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O Lobo da Estepe - Christian Rocha

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<strong>da</strong>s somente aqueles que se matam. Entre estes há suici<strong>da</strong>s que só o chegaram a ser por mero<br />

acaso, e de cuja essência do suicídio não fazem realmente parte. Entre os homens sem<br />

personali<strong>da</strong>de, sem caeacterísticas defini<strong>da</strong>s, sem destino traçado, entre os homens incapazes<br />

e amorfos, há muitos que perecem pelo suicídio, sem por isso pertencerem ao tipo dos<br />

suici<strong>da</strong>s, ao passo que há muitos que devem ser considerados suici<strong>da</strong>s pela própria natureza<br />

de seu ser, os quais, talvez a maioria, nunca atentaram efetivamente contra a própria vi<strong>da</strong>. O<br />

"suici<strong>da</strong>" — e Harry era um deles — não precisa necessariamente viver em relações<br />

particularmente intensas com a morte; isto se pode fazer sem que se seja um suici<strong>da</strong>. É<br />

próprio do suici<strong>da</strong> sentir seu eu, certo ou errado, como um germe <strong>da</strong> Natureza,<br />

particularmente perigoso, problemático e <strong>da</strong>ninho, que se encontrava sempre<br />

extraordinariamente exposto ao perigo, como se estivesse sobre o pico agudíssimo de um<br />

penedo onde um pequeno toque exterior ou a mais leve vacilação interna seriam suficientes<br />

para arrojá-lo no abismo. Esta classe de homens se caracteriza na trajetória de seu destino<br />

porque para eles o suicídio é a forma de morte mais veros-símil, pelo menos segundo sua<br />

própria opinião. A existência dessa opinião, que quase sempre é perceptível já na primeira<br />

moci<strong>da</strong>de e acompanha esses homens durante to<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, não representa, talvez, uma<br />

particular e débil força vital, mas, ao contrário, encontram-se entre os suici<strong>da</strong>s naturezas<br />

extraordinariamente tenazes, ambiciosas e até ousa<strong>da</strong>s. Mas assim como há naturezas que<br />

caem em febre diante <strong>da</strong> mais ligeira indisposição, assim propendem essas naturezas a que<br />

chamamos "suici<strong>da</strong>s" e que sempre são muito delica<strong>da</strong>s e sensíveis à menor comoção, a<br />

entregar-se intensamente à idéia do suicídio. Se tivéssemos uma ciência que possuísse<br />

coragem e autori<strong>da</strong>de suficientes para ocupar-se do ho-memcm vez de fizê-lo simplesmente<br />

no mecanismo dos fenômenos vitais, se tivéssemos uma ver<strong>da</strong>deira Antropóloga, uma<br />

ver<strong>da</strong>deira Psicologia, tais fatos seriam conhecidos de todos.<br />

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