obtém uma boa<br />

conduta na sociedade. São pessoas com prestígio social. Percebe-se<br />

uma relação entre velhice, experiência e sabedoria.<br />

Nesse texto encontramos expressões que parecem ser<br />

específicas desse gênero, jyvãn.<br />

Observe os exemplos:<br />

Mỹ ke ja!<br />

Inh vĩ tag tỹ ãjag jykre ki vin nĩ. (Guardem minhas palavras em suas<br />

mentes)<br />

Kỹ inh vĩ tag jẽmẽ há han nĩ.(Por isso, preste atenção em minhas<br />

palavras)<br />

Hamẽ!


Capitulo IV<br />

Jyvãn - Aconselhamento em cerimônias de casamento<br />

Temos aqui uma variante do gênero jyvãn/aconselhamento,<br />

visto anteriormente. Um pouco semelhante ao aconselhamento de<br />

crianças, este se dá nas cerimônias de casamento.<br />

Entre as metades clânicas, o casamento se dá entre pessoas de lados<br />

opostos e, o aconselhamento é feito pelos jóg (ancião pertencente à<br />

mesma metade de cada um) dos noivos. Neste caso, o noivo é de<br />

metade kamẽ e seu conselheiro, então, é um ancião também da<br />

mesma metade.<br />

Os trechos a seguir são de um aconselhamento realizado por<br />

Nízio Kẽrán, num casamento que aconteceu em maio de 2007, em<br />

Nonoai. O conselho foi para o noivo.<br />

Ũri...<br />

Inh kósin,<br />

Ũri ija ã mỹ, ã mỹ vãmén mỹ, hamã, inh kósin.<br />

Ũri... ẽg tỹ jagmré mỹsinsér kãn ham, ã tỹ, ã kakrã ti krã, ti kósin<br />

fi tỹ vãsusa tag tu, inh kósin, ham.<br />

Ũri ã tỹ, kósin fi tỹ ũri, ã mỹnh fi riken kỹ fi tỹ nĩj mũ gé.<br />

Ũri ã tỹ, ũ tỹ ã mỹ nén ũ han ge mũ fi vỹ tỹ ũri inh kósin fi nỹ, inh<br />

kósin.<br />

(...)<br />

Ũri ã tỹ tỹ fi kafã nĩ, ã!<br />

Ũri ã tỹ tỹ fi panh ri ke nĩ gé.<br />

Ke mũn kã ã tỹ ũri... fi jã’ỹn há han nĩ.<br />

à kakrã mỹ fi jã’ỹn há han nĩ.<br />

à má fi mỹ fi kósin fi jã’ỹn há han nĩ. Kỹ tỹ inh mỹ há tĩj, “inh kósin<br />

ne sỹ ti mỹ vĩ jãmã jan”, ke jóg.


Tradução:<br />

Hoje, meu filho...<br />

Hoje, meu filho! Te direi algumas palavras.<br />

Hoje, juntos nos alegramos, pois você tornou a filha do seu sogro,<br />

parte sua.<br />

A partir de hoje, esta filha, será como sua mãe.<br />

A partir de hoje, esta, cuidará de você. E você será o parceiro dela.<br />

Hoje você será também, como um pai pra ela.<br />

(...)<br />

Assim, cuide bem dela.<br />

Cuide bem dela para o seu sogro e para sua sogra.<br />

E assim ficarei contente. “Meu filho ouviu e guardou as minhas<br />

palavras”, assim direi, então.<br />

Nesse discurso, percebemos a poética através da repetição de<br />

versos, através dos ritmos e entonação.


Capitulo V<br />

Tipos de Narrativa<br />

Gufã<br />

Na língua kaingang existe a palavra kãmén, que pode ser<br />

traduzida por “contar, dar noticias, explicar”. Kãmén vem da palavra<br />

kãme, que significa “história” (a ser contada). Por exemplo: “Pĩ<br />

Kãme” (História do Fogo). A palavra kãme é caractrística do gênero<br />

narrativo. Toda narrativa é finalizada com a presença dessa palavra,<br />

em frases como: “Hãvẽ ser, Pĩ Kãme ti” (esta é, então, a História do<br />

Fogo).<br />

Na cultura kaingang, conseguimos identificar, até então, três<br />

tipos de narrativas. Primeiro temos as denominadas gufã, que quer<br />

dizer ancestral. São narrativas que contam as origens, nos tempos<br />

ancestrais, e relatam fatos de tempos mais antigos. Dentro do gênero<br />

gufã, temos também as fábulas.<br />

Temos também as narrativas chamadas Ti si kãme, que são as<br />

histórias antigas e verdadeiras. Um outro gênero, que corresponde às<br />

narrativas engraçadas – inventadas, mentiras –, é conhecido como<br />

vẽnh ó’.<br />

Distinguimos um jeito especifico de contar os gufã. Sempre há<br />

um ou mais interlocutores que, a cada episódio contado, responde(m)<br />

ao narrador. As narrativas que relatam tempos ancestrais geralmente<br />

iniciam-se com essa expressão: “Gufã vỹ nĩg tĩ!” (Havia um<br />

ancestral). Em seguida, o interlocutor responde, falando “e’” como se<br />

estivesse dizendo “sim, conte-me mais”. Assim, se segue por toda a<br />

narrativa.<br />

Veja, a seguir, o trecho que fala dos primeiros contatos com os<br />

fóg (brancos).<br />

Gufã vỹ nĩg tĩ!


E’<br />

Kỹ kófa tỹ’ĩ fi ne tỹ kẽ nĩg tĩ.<br />

E’!<br />

Kỹ fi tỹ kajãr jẽ’ỹn nĩg tĩ. Kajãr mag tỹ ge jã ha’<br />

E’!<br />

Hara tỹ fi vĩ kikaró nĩg tĩ. Fi tỹ ti jãnãn kỹ tỹ fi mỹ tĩ tĩ, nén ũ nón.<br />

Kakanã, mỹg mág... Ti tỹ mỹg ve kỹ tỹ ser ve kónãn tĩ jé tóg, nón.<br />

Kãj sĩ... kãj sĩ hanja fi tỹ nĩg ti mỹ. kỹ fi tỹ ser ti nunh to sa ja nĩg. Kỹ<br />

ti ne tỹ tu kỹ tĩg tĩ. Hara fãn kỹ tỹ tũ kỹ(kã tĩg kỹ tỹ) fi mỹ jun. kỹ fi<br />

tỹ koj ser, kófa fi.<br />

E’!<br />

Tradução livre:<br />

Havia um ancestral.<br />

Então havia ali, uma mulher bem velhinha.<br />

Ela criava um macaco. Um macaco grande.<br />

Ele entendia a fala dela. Quando mandado, ele obedecia, indo em<br />

busca das coisas. Frutas, mel... Quando encontrava uma abelha, saía<br />

atrás, e dava um jeito de melar. Ela havia feito um cestinho pra ele.<br />

E havia amarrado no pescoço dele. Então, ele vivia carregando<br />

aquilo. Enchia e trazia pra ela, sempre. E ela, então, comia.<br />

Os episódios vão ficando cada vez mais longos, acrescentando-<br />

se mais e mais acontecimentos, consecutivamente. A interferência do<br />

interlocutor parece separar cada episódio.<br />

Veja, a seguir, uma versão escrita da fábula Pépo mré Jãtã (O Sapo<br />

e o Corvo). Essa versão foi escrita pelo professor Volmar da Silva.<br />

Pépo mré jãtã


Kỹ pépo mré jãtã ag tóg jagnẽ mré mũg tĩ .hãra ag tóg vẽkyn<br />

kyn há ja nỹtĩ kỹ ag tóg jagnã mré majre mĩ vẽkyn kyn mũ tĩ . kỹ ag<br />

tóg jagnẽ kón ũ fag namora ke keti.<br />

Hãra pépo ti tũ fi tóg ta há janĩ javo jãtã ti tũ fi tóg kórég ja nĩ .<br />

kỹ jãtã vỹ pépo ti tu fi ki vẽ’ ĩg mũ .Hãra jãtã tóg ẽkrég tĩ ja n,ĩ pépo<br />

ti tũ fi tu.<br />

Kỹ jãtã tóg “inh hãn majre han kanhkã ta”, kemũ. Mỹr pépo pi<br />

tã há nĩ ke tóg mũ . “kỹ sỹ ti tũ fi mré vĩj mũ”, ke tóg, jãtã ti.<br />

Kỹ jãtã tóg pépo mỹ kurã tỹ ẽg ge kã ẽg tóg kanhkã tá majre<br />

nỹti ke mũ. Kỹ jãtã tóg “ã mỹ tĩg”, kemũ. kỹ pépo tóg “tĩg ja mũ”<br />

kemũ . kỹ jãtã tóg pépo mỹ “ã mỹ hẽren kỹ tĩg” mũ kemũ . kỹ pépo<br />

tóg ti mỹ sỹ tĩg gen ve jé mũ kemũ”. Kỹ jãtã tóg ti mỹ “sỹ ã pi tĩg<br />

mũ” kemũ hãra pépo tóg inh hã jãtã mỹ ge keja fã nĩg nĩ .<br />

Kỹ pépo tóg jãtã mỹ inh vĩ jẽmẽj ke ã tóg nĩ hãra kemũ .kỹ jãtã<br />

tóg “emẽ”, kemũ .Kỹ pépo tóg jãtã mỹ “ã tĩ gen kỹ ã vẽkyn fã ty<br />

jãnkã ki tuvẽnh n”ĩ kemũ “ã tỹ ã kur rĩnh tu mẽ tu”, ke mũ .kỹ jãtã vỹ<br />

hej kemũ .<br />

Kỹ pépo tóg ver ti mỹ “ã tỹ kanhkã tá junkỹ ã vẽkyn fã tỹ jankã<br />

ki tuvẽnh kỹ kãra rãn nĩ ver”, kemũ. Kỹ jãtã vỹ pépo vĩja han mũ se.r<br />

kỹ pépo kãtĩg kỹ jãtã tỹ ti kur rĩnh mũ ju ti vẽkyn fã kãra rã mũ ser.<br />

Kỹ tóg ẽmẽ ka nĩg tĩ ser . kỹ jãtã vỹ kãtĩ kỹ ti vẽkyn fã vynky tĩ mũ<br />

ser kanhkã ra.<br />

Aqui, o professor adota um “estilo” diferente na sua narração.<br />

Apesar de estar escrevendo sua versão de uma das mais conhecidas<br />

fábulas no repertório das narrativas kaingang, ele adota um tempo de<br />

pretérito perfeito; o que é diferente nas narrativas orais das fábulas,<br />

onde encontramos expressões que nos remetem ao pretérito<br />

imperfeito, usando termos que dão essa idéia. Uma análise desses<br />

termos é um tema muito interessante para um outro momento.


Capitulo VI<br />

Ti si kãme<br />

Essas narrativas chamadas Ti si kãme relatam os fatos mais recentes.<br />

São as histórias “verdadeiras” do povo kaingang. Parecem mais um<br />

diálogo narrativo. O interlocutor interfere com parênteses de curtas<br />

reflexão e, muitas vezes, acrescentando informações. A introdução já<br />

é feita com um fato marcante da história.<br />

Kỹ fi ne tỹ ser ag jo (...) fi tỹ ũ ag tỹ ag tỹ hãnrikej ken vé ser.<br />

Kỹ fi ne tỹ ser ag mỹ “katy tỹ tĩ, inh krã, mũnỹ!” ke tĩ ham.<br />

Ãpãn kã ne tỹ mũg tĩ ham, kanhgág ag jamã ũn ra ham.<br />

Ag kanhgág jũ ag kri rãg jé ham, tag ki ke ag, kanhgág pẽ ag.<br />

Hara fag ne tỹ ser goj... goj je tỹ kã sag tĩ, goj mag. Kỹ fag je tỹ<br />

ser, goj kafã ãn hã kã nĩ kỹ ser, fi ne tỹ ser pãvãnh nĩj ham.<br />

Tradução:<br />

Então, ela previu, para eles, qual seria a reação dos outros.<br />

E disse, para eles, “está calmo, vamos”, (dizia).<br />

Andavam a pé, sim, para a outra aldeia.<br />

Para surpreender os índios selvagens. Sim. Os daqui faziam. Os<br />

kaingang.<br />

Então eles, num rio... Havia um rio, um rio grande. Na margem desse<br />

rio, ela (kujá) se punha a fazer suas previsões.


Esta narrativa conta a história da guerra dos Kaingang com os<br />

X<strong>ok</strong>leng, por causa de território.


Capitulo VII<br />

Jé (Cantos de Animais)<br />

Contam as lendas que, no princípio, eram os animais que<br />

faziam a festa do Kiki. Que cada animal tinha o seu próprio canto e<br />

que, ao redor do fogo, tomavam da bebida e entoavam seus cantos.<br />

Pénkrig fi Jé (Canto da Formiga) foi registrado por Zílio Jagtyg<br />

Salvador; e Krág Jé (Canto da Queixada) e Ójor Jé (Canto da Anta) o<br />

foram por João Carlos Kasú Kanheró, no cd “Kanhgág Ag Vĩ Ỹmã Mág<br />

Ki” / Vozes Kaingang na Aldeia Grande. (KASÚ et alii 2004/2005).<br />

Pénkrig fi Jé (Canto da Formiga)<br />

à ne tetĩ nĩ / O que carregas?<br />

à ne tetĩ nĩ / O que carregas?<br />

à ne tetĩ nĩ / O que carregas?<br />

à ne tetĩ nĩ /O que carregas?<br />

Isỹ ũ tẽtá fi / quando a mulher<br />

ãgtynyn jẽ ven kỹ / socando algo (no pilão), a vejo<br />

Ka ta inh mỹ há tĩ / feliz eu fico<br />

Ka ta inh mỹ há tĩ / feliz eu fico<br />

Isỹ ũ tẽtá fi jagtynỹn / quando, do socado da mulher<br />

mru ko tĩn kỹ / as migalhas como<br />

ta inh mỹ há tĩ / feliz eu fico<br />

à ne tetĩ nĩ / o que carregas?<br />

à ne tetĩ nĩ / o que carregas?


Krág Jé (Canto da Queixada)<br />

Pó gryngran, pó gryngran, pó gryngran (imitação do barulho das<br />

pedras)<br />

Kry gryg gryg, kry gryg gryg<br />

pó gryngran, pó gryngran<br />

kryg gryg gryg, kryg gryg gryg<br />

kryg gryg gryg, kryg gryg gryg<br />

mỹ hághá ra / alegrem-se<br />

mỹ hághá ra / alegrem-se<br />

kryg gryg gryg, kry gryg gyrg, kry gryg gyrg<br />

pó jugpó goj jur mĩ / pedras sobre as águas, saltadas<br />

jy kutã kỹ tỹ inh mỹ há / sobre elas cruzei e alegre estou<br />

Kỹ isỹ ũ / e alguém<br />

inh kanhkã / parente meu<br />

ag mré vã / com eles po...<br />

vãre kỹ / posar então<br />

mĩ takã tỹ inh mỹ / por isso, eu<br />

há tĩ hamã / alegre estou<br />

pó gryn gran, pó gryngran, pó gryngran<br />

kry gryg gryg, kry gryg gryg, kry gryg gryg...


Ójor Jé (Canto da Anta)<br />

Ójor, ojor Antas, antas<br />

ójor, ójor antas, antas<br />

pãnónh, pãnónh montanhas, montanhas<br />

Tãpry, tãpry subir, subir<br />

Krág mág juvã, kri jã kỹ vyr queixadas, seu trilho peguei e fui<br />

Ójor, ójor... Ójor, ójor... Ójor, ójor...<br />

Gojor mĩ ku... kutã kỹ ó... óré nig ki Pelas curvas do rio, cru-cruzei<br />

Nig ki rã kỹ na lama funda, en-entrei<br />

Inh kan mỹ han, já hón tỹ inh (...)<br />

Isỹ, inh mỹ, sér ja mãn kỹ por ter sentido, prazer eu vou<br />

Isỹ jag mỹ, tỹj mũ, tỹj mũ pra vocês cantar, cantar<br />

Ójor, ójor... antas, antas...<br />

Nesses cantos infantis, vimos que as palavras são trabalhadas.<br />

São cantos que “brincam”. Em algumas palavras, as silabas são<br />

duplicadas e separadas, o que acontece no último canto: ku kutã, ó<br />

óré. Outras são repetidas: tỹj mũ, tỹj mũ.<br />

Neste pequeno trecho do Canto da Serpente, Pỹn Jé, notamos a<br />

presença de um tipo de rima. Observe abaixo.


Isỹ nĩgrãg nĩ ra ijé<br />

nĩĩĩgrãg nĩ ra ijé<br />

kukãm tĩ kỹ kri krỹ ké<br />

Ke jé inh vã vã.<br />

kri krỹ ké<br />

Sê ouvidos eu tivesse<br />

Ooouvidos eu tivesse<br />

Na direção eu seguiria e em cima cravaria<br />

Em cima cravaria<br />

Ritos para chamar e proteger o espírito da criança<br />

A prática desses ritos é muito rara atualmente. Somente os<br />

kaingang mais antigos é que ainda os realizam. Acredita-se que<br />

devemos proteger o espírito, para que não se desprenda do corpo.<br />

Temos a descrição de um olhar antropológico sobre isso.<br />

Segundo Veiga (2006), os Kaingang crêem que o corpo (há) não tem<br />

vida sem o espírito. É o espirito que dá vida ao corpo. O espírito pode<br />

deixar o corpo durante o sonho e ir visitar outros lugares, inclusive o<br />

numbê, a aldeia dos mortos. Algumas doenças são explicadas como<br />

uma perda temporária do espírito que, se prolongado, leva a morte.<br />

Daí a necessidade da intervenção do kuiâ para restituir o espírito ao<br />

corpo.<br />

Especificamente sobre a proteção do espírito da criança, Veiga relata:<br />

“Convivendo com os kaingang do Xapecó, nos anos 80, ouvi de<br />

Vicente Fókâe a explicação que o espírito da criança é muito irriquieto<br />

e que se assusta facilmente. Por esse motivo, se alguém necessita<br />

cruzar um rio ou uma água qualquer, com uma criança, esta pode se<br />

assustar e seu espírito ficar naquele lugar, o que faria com que a<br />

criança adoecesse. Assim, sempre que andam com uma criança e<br />

fazem uma parada em algum lugar, ou cruzam um riacho, antes de


prosseguir, falam com ela: “Tag mĩ, ikóxid. Kunĩg” (Por aqui, meu<br />

filho. Venha!)”. (VEIGA 2006)<br />

Ouvi de Juraci o seguinte:<br />

Mũjé ha!<br />

Ker kãjã nĩ hã<br />

Tag mĩ kãtĩg nĩ<br />

Ker ãgno kã jã nĩ hã, inh kósin!<br />

Vamos agora!<br />

Não queira ficar por aqui<br />

Não pare aqui<br />

Venha por aqui<br />

Não fique pra trás, meu filho.<br />

Da mesma forma, quando as famílias se acampavam na beira das<br />

estradas nos “vãre”, dormindo debaixo de árvores, também faziam<br />

esse ritual, por acreditar que o “tãn” (protetor, força) da árvore<br />

roubava o espírito das crianças.<br />

Kẽtajug!<br />

Ker inh kósin ki ẽvãnh hã,<br />

Inh kósin tỹ sá nỹ<br />

Kẽtajug!<br />

Ker inh kósin ki ẽvãnh hã,<br />

Inh kósin tỹ kórég nỹ.<br />

Soita!<br />

Não olhe para o meu filho,<br />

Meu filho é preto.<br />

Soita!


Não olhe para o meu filho,<br />

Meu filho é feio.<br />

Ainda, ouvi de minha mãe, Kagmũ, o seguinte:<br />

“Quando eu era criança, minha mãe, quando passávamos perto de<br />

um cemitério a noite, ela me chamava também. Colocava-me<br />

caminhando na frente dela e então falava com meu irmão falecido:<br />

Ker ã regre fi ki ãvãnh hã<br />

Fi tỹ inh mỹ mog há han jé<br />

à tỹ ser inh ré mỹr...<br />

Kur kãtĩg, inh kósin<br />

Ker tag mĩ vãfor tĩ nĩ hã<br />

Não olhe para sua irmã<br />

Para que ela cresça bem para mim<br />

Você já me deixou...<br />

Venha agora, filha!<br />

Não se perca por aqui


Capítulo VIII<br />

Rituais Fúnebres<br />

Os rituais fúnebres são parecido com os ritos de proteção do espírito.<br />

Há quase um século, pesquisadores já observaram esse ritual.Veja<br />

nos registros Henrich Maniser.<br />

Muito cedo, ao despertar, começa a ressoar numa cabana qualquer<br />

um gemido ritual que perdura, frequentemente por muitas horas. O<br />

significado desse gemido é invariável, podendo ser traduzido pelas<br />

seguintes palavras: “Evoquemos a lembrança (ou, bem, “eu me<br />

lembro”) de tal ou qual parente morto, em tal época” (às vezes, já<br />

decorreu um ano ou dois de sua morte!). Esse gemido, por sua vez,<br />

lembra aos outros índios o destino de seus parentes mortos e seus<br />

choros se fazem ouvir, simultaneamente, em diversas partes.<br />

Finalmente eles são interrompidos por uma ocupação qualquer (...).<br />

À tardinha, ao crepúsculo, e também durante a sesta no ardente<br />

calor após o meio dia, os gemidos em lembrança dos mortos<br />

recomeçam. Mesmo no meio da noite acorda-se com os sons<br />

familiares de uma voz esganiçada que arrasta sempre a mesma nota<br />

lúgubre. O índio cobre sua cabeça com sua coberta enquanto emite<br />

esse gemido ritual. São, sobretudo, as mulheres que gemem; os<br />

homens, bem mais raramente. (MANISER 2006)<br />

Ainda hoje existem esses rituais, os choros e gemidos rituais,<br />

mesmo de uma forma mais discreta.<br />

É evidente a diferença de um velório kaingang e o velório de<br />

não-índio, e até mesmo os dos indianos (mestiços que vivem na<br />

comunidade, não falantes do kaingang), que já são mais “discretos”<br />

em suas lamentações. Num velório kaingang, é bem notável a


presença de um ritual nos choros e lamentos. O que é diferente do<br />

choro de uma situação qualquer.<br />

Lembro-me do choro de minha mãe, quando faleceu minha avó,<br />

há alguns anos. Nas duas noites após o sepultamento, minha mãe<br />

nos acordou com seu choro, no meio da madrugada. Deveriam ser<br />

umas quatro ou cinco horas da manhã. Recordava os momentos<br />

felizes que passaram juntas, falava de como ela era alegre, das<br />

dificuldades que passaram juntas.<br />

Existem registros de cantos fúnebres em tempos mais antigos,<br />

que nos dias de hoje não encontramos mais devido à influência de<br />

outras crenças, como se pode ver nos registros de Telêmaco Borba<br />

(1908):<br />

Passe com cuidado a ponte. Viva bem com os outros; assim como<br />

elles vivem bem, você também pode viver. Lá você há de ver muita<br />

cousa que já vio aqui em minha terra, assim como o gavião. Teos<br />

parentes hão de vir te encontrar na ponte e te levarão com elles para<br />

a tua morada. (Cagma, iengvê, vê oanan eió nó, engó que tin in<br />

fimbré ixan na ióngóngue, iamá que nò ô caicá, kato nô ó eká<br />

maingvê).<br />

Ou ainda:<br />

Passe bem pela ponte do rio grande; chegando ao campo diga aos<br />

outros: Eu estou aqui. Coma bem as frutas do coma e vire as pedras<br />

que tem limo antes de passar. (Coma coma cô ondiê, ê ni moni tá,<br />

goyo-bangue tarê io can ien caindê rain tarê, v<strong>ok</strong>ang ien.)


Considerações finais<br />

Com esse trabalho introdutório sobre as Artes da Palavra no<br />

kaingang, pode-se ter uma noção do grande leque de saberes,<br />

conhecimentos, das formas de elaboração da palavra que existem na<br />

tradição oral kaingang. Com isso, podemos perceber as<br />

especificidades da língua, que a tornam mais rica, mais valorizada.<br />

Com essa abordagem inicial, podemos dizer que existe uma<br />

variação muito complexa do gênero narrativo. Identificamos três<br />

principais grupos, mas que se subdividem entre eles. Relatos de<br />

noções de tempos distintos em que ainda não conseguimos ter<br />

definições precisas. Termos gramaticais em que parecem estar<br />

classificando esses gêneros narrativos.<br />

É evidente que ainda há muito a ser pesquisado e analisado. De<br />

todo modo, este trabalho, como já foi dito anteriormente, é um<br />

primeiro encaminhamento para a pesquisa e documentação da<br />

tradição oral kaingang.


BIBLIOGRAFIA<br />

BELFORT, Andila Inácio. A formação dos primeiros professores<br />

indígenas no Sul do Brasil. in Cadernos de Educação Escolar Indígena<br />

- 3º Grau Indígena. Barra do Bugres, MT: UNEMAT, v. 4, n. 1, 2005,<br />

pp. 09-20.<br />

BERGAMASCHI, Maria Aparecida. Povos Indígenas e Educação. Porto<br />

Alegre, <strong>RS</strong>: Mediação, 2008.<br />

BORBA, Telêmaco Morocines. Actualidade Indígena. Curitiba, PR:<br />

Impressora Paranaense, 1908.<br />

D’ANGELIS, Wilmar da Rocha. Kaingang: questões de língua e<br />

identidade. Liames – Línguas Indígenas Americanas. Campinas, SP:<br />

IEL-Unicamp, 2002.<br />

_____. Como nasce e por onde se desenvolve uma tradição escrita<br />

em sociedades de tradição oral? Campinas, SP: Curt Nimuendajú,<br />

2007.<br />

FRANCHETTO, Bruna. As Artes da Palavra. in: Cadernos de Educação<br />

Escolar Indígena. Barra do Bugres, MT: UNEMAT. V.2, N.1 – 2003.<br />

___________. Línguas indígenas e comprometimento lingüístico no<br />

Brasil: situação, necessidades e soluções. Cadernos de Educação<br />

Escolar Indígena, UNEMAT - Barra do Bugres, MT: v. 3, p. 9-26,<br />

2004.<br />

KASÚ et alii. Cd “Kanhgág Ag Vĩ Ỹmã Mág Ki” / Vozes Kaingang na<br />

Aldeia Grande. Porto Alegre,<strong>RS</strong>: Funproarte, 2004/2005.


MAIA, Marcus. "O Mediativo em Karajá". In: Ludoviko Santos &<br />

Ismael Pontes (orgs.), Línguas Jê: Estudos Vários. Londrina, PR: Ed.<br />

UEL, 2002, ISBN 85-7216-347-6, p. 147-173.<br />

MANISER, Henrich Henrikhovitch, Os Kaingang de São Paulo.<br />

Tradução de Juracilda Veiga. Campinas, SP: Curt Nimuendajú, 2006.<br />

MELIÁ, Bartolomeu. Educação Indígena e Alfabetização. São Paulo,<br />

SP: Edições Loyola, 1979.<br />

MINDLIN, Betty. Tradição oral, literatura e escrita: um registro<br />

voltado para a educação indígena. in W. D’Angelis & J. Veiga (orgs.).<br />

Leitura e escrita em escolas indígenas. Campinas,SP: ALB/ Mercado<br />

de Letras, 1997, p. 53-81.<br />

TORAL, André Amaral de (org.). Ẽg jamẽn kỹ mũ - textos kanhgág.<br />

Brasília, DF: APBKG/Dka Áustria/ MEC/ PNUD, 1997.<br />

VEIGA, Juracilda. Aspectos Fundamentais da Cultura Kaingang.<br />

Campinas, SP: Curt Nimuendajú, 2006.<br />

WIESEMANN, Úrsula. Dicionário Bilíngüe Kaingang-Português.<br />

Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 2002.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!